No auge dos debates sobre a punição a Vanderlei, Arthur Muhlenberg publicou em nossa página no facebook uma foto de Rosa Luxemburgo legendada por uma linda frase dela: “Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem.” Pra nós, aqui no RP&A, vale a evidente analogia: quem não discute não anda pra frente.
Tenho aprendido muito com as nossas caixas de comentários, tanto nas minhas postagens quanto nas do Arthur, da Vivi, do Arnaldo e da Nivinha. O pessoal gosta de discutir o Flamengo, e isso só faz bem. Felizmente, as opiniões divergem. Há os que reclamam do excesso de críticas ao time, há os que não enxergam nada de bom. Há quem queira ver fulano em campo, há quem prefira ver o mesmo fulano no futebol indiano.
Nivinha e Vivi Mariano costumam usar uma expressão divertida – “nunca critiquei” –, quando um jogador meia-boca faz algo positivo. (Se você pensou no Alecsandro, parabéns, o prêmio é seu.) Essa é uma das razões que fazem do futebol tudo o que ele é. O cara pode não correr nada e jogar pouco, pode estar num dia especialmente infeliz, mas pode, de repente, decidir a partida e o título. A questão é que isso costuma vestir, em todos nós, desconfortáveis saias justas. Falo por mim: não acho Gabriel mau jogador, mas não o vejo em condições de ser titular do Flamengo. Pode vir a ser um dia, mas eu já tenho quase sessenta anos. Vou esperar até quando? Entretanto, na partida de ontem, nossas duas melhores chances de gol saíram de ótimas jogadas do Gabriel para o Cirino. Faz parte.
Que fique bem claro: criticar não é gostar menos do Flamengo. Pelo contrário, é provocar o movimento de que fala Rosa Luxemburgo e ajudar a corrigir o que está errado. Se a torcida não pegasse tanto no pé do Carlos Eduardo, do Elano e do André Santos, possivelmente os três ainda estariam na Gávea, descansando, enganando e enchendo os rabos de dinheiro. A crítica é sempre bem-vinda, pois se trata do Flamengo e é recomendável que se tenha um padrão mínimo de exigência.
Passemos à primeira partida da semifinal do Euriquinho 2015, para logo depois desembocar em Vanderlei Luxemburgo – o técnico que, por dar uma ajeitada no time e nos livrar da ameaça de rebaixamento em 2014, parece ter adquirido o status de incriticável, inquestionável e infalível.
O esporte que o time do Vasco pratica guarda uma distante parecença com o futebol. A única jogada é, logo depois de ultrapassar o meio-campo, levar a bola para um dos cantos e torcer para o adversário fazer faltas. E aí, bola alta, bola alta, bola alta, até que uma delas bata na cabeça de alguém e entre. Esse novo esporte poderia se chamar “valeubol”, nome inspirado na originalíssima linha de passe, brincadeira que os peladeiros costumam fazer um pouco antes do racha começar. Na linha de passe, a jogada preferida pelos botinudos que não conseguem manter a bola no alto é o tal do “valeu”, quando alguém faz um cruzamento e é possível emendar de prima para o gol. Se a linha de passe não for bem jogada, ela vira uma desinteressante sucessão de “valeus”. O Vasco não joga futebol, joga valeubol.
Claro: pouco me importam as dificuldades do Vasco ou o absurdo que é um time quatro vezes campeão brasileiro escalar Serginho e Guiñazu no meio-campo, problema deles. Mas me importa e me incomoda o fato de o Flamengo quase nada produzir contra um time desses, e ainda ser ameaçado por ele.
O que o Flamengo mais fez no jogo de ontem? Faltas. Faltas aos borbotões. Faltas nas laterais do campo. Faltas que encheram de esperança os vascaínos, dando-lhes a impressão de que podem ganhar da gente – e não podem, ou ao menos não deveriam poder.
Sou obcecado pela origem das jogadas. Isto me faz abominar quadros televisivos como, por exemplo, os Gols do Fantástico, em que praticamente só vemos o cara mandar a bola para a rede, ignorando como o lance começou. (Quando escrevi, no último post, que Carlos Alberto fez o gol mais bonito da história das seleções brasileiras, não levei em conta apenas o chute seco e preciso ou a rolada blasé de Pelé, mas me lembrei da jogada desde lá atrás, com toques curtos de Piazza, Clodoaldo, Pelé, Gérson, novamente Clodoaldo agora se livrando de quatro atordoados italianos, Rivellino, Jairzinho e, aí sim, Pelé e Carlos Alberto.) É impressionante como o time do Flamengo tem falhado na origem, errando os passes mais comezinhos, produzindo faltas desnecessárias e oferecendo aos nossos adversários oportunidades de gol que, de resto, eles não saberiam como criar.
