A torcida do Flamengo estava mais do que preparada para um resultado meio escroto. Talvez mais preparada que o time e comprovadamente mais preparada do que o Ceni. Aqui é Flamengo. Aqui é perrengue.
Quando as primeiras células rubro-negras procariontes começaram a se multiplicar como loucas lá na sopa primordial darwiniana o elemento perrengue já estava presente. Por essa longa convivência com a partícula do caos que a Mais Bem Vestida do Brasil já sabia há mais de 4 bilhões de anos que a jornada do Flamengo rumo ao Octa brasileiro incluiria obrigatoriamente algumas paradas na Estação Frustração.
Aí foi só usar a lógica, se a parada não foi contra o porco, não foi contra os genéricos setentrionais, não foi contra a nossa baranga, só poderia mesmo ser contra o Red Bull, Bragantino, ou seja lá o nome que o time do Nabi usa agora. Provado está que nesse campeonato o Flamengo só avança no tranco, ganha uma, duas, três e para um pouquinho pra peidar. É desse jeito, pouco elegante, mas eficiente, que está há três rodadas colado na traseira do líder, buzinando, piscando farol e dando seta como se fosse um daqueles motora raiz dos anos 90 com o adesivo Jesus Is My Pilot colado no vidro traseiro.
E mesmo o efeito brochante do empate com um time pequeno bem na hora em que mais uma vez poderíamos ficar na liderança por pelo menos três dias, não modifica as regras da matemática. E é ela que diz que a diferença entre o Flamengo e o líder diminuiu e agora é de apenas um ponto. O que automaticamente transforma um empate escroto em que o Flamengo perdeu dois pontos de bobeira em um excelente resultado.
Pela ordem natural das coisas, em que as forças místicas são tão influentes quanto as forças físicas da natureza, esse era um jogo pro Flamengo perder. Como perdeu aquele jogo absurdo em Barueri em 2009. Pra começar a listar os indícios de que iríamos perder, o nosso principal adversário tropeçou na última rodada, aí vai lá o nosso mini Botafogo e nos dá aquela alegria imensa executando a dança do caxambu e indo pra Segunda Divisão, que já é muito mais do eles merecem. Pra completar, na tarde de domingo só lazer, vimos o porco envergonhar o nome do futebol feio perdendo pra um time ainda mais obscuro do que ele e mantendo vivo um ótimo meme.
Pelo andar da carruagem era óbvio que o nosso jogo apresentaria problemas. Porque existe uma cota de boa sorte destinada a cada torcedor do universo e quando a imprensa paulista começou a colocar a sua cara de pau nas telinhas exaltando o vexame palmeirense através das mais retardadas argumentações, todo rubro-negro racional (maioria absoluta da Nação) percebeu que já tínhamos esgotado nossa cota. Por tudo de bom que nos aconteceu nos últimos dias era pro Flamengo ter perdido esse jogo em Bragantino de goleada.
O empate foi muito lucro, principalmente porque o Flamengo volta a não depender só dele mesmo, um conhecido veneno para o nosso sucesso. Sem falar que o resultado reafirma o compromisso do time em cumprir estritamente as normas mais rígidas do protocolo do Deixou Chegar. Que é categórico ao não permitir que se ocupe a liderança da competição antes da canônica 37ª rodada.
Agora que já falamos de todos os motivos intangíveis e inverificáveis para a não vitória do Flamengo é preciso que se diga que dentro de campo o time também se dedicou à farta produção de provas contra si mesmo. Nem precisamos apontar a falha canhestra do Isla, uma boca aberta típica da defesa do Flamengo que foi imediatamente penalizada. Mas vamos apontar mesmo assim pro Isla não ficar pensando que Flamengo é bagunça.
Mas ainda teve os gols perdidos, estatística em que o Flamengo continua liderando por anos-luz de distância. Físicos do CERN (Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire), o maior laboratório de física de partículas mundo, acreditam que entre as 5ª e 6ª dimensões exista um ponto ainda não mapeado do espectro dimensional onde estariam todo os 97 gols perdidos pelo Flamengo no Brasileiro 2020. Enquanto testes no Grande Colisor de Hádrons não confirmarem essa teoria podemos continuar justificando essa falta de pontaria louca apenas a uma inhaca do caralho que tem metamorfoseado notórios frangueiros em cavalos do Manuel Neuer.
Nossa sorte foi que, em flagrante descumprimento à regra 14 – O Pênalti, o juiz resolveu marcar como se fosse uma falta a tentativa do zagueiro bragantino de despir o Gustavo Henrique de forma não consensual dentro da área. Apesar das veementes advertências da Central Globo de Arbitragem pelo cumprimento da regra o atrabiliário apitador, provavelmente um cripto-flamenguista, após consultar o VAR colocou a nega na marca da cal.
Uma grave deslegitimação do lugar de fala da Nadine e gol de Gabriel. Que consolidou o Flamengo como o melhor ataque do país e significou uma fugaz e, como se veria em seguida, precipitada permanência do Mengão na liderança antes da hora. Ainda temos muito o que melhorar antes de gritar é Octa! Por sorte o Flamengo conseguiu voltar da RedBullândia num voo fretado da Latam, se fosse Gol teria perdido.
Agora ainda não é a hora pra se empolgar e ficar se aparecendo na liderança. Isso é coisa de time pequeno. É hora do sapatinho frenético, sacode a poeira, se firma na sela e segue no embalo sem chicotear. Correndo assim dá pra ganhar. A gente conhece a pista, já ganhamos sete vezes, agora é na ponta do dedo. Quem tem que ficar desesperado, cheio de medo do que pode acontecer é quem usa camisa feia e tá mofando na fila há 41 anos (a idade da Débora Secco, como é que pode?!).
Enquanto metade de Porto Alegre não consegue mais dormir, 40 milhões de brasileiros fechados com o certo desfrutam o sono dos justos, de quem sabe que o pior já passou e que no final dá tudo certo. Se não tá dando certo é porque ainda não acabou.
Mengão Sempre
Éçaseco é uma dilícia!
Sambalelê tirou a cabeça quebrada da bola sem gritar o alerta. Tinha de ter saído bem antes. Menos 1 ponto pro pseudo-técnico da Nação. De onde ele vai tirar, não sei, porque tem 0.