Ateus costumam dizer que o Fla-Flu precede o Gênesis, o que além de ser uma afirmação blasfema é sabidamente inverídica. O Fla-Flu é bem mais antigo. Mas existem alguns Fla-Flus especiais que conseguem romper a prisão temporal dos 90 minutos regulamentares e não acabam nunca mais. Se tornam eternos. O das Bolas na Lagoa em 1940, o 5×0 da despedida do Zico, o do gol de barriga (consignado em clamoroso offside), são apenas alguns deles. O Fla-Flu #404, da rodada 30 do Brasileiro, já provou que é também um desses Fla-Flus atemporais que jamais vão acabar.
Não vai acabar pela polêmica, por causa da importância do resultado para a classificação do campeonato, pelo divertido, e ao mesmo tempo embaraçosamente jeca, mafuá que se instalou no gramado durante os 13 minutos de intervalo tropicalista que o quarteto de arbitragem precisou para decidir se naquele quadrilátero relvado valia ou não valia gol roubado. Mas também não vai acabar porque o Fla-Flu #404 colocou diante de todo país uma questão ética da maior importância: até onde se pode descumprir uma lei para que a justiça seja feita?
Não estou de sacanagem, é uma questão que vale tanto para determinar se é justo utilizar o tira-teima para dirimir bate-bocas futebolísticos quanto para saber se o direito constitucional dos cidadãos brasileiros à ampla defesa pode ser temporariamente limitado para atender a demandas específicas de algum dos três poderes da república.
Desprezemos os aspectos circunstanciais do charivari em Volta Redonda, é desnecessário ficar discutindo se foi gol ou não foi. Até o presidente do Fluminense, passado o ataque de pelanca coletivo, sabe que o jogo acabou, não será anulado e nem jogado outra vez. Perderam de 2 a 1 e pra elas agora o foco é a Sula. O jogo acabou, qualquer dúvida consultem a súmula. Aliás, Súmula do Fla-Flu, de Sandro Meira Ricci, já está concorrendo ao Prêmio Jabuti 2016 na categoria ficção.
Mas por que então o Fluminense persiste no faniquito, convocando coletivas e ameaçando invocar a Lei Maria da Penha em sua defesa? É óbvio que o Fluminense aproveita a oportunidade de ter sobre si os holofotes e as atenções da mídia habitualmente voltados para o Flamengo para marcar uma posição política e sublinhar o seu conceito muito particular de ética esportiva. Costumo dizer para as minhas meninas que o Fluminense é um infalível parâmetro de moral e ética desportiva. Para ser um bom esportista basta fazer exatamente o contrário do que eles fazem ou pregam.
Onde é que já se viu, eu tava em casa trabalhando e um presidente playboy me aparece no Jornal Nacional, falando em nome do Fluminense, choramingando em um registro muito agudo porque não validaram um gol ilegal a favor do seu time? Onde é que nós estamos? Quase chamei o Elizeu Drummond, da Telerj, pra colocar as coisas em uma perspectiva mais realista. Era pro Bonner ter feito um disclaimer e mandado tirar todas as crianças do Brasil da sala. Principalmente os jovens tricolores, com quem me solidarizo. O presidente do Fluminense escondeu por trás da cortina de fumaça “Interferência Externa” o seu real objetivo. Que é garantir o direito de ter seus gols irregulares validados sempre que forem capazes de enganar a arbitragem.
E mais, lutam pelo direito de quando o roubo der certo não serem denunciados mesmo que seus delitos tenham sido registrados pelas câmeras de TV. O presidente do Fluminense pugna publicamente por um salvo conduto para roubar. Sobre pagar a porra das Séries B que estão no pendura nem uma palavra. Ética não se discute, cada um tem a sua e quem sou eu pra contestar a de quem quer que seja. Mas isso é apenas o mais dramático fim de comédia que já presenciei. É por essas e por outras que dizem que o Fluminense não tem maturidade moral pra jogar na Série A.
