Coisa que mais adoro é escrever sobre a dor e a delícia de torcer para o Flamengo. Durante uma vida minha definição de torcedor rubro-negro era: aquele que abraça desconhecido na arquibancada do Maracanã. Lembro de ver maravilhada meu pai abraçando pessoas como se fossem amigos de infância. Conversando, discutindo durante o jogo e eu de modo inocente ainda perguntava: “Conhece de onde, Pai?” E ele respondia: “Conheci agora, minha filha.” Me emociono demais enquanto escrevo isso. O Flamengo traz lembranças de pai, de arquibancada, de uma vida, que nunca mais voltarão. E essa dor só é possível ser vivida porque esse mesmo Flamengo nos alimenta a alma e nos dá esperanças de seguir apesar das ausências. Com a certeza que os abraços nunca vão nos faltar na arquibancada. Mesmo que, apesar dos erros de gestão, de políticas e de governos…a arquibancada do Maraca nos falte.
Com meus doze ou treze anos estava em mais um jogo com meu pai e meu irmão. Um típico domingo de “praia e sol, maracanã, futebol” quando ao meu lado se posiciona um torcedor de sunga, pochete e camisa do Flamengo. Vou repetir para que a cena se materialize na frente de vocês. SÓ DE SUNGA, POCHETE e CAMISA DO FLAMENGO. Tenho certeza que meus 11 leitores já viram coisas mais intensas na Arquibancada ou na saudosa Geral. Acontece que durante o jogo todo o praiano torcedor queria conversar e comemorar comigo – surpreso com minhas reações e análises do jogo – e claro me abraçar a cada gol do Flamengo. Não satisfeito, comprava tudo que passava na frente dele…para mim! Biscoito Globo, sorvete Kibon, Mate, Amendoim. Com aquela idade e, pasmem vocês, tímida, só lembro do meu pai e meu irmão gargalhando das minhas reações de pânico. Voltei pra casa e me queixei com minha mãe. Era o meu primeiro “assédio” (até isso o Maracanã me deu), e meu pai tranquilo argumentava: “Não era um estranho, era um torcedor do Flamengo.” Isso explica muita coisa. Logo, dentro da torcida do Mais Querido, vale o samba que Cartola fez para o Paulo (da minha Portela). O Flamengo é sala de recepção. Aqui se abraça inimigo, como se fosse irmão.
Fazia tempo que eu não tinha essa sensação legítima de arquibancada. Mesmo nessa saga de ver o Flamengo “por aí”. Os “estranhos” que param do seu lado não largam o celular. A alegria é para fora, além dos muros do estádio. Não se olha para o lado. Só para as redes. Do gol? Não, sociais. Nelas também criamos laços, abraçamos, amamos, nos apaixonamos, brigamos, fazemos as pazes, ERRAMOS e acertamos. Mas, sempre nos falta um abraço. Movida por essa ausência de espírito de arquibancada, abri mão do almoço e segui para o Santos Dumont. Apenas pra dizer e afirmar para o Diego que a felicidade mora aqui no Flamengo. E as outras escolas até choram, invejando a nossa posição. E lá estava eu conversando com “estranhos conhecidos”: “E aí, Diego chegou? Chega que horas? Será que já desembarcou?” E falava com executivos, adolescentes, pais e mães com seus filhos, funcionários do aeroporto. Eu estava em casa. E tudo isso também com o celular ligado transmitindo aquela sensação AO VIVO (eu saio das redes sociais, mas elas não saem de mim). Por um instante, como num sonho lindo, vi meu pai no rosto daqueles torcedores. Vi o cara da pochete. Vi um torcedor de 1,90, desdentado e de manto sagrado “furadinho” que me jogou diversas vezes para o alto certa vez depois de um gol do Flamengo, me fazendo levitar no Maracanã. Aquela sensação de “voar” no estádio eu não vou esquecer jamais. Nem do portão de desembarque abrindo para o nosso “35” passar. Nos abraçamos todos. Ilustres desconhecidos. Começo a chorar, timidamente, e um “estranho” de manto sagrado me acolhe com um poético e preciso: “O Flamengo é foda, né AMIGA?” Eu nunca tinha estado com aquele “amigo” antes. Apenas respondi: “Sim, o Flamengo é foda, amigo.”
