O Flamengo é assim. Marcado pela própria natureza. Desci a rampa do Maracanã logo depois do empate de 2 x 2, no domingo passado, pensando nas vezes que fiz aquele mesmo caminho em êxtase, em transe, em depressão, em estado de graça. Nessas horas só a nossa história interessa. Já percorri aquele trajeto de mãos dadas, “levemente” alcoolizada, empurrada por uma multidão, sem um par de tênis, descalça, abraçada com estranhos, consolando desconhecidos, rindo sozinha, chorando acompanhada. Já passei por ali dentro da barriga da minha mãe, do carrinho de bebê, andando de patins! Lembro de cada sensação que o resultado de uma partida do Flamengo representa naquela rampa. O lugar de mais intensidade e emoção no nosso templo, depois da arquibancada, claro. Se a rampa do Maracanã falasse ela gritaria: Mengoooooooooooo. Por isso, defendo o “Sorteio da Rampa” entre os jogadores ao final da partida. “Sheik, você foi sorteado. Sairá do campo direto para a rampa e de lá pode seguir para o vestiário”. “Zé Ricardo hoje não tem coletiva. Tem rampa.” “Márcio Araújo você vai descer a rampa depois do jogo. Rolando.”
Dessa vez passo por aquele lugar em silêncio, mas de cabeça erguida, confirmando meu estado de espírito: Eu ESTOU Hepta. Lutarei por ele até o final, defendendo o Flamengo nessa guerra fatal do Campeonato Brasileiro. NÓS SOMOS O FLAMENGO. Somos Os Sertões. Somos todos Antônio Conselheiro. Rubro-negro é forte, supera miséria sem fim. E o milagre da rampa acontece. Faço contas. Planejo a ida ao próximo jogo. Chamo por Manguito, Toninho e Raul. Chamo por Marinho, Andrade, e Junior. Chamo, Chamo. Chamo por Adílio e Zico. Tita e N U N E S. Chamo por Julinho Uri Geller César, chamo por Carlos Alberto. Chamo, chamo. Rubro-Negro homem (e mulher) forte, dizia o poeta assim: Mil Novecentos e Oitenta. Foi no século passado.
Só um jogo épico salva. Não tem segredo, não tem fórmula, não tem mais tática. Agora, só um jogo pra entrar pra História salva. E nós tivemos os nossos. Com os nossos. Ao lado dos nossos. Um jogo assim do Flamengo tem cheiros, aroma, sensações, tem desejos e vontades, delírios, sintonia, tem pele. Jogo do Flamengo tem momentos únicos onde temos a absoluta certeza que nenhum outro rubro-negro viveu. Só eu. Só você. Só meus 11 leitores. Só a torcida do Flamengo. O delírio da rampa volta. Ela tem vida e traz vida. Eu sinto a presença do meu pai lá. E ainda lembro de um cara descendo a rampa de joelhos, depois de uma vitória antológica do Mais Querido. Só um Flamengo x Atlético Mineiro com uma vitória ÉPICA nossa…salva.
1º de Junho de 1980. Maracanã. 154.355 pagantes. O jogo que TODO rubro-negro foi. Pergunte a qualquer torcedor que você conhece e ele vai responder: Eu estive nesse jogo. Inclusive os que nasceram depois de 1980. Um jogo-místico, um jogo-fantasia, um jogo-épico. Chamo por Nunes. Chamo. “Na final de 80, eu já tinha feito o primeiro. No terceiro gol, recebi a bola do lado esquerdo da torcida, lançada pelo Andrade. Vi o Zico e o Tita entrando na área, tentei cruzar, a bola bateu no Silvestre e voltou pra mim. Daí me veio um negócio na cabeça: Eu tinha que assumir a responsabilidade. Driblei o Silvestre e fiquei diante do João Leite, que pensou que eu ía rolar para trás. Quando percebeu que eu finalizaria, não deu mais tempo, ele caiu e eu toquei à meia altura. Fui iluminado por Deus. Foi uma emoção muito grande, o gol me fez ídolo do Flamengo. Falam do Reinaldo, mas estava escrito: era dia do Nunes. Se o Reinaldo fizesse o 3 a 3, eu ia lá e faria o 4 x 3.”(Nunes, em depoimento ao jornalista Roger Garcia, em 2009).
Sábado – no Mineirão – é um jogo para o Nunes. O João Danado que habita em mim quando visto o manto sagrado e penso em assumir a responsabilidade. O João Danado que habita em cada torcedor do Flamengo quando está diante de mais uma “final” contra eles. João Batista Nunes de Oliveira nosso Antônio Conselheiro. O Homem revoltado com a sorte do mundo em que vivia. Ocultou-se no sertão, espalhando a rebeldia. Se revoltando contra a lei que a sociedade oferecia. É isso que esperamos do nosso time. Revolta. Rebeldia. LUTA. Em campo, claro. Jogaremos por essa vitória. Torceremos por essa vitória. ACREDITAMOS nessa vitória. Morrem as plantas e foge o ar. Estamos hepta. Marcados pela própria natureza rubro-negra nos abraçaremos com a certeza de que os Jagunços lutaram até o final. E NÓS somos os Jagunços.