No Brasileirão do ano passado, perdemos para a Chapecoense, em Chapecó, numa falta boba do Wallace na intermediária, feita sobre um atacante que estava de costas para o gol. Fazíamos um jogo pau a pau com o Atlético Paranaense, em Curitiba, fim do primeiro tempo e um a um no placar, quando o estabanado Marcelo fez um pênalti tosco no então inimigo Cirino. Ganhávamos do Sport por dois a zero, no Recife, até Samir fazer uma falta tola – mais uma vez o atacante estava de costas –, que permitiu ao Sport diminuir para logo em seguida empatar. Só não perdemos porque não deu tempo. Na Copa do Brasil desse ano, levamos o gol do Brasil, em Pelotas, numa falta atabalhoada do Pará (independentemente de ter sido mal ou bem marcada, estamos carecas de conhecer os lamentáveis critérios das nossas arbitragens). Na última quarta-feira, no impensável zero a zero com o Nova Iguaçu, quase levamos um gol em mais uma falta idiota do Marcelo. A lista de exemplos é extensa e ontem, contra o Vasco, fizemos faltas como essas o tempo inteiro. Tirando a cagada-monstra do Bressan, na definição científica da Nivinha, as dificuldades que enfrentamos foram causadas pela quantidade de vezes em que permitimos ao Vasco levantar bolas para a área, em cobranças de faltas que não precisavam ser cometidas.
Demorou, mas chegamos ao tema central do post: não estaria Vanderlei Luxemburgo errando feio nesse quesito? Quando a marcação é bem-feita e o adversário não encontra espaços fáceis para trabalhar, o número de faltas obrigatoriamente cai. E o que dizer do nervosismo? Entramos para jogar no Maraca contra um autêntico catadão, temos a vantagem dos empates e, mesmo assim, parece que estamos no Allianz Arena e do outro lado está o Bayern de Munique. E tome de porrada, chute na cara, pontapé e bico pra frente.
Jonas e Wallace só não foram expulsos no jogo de ontem porque o péssimo juiz bambeou. Não há uma só jogada que Bressan, Wallace, Marcelo, Jonas, Márcio Araújo, Cáceres, Pará e Anderson Pico disputem sem fazer falta. Até agora não conseguimos saber se Thallyson é ou não bom jogador, de tanto que o cara treme toda vez que é escalado. Além de mandar a campo o que temos de melhor, montar esquemas defensivos organizados, ensaiar jogadas rápidas de contra-ataque etc., também é tarefa do treinador dotar o time de estabilidade emocional, concentração e confiança. Gente, é o Vasco, com Guiñazu de volante, o moroso Julio dos Santos na armação e Marcinho de cabeça pensante, não é admissível que a gente não tenha equilíbrio para ganhar desses caras com sobras.
Nivinha e Arthur já se encarregaram, em suas postagens, de colocar o jogo de ontem no lugar que ele merece: a lata de lixo. Foi tudo de ruim. Só que uma pergunta fica no ar e me perturba: o Vasco jogou o que sabe, o tal do valeubol, mas e o Flamengo, jogou o quê?
😡 #papagaiovintem
Muito bom o texto. #PapagaioVintém
Preciso desse manto, paz e amor!!! #papagaiovintem
#PapagaioVintém.
Azar é não ser Flamengo. #Papagaiovintem
Papagaio de vintém é a PQP, como bem disse o Aureo Rocha, esses comentários parecem de torcedores arco-íris, que essa diretoria não caia na bobagem de vestir o elenco com essa camisa azarada nunca mais!!!
No mais, se o Luxemburro não atrapalhar muito, o Flamengo ganha de uns 4 x 1 amanhã, afinal freguesia é freguesia, mas, embora o meu palpite seja esse placar dilatado, acho que não vai ser fácil não, afinal, o Vice da Gama vai lutar para ser vice de novo e para isso eles precisam vencer o Flamengo…
Quero muito o MANTO SAGRADO TRADICIONAL!!!
SRN!!!
#papagaiovintem