Parecia que ia ser moleza, mas a Recopa da América está sendo bem mais complicada do que a torcida esperava. O preconceito estrutural que nós, da elite (sim, no futebol sul-americano o Flamengo é elite), nutrimos pelos emergentes foi reforçado pela comovente falta de berço do adversário. Pegaria muito mal que o Flamengo, do alto dos seus 124 anos de glórias e tragédias sempre nas primeiras divisões do mundo, demonstrasse sentir algum receio ou ansiedade por enfrentar um time periférico de uma das ligas mais periféricas do continente e que chegou à Primeira Divisão do Equador há apenas 10 anos.

O fato dos aborígines do Valle de Los Chillos, onde fica Sangolqui, a sede do Club de Alto Rendimiento Especializado Independiente del Valle, um dos nomes de time menos humildes já registrados, mandarem seus jogos em Quito, no aprazível Estádio Olímpico Atahualpa, encarapitado a 2.850 metros acima do nível do mar, não serviu como um atenuante na hora de cravar prognósticos e fazer previsões. Geral tava achando que o Flamengo ia passar o carro por cima dos caras sem maiores contratempos. Uma confiança louvável, mas meio equivocada. O jogo foi complicado.

Não apenas pelas condições atmosféricas e pela redução na oferta de oxigênio disponível para saciar os nossos venta-nervosa, acostumados a inalar o gás azul na pressão ideal de 152 mmHg ao nível do mar, mas também porque os equatorianos não vieram pra Recopa a passeio. Exploraram bem sua peculiar aptidão atlética, botaram correria pra cima do Flamengo e se aproveitaram da sua condição de locais pra baixar a porrada em nossos craques sem medo de punições. Ainda deram sorte ao marcar seu primeiro gol num frango do Diego Alves.

O Flamengo empatou logo depois com um gol típico de Bruno Henrique, numa arrancada imparável para chegar no lançamento consciente de Arrascaeta e matar o goleiro. Gol absolutamente legal, que foi anulado vergonhosamente pelo apitador uruguaio orientado pela quadrilha que operava o VAR. Bruno Henrique ainda faria mais um gol com assistência de Arrascaeta, esse tão cristalinamente válido que não houve como ser anulado.

Ainda mais porque enquanto a bola estufava o barbante Bruno Henrique rolava de dor pelo gramado após a mal sucedida tentativa de amputação sem anestesia assinada pelo goleiro equatoriano. Barbeiragem cirúrgica pela qual o carniceiro não foi sequer advertido pela arbitragem. Bruno Henrique saiu de maca, com suspeita de lesão grave, direto pro hospital.

Em seu lugar entrou Pedro, que demorou poucos minutos para concluir com perfeição uma linda jogada de Everton Ribeiro e colocar o Flamengo na frente. O banco vem como? O banco vem forte, por isso que até agora ninguém entendeu direito porque o Míster não colocou Pedro em campo desde o começo.

O jogo já ia acabando quando o descendente de profissional que mantém relações sexuais extraconjugais mediante pagamento que arbitrava a partida apitou um pênalti inexistente a favor do time da casa. Uma marcação escandalosa, teratológica, que premiou a abjeta simulação do jogador equatoriano. Os caras foram lá e bateram bem o pênalti roubado. Empate no placar e festa aborígine enquanto as lágrimas corriam pela face da estatua de Simon Bolívar. Que disse uma vez: É difícil fazer justiça a quem nos ofendeu.

E até agora tem gente ofendida com o fato de o Flamengo não ter vencido. O Flamengo empatou, todos aos botes! Mas evitemos o pânico, ainda que seja um evento de rara ocorrência, provado está que pode acontecer. O Flamengo sem Gabriel é um pouco menos letal e com Diego, é muito mais lento. Ainda assim, dada discrepância de qualidade dos times em campo, o Flamengo não se apresentou mal. E o Independiente, como será cabalmente demonstrado no jogo de volta no Maraca, não tem futebol para nos causar dificuldades.

O maior obstáculo ao sucesso do Flamengo na partida não estava em campo. Na verdade, estava a 5335.5 km, em Luque, na Grande Assunção, sede da CONMEBOL. É nos seus corredores que os vadios dessa confederação, que assinam o software do seu VAR adulterado, devem estar tramando contra o sucesso do Flamengo e, por extensão, contra o futebol brasileiro. O Flamengo foi roubado escandalosamente em Quito. Tão roubado, mas tão roubado, que os torcedores que foram ao estádio podem pedir pra serem incluídos no Programa de Proteção às Vítimas e Testemunhas.

O Flamengo foi roubado por muito motivos. Ser o melhor time do continente é o menos importante deles. Pesa mais contra nós o fato de representarmos um país que nunca se relacionou bem e pouco se identifica com o seu próprio continente. Isso não começou agora, vem desde Tordesilhas, mas é claro que quando estamos baixo um governo de comprovada incapacidade moral e com a política externa sendo dirigida por lunáticos baba-ovo do Trump, a motivação de los hermanos para nos roubar aumenta muito. Certos não estão, mas também não estão errados.

Como não é um problema que o Flamengo possa resolver em uma semana, é melhor deixar pra lá essa nossa debilidade política. O empate foi injusto e premiou a desonestidade, as instituições estão funcionando normalmente, bola pra frente. Comemoremos a não-fratura de Bruno Henrique e cozinhemos a nossa sede de vingança em fogo baixo. Teremos ainda nesse ano três oportunidades de esculachar com esses safados do Del Valle.

A primeira é semana que vem, no jogo no Maraca pra resolver essa parada de Recopa. O que o Flamengo pode fazer é dedicar alguma preocupação com a partida. Para que essa preocupação fique bem demonstrada é muito importante que Jorge Jesus fique no sapatinho, deixe a arrogância de lado e dedique à final da Taça Guanabara contra o Boavista todo o respeito que ela merece. Ou seja, nenhum respeito.

Que se escale os sub-17 ou os sósias e descanse os nossos titulares pro jogo de quarta. O que importa é ganhar a Recopa, o Carioca não vale nada! Quanto ao roubo, paciência, os caras ainda não sabem com quem estão mexendo. Podem ficar certos que vai ter volta.

Mengão Sempre