E parece que não é só o Flor. A pegada do Mengão Monstro Que Saiu da Jaula está aloprando a arcoíris todinha. Os porcos também sentiram a pressão, reclamaram que a barba malfeita do Mengão estava irritando a pele delicada de suas nucas e lançaram mão do patético recurso criado pelo seu noiado treinador, o Chororô Preventivo. Foi um recibo grandiloquente, o presidente dos caras, outro playba de cabelos brancos, convocou coletiva e, com cara de brabo, fez bravatas e insinuações difamatórias, encerrando o showzinho com ameaças veladas de massivo ataque de perereca caso as coisas não se desenrolem de acordo com seu planejamento. Ui, que meda.
O Flamengo não pode perder seu precioso tempo respondendo a dois caras que dão toda a pinta de nunca terem brincado num playground ou numa pracinha na vida. Temos muito o que fazer e o tempo é limitado para unir a Nação, protagonizar o campeonato, quebrar recordes de renda, público e audiência, embasbacar a crítica especializada, doutrinar os adversários e ainda dar lições de moral e retidão administrativa aos pequenos e médios do país. Ufa, tá puxado! Por hora vamos nos concentrar no jogo com os Sem-Drenagem no domingo, lá no Uruguay del Norte. Tudo indica que o jogo não vai ser um pic-nic. Mas já estamos acostumados a operar no perrengue mode.
Deixa nego chorar, a questão ética está colocada. Um gol ilegal deve ser validado, mesmo que o bandeira tenha apontado a irregularidade, só porque o juiz incialmente sucumbiu à pressão dos jogadores? Ou porque alguém do lado de fora viu pela TV que tava geral impedido? Fulano deve ser preso mesmo que não existam provas conclusivas ou que ainda não tenham se esgotados todos os recursos cabíveis? Dá pra fazer justiça descumprindo a lei? Juízes e árbitros tem compromisso com a verdade dos fatos, com a letra da lei, com a opinião pública ou com seus erros pregressos?
Se você perceber a encruzilhada moral a qual essas questões nos conduzirão, vai entender perfeitamente porque certos Fla-Flus não acabam jamais. Tinha que ter Fla-Flu toda semana. É, indiscutivelmente, o maior clássico interdivisional do planeta. Se eles querem roubar, que roubem. Nós é que não vamos ficar chorando, não lhes daremos esse gostinho e the zueira never ends. Já dizia o sábio Duque de Veneza, no Othello de Shakespeare: O roubado que sorri rouba algo do ladrão.
Mengão Sempre
Muito obrigado por este texto, Arthur!
Pra cima deles em todos os campos, a verdade está ao nosso lado. Que batam panelas na varanda ou dêem coletivas constrangedoras os que perdem o sono por isso.
O playboy paulista vociferando babaquices na TV foi a segunda coisa mais deprimente a que assisti nos últimos tempos – o primeiro lugar fica disparado com um barbudo em fim de carreira declarando que é a alma mais honesta do mundo…
Grande Arthur, sempre insuperável nas ironias !!!!! kkkkkkkk n paro de rir!!!!
Isso aí, Arthur! Chororô Preventivo na cara dura! Os caras sabem que não vão ganhar na bola, estão se arrastando nos jogos. SRN
Dessa vez você se superou no quesito analogia!! Mengão,que a alegria da nação rubro-negra ilumine esse momento de trevas que estamos vivendo!Avante molambada!!É nóis tudo!!
Mandou muito bem!!!!
Muito bom Arthur. Playba…. hehehehehe
Perfeito o conceito de #chororô preventivo! Estou me acabando de rir aqui!!! Altas gargalhadas com as crônicas flamengas do Arthur.
O Palmeiras já tá peidando na farofa, o empate com o Cruzeiro mostrou que o motor tá começando a engasgar. E a maior prova é o mimimi preventivo desse presidente ai…feião, meus irmãos!
