Apesar do visível e comovente esforço do Flamengo em deixar essa chateação de Brasileiro pra lá os nossos flatulentos coirmãos não concordam em nos deixar de fora da brincadeira. E cá estamos nós, mesmo com a explícita má vontade de uns e outros, mais uma vez em plena disputa do título. O que além de nos encher o coração de alegria e orgulho nos permite citar Michael Corleone e Silvio Dante (o dono do Bada Bing) ao mesmo tempo: – Bem quando eu pensei que estava fora, eles me puxaram de volta! (Just when I thought I was out, they pull me back in!)
Ontem vimos o Atlético Mineiro pedir pinico e dar início às comemorações pelo tão esperado Jubileu de Ouro na fila do Brasileiro. O Campeão do Gelo está em festa pelos 50 anos chupando o dedo. Trouxe até o Hulk pra fazer uma presença vip no grande evento. E já que nego se recusa a ganhar o Brasileiro mais mole da história, vamo lá a gente mesmo em honra da firma. Todo mundo tá cansado de saber qual é o segredo pro Flamengo ganhar molinho os três pontos fundamentais pra manutenção do sonho alucinado de ser o primeiro Octacampeão brasileiro só com títulos conquistados no gramado, sem fax, sem email e sem sentença fajuta do TRF.
Basta encarar o jogo com a nossa baranga não como uma partida decisiva da 34ª rodada de um campeonato maluco em que estamos 4 pontos atrás do líder provisório, mas como a decisão de um título. Contra a Vasca, valendo caneco, não tem erro, é só correr pro abraço.
Cabe até uma crítica construtiva aos dirigentes rubro-negros. Plenamente sabedores desse encantamento flamengo, dessa força cósmica que impede o Mais Querido de perder qualquer título pro bacalhau, é uma falha gravíssima não termos na noite de hoje no Maracanã uma taça em disputa. Qualquer taça serviria pra que a mágica acontecesse. Mas como somos mandantes, o interesse maior é nosso, caberia à diretoria ter feito esse corre em tempo hábil.
Vultos rubro-negros dignos de emprestar seu nome a um troféu destinado ao vencedor da 326ª edição do clássico entre a Mulambolândia e Portugália em caráter oficial, e a 60ª vez no Campeonato Brasileiro, abundam entre os heróis rubro-negros. E nem precisamos ficar restritos aos semideuses que habitam os patamares superiores do Olimpo rubro-negro, tais como Validos, Zicos e Rondinellis, tão habitualmente lembrados e talvez até já meio sem saco de tanta homenagem merecida. Concedamos aos nossos titãs o desfrute do seu direito à inação, pelo muito que já fizeram.
Para marcar tão seminal efeméride o troféu comemorativo poderia se chamar Taça Jean Carlos da Silva Ferreira, autor da improvável trifeta da decisão do Carioca 2004. Ou uma Taça Marcelo Bujica Ribeiro, o célebre Caçador de Marajás de 1989. Não é sacanagem nem humilhação, mas caberia até mesmo uma Taça Maestro Márcio Rodrigues Araújo, que atingiu o ápice de sua carreira de empalador das bigodudas com seu gol safado e legítimo na bizarra decisão do carioqueta de 2014. Enfim, tinha gente à beça pra batizar o troféu, mais um vacilinho da nossa cartolada, pelo menos este não é fatal.
Porque uma tacinha ajudaria, a estatística comprova, mas a verdade é que não é um item de primeira necessidade. Nossa baranga, ainda que comparativamente esteja vivendo uma fase excelente, inclusive está momentaneamente fora da Zona de Rebaixamento, ainda não foi capaz de fazer o mundo esquecer que os camisa-feia não vencem o Flamengo numa decisão há 33 anos.
E até quem é jovem a ponto de encontrar alguma dificuldade para conceber fatos acontecidos em tão remota antiguidade tem perfeita noção de que o Flamengo não perde pros caras desde abril de 2016. É a maior sequência invicta do Flamengo nos 99 anos da história do Clássico dos Milhões. É freguesia consolidada, cliente fidelizado, daqueles que compram no site, retiram na loja e nem aproveitam o frete grátis.
Claro que se o Flamengo entrar em campo com essas estatistiquinhas nerdológicas na cabeça vai se fuder todo, que futebol nunca foi esporte pra geek. Muito menos agora que a baranga chega no sanhaço, com a lama movediça das divisões subalternas já batendo na bunda, disposta a fazer qualquer negócio, menos beijo de língua, pra sair desse veneno. E ainda merecidamente orgulhosa pela sua grande conquista esportiva no Brasileiro passado com a conquista da Taça Empatei com o Flamengo naquele 4×4 infernal. Pensando bem, no atual contexto é temerário afirmar que ela não topa o beijo de língua. Se quebrar na ideia tem jogo.
