Confesso que não estava esperando muita coisa dos Sem-Drenagem. Atitude que por si só deixa transparecer uma preocupante falta de humildade de minha parte, o que já está virando um hábito perigoso. Até achava que os caras iam jogar duro, dar aquela valorizada, uma satisfação aos seus torcedores além daquela chorada tradicional do Botafogo gaudério.

Tava tranquilo, por maior que fosse a reca dos caras, não havia o menor risco de criarem problemas pro Flamengo, porque falta bola a eles. Mas nem em meus sonhos mais arrogantes poderia imaginar a Perereca à Gaúcha que o Inter serviu à Nação no gramado do Maracanã na noite de quarta-feira.

De futebol mesmo não fica nem bem ficar falando. Os caras entraram em campo com 4 volantes, uma escalação que era a personificação do medo. O Flamengo começou o jogo daquele jeito tinhoso e opressivo, sem deixar os pequenos brincarem com a bola, dominando absoluta e completamente o quadrilátero relvado. – O horror! O horror!, diria o Coronel Kurtz.

E os caras não aguentaram a pressão, postos inapelavelmente na roda perderam a linha rapidamente e foram sendo expulsos. Com Gabriel metendo seu 18º gol no Brasileiro e dois a menos no time do adversário o Flamengo naturalmente perdeu o tesão. O jogo acabou ali naquele fricote do Paolo Berrero, mico imenso que ao menos permitiu ao peruano ser protagonista no Maracanã, coisa que ele nunca conseguiu quando jogava no Flamengo.

Eu até entendo o Berrero. Ninguém tem obrigação de aguentar ficar o tempo todo no bolso do Rodrigo Caio sem reclamar. Ele fez o que estava ao seu alcance pra sair de lá, porque da bola ele não viu nem a cor. Acabou conseguindo na base do faniquito, mas foi uma vergonha. Berrero teve seu dia de Rojas, só faltou uma fogueteira pra completar a paródia.

Voltamos pro segundo tempo compartilhando a certeza universal de que a fatura estava resolvida. Obviamente tomamos um gol, o que serviu pra vagabundo ficar esperto e lembrar que essa porra de já ganhou não existe. Moralmente retificado, o time se ligou no serviço e fez os gols, Arrascaeta e Bruno Henrique, que precisava pra acabar com a palhaçadinha definitivamente.

Fundamental citar Rafinha na construção desses gols no 2º tempo e Everton Ribeiro na jogada que originou o pênalti no 1º. Pra culminar com o esculacho com a gauchada o Jorge Jesus, magnânimo e fiel ao verdadeiro princípio do esporte, resolveu equilibrar o jogo. Pra compensar os dois jogadores a menos dos caras fez entrar do nosso lado Vitinho e Berrío. É um brincalhão esse português.

Mais 3 pontos, mais um jogo invicto, mais uma vitória pra série, mais uma defesa da liderança. Ainda faltam 17 rodadas e a distância do vice provisório é de apenas 3 pontos. Quem acha que o campeonato acabou tá viajando. Mas é verdade é que o Flamengo vem espalhando o terror pela futebolândia nacional de um jeito que parece que o mundo tá acabando. Vagabundo tá muito bolado, demitiram o técnico do time que apanhou do Flamengo no sábado passado, demitiram o técnico do time que vai apanhar do Flamengo no sábado que vem. E assim caminha a humanidade.

Onde é que nós vamos parar? Não sabemos ainda, mas espero que seja em algum lugar muito distante, sem transmissão pela TV e só depois de termos levado as taça tudo pra Gávea. Não posso falar pela torcida, mas pessoalmente tenho que admitir que não estou preparado para a possibilidade do Flamengo perder. Não por arrogância ou desprezo aos adversários, mas pelo meu compromisso inquebrantável com a lógica e com a racionalidade. Se o Flamengo, e seus adversários, continuarem a jogar assim, o Flamengo só vai voltar a perder um jogo lá na Taça Rio 2020. Provavelmente pro Boavista. Mas é tudo especulação.

Certeza só tenho uma: sábado vai ter gol do Gabigol.

Mengão Sempre