Os Fla-Flus são enormes. Muito maiores que a mera soma das suas partes. Os Fla-Flus são grandes porque o Flamengo é grande. O Fluminense, no século passado, foi grande também. Mas em 108 anos a estatura dos clubes, assim como a dos homens, mudam. Hoje o Fluminense depende do Fla-Flu para que as memórias da sua grandeza não desapareçam. Os embates com o garboso rubro-negro da Gávea são os grandes momentos do calendário esportivo tricolor. Só nesses encontros interdivisionais o Fluminense é lembrado, comentado, noticiado, pegando uma abinha da luz dos refletores diuturnamente apontados para o Flamengo.
Quando os Fla-Flus se dão no âmbito do estadual, onde a pátina histórica das camisas e o sangue derramado nas rixas avoengas motivadas pela eterna reca da playboyzada ainda são capazes de acender uma débil chama guerreira nas hostes de Laranjeiras, eles podem endurecer um Fla-Flu ou outro e até conseguem empatar com o Flamengo. Contudo, nas competições que ultrapassam as imprecisas fronteiras interbairros da Zona Sul carioca o Fla-Flu é um dos jogos mais previsíveis. Invariavelmente, e por que não dizer, monotonamente, sempre dá Flamengo.
A previsibilidade acaba por minar a competitividade do clássico. O Flamengo se impõe de maneira tão absoluta e inquestionável nos Fla-Flus que até o mais suado triunfo do Flamengo assume os ares de obrigação, como se fosse algo previsto em contrato. O Fla-Flu #429 de ontem no Maracanã não teve nada de diferente. Aliás, teve sim, para muitos torcedores foi a primeira vez que o Flamengo enfrentou o Flu envergando o seu segundo uniforme, predominantemente branco, algo que, suspeita-se, tinha acontecido pela última vez em 1939.
O Flamengo iniciou o jogo se aproveitando do natural entorpecimento dos sentidos provocado pelo impacto visual do seu fardamento sobre as mentes tricolores. Dominante, impositivo e sem tempo pra palhaçadinhas o Flamengo foi logo imprensando o Flor no canto e aos sete minutos Filipe Luís movimentava o placar com uma varada de canhota após um rebote do goleiro. Jogada toda tramada no tiki taka, com Isla cometendo mais um dos seus cruzamentos perfeitos para a cabeçada de Arrascaeta. Um gaiato até se empolgou e chegou a dizer que Isla não cruza, que Isla faz amor. Afirmação que ninguém se animou a refutar.
O ritmo era de treino uniformizado, o Flamengo martelava sem parar, o Flor pouco chegava no ataque e quando chegava não chutava. Essa condição acabou por minar o pouco de emoção que o jogo poderia proporcionar. O Flamengo perdeu inúmeras oportunidades de ampliar o placar, o 2×0 só viria a acontecer aos 30 minutos, em uma porradona de canhota de Gabigol depois de mais um rebote de Muriel. Os números de Gabriel Barbosa no Flamengo são intimidadores. Em 81 jogos, Gabigol balançou o filó 59 vezes, uma média animal de 0,73 gol por jogo, e ainda se deu ao luxo de cultivar amizades no elenco assinando 20 assistências.
O Flamengo voltou pro Segundo Tempo com um desfalque considerável. Ficaram no vestiário a volúpia pela vitória e o desejo sádico de rodar a faca já cravada no peito do adversário. O Flamengo continuou a exercer seu domínio, mas sem o ímpeto e sem aquela vontade alucinada de aumentar o saldo de gols que a torcida considera mandatória. Perdeu-se um caminhão de oportunidades, alguns malandros colocavam as mãos nas cadeiras, a competitividade foi pras picas.
É fato que esse Flamengo é mais frio e metódico que o de 2019, e extremamente paciente para tocar a bola vezes sem fim até que se vislumbre uma brecha para a estocada fatal. Muito desse comportamento fleumático se deve ao Domènec, mas também à comovente fragilidade do Fluminense. É muito difícil se inflamar e dar todo o gás quando o adversário é incapaz de ameaçar, de causar transtorno ou preocupação.
Entretanto, a distância entre a tranquilidade e o desinteresse é muito pequena. Por diversos momentos o Flamengo deu a impressão que não estava nem aí pro jogo, parecia um adolescente quando vai à igreja obrigado pelos pais. Tudo bem que o adversário é caído, o estádio está sem torcida, o treinador não fala muito alto, mas o Flamengo não pode perder o entusiasmo e se portar num clássico como se fosse um casados x solteiros no fim do treino no Ninho do Urubu. Sem o desafio esportivo e sem a torcida pra pegar no pé e exigir raça, amor e paixão o Flamengo se burocratiza.
