Até entre os rubro-negros mais apressadinhos existe o entendimento que só depois do jogo com o Curica será possível julgar o trabalho do Sampaoli no Flamengo. Mesmo os aficionados da opinião prematura, isenta de embasamento analítico, consideram que 10 jogos, como amostra estatística, suficientes pra se ter uma ideia do tamanho da encrenca que nos espera ao longo da temporada.

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Parece que esse argentino mangueirense tem ali um borogodó qualquer. É notável que em seu primeiro mês no serviço Sampaoli conseguiu perder três jogos e a sua cabeça permaneceu colada no pescoço. Tudo indica que Sampaoli será o treinador até a próxima janela de mandar técnico embora, que só abre em dezembro. O que equivale dizer, o sofrimento é certo. Mas seria certo com qualquer outro treinador.   

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Com Sampaoli o Flamengo vem melhorando jogo a jogo, o que é mais ou menos o que quase todo treinador faz quando tem um elenco cheio de jogador bom, embora no caso específico do Flamengo fosse mais exato usar o neologismo despiorando. E qualquer reclamação de falta de tesão, sorte ou apuro do time será a deixa perfeita pro Sampaoli citar o Homer: “Já tava assim quando eu cheguei.”

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Fazer que o Flamengo, com o elenco que tem, mande a campo times eficientes pra brigar pelo topo em todas as competições é obrigação de qualquer treinador. O difícil é motivar os caras. Parece que não existe fama, dinheiro ou novinhas suficientes no mundo pra que os jogadores fiquem a fim o tempo todo como o torcedor fica. E dá pra entender os caras, pra eles Flamengo é trabalho. Só pra nós que o Flamengo é a vida inteira, o início, o fim e o meio.

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O Flamengo continua lindo, espetacular, a camisa mais foda, o maior produtor de conteúdo da América do Sul, mas em campo sempre falta um pedacinho, sempre tem um quase no meio do caminho. Tem sido assim desde o começo do ano.

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Todo mundo, pelo menos todo mundo que importa, queria saber o que aconteceu com o Flamengo. Desnecessário mencionar os meses perdidos sob a desdireção de vocês sabem quem. A pergunta é mais abrangente, não estamos falando do time, estamos perguntando do ser humano Flamengo.

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O que foi que se perdeu entre a descida do Olimpo em outubro e essa temporada rastejando na lama mefítica da incerteza? Aliás, a incerteza é o que dói mais. O desempenho oscilante do Flamengo em 2023 acentua a distância para aquele sarrafo que o time de 2019 esqueceu lá no alto.

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Aquele sarrafo mágico e inatingível fundamentou e turbinou a certeza científica que todo torcedor tinha nos poderes do Manto sobre aquele grupo de homens. Mesmo com as defecções pontuais o elenco confirmou em 20, 21 e 22 a certeza sagrada de que o Flamengo ainda era o melhor time da terra.  

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Mas em 23 isso mudou e a incerteza agora domina corações e mentes rubro-negros. Exatamente como dominava o coração e as mentes dos sumérios, dos assírios, dos hititas e dos próprios torcedores do Flamengo até 2019. Talvez porque a incerteza esteja na raiz do jogo, na sua dramaticidade não ensaiada comum às obras de criação coletiva sem um desfecho predeterminado.

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Nos últimos quatro anos foi meio difícil acreditar na tese de que não dá pra ganhar tudo de todo mundo o tempo todo. Mas considerando essa temporada do Flamengo não dá pra dizer que a tese é 100% absurda. Ainda mais com o time correndo o risco de não ganhar nada esse ano. Um desafio à lógica enfrentado em 2022 que em 2023 se repete de modo farsesco.

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Essa incerteza, conhecida da velha guarda, só vai atenuar sua presença opressora quando esse time do Sampaoli sair do ovo. E só depois desse time jogar muita bola, só depois desse time ganhar muito é que pode, quem sabe, rolar aquela certeza sagrada de novo. Mas isso é pedir demais pra um time que tá nascendo agora.

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Hoje basta sapecar o Curica. Certeza que já é um bom começo.

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Mengão Sempre