Quando o Flamengo é bom ele é bom, mas quando o Flamengo é mau ele é ótimo. Protagonista da carnificina dominical que desnudou a indigência técnica e moral dos corintianos, o Flamengo estuporou com extrema indelicadeza com o pouco que restava de dignidade aos curicas. Na folha corrida da sua arena mal paga o Flamengo já era o time que os tinha vencido pela maior diferença de gols. Mas os três gols do antigo recorde ainda pareciam pouco, com o novo patamar de cinco côcos no balaio alvinegro o Flamengo pode finalmente afirmar que cortou a fita da obra bonita que vagabundo inaugurou com o nosso dinheiro. A arena corintiana agora está oficialmente liberada para todo tipo de sevícias.
Foi um cincun tranquilão, os curica não deram nem pra saída. A maior ameaça que o Flamengo sofreu durante os 90 minutos foram as investidas do ataque comandado pelo sempre bem colocado Cleber Machado e Casagrande. O Flamengo jogou seu futebol de sedução moderada, deu a maior goleada do campeonato, recuperou a moral de Vitinho, permitiu ao jovem Natan a graça de fazer seu primeiro gol no profissa, colocou mais um tijolinho no muro da carreira do Neneca (pegou muito), se consolidou na imediações da liderança e tirou o sono da arcoirislândia, que começa a achar que 2020 está ficando muito parecido com 2019.
Pra boa parte da torcida do Flamengo a vitória veiúda e perfurativa na ponta feia da Dutra ainda serviu para o despertar da consciência. Praquele pessoal que se liga excessivamente em resultados a ficha finalmente caiu. O Flamengo de Domènec Torrent está sendo heroico ao atravessar com galhardia uma das sequencias de jogos mais filhas da puta da história. Esse Flamengo de aço tem enfrentado a tabela insana, adversários cheios de mágoa, contusões inoportunas, convocações nada a ver, sinistros surtos de Covid e uma exagerada, mas não surpreendente, má vontade com o treinador catalão.
Ninguém é obrigado a ir com a cara do Dome, mas é viagem de ácido tirar conclusões definitivas sobre a sua competência como treinador quando treinar o time é uma das coisas que o cara menos faz na vida. Mas o direito à corneta é sagrado, cada um fala o que quiser e danem-se os fatos. Como os resultados estupendos obtidos pelo Mengão em campo não ajudam à narrativa de que o Dome é ruim, os cara foram atrás de outra justificativa pra malhar o espanhol. E encontraram uma que é uma rara pérola da subjetividade. Descobriu-se que o time não está jogando bonito. Oh, céus!
A busca pela definição do belo é uma das mais ancestrais questões filosóficas da humanidade. Socrátes, o marido de Xantipa, não o Doutor, dizia já na Grécia Clássica que “Toda beleza é difícil”. Aristóteles, na sua Metafísica aborda a beleza como uma ideia objetiva; “As principais formas de beleza são a ordem, a simetria e a definição clara”. No seu famoso Banquete, Platão dizia que a beleza era determinada pela experiência de prazer suscitada pelas coisas belas.
Se pelos padrões aristotélicos o futebol do Flamengo talvez deixe a desejar nos aspectos de ordem e simetria, na concepção platônica do belo o futebol do Flamengo é bonito pra caraio porque nos dá prazer de ver. Principalmente ver o que tá escrito no placar no fim dos jogos. Nem esquente a cabeça se por acaso você não se decidir entre essas definições gregas para o belo. Essa é uma das grandes dicotomias da História da Arte, a oposição entre o belo clássico – objetivo, universal e imutável – e o belo romântico – que se refere ao subjetivo, ao variável e ao relativo. Nosso prazer é ver o Mengão ganhar.
Não podemos deixar de admitir também um prazer mórbido ao vermos a expressão glútea exibida pelo povo curica depois que o bacanal na arena dependente química acabou. Principalmente a cara do Mancini, que há algumas semanas dava risadinhas irônicas quando o então seu time, Atlético – GO, na cagada, nos enfiou três gols inoportunos e inconvenientes. Ao que parece o Dome é um sujeito de mala hostia, extremamente vingativo, que estendeu ao Mancini o mesmo tratamento dispensado ao Miguel Angel Ramírez, do Independiente del Valle. Às vezes vale muito a pena ser rancoroso. Mal vejo a hora do Domènec se vingar do Sampaoli e do Guto Gordiola Ferreira.