Tava aqui pensando na etimologia da palavra flamengo, e se não me engano tem a ver com “chama”? Quem pode me ajudar? Se sim, puta que pariu, nada mais afeito!
Adoro quando a torcida e dirigente adversários começam a dar faniquitos. Isso vai mostrando o quanto estamos no caminho certo.
Abraços e doutrinadoras SRN.
FlorminenC é um clube de aristocratas, advogados. Seu presidente é, e recentemente, tiveram um advogado como diretor executivo de futebol.
Então, pra eles, se regras do jogo mesmo sendo antieticas não são cumpridas, é o fim do mundo.
Ora, para a opinião pública arco-iris, parte da imprensa e pros chorões envolvidos, a questão é a tal da interferência externa. Que houve, e pode-se admitir isso. Por enquanto não é permitido pela FIFA.
Mas o absurdo maior começou alguns minutos antes: o auxiliar aponta impedimento antes da conclusão da jogada, o juiz acompanha a marcação, beleza. Aí vem o LGBT inteiro pra cima do bandeira jurando que quem fez o gol(Henrique) não estava na banheira. O juiz consulta o bandeira e depois deste afirmar posição irregular de outro jogador(Cicero) discorda e que o autor do gol é o zagueiro. Logo, ambos voltam atrás e validam o lance.
Dois erros: primeiro que jogador de futebol não tá ali pra apitar, nem ter a certeza de que está em posição legal. Nem mesmo o juiz aceitar qualquer tipo de pressão por parte de jogadores. Segundo, que o auxilar viu que três estavam em impedimento, tanto é que antes da conclusão da jogada levantou a flâmula. Porque não relatou isso ao Ricci? Das duas uma: ou errou tecnicamente ou arregou no calor da pressão.
O Arthur tem disso.
Na brincadeira (ou na gozação, como quiserem) aborda temas sérios, mesclando futebol e vida, vida e política, e assim por diante.
Muito bem escrito, mas, na minha ótica chegada à medíocre, em tais temas a gozação (ou brincadeira, como quiserem) acaba trazendo prejuízos.
Para falar a ^verdade^, NINGUÉM é rigorosamente PURO nesta nossa vidinha, em que mais procuramos enganar do que nos preocuparmos com uma verdade que não se sabe qual seja, de ^verdade^.
Não há lá muita diferença entre Peter, Nobre e Bandeira, como inexiste entre Lula, Temer e Aécio.
Há os ^fortes^ da vez, aqueles que – vamos a um passado remoto – as ^forças ocultas^, que são estas as de sempre, privilegiam, transformando-os nos senhores todos poderosos.
Analisar a super cagada de um covarde como foi o árbitro do Fla Flu de Volta Redonda (por falar nisto, que publico vergonhoso, que ninguém comentou) é muito fácil.
Os comportamentos que daí surgiram, ainda mais vinculando-os, desta ou daquela forma, a problemas muito mais graves, como os de JUíZES e árbitros e seus compromissos ^com a verdade dos fatos, com a letra da lei, com a opinião pública ou com seus erros pregressos^, NÃO PODEM se restringir a uma análise que simples seja ou que se limite no espaço de um pequeno artigo, por mais bem escrito que seja.
Qual a verdade, quais as leis, até onde sugestionada a opinião pública, quais os erros suspostamente anteriores, caberia indagar, o que, obviamente, de fácil nada tem.
Não procurando levar adiante uma polêmica interminável, vou ficar com uma colocação um pouco anterior do próprio Arthur –
^A convicção de cada um poderia sobrepor-se às evidências^
Nem tão MORALISTAS SRN
FLAMENGO SEMPRE
Ficou faltando uma interrogação na frase final.
Aquele artigo anterior do Arthur foi tão memorável como o atual.
O prevalecimento de uma mera convicção particular, assemelha-se, em tudo e por tudo, a uma ética igualmente particular.
Só pra variar…
Pra variar, a moral e os bons costumes estão do nosso lado.