Uma face dessa burocracia é a aparente obrigatoriedade de se fazer as cinco substituições permitidas pelo regulamento. Não há nada errado em ter consciência da nossa superioridade, não é ruim utilizar todo o poderio do nosso elenco, mas o Dome não pode ser soberbo. Tem que ter mais critério na execução do rodízio. Não é nada razoável que a um dado momento da partida o Flamengo tivesse em campo Vitinho, Michael e três crias dos juniores sem que houvesse necessidade para tal. A bola não tolera essas leviandades e o Flamengo foi punido levando um gol de bobeira que prejudicou nosso modestíssimo saldo de gols.
O rodízio de Domènec, debatido com tanta paixão por torcedores, observadores e detratores do Flamengo é indiscutivelmente bom. Mas todos nós conhecemos os defeitos inerentes ao rodízio, a uma certa hora do repasto começam a sair da cozinha espetos não canônicos com cupim, peito de peru com bacon e lombinhos decorados com abacaxi. Não é pra isso que frequentamos churrascarias. Queremos crer que o Flamengo, diante dos sábios investimentos que fez, tem elenco suficiente para prover o rodízio só com filé, picanha e fraldinha. Dome precisa ver isso aí. Nem todo time que enfrentaremos no Brasileiro é tão freguesão como o Fluminense. Esse é o novo normal, o Flamengo que se adapte.
Aos poucos, o Flamengo vai fazendo valer o seu favoritismo e, ainda sem encantar, já ocupa a parte alta da tabela. Convém ir ganhando tudo mesmo e é melhor não perder pra ninguém, pra acumular a gordura que será muito necessária quando o time for obrigado a dividir sua atenção com a Libertadores. Com a pandemia e as desgraças socioeconômicas que a acompanham, talvez esta seja a Liberta mais molezinha da história do continente. Mas também pode ser a mais cascuda. Só saberemos quando a jogarmos. Por via das dúvidas é melhor o Flamengo ficar esperto.
Mengão Sempre
O tal do Tiago Maia joga tanta bola que faz o Gerson parecer amador.
Até hj não entendo pq o JJ não dava oportunidades pra ele, o cara é OTOPATAMÁ. Marca muito bem (melhor que o Arão), dribla fácil e tem um passe e senso de posicionamento foras de série. Um jogador de primeira linha.
SRN
eu tbm faço a mesma pergunta,pq o mister não escalava o tiago maia ?
cara joga muito e merece a vaga de titular.
SRN !
Pode ser que esteja equivocado, mas sinto no ar uma estranha vontade de se criticar o técnico Jorge Jesus.
Pior – com dados errados.
Caso típico do aproveitamento ou não do jogador Thiago Maia, que, realmente, vem se apresentando muito bem
Thiago Maia jogou TREZE vezes pelo Flamengo, com DOZE vitórias e UM empate. Está invicto.
Destas TRESE partidas, SEIS foram jogadas enquanto o Mister ainda era o nosso técnico, inclusive TODAS AS DUAS da Copa Libertadores, sendo que em uma delas atuou durante todos os 90 minutos.
Com o novo técnico, foram SETE partidas, ou seja, apenas UMA a mais, cabendo considerar que, quando das seis primeiras, foi em um período de apenas DOIS meses (fevereiro e março) ao passo que, ao curso das sete últimas, tivemos um período bem maior, que foi de junho até este início do mês de agosto.
Sugiro, em consequência, que,antes de sutis críticas, respeite-se a verdade dos fatos.
Encrenqueiras SRN
FLAMENGO SEMPRE
EM TEMPO
Quero registrar a bem sacada propaganda dos dois últimos livros do Arthur.
Além do mais, ainda que JJ tivesse mesmo subaproveitado o Thiago Maia – o que não ocorreu – o que importaria?
JORGE JESUS GANHOU TUDO!
Não querem ser gratos ao maior treinador da história do Flamengo, ok. Mas ficar arrumando picuinha pra criticar injustamente o cara parece só dor de cotovelo.
Ótima análise dos números, Carlos.
Eu acredito que se Jesus tivesse ficado, Maia teria entrado no time no lugar do Arão. Mas aqui estamos falando de hipóteses.
Eu achava que nenhum meio de campo central jogaria perto do que o Gérson joga, mas aí vejo o Maia e seu terno. Temos de comprar logo esse cara.
SRN!
Oi Carlos, bom dia.
O que estava tentando dizer é que não entendo como um treinador do nível do Mister parece ter não percebido o imenso talento do TM. Só isso. Reconheço que foi o maior treinador da história do Flamengo, e é exatamente por isso que não entendo o motivo do TM ter recebido tão poucas oportunidades com ele.
Gostaria por favor de ver os seguintes números: em quantos jogos o JJ teve o TM à disposição e não o usou, quando comparado ao DT. Esse é o número que importa.
SRN.
A questão, Marco, é que, como bem disse o The Trooper, o Thiago Maia não foi subaproveitado pelo Mister.
Há que se lembrar –
a) os quatro jogos em que o Maurício de Souza foi o nosso técnicos, os primeiros deste ano –
b) o jogador, que vem mostrando um excelente padrão – aqui todos concordamos – veio do exterior, provavelmente fora de ritmo –
c) por tal razão, quero crer, ficou de fora as cinco primeiras partidas já sob o comando do JJ.
