A torcida em Manaus compareceu, pela TV o estádio parecia oferecer um ambiente acolhedor pro time. Um pouco menos pro Gabigol, que foi homenageado por uma facção que replicou uns slogans criados em laboratórios cariocas e mostrou que a torcida do Flamengo, a despeito das distâncias e diferenças culturais, é um mesmo bando de malucos que muda de ideia o tempo todo e de quem não se deve cobrar coerência. Ao mesmo tempo em que essa galera esculachava o rebelde tinha muita gente batendo palma pra ele e louvando sua resiliência diante das adversidades e da injustiça.
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E quando o Flamengo entrou em campo eu, momentaneamente, fechei com esse povo de bom coração. Naquele momento me pareceu descabida a punição que Gabigol recebeu por vestir a camisa do pequeno time do Tatuapé. Porque o Flamengo, sem a menor necessidade face ao fardamento do adversário, estava vestindo o uniforme completo dos maloqueiros. Em mais um escandaloso ataque à integridade de sua própria imagem o Flamengo veio de camisa branca, calção preto e meião branco.
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Ah, vão a puta que os pariu, queremos ver o Flamengo e não 11 caras fantasiados de time pequeno. Mas isso não apaga a pisada na bola do Gabigol, em um dos maiores vacilos da história recente do Flamengo. O maluco mexeu com forças cuja extensão do alcance ele desconhece completamente. A torcida do Flamengo quando resolve pagar de corna é intragável, ele não sabe com quem mexeu. Vai ser quase impossível ele reverter o cenário atual. Mas não é nada que dois gols na final da Libertadores não apague. Difícil é ele ficar no clube até lá.
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Mas aí a bola rolou e, felizmente, já arrumamos motivos mais nobres pra ficarmos putos. Depois de duas partidas em que parecia ter recuperado seu mojo e sua energia mais essencial o Flamengo voltou a aparecer em campo emocionalmente desfigurado, com pernas, rodas e pregas presas por forças de origem ignota, mas decididamente negativas.
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É alarmante perceber que o Flamengo de Tite é um dos times que mais sentem os efeitos nefastos de uma semana inteira de treinos. Basta que os nossos formidáveis rapazes fiquem expostos por mais de 72 horas à catilinária bachiana para que se extinga qualquer sinal do fogo sagrado que deve, por regra, chamuscar continuamente o apêndice caudal dos caras. Desconfia-se de algo perigosamente soporífero e ansiolítico na retórica baseada no e-qui-lí-bri-o do nosso treinador. Algo que tá matando o time de sono.
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Se os caras dentro de campo aparentam estar com sono, menos o De la Cruijf, do lado de fora a vontade de boa parte da torcida durante os jogos é hibernar e só acordar naquela final da Libertadores em que o Gabigol terá que fazer dois gols pra ser absolvido. O Flamengo é um time muito chato de se assistir e isso não parece ser um problema gerado pelos jogadores. O que falta pra esse elenco caríssimo e medalhudo começar a oferecer espetáculos condizentes com a sua fama?
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Já sabemos que a evolução não é uma progressão em linha reta, ao infinito e além. Sabemos que a cada dois passos adiante forçosamente virão passos para trás, deslocamentos laterais e movimentos erráticos, mas tudo tem limite. Já tivemos uma excelente pré-temporada, tem ninguém gravemente contundido, os salários estão em dia. Quando é que esses caras vão começar a jogar bola?
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A ausência do Lorran em campo, só entrou pra sacanear faltando 3 minutos pra acabar, foi muito sentida. Não pela sua técnica refinada ou verticalidade de seu futebol, mas pela sua vontade indômita e seu entusiasmo juvenil que tanto faltam aos nossos craques com o boi na sombra. Com a já citada exceção de Nico de la Cruz, o time do Flamengo parece acomodado, cansado, sem tesão. Se é a isso que chamam de pragmatismo que o Flamengo o abandone imediatamente e adote o hedonismo, que pelo menos satisfaz os sentidos.
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O Flamengo se classificou pras 8as da Copa do Brasil, mera obrigação, e agora o foco é a classificação para as 8as da Libertadores. Que também deveria ser algo corriqueiro, mas transformou-se numa incógnita e o Flamengo chega à ultima rodada da fase de grupos sem a sua vaga garantida. Quem no começo do ano diria que isso poderia ocorrer? Mas é o que temos pra hoje. Flamengo tá bem, não.
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Mengão Sempre
“Basta que os nossos formidáveis rapazes fiquem expostos por mais de 72 horas à catilinária bachiana para que se extinga qualquer sinal do fogo sagrado que deve, por regra, chamuscar continuamente o apêndice caudal dos caras.” Hahahaha. Genial. Essa sim é uma coluna que entrega espetáculo em todas as apariçôes.
Talvez, só talvez, a forma como o adversário joga afete o desempenho do Flamengo. Aí não seria só uma questão de ânimo x falta de ânimo. Ou talvez eu seja um passador de pano.
Arthur, é impressionante como esse time alterna boas e más partidas em um curto intervalo de tempo. Realmente concordo com tudo que você falou, parece que falta fome e sobra sono. E sobre o Gabigol, pra mim ele já parou de jogar faz é tempo, vive somente da fama, será o novo Luan?
Parabéns pela coluna…
Abraços
Sobre o uniforme, além de ser desnecessário o uso do conjunto reserva, ambas equipes jogaram de calção preto. Achei estranho