Diego não é ídolo. Ainda. É esperança. A chegada dele nos trouxe de volta a alma encantadora das arquibancadas do Maracanã. Somos todos João do Rio. Diego é bola. É Flamengo. É sonho. É desejo. É amor. É Proust! A verdade do rubro-negro é o somatório de seus ressurgimentos. O Flamengo vive e eu vivo o Flamengo. VIVA O FLAMENGO. Essa grande sala de recepção.
Pra vocês,
Paz, Amor e Abraços.
Parabéns pelo belo texto. Ganhou o 12° leitor.
Sensacional! Abraçar um estranho no Maraca sempre me fez ser mais Flamengo!
QUE TEXTO LINDO… DE SUSPIRAR… QUE LINDO É VIVER QUANDO SE TEM O FLAMENGO NO CORAÇÃO. OBRIGADO, VIVI. R A I N H A
Maraca foi o lugar que mais fiz amizades!!!
Belo texto.
Ao vermos as imagens do S. Dumont, eu e meu filho, que é mais saudoso do velho Maracanã (apesar dos 20 anos) do que eu, comentamos que toda aquela festa provinha de um misto de alegria pela chegada de um grande jogador com, e talvez muito mais, saudade do Maracanã. Aquela festa teve também muito de reencontro dos rubro-negros com eles mesmos.
Ao ler o belo texto da Vivi, lembrei-me logo de cenas que vivenciei exatamente assim, no Maraca, no congraçamento com “velhos amigos” que nunca vira antes, mas que tinham a infinita afinidade de terem sido sempre Flamengo.
Saúde e Sorte
Eu nem preciso elogiar o texto, ele é tão bonito que eu não ouso manchá-lo com um elogio óbvio (obviedade é minha área). Já que amanheci ousado, vou falar de futebol, a coisa que eu menos entendo na vida, por isso mesmo ouso falar sobre o dito cujo. Fico aqui me perguntando o porquê dessa perseguição ao Márcio Araújo. Vem-me a cabeça duas história de perseguições obsessivas: uma se passa num certo país, em que um juiz de província persegue obsessivamente um ex-presidente e quer condená-lo mesmo que inocente; outra a do personagem inspetor Javert de Vitor Hugo perseguindo implacavelmente Jean Valjean, bem, não sei se é uma premonição, Javert acaba se suicidando. Acho que ao atual time do Flamengo só falta uma coisa, velocidade, e isso vai ser difícil convencer a essas estrelas que se acham a quntessência do futebol moderno e querem imitar o Barça de todo o jeito. O Flamengo é Flamengo, não é Barça, aqui, sob aquele manto há que se ter suor, lágrima, raça e muita raça, a velha e decantada mística rubro-negra faz o resto. Fico me perguntando por que toda a defesa joga compacta contra o nosso time e concluí, nada disso, a lentidão desse time é que proporciona as defesas, por piores que sejam, a terem tempo de voltar e se recompor. Ontem vi o time do Santos, bem inferior ao nosso individualmente, e fiquei me perguntando, por que mesmo atacando parcimoniosamente eles sempre estavam em maior número que a defesa do Vitoria. Acho que aí está o segredo, que aliás, Fleitas Solich há séculos atrás preconizava, por isso revelava muitos garotos: velocidade, eis a fórmula. Desculpem se mais uma vez falei o óbvio.
Mais uma vez, parabéns grande Xisto !
As obviedades se tornam necessárias, na medida que a cegueira – ou a má informação gerando crédulos em grande número, especialmente os famosos mauricinhos e patricinhas – cabendo ser repetidas mais e mais.
Neste ´´obvio e oportuno comentário , à exceção exatamente do Márcio Araújo, concordo com tudo.