Depois que passou a ser utilizado, só não jogou no jogo contra a Portuguesa, aquele pré-pandemia, já com portões fechados.
Se bem que só tenha atuado integralmente em uma partida – contra o Júnior, no Rio – tal aconteceu em jogo inaugural da Libertadores, logo o mais importante, até então, do ano.
Não atuou nas duas partidas contra o Indepediente Del Valle, mas, como não sei dizer se ficou no banco ou não, pode ser que nem tivesse sido inscrito, se tal existe nessa competição de tiro curtíssimo.
Enfim, foi BEM aproveitado pelo técnico português, tanto como agora com o espanhol.
Não chegou para ser, de imediato, titular.
O Arão, de quem não sou fã, vinha bem, não sendo o caso de uma imediata barração, fato que representaria uma injustiça pelo que produziu ao longo de nossas conquistas.
Creio que atendi as suas ponderações, feitas, cabe frisar, em alto padrão, como sempre deveria ser.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
Escuto tb uma critica ao Arao.
Nao concordo com essa. Acho a dupla com Gerson perfeita. Agora, Gerson nao marca bem, o Thiago sim. Os passes verticais tb o Thiago sabe fazer.
Ou seja, se alguem da dupla seria pra ser trocado (sem a menor razao, pois funciona muito bem) poderia ser o Gerson.
Alias, o que me intriga é que o Gérson, depois de um inteiro ano de treinos, parece continuar a nao aguentar 90 minutos.
Eu gosto do Arao. Tb do Gérson e tb do Thiago.
Somente nao acho que existe alguma razao para que o Arao (cobiçado pelo exterior) seja simplesmente banco do Thiago.
srn
Estamos no caminho certo e é justamente por isso que todos sabemos que ainda há pontos a melhorar.
Agora é esperar os caras continuarem se dedicando nos treinos e mantermos os pés no sapatinho.
Os flanelinhas já estão preocupados em saber quem terá a honra de passar a liderança para o Flamengo. Comenta-se que a torcida do colorado ainda comemora os gols do Flamengo dizendo: Gol do Flamengo, não, não, não.
SRN
Que o jogo foi fácil, não há a menor dúvida.
Convenhamos, o Fluminense é um time bem mais fraco, pelo menos no momento, que o Fortaleza.
Que a vitória foi justa, também não há a menor dúvida.
Inclusive o golzinho final, contribuição amigável do Gustavo Henrique, não foi merecido.
Que merecíamos golear, no entanto, não procede.
O fraco goleiro irmão do Alisson, que contribuiu em muito para o segundo gol, não fez, ao longo da partida, sequer uma defesa difícil.
Com certeza teve nota negativa no Cartola.
Em suma, uma atuação aceitável, nada mais do que isso.
Em princípio não deverá ser o Ceará o proximo time que nos ameaçará. apesar do que não gostaria de ver tanto desinteresse como vi na noite de ontem.
Indolentes SRN
FLAMENGO SEMPRE
Otimo artigo do Arthur, ri muito. O cara com o dom da pluma!
Vi umas surpresas.
O Filipe esta muito melhor pra tras do que ano passado.
O Diego foi otimo.
Agora a defesa esta meia boca.
O Isla vacila demais, espero que seje adaptaçao.
O Gustavo nao entra no jogo de verdade. Eh insuficiente.
E o goleiro nao da. Ele tem que jogar nas categorias mais embaixo e pricipalmente treinar bolas altas – ai ele é zero.
Jogamos durante um tempo com os 3 volantes, interssante. Mas nao foi um bom momento, para frente nao existiu mais nada.
Estamos mais estaveis. Levemente, mas até agora suficientemente.
Infelizmente estamos perdendo muitos gols, todo mundo com o pé torto. Faz tempo. Acho inexplicavel tantos jogadores diferntes perderem tantos gols.
Isso, para um jogo dificil, tem que acabar.
SRN
Valeu Arthur…
Grande texto e sempre amarradão no Mengão.
Flamengo Sempre !!!
O que está faltando pra inflamar o time é a magnética. Enquanto ela não retornar ao seu lugar de direito, vai ser isso aí.
Texto realista , meu caro Arthur. Concordo integralmente com vossa crítica. Ora, 2X0 não se pode encher a equipe de reservas como se o placar estivesse resolvido. Se mudasse nos 40 minutos finais, tudo bem, mas veja que o time não sustentaria o placar caso o “referee” desse mais cinco minutos de acréscimo. O time fez um ótimo primeiro tempo e retornou do intervalo sem ímpeto e com começando a jogar nos contra-ataques. Achei ridículo. Mas, espero que o Dome perceba essa falha psicológica nos jogadores e mande algumas porras bem alto. Abraços. Saudações Rubro-Negras.
Fui dormir bolado com a falta de vontade de esculaxar esses caras. Time bunda, clube bunda, técnico maionese e o presidente se confundirá eternamente, com o Pequeno Príncipe.
SRN