E lá vamos nós mulambos, mais uma vez, cair dentro na luta pelo topo do continente. Quem acompanhou as nossas 15 participações anteriores sabe que a tal da Libertadores é enjoada. Só pra entrar já dá maior mão de obra, e é difícil pra caramba de ganhar.
O rubro-negro de qualquer idade sabe que conquistar a América é uma foda. Os mais cascudinhos tem noção que pra reconquistar leva mais de 30 anos. E vamos descobrir juntos, a partir de amanhã, o quão difícil é se manter no topo.
A Libertadores que ganhamos no Ano Mágico já não vale mais nada. Podem ir se preparando pro perrengue. Em 82 entramos só na semifinal e pipocamos pro Peñarol no Maraca. Com o mesmo time que tinha metido a Liberta e o Mundial.
Agora a Libertadores é outra e a história ainda precisa ser escrita. O livro está em branco. A única certeza é que não vai ser um passeio. A foda continua a mesma. Com duas diferenças fundamentais: jogaremos essa Liberta sem aquele peso nas costas que nos abateu em 14 edições da competição; entre os 32 competidores somos o time a ser batido. A cabeça do Flamengo está a prêmio.
E o Flamengo não pode usar isso como desculpa. É o ônus que acompanha o reconhecimento, os elogios e os espólios recebidos por montar uma máquina de jogar bola, por estabelecer um novo parâmetro, por definir uma nova tendência e se tornar o paradigma do futebol sul americano. Não é pouca coisa.
Fora essas duas diferenças, a Libertadores deve ser encarada por nós, torcedores, com a mesma seriedade, cagaço e reverência que dedicamos a todas nossas Libertadores anteriores, que com exceção da última, plantaram na alma rubro-negra lembranças mais associadas às visitas ao dentista do que aos lupanares iniciáticos. Quem tem, tem medo, não se pode dibrar a biologia.
Metade dos brasileiros estreou ontem, todos venceram, jogando em casa ou fora. Num primeiro momento é natural torcer para o infortúnio dos coirmãos, mas basta uma breve ponderação para entender com clareza que o rubro-negro tem mais é que torcer para o sucesso dos brasileiros. De todos eles. Pragmatismo, companheiros! Quanto melhor forem os outros brasileiros na fase de grupos maiores as nossas chances de encarar um dos nossos clientes contumazes na hora do mata-mata.
Sem arrogância, soberba ou imodéstia, todo mundo sabe que o Flamengo, no plano nacional, está em outro patamar. Quem viu os nossos concorrentes na Liberta jogando seus rurais (e, mais do que nós, os seus torcedores viram) sabe muito bem que aquele Flamengo do Brasileiro de 2019 ainda não foi alcançado. O Flamengo de 2020 sequer foi avistado por eles. Portanto, a grande novidade no campo da secação, pros flamenguistas, é torcer pros caras avançarem. Deixa os miúdos brincar, em casa a gente conversa.
Contudo, nem tudo é lazer pro Flamengo. Temos nossos problemas, todos do tipo “pobrema de rico”, mas que devem ser resolvidos com a mesma presteza com que tantas vezes corremos pra tirar a aliança da vovó do prego ou o pai da forca. O que é até bom, porque sem problemas não existe necessidade de evolução. E cobra que não anda não engole sapo.
Nem precisamos comentar o nosso papel de alvo prioritário dos outros 31 clubes, por óbvio. Nem mesmo a nossa estatística na competição, que é embaraçosa e especialmente infeliz quando o cotejo é feito em edições seguidas da Libertadores, em que sempre fomos piores que na anterior. Esqueçam essas porra, o Flamengo está reescrevendo a história. E substituindo antigos tabus, escritas e quizilas por tabus, escritas e quizilas totalmente novas.
A mais evidente é que agora, que já provamos que não somos um Once Caldas da vida, a luta do Flamengo na Libertadores é por um TRI, uma verdadeira tara flamenga. Um TRI que nos igualará aos maiores vencedores brasileiros, o que mudará completamente a dinâmica das resenhas de todo o país. Já pensou poder mandar santistas, gremistas e são paulinos calarem a boca quando o assunto for Libertadores? Uma experiência que não me desagradaria desfrutar ainda nessa encarnação.
Ainda estaremos longe de Peñarol, Boca e Independiente, mas se o nosso destino é mesmo confirmar que somos o maior do mundo vamos ter que ser os maiores da América e o primeiro (ou terceiro) passo é ser, de fato e de direito, o maior do país. É claro que essa nova e nobre tarefa vai pesar nos ombros da rapaziada. TRI da Liberta é obrigação! Quem quiser jogar sem pressão deve procurar o RH do Botafogo, no Flamengo é impossível. Lá na Gávea é sempre ao infinito e além, rumo à Tóquio, porra!
E o Flamengo, quero crer, tem dado várias mostras de que está ligado nessa nova configuração aspiracional das massas mulambas. É outro patamar de consciência. Mesmo com tanto luxo e riqueza não deixa de investir nas propriedades motivacionais, tanto pro time quanto pra torcida, do perrengue. Os poderes do Manto, isso já foi provado tantas e tantas vezes, precisa do perrengue para que se dê a mágica. Podemos estar cheios de dinheiro, mas nossa maior motivação ainda é a dos pobres, identificada pelo Marquês Itararé, só vamos pra frente na base da topada.
Mais uma vez, vamos estrear na principal competição do ano (ainda é cedo pra contabilizarmos o Mundial) com o time todo desfalcado. Nisso nenhuma grande novidade, pode marcar o x no quadradinho do perrengue. Flamengo é modernidade, é pioneirismo, mas é, principalmente, tradição.
