Se você acha que o presidente Bandeira de Mello, o treinador Barbieri e o lateral Rodinei são as pessoas que mais escutam reclamações no Flamengo, é porque não conhece a Carol.
Há três anos, Carol trabalha na ouvidoria do Flamengo. É ali, numa salinha três por dois na Gávea, que ela e mais dois solícitos ouvidores captam pacientemente as agruras de nossa torcida, que há três anos – só para situar o desmemoriado leitor, sem sadismo – acompanhou nosso escrete ser comandado por Luxemburgo, Deivid, Jayme de Almeida, Cristóvão Borges, Oswaldo de Oliveira, Jayme de novo, Muricy, Zé Ricardo, Jayme, Reinaldo Rueda, Carpegiani e Maurício Barbieri. Haja ouvidos.
Mas com talento e garra de craques, eles matam no peito centenas, milhares de cornetadas, atendendo, repassando ou filtrando (no caso de palavrões cabeludos) os sentimentos da nação. Eles, como poucos, têm aprendido como bate o coração dos irmãos flamengos, como pensam, do que se alimentam e o que mais enfurece esses quase 40 milhões de fanáticos, que além de flamengos são brasileiros, o que não facilita em nada a vida.
Portanto, quando o Flamengo tropeça no Ceará no Maraca diante de 60 mil presentes ou sofre mais uma eliminação na Libertadores, é no ouvido da Carol Mantuano, da Louise Amigo e do Léo Ferreira que a turba desconta – ou pede consolo.
O trio não deixa a peteca cair. E quem podia querer trabalho melhor, o ofício de conversar com esse ser mitológico sem nome e sem rosto, chamado torcedor rubro-negro?
Toca o telefone, e o bravo Léo pega o aparelho:
– Alô, meu filho. Sou do Acre, e não aguento mais esse esquema de jogo do time, com o atacante isolado e sem fazer gols! Anota por favor o esquema tático que eu bolei, e manda pro Barbieri, faz favor? Para ontem!
Pois é, tem de tudo. Léo não anota, mas pede por email a sugestão, que chega em pouco tempo com um esquema tático todo detalhado. O ouvidor encaminha assim para o departamento de futebol, e eu não sei por quê, lembro da cena do Jim Carrey naquele filme com o Morgan Freeman, quando o rei da careta vira um deus todo poderoso mas com nenhum saco de ler tantas preces.
Barbieri é um campeão de cartas na ouvidoria rubro-negra, quase um Thierry Figueira do Flamengo, mas nem sempre são pedidos de fotos. Outro bastante lembrado é o latera Rodinei Marcelo que, taí, agora que descobri seu segundo nome me parece bem mais simpático. Coisa comum é um torcedor ligar botando os bofes para fora num dia de derrota, e no outro, quando o Flamengo vence, discar de novo:
– Você me desculpe, liguei xingando muito na segunda-feira. Me arrependi. Mas vocês deram meu recado ao Barbieri? Sei não, eu vi que ele escalou o Rodinei ontem, hein…
Assim como as minhas dívidas, a torcida do Flamengo é impagável.
Todo dia 1º, por exemplo, adentra um senhor com um caderno recheado de informações. Trata-se de um PVC da arbitragem: ele compila, em todas as partidas do Mais Querido, como o juiz nos tentou foder a vida. Está tudo lá, nome do homem de preto, laterais invertidos, tempos de desconto e outras cafajestagens. Esse grande rubro-negro tem uma relação dos árbitros que mais prejudicaram o Flamengo, seus nomes – e, não duvido – endereços e castigos criativos para cada um.
Há muito rubro-negro abnegado, que telefona se oferecendo para treinar o Flamengo, e dá o salário pretendido. Tem também uns malucos que querem deixar seus bens para o Flamengo quando morrerem, e outros mais práticos que pedem um qualquer para os ouvidores, que a situação não tá fácil para ninguém…
Mas é a dona Dalva a minha personagem favorita. Liga toda semana, a dona Dalva, para se desmanchar para nossos craques ou puxar a orelha deste ou daquele. Conhece os jogadores, troca mensagens com alguns pelas redes sociais, mas não deixa de telefonar para a ouvidoria quando o coração aperta, ou o time afrouxa. “Quando o Flamengo perde, nós já esperamos a ligação dela chorando”, me conta um funcionário.
Depois da derrota na final da Sul-Americana (temos de ver no caderninho do senhor o nome daquele juiz safado), dona Dalva ligou. Estava aos prantos. A ouvidora que atendeu não resistiu, e chorou junto.