Como se pode notar, para as duas equipes as taças não servem apenas para juntar poeira em suas Salas de Troféus. Ainda que a pequena galeria do Vasco esteja interditada há alguns anos pela Defesa Civil por falta de manutenção. Mas como não teremos taça em disputa no jogo de hoje à noite, o Flamengo terá que buscar outros estímulos pra alcançar seu objetivo. Que também são muito encontradiços entre os que fecham com o certo.
Quem sabe Gabriel e Pedro deixem fluir a cobiça e a ambição do bem para buscar a artilharia da competição. Não está difícil. Ou Isla se emputeça pelas conversinhas não republicanas sobre uma recontratação de Rafinha e jogue toda a bola que ainda não jogou com o Manto pra acabar de vez com essa cornice de quem adora ler uma revista velha e desperdiçar o dinheiro do Flamengo em revivals dispendiosos que dificilmente proporcionam o êxtase desejado.
Saindo do plano individual e pensando como grupo, quem sabe o jogo de hoje não é a oportunidade ideal para mostrar ao mundo que o time do Flamengo é capaz de se auto gerir? Mostrar que quem está em campo envergando o Manto Invencível é perfeitamente capaz de encontrar as soluções para os problemas que se apresentarem durante a partida sem precisar seguir os discutíveis conselhos de quem está do lado de fora vendo o jogo com um ângulo de visão reduzido que distorce a realidade. Quando alguém cansar pede pra sair, deixa o Ceni botar o Sr. Vítor e todo mundo continua amigo.
Ainda que vagabundo esteja doido pra entregar o ouro pro Mengão não dá pra deixar tudo por conta dos patetas, precisamos fazer nossa parte. A parte dos jogadores todo mundo sabe qual é, honrar o Manto, ganhar de todo mundo e não perder de ninguém. A dos torcedores é fazer o que já vem fazendo há quatro ou cinco rodadas com denodo e fé, manter a pressão na corneta e ter a plena consciência de que se não ganhar da baranga hoje já era, acabou o brinquedo.
É nas situações extremas e limítrofes que o Flamengo se agiganta. Essa é a nossa crença, a nossa doutrina. O terraflanismo não é uma seita, principalmente porque lida essencialmente com a realidade e não cobra de seus praticantes nenhum tipo de fé. Provando a cada dia, em estreita colaboração e jamais em oposição ao conhecimento científico, que a Terra é Fla e gira em torno do Sol. O mundo gira, a lusitana roda e o Mengão deita e rola.
Mengão Sempre
Efetivamente, impossível confiar nesse atual time do Flamengo.
Em 2019, ainda sob o comando do Jorge Jesus, com o time embalado, passando por cima de todos como um trator desenfreado, empatamos com o Vasco pelo placar de 4×4.
Aí, então, pensei:
– Fudeu! Luxemburgo vai traçar uma armadilha para o novato Ceni e não sairemos do empate. O Internacional vence e o caneco será deles com quatro rodadas de antecipação.
Mas, não é que deu tudo errado. Errado em relação às minhas deduções, é claro.
Gravei o jogo do Internacional e fui ver de madrugada. Pelo que eu pude observar, os 41 anos longe da felicidade já começam a preocupar parte do elenco. O time deles entrou no segundo tempo já sabendo da vitória parcial do Flamengo, entretanto parecia com as pernas presas no chão.
Se esse nosso time não fosse tão irregular em suas atuações, eu arriscaria dizer que o octacampeonato está bem próximo. Porém, quem ousa apostar nesse time?
SRN!
Em tempo: Somente mesmo o brilhante Arthur para me fazer morrer de rir em plena pandemia. Esse Arthur é genial!
Acho que o Arthur previu a atuação do time contra o vasquin. Primeiro tempo foi excelente, marcação “estilo 2019”, movimentação dos caras de frente, etc. Nessas últimas boas atuações do Flamengo, a gente voltou a ter a impressão que o gol (e a vitória) é uma questão de tempo (e paciência). Só acho que no 2º tempo o time aparenta “pregar” e ficar um pouco disperso. Enfim, acho que agora não tem jeito. É vencer, no mínimo, os 3 jogos seguintes e correr pra taça.
O paraguaio vermelho do Uruguai do Norte asfrou! Deixaram chegar…
Asfrou foi do baú!
https://comendadoralbuquerque.wordpress.com/2011/11/04/as-girias-e-o-papa/
Tem uma do Wagner Tiso, que compôs “Armina”. Perguntei quem era Armina. “Armina é a contração de ‘as meninas’ em carioquês.”
que texto pika !
cara é só os jogadores imaginarem que viram uma taça que a vitória está garantida.
só discordo que o flamengo não exige da nossa fé,no resto tudo perfeito.
SRN !