Pra vocês,
Paz, Amor e Muitas Bençãos de São Judas Tadeu.
Concordo com quem sugeriu que esse – e outros – texto deveria ser lido antes do jogo pros jogadores.
Colocar em palavras tão poéticas e emocionadas (ou poéticas porque emocionadas?) o amor pelo Flamengo, nunca Vivi igual.
srnp&a
Belas palavras, Vivi. Jagunço ou não temos que lutar até a última gota de sangue, é isso e só isso que se pede ao time do Flamengo no jogo de logo mais, deixar de ser barcelônico por míseros 90 minutos e voltar a ser Flamengo, se não na plenitude de antigamente em que a mística, o suor e a lágrima vestiam a camisa rubro-negra, um pouquinho de garra a mais do que se vem jogando cairia muito bem. O resto é fosforilação.
Sensacional, demais, dugarai o texto. As referências, tudo de uma vida rubro-negra, como não se identificar?
Vamos lutar sim, como fizemos em 80, em 87 e em 2009 ##SRN
EU ESTAVA LÁ em meio aos 154 mil pagantes, mais de 160 mil pessoas absolutamente ESPREMIDAS no velho maracanã. Tinha 12 anos e meu pai resolveu me levar.
Meu pai, tricolor, vejam só. Mas um tricolor Nelson Rodrigues, um tricolor que sabe que momentos históricos são isso. Históricos, clássicos, eternos.
Tive medo até. Era muita, muita gente, assisti sozinho, minha mãe na fila de trás e meu pai nem conseguiu sentar. Ficou lá em cima, no (então) arco superior.
Mas a despeito da imensidão da multidão e da pouca idade, um pouco que assistindo sozinho (de certa forma), é um orgulho ímpar haver estado presente naquele primeiro passo que nos levou à conquista do Mundo.
SRN
Parabéns!
vivi minha linda,
penso que esse jogo tem mais haver com o nosso bravo renato gaucho .
lembra do 3×2 em pleno mineirão na semi-final de 1987.
SRN !!!
Eu estive nesse jogo.
Vivi, falou tudo, Flamengo campeão sem um jogo épico não existe, são esse s jogos que fazem nossos heróis, nossa história, vamos atrás dele e deste sonho. Ah! eu com meus quase 16 anos, estive naquele jogo, nas cadeiras de baixo, atrás do gol em que o Nunes se, e nos consagrou., SRN.
O que falar depois de um texto como esse….Sensacional Vivi!!
Mandou bem, me deixou absorto em reminiscências do tempo em q eu “ainda era” carioca. Gostaria d lembrar uma outra vitória contra o Galo q ficou tatuada na nossa lembrança: 2 a 3 em pleno Mineirão, na campanha do tetra, em 1987. SRN
Em vez de Nunes, Renato.
Porra ViVi eu te Amo… Que lindo texto mais 1 por sinal, eu estou Hepta esse é meu estado #paz e vamos vence essa luta
Emocionado, nós estamos Hepta, SRN!
Lindo texto Vivi. Parabéns a todos os Rubro-negros pelo dia de hoje. SALVE SÃO JUDAS TADEU!!! SRN!
Que texto Vivi!
Porra, mandar o jogador descer a rampa depois de partida é sensacional
Arrepiado até o último fio de cabelo. Depois de me emocionar ontem com o discurso de Ana Júlia na Assembléia Legislativa do Paraná, vem Vivi com uma coisa linda dessas. Vontade danada de lhe dar um “chêro” menina!
SRN de um veterano jagunço nordestino.
kkkkkkkkkkk acho que tem mais do que 11 leitores por aqui…
Não sou muito de comentar mas com um texto épico desses, às vésperas de um momento épico… impossível não me manifestar…
Cada jogador do Flamengo deveria ser obrigado, nem que fosse por contrato, a ler todas as postagens do República… Ás vezes falta muito desse espirito a alguns dos nossos bem vestidos…
Que seja… amanhã é o mengão goleando e o porco goleado… vamos pegar esse caneco é pelo rabo kkkkkkkkkk
SRN
Impossível ler seus textos e não se emocionar, não se sentir no maraca abraçando um desconhecido após um gol do mais querido, impossível não relembrar minha primeira vez no maior do mundo, impossível não lembrar que no gol do PET eu também coloquei as mãos pra frente passando energia positiva ao time mesmo estando no interior do Espirito Santo, impossível não lembrar minha primeira vez na rampa. Como sempre, está de parabéns. VAMOS FLAMENGO!
Naquela época eu tinha 11 anos, estava em goias e fiz a mesma coisa amigo kkkkkkkkkkkk
Vivi, sensacional! Já estou me sentindo um lutador! Estarei junto com o time, no sofá, com o Manto Sagrado e a cerveja na mão. SRN
Lindo texto, poético. Parabéns pelo nosso dia e salve São Judas Tadeu !! Vamos à luta!! SRN!!!