República Paz & Amor

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O dirigente inconsequente e o nenê chorão.

Por | 10 de julho de 2017
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  • […] REPÚBLICA PAZ E AMOR: Por Jorge Murtinho Ao contrário do que confessadamente ocorre com o Sr. Eurico Ângelo de Oliveira Miranda, as partidas entre Vasco e Flamengo não me dizem nada de especial. Em minha formação rubro-negra, foram bem mais marcantes os clássicos com Fluminense e Botafogo – esses últimos, então, as pedras nos sapatos da minha iniciação futebolística. Não dá para negar que, após desmedidos esforços para sapecar no jogo o carimbo de maior rivalidade do futebol carioca, Eurico conseguiu tirar o Vasco da coadjuvação que ocupava sobretudo junto à classe média da cidade. (Às leitoras e aos leitores que não são do Rio vale lembrar que, dos grandes clubes locais, o único cuja sede principal não fica na privilegiada Zona Sul é o Vasco.) Entretanto, o preço pago por isto supera a pior das expectativas: a insensata repetição de que ao Vasco pode acontecer de tudo, menos perder para o Flamengo, tem contribuído para apequenar o futebol cruz-maltino. Eurico Miranda não pode ser responsabilizado pelas selvagerias entre os fanáticos por Corinthians e Palmeiras, Goiás e Vila Nova, Bahia e Vitória, e tantas outras Brasil afora – a discussão é complexa, envolve análises sociais e antropológicas, estudos sobre mudanças no comportamento do homem quando se vê atuando em grupos, necessidades de pertencimento, banalização da violência no dia a dia dos nossos centros urbanos, temas que ultrapassam em muito os objetivos do blog e a capacidade do blogueiro. Por outro lado, também é inegável que, nos casos específicos das brigas entre as torcidas organizadas de Vasco e Flamengo, e dos próprios vascaínos entre si ou com a polícia, Eurico e sua estranha obsessão têm culpa no cartório. Desde a metade de 2015, com a chegada de Guerrero ao Flamengo, até o início do atual campeonato, quando o zagueiro Rodrigo deixou o Vasco, as pinimbas entre os dois marcaram os clássicos e transformaram Rodrigo em persona non grata para boa parte dos rubro-negros. Pois eu nunca vi desta forma. Ele catimbava, intimidava, batia, apanhava, só que me parecia um sujeito transparente. Ao contrário do que penso a respeito de Nenê. Dissimulado, cai-cai, superestimado e chorão. Durante a partida do último sábado, Nenê ergueu os braços algumas vezes, reivindicando a marcação de pênaltis quase tão absurdos quanto o que foi assinalado no segundo turno do Campeonato Carioca, já nos acréscimos, e permitiu ao Vasco empatar o jogo. Também reclamou do juiz Anderson Daronco no gol anulado de Pikachu, quando deveria se queixar com Luis Fabiano pela desnecessária entrada em Léo Duarte: o erro do nosso zagueiro aconteceu antes da falta, que foi indiscutível. Não satisfeito, Nenê encerrou sua entrevista à saída do gramado com um muxoxo ridículo: “É sempre assim. Sempre contra a gente”. Tadinho. De modo geral, somos condescendentes com os jogadores e sempre procuramos limpar-lhes a barra, relevando o fato de que esse tipo de discurso serve ao acirramento do ódio mútuo e, embora não pareça, ajuda a empurrar o Vasco cada vez mais buraco adentro. Problema deles. Um dos maiores equívocos que nós, torcedores, cometemos é o de comparar partidas diferentes. Temos o vício de dizer: ah, como é que o Flamengo empata com um time que perdeu de tanto para não sei quem? Futebol não comporta esse tipo de raciocínio. O atual líder do campeonato, com nove pontos de vantagem, empatou em casa com o time no qual enfiamos cinco a um. A mesma Alemanha que massacrou a seleção brasileira na semifinal da Copa de 2014 tinha cortado um dobrado para, nas oitavas de final, eliminar a Argélia na prorrogação. Tolice achar que o Vasco enfrenta Corinthians e Palmeiras do mesmo jeito que encara o Flamengo. O clássico em São Januário foi duro, pegado e tenso, Guerrero apanhando, batendo e reclamando como sempre, o Vasco correndo em quarenta e cinco minutos o que obviamente não conseguiria correr o jogo inteiro, nenhuma oportunidade real no primeiro tempo. O Flamengo precisou absorver os desfalques na zaga, com Réver vetado no aquecimento, Rhodolfo sentindo uma fisgada logo aos dezessete e a insegurança trazida pela presença de Léo Duarte – fruto de um erro grosseiro do nosso departamento de Futebol, já que o correto seria tê-lo colocado em campo desde o começo da temporada, mais vezes e em partidas menos cascudas. Conforme se poderia prever – outra coisa que nosso altíssimo padrão de exigência costuma ignorar é que futebol tem noventa minutos –, o Vasco não aguentou o ritmo da marcação e as oportunidades vieram. Sempre que um jogo é excessivamente brigado, aumenta a possibilidade de ser decidido por conta do talento individual. Foi o que vimos na linda jogada de Everton Ribeiro, concluída por Everton. É justo e merecido, ainda, destacar os trabalhos de Rafael Vaz e Márcio Araújo – dois caras bastante criticados, inclusive por mim. Apesar de não ter sido uma grande exibição, foi uma vitória extraordinária. Eurico Miranda pode falar o que quiser, Nenê tem o direito de chorar que nem criança com cólica, e os torcedores vascaínos que acreditem no que lhes for conveniente. Mas um time com Diego, Guerrero e Everton Ribeiro será sempre favorito diante de outro que tem Paulão, Rafael Marques e Wellington. Futebol não tem tanta lógica, mas tem o mínimo. […]

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