Estou atônito com o desespero demonstrado pela playbozada que preside clubes de futebol da série A do Brasileiro.
Parece que roubaram a bola deles no meio da pelada e eles, inconformados, chamaram a policia na mesma hora.
O problema é que a história era outra. O problema é que não deixaram que eles levassem a bola (que não era deles) pra casa. Por isso todo esse faniquito performático e radiação exacerbada de calcinhas (muito acima dos decibéis tradicionais).
Parece que a frustração de não conseguir roubar do Flamengo está acima de todas as outras coisas. Ou será que é a imprensa em geral que gosta de fomentar tal discussão por pontinhos a mais no IBOPE?
Só sei que um gol irregular validado tem muito menos repercussão que um gol irregular invalidado.
O Palmeiras ganhou do São Paulo com um gol irregular em jogada de bola parada. Quase ninguém se lembra desse fato (especialmente o presidente playboy da porcada) e vem agora, na cara dura, dizer que não vão ganhar na “mão grande”.
Eu, cara pálida, quem foi beneficiado com o erro foi o Palmeiras. E queriam se beneficiar, DE NOVO, de outro erro.
Como não conseguiram, ficaram revoltadinhos. Afinal, “a bola sempre foi deles”.
Isso mostra bem quem está querendo ganhar na “mão grande”.
O que me deixa feliz e tranquilo nessa história é que Flamengo está certo em sua posição. Não deixamos sermos roubados. Mantivemos nossa retidão moral e esportiva para não ceder aos caprichos daqueles que querem nos derrubar.
E, pra variar, já que o assunto agora envolve o Mengão, vamos deflagrar finalmente o uso dos recursos eletrônicos para resolver dúvidas no campeonato brasileiro.
Enquanto as polêmicas estiveram restritas a porcos e gambás, nada aconteceu.
Mas, agora que o Mengão entrou na parada, a coisa vai andar. Vão utilizar recursos eletrônicos (QUE JÁ ESTÃO LIBERADOS E DISPONÍVEIS HÁ TEMPOS) até pra ver se os jogadores de certos times estão, ou não, com o uniforme completo, inclusive as calcinhas rosas ou laranjais.
E por que não usam os recursos oficialmente? Ora, para dar “emoção” ao futebol. E deixar possibilidades de manipulação em aberto para prejudicar quem se opuser ao Status Quo.
Vale lembrar que o presidente da CBF (outro playboy velho) é conselheiro do Palmeiras é que o chefe de arbitragem veio da Federação Paulista.
Ou seja, se não puderem levar a bola pra casa, ninguém vai levar, principalmente alguém de quem não gostem.
Só se esqueceram de um detalhe: o Flamengo quer apenas levar a própria bola pra casa, não está tirando de ninguém e quer “apenas” que os playboys entendam isso.
SRN a todos.
Gênio!
Arthur, eu estava com o dedo no gatilho para escrever, mas após ler seu texto, recolhi-me a minha insignificância, eu não consiguiria escrever de maneira tão clara e objetiva como você o fez. Só quero acrescentar: essa visão torta de Justiça, infelizmente, é a vigente no atual Brasil.
(Em meu texto anterior focalizei exatamente isso)
Um adendo a mim mesmo: irretocável, o título de seu texto: Éticas particulares, é o resumo do que se pratica no país hoje em dia.
De fato é de uma pobreza Moral este Fluminense que chega ser ridículo. Seria ridículo se não fosse trágico!
“E tenho dito!!!” Texto sensacional!! Muito bom qdo vc lê um texto e gargalha com ele. Parabéns!!!
É a mesma situação de quando uma prova de um crime é obtida por métodos considerados ilícitos, vide aquela gravação da dilma e lula…. Pode até ser errado, mas o conteúdo deve mesmo ser ignorado, sabendo que ele mostra algo também errado?
Você não entendeu…
Muito foda
Você é foda Arthur. @lipetn
Sábias palavras
Foda!