Como costuma acontecer com boa parte dos torcedores no mundo inteiro, a consanguinidade fez de Carol Mantuano uma apaixonada por futebol – e mais especificamente, pelo Flamengo.
Entretanto, os genes não foram herdados diretamente do pai, exemplo raro de rubro-negro não xiita. O responsável pela paixão foi a querida figura de seu Tio Carlos, ele sim, flamenguista de ir aos céus nas vitórias mais arrebatadoras e de cair prostrado nas derrotas de entristecer.
Tio Carlos foi quem tomou as mãos da ainda menina Carol para conduzi-la, pela primeira vez, ao Maracanã. O que aquele pequeno coração sentiu foi o mesmo que se passou com muitos de nós, de qualquer idade, ao entrarmos pela primeira vez no estádio-templo para ver um jogo do Flamengo. Não há como esquecer. (No meu caso, aconteceu há quase seis décadas e lembro de cada detalhe.)
Durante muitos anos, a cena se repetia nos eventos familiares promovidos na casa da avó de Carol: enquanto, espalhadas pela cozinha e demais cantos, as pessoas falavam de política, de música, de cinema e até de subcelebridades, Tio Carlos e Carol sentavam-se no sofá da sala para discutir o que ia bem e o que precisava mudar no time, resolver o crônico problema da bola aérea defensiva, apontar soluções para o misterioso sumiço dos gols de falta.
A idade e o conforto das transmissões pela tevê afastaram Tio Carlos do estádio, mas ele e Carol permaneceram debatendo cada partida, via troca de mensagens no WhatsApp, como se estivessem instalados à esquerda das cabines de rádio.
Até que, no final do ano passado e por conta da Covid, Tio Carlos teve de ser hospitalizado. Ficou inconsciente. E num gesto do mais puro amor ao tio e ao clube, Carol continuou mandando mensagens a ele depois de cada jogo. Eram duas as esperanças: apesar das oscilações do time, Carol acreditava no título; apesar do estado grave do tio, Carol estava certa de que em breve ele conseguiria ver tudo o que ela lhe enviara.
Após os oito minutos de acréscimo no jogo entre Inter e Corinthians, veio o alívio quando Wilton Pereira Sampaio encerrou a partida. Zero a zero. Flamengo campeão brasileiro pela oitava vez. Flamengo mais vezes campeão brasileiro do que qualquer outro.
Já na madrugada de quinta para sexta, encharcada de emoção, Carol mandou para o tio a seguinte mensagem: “Esse título é meu pra você. E obrigada por ter me apresentado a esse mundo do futebol que eu tanto amo.”
Poucas horas antes, Tio Carlos tinha voltado a se comunicar.
E ainda há quem diga que o futebol se resume a 22 caras correndo atrás de uma bola.
Que crônica maravilhosa! De tirar o fôlego!
Parabéns, Murtinho!
Parabéns a tio Carlos!
E parabéns a quem é octacampeão!
SRN
Que texto maravilhoso, quase a descrição da minha familia, onde eu e minha irmã somos Flamenguistas graças a um tio, e nós 3, apesar das distâncias que hoje nos separam (1 em MG, 1 em SP e outro fora do BR), assistimos os jogos sempre “juntos” pelo WhatsApp. Muito emocionante! Espero que tio Carlos esteja plenamente recuperado agora!
Arthur, a toda hora, escrevendo artigos brilhantes, no seu estilo incomparável.
Vivi, a emoção pura, só torcendo para que não seja tão episódica.
Agora, o Murtinho, sempre meticuloso e trazendo textos perfeitos, como este.
Para falar a verdade, senti-me como o próprio Tio Carlos, sem covid.
Até Xará ele é.
É demais.
Preciso me recuperar emocionalmente.
O RPA está extrapolando.
Emocionadas SRN
FLAMENGO SEMPRE
PS – mais um dado negativo a creditar à idade avançada. Não tive a emoção de entrar no Maracanã lotado, aí conhecendo o Mengão.
Mesmo no estadinho da Gávea, com a Charanga a pleno vapor, o meu momento foi de glória.
grande murtinho,
eu tbm creio que o futebol é muito mais que 22 marmanjos correndo atrás da bola.
futebol envolve paixão,amor verdadeiro .
amo o flamengo simplesmente por amar e isso basta.
SRN !
Linda crônica, Murtinho!
Murtinho, bela narrativa, mas a dura realidade é que ainda não engoli essa de perdermos jogos dos tais chamados ganhos e que você sabe perfeitamente quais são, volto, pois ao meu raciocínio pirandelliano já exposto em outra postagem, assim é se lhe parece, a verdade depende muito do ponto de vista de quem vê o fato. No fundo qual escafandrista de plantão cada um tem sua verdade.
Como é que o Flamengo conseguiu ser campeão perdendo jogos entregues, primeiro pelo seu zagueiro, o Gustavo Henrique, depois por esse goleiro incensado pela imprensa, o tal de Hugo que deixou passar todas as bolas nos últimos jogos que foram em seu gol? Que me desculpem os entendidos, aqueles mesmos que acham que jogador que vem da base é sempre um gênio, esse tal de Hugo Souza foi o único culpado pela derrota contra os bâmbis. Sofreu dois gols em bola de falta fora da área quase idênticos com o Grêmio e S. Paulo em que ele preparou barreiras inacreditáveis, parecia que ele estava querendo se mostrar num salto felino para a noivinha como fizera naquele famoso drible em que entregou o jogo ( mais um para os bâmbis). E olhem só as estatísticas, gols de falta estão raríssimos nessa porra aí que finalmente acabou, e só o cara deve ter sofrido os oitenta por cento deles. Se o Flamengo quiser salvá-lo contrate um psicanalista. E dizer-se que com tudo isso fomos campeões. Somos ou não somos diferentes?
Putz cara, nem depois de um texto magnífico desse vc nos poupa do seu mimimi.
Vai torcer pro foguinho, pelo menos vc será um infeliz com causa.
Que maluco chato, PQP…