O que denota a evolução de mentalidade no clube é que das nossas baixas de amanhã, não jogam Rafinha, Rodrigo Caio, Arão e Bruno Henrique, nenhuma delas foi provocada pelo rastaquera carioqueta, competição safada que tanto nos prejudicava em Libertadores anteriores. O Flamengo, sob Jesus, dá ao Carioca exatamente o que ele merece: desprezo e time B. Por isso é quase certeza de que vamos vence-lo outra vez. Haja saco pra essas miudezas.
Queremos o mundo, e pra isso temos que ganhar outra Libertadores. Mas não basta ganhar, tem que ganhar direito. De preferência com umas três rodadas de antecedência. Se não der pra ser assim, beleza, ganhamos outra final daquelas de estraçalhar os nervos de qualquer um. Esse não é o problema, sabemos que somos capazes.
O que parece ser impossível, sei nem dizer se já aconteceu antes, sem googlar não consigo nem lembrar, é o Flamengo passar pras oitavas sem precisar ter três filhos cada vez que jogamos fora na fase de grupos. Hoje é uma grande oportunidade pro Flamengo começar a destruir esse estúpido tabu. Aproveitem que os colômbia são junior.
Mengão Sempre
Demorei…
O Flamengo, sob a batuta de Jorge Jesus, está se mostrando como um verdadeiro demolidor de tabus.
Já ganhamos do Grêmio lá na casa deles (nem me lembro direito qual tinha sido a última vez); ganhamos do Sinthético-PR lá na casa deles (dizem as más línguas que a última vez antes disso havia sido com um gol do Zico); ganhamos dos Porcos dentro do Chiqueiro deles (que agora também é sintético) e, principalmente, ganhamos Brasileirão e Libertadores no mesmo final de semana.
Isso, sim, é saber quebrar paradigmas…
E estou confiante de que, este ano, a Libertadores atual não será nem melhor nem pior do que a Libertadores passada. Basta ser igual, ter o mesmo resultado. Isso já é suficiente… hehehehehe
O que me dá bastante confiança para este ano é o fato de que o Flamengo SEMPRE dá um jeito de ganhar os jogos. Quando joga mal, consegue achar um jeito de vencer; quando joga bem, goleia.
E já vimos isso este ano algumas vezes (às vezes, dentro do mesmo jogo).
Flamengo jogou mais ou menos contra o Independiente Del Valle na altitude. E, não fosse a atuação esquisitíssima do VAR (marcando impedimento de jogador que sai do próprio campo e dando pênalti mandrake no final do jogo), o time teria vencido com um excelente placar.
No jogo de volta, no Maracanã, mesmo com 10 jogadores por mais de 70 minutos, o time conseguiu se organizar e ganhar, de novo, por um placar sem rumores ou dúvidas.
No “rural”, tivemos 2 jogos parecidos contra dois dos anões do Rio de Janeiro. No primeiro, jogamos o 1º tempo muito bem (fizemos 3 gols) e sofremos perrengue nos 45 minutos finais. E o jogo acabou em 3×2 contra os Flores.
No segundo jogo, nesse final de semana, de novo jogamos apenas 1 tempo. E, de novo, fizemos 3 gols em cima do adversário da vez. O que confirma a minha tese: quando jogamos mal, vencemos e, quando jogamos bem, goleamos.
Então, para quarta-feira contra o Barcelona-ECU, espero que o time jogue o que sabe, pois uma vitória pode praticamente determinar a classificação antecipada para a fase de mata-mata. Isso porque, se o Independiente Del Valle (que é um suco de boa qualidade) também vencer o Junior Barranquilla em casa, Flamengo e Del Valle abrirão 6 pontos de vantagem para os outros dois times do grupo. E, convenhamos, tirar 6 pontos em 12 possíveis é praticamente impossível (ainda mais com o nível de futebol que estamos vendo).
E, se o óbvio acontecer na quarta-feira, mais um tabu estará prestes a ser dizimado pelo Mister Jorge Jesus. O perrengue, tão aclamado pelo Arthur, eu deixo para as fases mais agudas da competição.
SRN a todos!!
Parabéns pelo trabalho
Sapatinho sempre. Soberba pra esbanjar arcoirizada, sapatinho pra comer de grão em grão e continuar doutrinando.
Como sempre mágico com as palavras, sábio com as análises e intenso com a paixão. Jogaremos juntos! Isso aqui é Flamengo!
Chegando na Liberta só no sapatinho, hein, Arthur
Boa, Arthur.
Mengão inicia hoje a saga e entendemos que é preciso vencer. Temos desfalques importante, é verdade, mas time que quer ser campeão precisa superar essa adversidade. Pra isso temos os substitutos e torço pra que sejam estimulados a dar o seu melhor.
abraços. SRN.
Orlando Silva.
Grande texto como sempre, Arthur! Sobre passar da 1a fase sem sofrer mto, me lembro apenas de 2007… Usando o Google (pra nao escrever besteira), tivemos um grupo relativamente fácil (Parana, Potosi/Altitude, e Maracaibo) e tivemos a 2a melhor campanha, com 16 pontos em 18 (empatamos apenas na estreia contra a altitude, mesmo depois de estar perdendo por 2-0). Depois, Ney Franco quis inventar no Uruguai, tomamos 3 côcos do Defensor e no Maraca com um juizinho mequetrefe que permitiu a pancadaria, cera e anti-futebol uruguaios, fizemos so 2-0 (2 golaços que nao me esqueço, em chutaços do Renato Canelada) e fomos eliminados já nas oitavas.
Né dormi direito. Vai ser 2 a 0 com a zaga se mostrando deveras sólida parruda!