As águas de março, que tradicionalmente fecham o verão brasileiro, ainda nem botaram a cara, mas com o que tem chovido em fevereiro já dá para se ter uma ideia do que os próximos dias nos reservam. Tempo muito instável, com possibilidade de pancadas ocasionais e muitas trovoadas. Principalmente durante os próximos 88 dias em que o Flamengo disputará a sua sobrevivência na mais importante competição do continente. Para a torcida serão noites e noites sem sono e dias de inescapável tensão. Brilhar na Libertadores da América e, pelo amor de Deus, caras!, não pagar memoráveis micos internacionais, se tornou para o Flamengo uma questão de honra.
Ou pelo menos deveria ter se tornado, porque nas ultimas vezes em que o Manto Sagrado desfilou sua mística pelas canchas da América, o Flamengo, a despeito do seu tamanho e natural protagonismo, não fez um papel nada bonito. Muito porque no Flamengo, há muito tempo, a Libertadores tem sido tratada como prioridade, mas só até a pagina 2. Ao menor sinal de que a disputa paroquial do irrelevante Carioqueta poderia ser prejudicada pelo contingenciamento de esforços em favor da Libertadores as forças do atraso, que muitas vezes atuam involuntariamente, jamais hesitaram em exercer seus poderes e subtrair ao Flamengo qualquer chance de êxito continental.
Enquanto essa mentalidade não mudar de verdade nos gabinetes da Gávea as chances de êxito do Flamengo na Liberta continuarão circunscritas à casualidade. Se para a torcida, vencer a Libertadores é uma justa obsessão, ainda falta aos dirigentes oferecer as provas inquestionáveis de que estão nesse fechamento. Já são 10 anos redondos desde a última vez em que o Flamengo conseguiu disputar a Libertadores em duas edições consecutivas. Não temos o direito de desperdiçar essa oportunidade de remissão. Jogar a Libertadores todos os anos, que hoje quer dizer pouco dada a liberalidade com que se definem seus participantes, foi durante muito tempo uma meta insistentemente cobrada pelos torcedores.
Que acreditavam, não sem muita razão, que a familiaridade com as características únicas da competição sul-americana era uma condição obrigatória aos reais postulantes à sua conquista. O canetazo da Conmebol que transformou a admissão à Libertadores na Festa do Caqui onde hoje a entrada de qualquer frequentador de rebaixamentos é franqueada tirou das costas do Flamengo a responsabilidade de mandar bem no Brasileiro ou ganhar a Copa do Brasil todo ano. Beleza, demos sorte nessa. Mas a partir deste ponto não tem CBF, Conmebol, FIFA ou Anistia Internacional pra dar um help, o Flamengo só conta consigo mesmo. E se o Flamengo der mole as entidades supracitadas estarão entre as primeiras a nos fuder. Vide o rigor com que fomos punidos pelos furdunços na final da Sul-americana.
Estrear na Liberta contra o River Plate em um jogo amputado pela ausência da torcida é um anticlímax, a negação do que temos de melhor a oferecer aos deuses do futebol. Que é a festa e a furiosa carnavalização, artes nas quais os rubro-negros são insuperáveis. Mas com portões fechados ou abertos o Flamengo nunca está sozinho. Terem marcado esse jogo no Vazião de Engenho de Dentro não deixa de ser uma fina ironia. Um lembrete aos mais empolgados de que hoje não é festa. E que também pode ser entendido como uma metáfora do que deve ser feito ao longo de uma competição onde o Flamengo terá que provar a cada dia, e a cada decisão tomada, a correção da sua ética de trabalho.
Ao definir ética Oscar Wilde dizia que é o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando. O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está olhando chamam de caráter. Pois que na noite de hoje, simbolicamente longe do olhar da torcida, o Flamengo mostre, sem fazer economia, a extensão e a materialidade do seu caráter. Não ser capaz de superar a fase de grupos da Libertadores pela terceira vez consecutiva não pode ser uma opção. Seria o fundo do poço, seria o fim do caminho.
Mengão Sempre
Repetindo o mantra….
“Enquanto essa mentalidade não mudar de verdade nos gabinetes da Gávea, as chances de êxito do Flamengo na Liberta continuarão circunscritas à casualidade.”
Infelizmente, terei que discordar um pouco da frase acima.
O problema é que a mentalidade dos dirigentes reflete a mentalidade da torcida. Basta ver como vários torcedores ficaram coléricos com o desimportante jogo contra os Flores em Cuiabá.
“Não pode time misto!!!”; “Flamengo tem que entrar para ganhar, mesmo que seja cuspe à distância!!”; “Tem que levar TODAS as competições a sério!!”, etc..
Não precisa ir longe, basta ver os comentários do último post do Arthur.
Quem impinge esse MODUS OPERANDI idiota na(s) diretoria(s) é a própria torcida.
Ficam nervosinhos por causa do Ruralzão e atrapalham ( ANO, SIM; E NO OUTRO, TAMBÉM) os planos do Mais Querido de ganhar o que realmente interessa.
Ano passado foi a mesma coisa. Lembram da perda da Taça Guanabara pro Flores nos pênaltis??
Então, é assim que procede grande parte da torcida. Esse evento (perda da Taça Guanabara) é, até hoje, mais lembrado que o fato de o time ter sido CAMPEÃO CARIOCA INVICTO. E não estou exagerando.
Tem torcedor que fica, até hoje, revoltadinho com aquele jogo. Jogo, aliás, QUE NÃO VALIA NADA.
Assim como não valia nada o jogo de sábado passado contra os mesmos Flores.
Só que isso não se restringe a esses últimos dois anos. Em 2010 e 2012, a coisa foi muitíssimo semelhante.
A torcida adora “gastar vela boa com defunto ruim”, leia-se, pressionar o time na Libertadores por causa do ignóbil Carioqueta.
E não veja que isso mude tão cedo. Parece que o “vírus” do apego não quer sair da mente de vários torcedores rubro-negros. Esses continuam, inexplicavelmente, agarrados à crença de que a competição Rural continua com o status e a importância dos anos 1960 e 1970. Nem Freud explica…
Hoje é dia de começar uma história nova. Mostrar que os erros do passado foram aprendidos e internalizados.
Saber que o mais importante é vencer, mesmo que não jogue tão bem. E saber que a pressão TAMBÉM está do lado de lá.
Não podemos, por exemplo, levar gol de contra-ataque como aconteceu contra o Independiente no jogo lá da Argentina. Jogo que dominávamos e vencíamos por 1×0 (fora de casa, portanto).
É desse tipo de lição que falo. Espero que tenham aprendido.
E quando eu digo que “espero que tenham aprendido”, falo em relação à Comissão Técnica, jogadores e Direção. São eles que precisam ter entendido isso muito claramente.
A torcida, infelizmente, posso assegurar que ainda está atrelada às coisas do passado. E talvez só entenda as mudanças para o futuro com a conquista de novos títulos.
Até lá, ainda teremos que ler e ouvir sandices como as que vimos nos últimos dias.
A nossa ambição não pode ser atrapalhada pelo Ruralzão. Mas, não pode mesmo.
Então, para continuar coerente com o que eu sempre digo: QUE COMECE O ANO DE 2018!!!
SRN a todos!!
Começou o ano.
Como acabaram os outros.
E ai, vc com sua analise ? Ficou meio torta, né.
Tomara que seja o início do caminho, e não o fim. É pau, é pedra.
[…] Reprodução: Arthur Muhlenberg […]