O Flamengo vai muito bem, em marcha acelerada rumo ao Octa. E apesar das cornetas infindas, tem consertado em campo as eventuais cagadas que possa ter cometido quando ninguém estava olhando. Se é evidente que o time ainda tem muito espaço para o aprimoramento, é evidente também que mesmo à meia-bomba ainda é capaz de fagocitar os 19 concorrentes às vagas da Libertadores 2021 umas três ou quatro vezes sem tirar. Nem consigo imaginar como esses caras vão voar quando esse time estiver completo, treinado, bem vestido e enfrentando adversários mais valorosos.
O Brasil vai ficar pequeno. Quer dizer, já ficou.
Mengão Sempre
Filipe Luis é um excelente apoiador e um marcador mediano que não tem mais oxigênio para correr todo o campo atrás de ponteiro velocista durante 90 minutos.
Ramon tem fôlego para isso.. Então, a lógica é Ramon na lateral e Filipe Luis como meia armador, alternando com Arrascaeta.
Domenec gosta de testar, está faltando esta.
O gol do vasco contra a gente foi erro de marcação dele, apesar do erro bobo do BH.
Mas nem foi por perder na velocidade, ele deu o corte pro meio pro adversário quase dentro da área, erradamente.
Fora isso, não me lembro de termos levado nenhum gol por falha de marcação do Filipe Luís.
Trata-se do melhor lateral esquerdo do Brasil disparado. Se vc tiver alguma dúvida disso, reveja o jogo contra o chorinthians e o verdadeiro baile que ele deu no lateral titular da seleção do Tite (hahaha) na última Copa do Mundo. Tirá-lo dali e colocá-lo no meio seria abrir mão de um lateral excelente para ganhar um meia medíocre, já que ele não tem pé direito.
Ramon é muito bom, tanto quanto jovem e inexperiente. Tem que entrar aos poucos e não há nenhuma razão para fazer isso com desespero e correria, até porque o Renê é um reserva confiável.
Filipe Luís fez um ano perfeito em 2019 (tem gente com menos de 2 neurônios incapazes de fazer uma sinapse que passou 3 meses marcando o cara por causa daquele 0 x 3 contra o Bahia, no início do trabalho do Jesus) e tem sido um dos principais jogadores do time em 2020.
Lateral não tem necessariamente que ser veloz. Isso o Rodinei era. Tem que ser técnico e muito inteligente no posicionamento, especialmente para jogar com linhas altas como faz o Flamengo. Saber a hora de ficar, de subir, de cobrir o zagueiro, etc.
Basta ver a dificuldade do bom Matheusinho de se posicionar ali. Levamos alguns gols nas costas dele, nos poucos jogos que atuou.
Ramon é uma jóia. Mas tem não é jogando o cara no time à louca sem qualquer necessidade que vamos aproveitá-lo melhor.
Ademais, FL iria pro lugar de quem no meio? Gerson, Thiago Maia, Arrascaeta?
Já disso isso aqui e fui chamado de professor pardal.
O nome do goleiro é Hugo. Vamos parar com esta porra de neneca .
Apoio.
Apoio, pois até já escrevi a respeito.
Complemento.
Já tivemos um goleiro Neneca, que não cheirava e nem fedia.
Jogou entre os anos de 90 e 91.
A idéia de um apelido, chegado ao depreciativo, é péssima, embora com boa repercussão na imprensa.
Ele gosta de ser chamado como?
Sou a favor de o chamarem pelo nome que o próprio quiser,afinal ele é o mais afetado e interessado nisto.Aliás alguém já o perguntou sobre isto?
Exatamente.
Agora todo mundo quer um tecnico “estrangeiro”. Acho bom isso, vai colocar o futebol brasileiro em dia.
Foram os sucessos de alguns por aqui, principalmente o do JJ, que abriu as mentes para possibilidades que antes eram quase sempre rejeitadas.
Com o decorrer do tempo deve cair até o famoso complexo vira-lata, porque nao todos tecnicos serao vitoriosos- e isso farah bem a todo mundo.
Henrique,
Você está correto nas colocações.
Eu não torço pelo insucesso do adversário, salvo se nos beneficiar diretamente. Acredito que técnicos estrangeiros podem também ajudar a exterminar algumas raízes daninhas do nosso futebol – visto que a grande parte dos técnicos brasileiros são reprodutores desse modelo. Muitos clubes ainda são praticamente amadores.
Quem sabe com a melhora de nossos adversários, até a bandida cbf não ganha um pouco de profissionalismo?
SRN