A cena que me vem, agora, é a do Nelson Cavaquinho com seu violão inclinadinho, cantando “… Deus Nosso Senhor devia castigar / O infeliz que faz uma mulher chorar…”
E vou ficando por aqui, pois leitor nenhum, quanto mais o amigo aí rubro-negro, merece ler crônica que tem Jim Carrey, Nelson Cavaquinho e Rodinei Marcelo.
Só peço, antes de escolher a foto da crônica, postar o texto e ir dormir, que lembrem da dona Dalva. Quando forem pousar a cabeça no travesseiro pensando que futebol é assim mesmo, que a reconstrução de um clube é a longo prazo, que nossos diretores pensem na dona Dalva. Que o jogador que está com a cabeça meio perdida em três competições simultâneas, que pense na dona Dalva. Que o craque sentindo dores e cansaço, ali aos 85 minutos, pense na dona Dalva. Que ao organizar o planejamento para 2019, ou ouvir que o treinador no fim do ano recebeu proposta para ir embora, os ilustres gestores pensem em dona Dalva.
Vamos, Flamengo: não é possível que num clube desse tamanho só haja três pessoas que liguem para a dor de dona Dalva.
Bla bla bla….Jogo apos jogo é a mesma ladainha! A direção do Fla apostou suas fichas no Barbieri pra técnico e deu ruim. Apostou na contratação de jogadores de video game e deu ruim. Agora em pleno Setembro ja não tem mais ideia do que fazer…Pode demitir o técnico pra acalmar a ira da torcida, mas quem vai dirigir o Fla até dezembro?!?! Cortar jogadores?!?!? E vai colocar quem?!?! Ninguem quer dizer mas o ano ja foi pro brejo e pra piorar tem a politica no meio com eleição pra presidente do clube. Nada mais vai funcionar, só nos resta somar pontos e garantir a Serie A pra 2019, e o que vier alem disso ja é lucro!!! Boa sorte pra quem fica, esse ano deu!!! Te 2019!!! SRN.
Palmas de pé também pra crônica do Dunlop. Brilhante. Me fez rir no meio dessa inhaca que tá o time.
Com o devido respeito à Dona Dalva, mas já se passaram 06 anos dessa administração de economistas e tudo que aprendemos foram atos ligados à receita, números e aparatos protetores para desestimular os insatisfeitos. O que ainda não foi compreendido é que antes de ser uma empresa, a entidade Flamengo é um Clube de Futebol. E tem como primazia a conquista desportiva. O que nessa administração de burocratas, ficou relegada a segundo plano.
No quesito futebol, o Clube é administrado por incompetentes que se acham conhecedores de um ramo em que a experiência é primordial. Não é terreno para apedeutas. Quando o Clube vai mal, eles se escondem. Somem do cenário, protegidos por subalternos. O que é comum nessa administração.
No amadorismo, foram contratados várias carroças que estão a povoar o elenco e freando insistentemente as tentativas de evolução de padrão. Mas falando de futebol, não de balanços, o O clube é motivo de chacota, exatamente por ter condições e não ganhar quase nada. Muito pouco para o seu padrão social. ( Lembra a história do jovem humilde que alcançou o sucesso mas não larga as manias de outrora).
O sucesso econômico não se reproduziu no futebol. Exatamente por serem conhecedores do sistema financeiro. De futebol…zero! O ego não deixou compartilhar competência com um profissional à altura. O mandato está terminando e não irá deixar saudades. Se possível, que levasse consigo o monte de porcarias que contratou. Marlos Patético Moreno, Henrique Poste Dourado Rodinei…só para iniciar.
Como já diziam: “Sapateiro, não vá além das suas sandálias! “. Faltou humildade a essa administração. Dona Dalva que me perdoe, mas eu quero que essa babanice seja expurgada junto com grande parte desse elenco de acomodados. A Torcida tem mais é que se rebelar contra essa mesmice.
Fora, Banana! E leve consigo os seus apaniguados.
SRN
Volto ao meu antigo chavão –
PALMAS, PALMAS DE PÉ E GRITANDO BRAVOS, COMO NOS VELHOS TEMPOS DO THEATRO MUNICIPAL (que ainda não pegou fogo) !
Parabéns, João Neto !
Um primor de comentário.
Felizes (pelo comentário, é lógico) SRN
FLAMENGO SEMPRE
Sugiro que a palestra de abertura do ano 2019 rubro negro seja ministrada pela ilustre dona Dalva