Todo mundo sabe que a desamizade do Flamengo com o Foguinho Série B Forever nunca teve nada a ver com futebol. Nasceu da mais adâmica disputa territorial pelas fêmeas do perímetro que englobava os bairros da Glória, Catete, Flamengo e Botafogo, nos primórdios da nossa república botocuda. O significante da rixa até que mudou com o tempo, das contendas darwinianas com fins reprodutivos e desenlaces violentos no Largo do Machado evoluimos às regatas e, sempre ao sabor das modas, chegamos ao football. Mas o significado da pendenga sempre foi o mesmo, quem é que vai pegar as mulher do pedaço.
Em 124 anos de disputa no futebol, nas regatas e, nem precisamos dizer, na prova definitiva de quem foi o mais capaz em se reproduzir e preservar a espécie, o Flamengo triturou o xexelento alvinegrinho em todas as medidas. Por isso as vitórias do Flamengo sobre o menor dos médios cariocas têm valor de face reduzido, mesmo quando valem campeonatos Cariocas, Brasileiros ou Copas do Brasil. Quando ganhamos dos vermes o que conta mesmo é o que as nossas vitórias representam.
E elas sempre são representações da superioridade física, mental, artística, moral e espiritual do Flamengo sobre seu vizinho de escassas qualidades e péssimos modos. É como se o eterno giro da roda da historia estivesse repetindo sem parar que por maior que seja a sordidez da pirraça, da malcriação ou do mau-caratismo que os marginais de Soldado Severiano pratiquem, entre Botafogo e a Glória sempre existirá um intransponível Flamengo. Como um penhasco pontudo a magoar com severidade os macios entrefolhos alvinegros. Por isso que ninguém cala esse chororô.
Fazer os infelizes chorarem é um hábito muito difundido entre os rubro-negros e não nasceu em 2008. O Flamengo o tem mantido com admirável assiduidade desde muito antes de nossa fundação oficial em 1895. Assiduidade que se nos trouxe algumas alegrias, embora sempre fugazes pela vulgaridade, causou traumas profundos e deixou estigmas indeléveis no lombo dos nossos seculares fregueses.
Traumas que sobrevivem ate hoje no recalque dos seus torcedores. Sei que a frase anterior fede à generalização, mas em um universo amostral extremamente reduzido, como a chamada torcida do Botafogo, para não generalizar teríamos que fazer algumas centenas de menções nominais de bons botafoguenses. Mas pra que esse trabalho todo? Foi só mais uma chinelada bem dada do severo Papaizão Mengão naquele filho bastardo que já vive apanhando de todo mundo na rua.
O Flamengo foi até o anecúmeno do Engenho de Dentro com a mais pura das intenções: jogar seu futebol de magia e encantamento, catar humildemente seus três pontinhos de praxe e humilhar pela enésima vez a torcida mais noiada do Brasil. Nada fora da rotina, tudo que está lá no velho script encenado vezes sem fim.
Mas a rancorosa e antiprofissional diretoria do Botafogo, uma entusiasta da política do conflito, quis transformar um joguinho de quinta-feira às oito da noite em um feérico espetáculo: a entrada triunfal e espalhafatosa do Foguinho na Zona do Rebaixamento. Os patetas fizeram tudo que estava ao seu alcance para estragar a noite, incentivando a troca voluntaria do esporte pela violência injustificada e pela justificadíssima autoflagelação.
Como o mundo é injusto, e protege os incompetentes, eles conseguiram tudo o que planejaram e ainda levaram de brinde a sonora chinelada paterna na bunda. Nem se importaram muito com a covardia dos espancamentos promovidos entre seus próprios torcedores. Na manhã seguinte ao jogo se auto congratularam pelo criminoso raid de sua klux-klux-klan cabocla, chancelando oficialmente a violência, a intolerância e o discurso de ódio que tanto tem excitado a pobres de espírito, miseráveis de inteligência e indigentes de princípios.