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Do Juíz de província (excelente), do Victor Hugo, do Manto Sagrado, do Santos de ontem até chegarmos ao Feiticeiro de sempre, que técnico igual não existiu.
Entusiasmadas SRN
FLAMENGO SEMPRE
Cara, que texto !!!
É essa emoção que eu sinto no maracanã. Ser Flamengo não é pra qualquer um.
O texto do Rodrigo M. Teixeira foi reprisado, sei lá quais os motivos .
No segundo, deixei a minha opinião.
^Não posso deixar de registrar, MUITO BONITO !!!^
Tiraram a reprise e o meu elogio ficou órfão.
Esclareço aqui.
No tocante ao excepcional texto da Vivi, já havia deixado o meu sentimento a respeito.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
Obrigado, Carlos! O que a genial Vivi escreveu me fez brotar emoções atravessadas de amor profundo pelos Flamengos todos, vivos e mortos. SRN!
Lindo texto. Obrigado por compartilhar. SRN
Também sinto saudades, minha doce Vivi, do meu velho e das arquibancadas de cimento do velho estádio.
Infelizmente, nunca fomos juntos ao Maracanã. Ele era cego. O Poeta Cego do Flamengo, do livro “Histórias do Flamengo” de Mário Filho, do qual transcrevo o seguinte trecho:
“É o Moreira Leite quem fornece as fotografias para o álbum do Ascânio da Silva. O Flamengo levanta um campeonato – remo, de football – Ascânio da Silva avisa logo que precisa de uma fotografia para o álbum. O álbum do Ascânio da Silva não pode ficar sem a fotografia da guarnição, do time campeão.
Moreira Leite providencia logo as chapas, envia-as, o mais depressa possível, ao Instituto dos Cegos. O Ascânio da Silva telefona para agradecer, para reclamar:
– ” Moreira Leite, obrigado. As fotografias estão muito boas. Como é que você me mandou o time do Flamengo sem faixa? Os jogadores estão sem faixa e falta o Jarbas. O Jarbas também é campeão, Moreira Leite.”
Moreira Leite sente-se envergonhado. Ele pensara que para um cego, tanto fazia um fotografia do time com faixa ou sem faixa. E, quando acaba, a graça da fotografia, para o cego Ascânio da Silva, estava na faixa de campeão.
O Moreira Leite não devia esquecer-se nunca de que o álbum de fotografias do Flamengo era uma das vaidades do Ascânio da Silva.
Passando os dedos por cima da superfície lisa da prova fotográfica, o Ascânio da Silva sabia onde estava o Pirilo e o Jurandir.
E é este amor pelas coisas do Flamengo que dá inspiração a Ascânio da Silva para escrever um soneto: “Sonho Realizado”. O soneto vai para o arquivo do Flamengo. E, quem ler, mais tarde, se comoverá, como eu me comovi. Principalmente com a data: Domingo, um a zero.
Saudações Rubro-Negras.
Obs.: o “Sonho Realizado” foi o primeiro tricampeonato.
Espero que não haja qualquer confusão, como aconteceu com o elogio ao Rodrigo.
BELÍSSIMO o texto do Àureo ! ! !
Mais uma vez, emocionadas SRN
FLAMENGO SEMPRE
Valeu! Carlos Moraes, muito obrigado.
SRN!
Espero que não haja qualquer confusão, como aconteceu com o elogio ao Rodrigo.
BELÍSSIMO o texto do Àureo ! ! !
Mais uma vez, emocionadas SRN
FLAMENGO SEMPRE
Texto emocionado e emocionante, Áureo. Belo e tocante. O Flamengo é um depositário do amor inexplicável. Até hoje não entendi.
srnp&a
Muito obrigado, meu amigo, Rasiko.
S R N !
FLAMENGO, sempre FLAMENGO!!
É RAÇA, AMOR E PAIXÃO!!
Tocante a força desta torcida com tanta história, q aproxima desconhecidos, traz solidariedade, afeto e amizade .
VIVA ESSA LINDA TORCIDA!!