Com essa inteligentíssima ação os dirigentes alvinegros conseguiram ser ainda mais idiotas que os próprios desgraçados que usaram levianamente como massa de manobra em sua kristallnacht de chinelo de dedo. Hoje é dada como líquida e certa a interdição de seu pardieiro e a perda de seus mandos de campo pelos próximos duros anos em que se arrastará, aos pedaços, pelas divisões subalternas do futebol nacional. É por isso que afirmo que o Botafogo só não acabou ainda porque é uma estação de transferência entre as Linhas 1 e 2.
Mas o Flamengo não tem nada a ver com forma estúpida e primitiva que os botafoguenses escolheram para tratar de suas graves patologias edipianas. Esse assunto pertence à esfera policial. O Flamengo fez sua parte indo lá naquele estádio lúgubre e sub-licitado, jogando sua bola, sendo violenta e deslealmente caçado em campo por botinudos sem qualquer relevância, aguentando a arbitragem vagabunda e conivente de sempre, mostrando consistência, método e foco para martelar a defesa deles até conseguir manda-los diretamente para a casa do caralho.
Enquanto Gabigol, Bruno Henrique, Arão, Everton “Simply the Best” Ribeiro e até o simpático senhor Vitor tentaram valorizar o alto preço cobrados pelos ingressos com jogadas de inspiração e talento, os lamentáveis jogadores botafoguenses, liderados por um argentino esquisitão que passou 90 minutos em campo dando pontapés e procurando namorado, só souberam bater, se jogar e fazer faltas violentas, em mui embaraçosa demonstração de antijogo e de ardente falta de vergonha na cara da arbitragem.
Jesus não foi descrito como o Instrumento da Salvação porque o profeta Isaías estava de bobeira. Tão logo percebeu a chapa fervendo e que o Botafogo não entrara em campo para vencer o jogo e sim para causar os maiores danos possíveis à integridade física dos jogadores do Flamengo, nosso insaciavel treinador tratou de mexer na equipe de forma a se aproveitar da vacuidade dos propósitos do adversário. Em uma substituição que emulou Oto Glória, Jesus fez a transição de besta a bestial em um intervalo de pouquíssimos minutos.
Mexida que só revelou integralmente sua efetividade na última volta do ponteiro. Quando Bruno Henrique jogou o balão na frente, deixando para trás mais um contumaz agressor, e cruzou na medida para O Jovem Lincoln (filmaço do John Ford, procurem assistir) estufar as redes do pessimamente acompanhado Gatito, o Flamengo, sem qualquer auxílio da CBF ou da mídia esportiva, salvara a lisura do Campeonato Brasileiro mais uma vez.
O jogo foi ruim. Mas o que importa são os pontos somados. Foi também um excelente treino para a final da Libertadores, com a marcação adversária, a arbitragem e a cartolada atuando no mais puro Libertadores Style. Só faltou as tropas de choque no gramado com seus escudos transparentes e os cães. Apesar das reduzidas dimensões do sparring, o Flamengo passou no teste com louvor. Mas precisamos permanecer atentos, o River também é freguês e tem camisa feia, mas tem torcida.
Claro que se acendeu um aviso de alerta no painel de controle de Jesus. Afinal, é mais um time pequeno que o Mengão não esculacha. Jesus não pode relevar qualquer falta de tesão para enfrentar um adversário de tamanha desimportância. Não pelo que o Botafogo é, mas pelo que ele hoje representa. A saber: racismo, violência e intolerância turbinadas por mais de um século de frustrações e fracassos sem fim. E segue a contagem. Para cerejar o bolo até os duvidosos Fluminense e Ceará venceram na rodada, confirmando a passagem só de ida dos sacripantas alvinegros para a sua Série B de origem.
O Flamengo segue altaneiro na absoluta, folgada e nem ligeiramente ameaçada liderança do Brasileiro. Escoltado pela sua pacífica, solidária e autoconsciente torcida, sempre esperando o melhor, preparada para o pior e não se surpreendendo em absoluto com o que aconteça entre os dois extremos. Faltam sete jogos. Sete. Só não vê quem não quer.
E naquela nossa antiga confrontação provincial com os indignos arrozeiros de Excesso de Contingente Severiano tudo continua na mesma. Eles duros, ainda sem receber a merreca, saindo na porrada, passeando de camburão e dormindo de conchinha no distrito. A gente com dinheiro no bolso, curtindo a vida e beijando as bocas mais bem vestidas do Brasil.
Mengão Sempre
SRN ARTHUR! O trecho em que você cita: ” pobres de espírito, miseráveis de inteligência e indigentes de princípios”, resume tudo o que o postulante a degola representa. Lamentável para o futebol!
Seguimos fortes! Sempre Flamengo…
Faremos o que o babaca do Renight pediu. Daremos a volta olímpica no ex-olímpico deles. Ganharemos de bahia, vasco, gremio e river e ganharemos dois títulos enormes em dois dias.
O Grão Mestre no seu melhor estilo !
Maravilhoso, sem a menor dúvida.
Fiquei grilado com as presenças que faltaram, mas adorei a citação de um dos maiores diretores cinematográficos de todos os tempos.
Eufóricas SRN
FLAMENGO SEMPRE
PS – já estou aguardando o livro, que será o meu presente de Natal para os três filhos.
Fala Arthur! Te acompanho desde os primeiros textos lá do “blog do torcedor” , feliz por te reencontrar por aqui. Vamos com tudo! SRN!
Ganhar do Bahia. Ganhar a porra toda. Por cima desse Varmeiras miúdo. Bora ganhar essa merda, que o Botafogo não existe desde 1910.
Rolei de rir. Geralmente cito uma frase ou outra ou várias das tuas crônicas, mas hoje não dá, gargalhei do princípio ao fim. Bateu em cachorro morto e escarrou no cadáver. Vou ler tudo de novo antes de dormir.
srn p&a
ps-palmeiras e curica empataram. Cabô! Nóis é hepta.
Arthur
Seus textos são sublimes.
Espero que após o título desse ano, eles virem um livro.
Um best-seller.
Já tem um vendido. Conte comigo.
Parabéns Sempre !
Você nos representa….
Legal! Mas vc não tem um amigo ou parente pra presentear? Compra 2, vai! Abs SRN
Vamos lá Flamengo, vamos dar um pouco de alegria, de justiça, de orgulho para esta sofrida nação. Pois como estamos vendo, da mesma forma que a corrupta CBF incensa o Varmeiras, a ORCRIM togada emula o maior corrupto des-te- p.a.í.s…
Artur,
parabéns pelo texto. Seu blog foi um “achado”. abs
A justiça tem que tratar bandido travestido de torcedor, como ele realmente é, bandido !
A punição para os bandidos dirigentes deve ser exemplar !!
Sempre venho aqui, mas hj tomei vergonha na cara pra comentar e parabenizar por mais um puta texto. Até a próxima!!
Arthur….
Como sempre, Arrhur colocando “do meio pra trás” nessa matilha desnutrida…..
arthur,
vc meteu a porrada neles com esse texto,estamos vingados !
SRN !
Texto para ser gravado em mármore e posto na nossa Sede.
Valeu Arthur. Rumo ao Hepta mais do que merecido.
Que texto bacana, Mullemberg!
SRN! Nada mais ridículo do que o treineiro deles tentando atrapalhar o Mari na lateral!
Passou recibo de derrotado e ainda deu faniquito! Só faltou se jogar no chão plagiando o Rivaldo, lembram?
Lavei a alma dando gargalhadas. Valeu por mais um colunaço.
Tava aguardando com grande expectativa pelo esculacho do Arthur.
Grandes e infinitos castigos merece esse bostafogo e sua complexada e minúscula torcida!
SRN