Depois de dez intermináveis dias de ausência forçada o Flamengo voltou a fazer parte das nossas vidas. Como se soubesse que muitos rubro-negros penaram em violentas crises de abstinência o Flamengo jogou regulando a mixaria. Dosando seu poder de encantar as massas e gerar nos corações flamengos os mais variados estados mentais, emocionais ou passionais, que as melhores práticas de enfrentamento às pandemias recomendam fortemente evitar. Boa, Flamengo!

Se esta suposta preocupação do Flamengo com a saúde pública da Nação já é merecedora de todos os elogios, o pragmatismo com que o Flamengo pratica o violento esporte bretão é pra aplaudir de pé e pedir bis. Mesmo com desfalques que desmontariam qualquer time do país o Flamengo em poucos minutos viu que não encontraria nenhuma dificuldade para vencer o jogo na casa do adversário.

A postura respeitosa do Coritiba, e em seu favor devemos destacar que de maneira honrosa os coxa não baixaram a porrada, cedendo gentilmente a bola e a condução do jogo ao Flamengo, facilitaram ainda mais um trabalho que já era fácil. Rapidinho o menino Muniz meteu seu primeiro gol arrematando um corner bem cobrado. Aliás, cobrar esse córner foi a última coisa certa feita pelo Sr. Victor no jogo.

Mas não foi só isso, Muniz ainda meteu outro gol cheio daquele puro oportunismo de centroavante raiz que acredita em todas e chega antes. Matheuzinho achou Bruno Henrique na área, que domina e toca pro meio do agrião, onde vinha chegando Muniz embolado com dois beques. Mesmo em flagrante inferioridade numérica rubro-negra a bola morreu no barbante. Muniz fenômeno.

Mas aí as forças retrogradas enraizadas no solo araucário da república curitibana conjuraram o encantamento do lawfare. Mesmo sem VAR, sem provas, na pura convicção, os fela da mãe anularam o lídimo gol do menino. Mantendo em curso o grande acordo nacional pra fuder com o Flamengo. O que significa alívio no Brasil inteiro, quando o Flamengo está sendo roubado as instituições nacionais estão funcionando normalmente. Respira a República.

Depois de mais esse enfrentamento com os agentes da lei o Flamengo volta para o segundo tempo não mais como o poderoso time de futebol, deram uma broxada mesmo. Mas volta como o ainda mais poderoso e importante produtor de conteúdo do Brasil. Disposto não apenas a vencer seus jogos, mas principalmente a não deixar nada na mesa de negociação, o Flamengo valoriza o seu produto, regula o fluxo de produção de conteúdo. O Flamengo é profissional.

O jogo estava ganho, até a Procuradoria Geral da República sabia disso, se o Flamengo apertasse um pouquinho mais os caras arrumava uma goleada sem precisar desarrumar o cabelo. Mas quem precisa de goleada? A quem interessa resolver tudo no jogo um e assim aniquilar qualquer pretensão de interesse público pelo jogo dois? O Flamengo se entende como um entertainer, cuja principal missão não é só conquistar o público, mas sim manter esse público fidelizado em um ciclo perpétuo de excitação, angústia e recompensa.

Para salvar o jogo no Maracanã foi preciso sacrificar o segundo tempo inteiro do jogo em Curitiba. A vida é assim mesmo, não existe almoço grátis e nem remédio milagroso. Semana que vem é nóis lá lutando pela classificação no jogo mais importante da vida do Coritiba em 2021. Olhaí, o Flamengo transformou uma peladinha sem graça num jogaço imperdível. Palmas pros caras que ficam pensando essas paradas.

Agora, mei que negando tudo que foi dito há poucas linhas atrás, não vai pensando que o Flamengo já está classificado. O Coritiba é ruim, mas nós já estivemos vezes demais representando esse papel de underdog pra não ficar esperto com eles. E mais importante ainda, é preciso que o Flamengo confesse seus pecados, pague seus fiados, acerte suas paradas e esteja preparado. O dia do Juízo está chegando. Como um arauto do Apocalipse a Copa do Brasil vem distribuindo justiça a torto e a direito com extrema severidade.

Essa terceira fase foi sanguinária, vários times acostumados à tiração de onda se foderam de maneira grandiosa. Esse negócio de que camisa ganha jogo só funciona mesmo com o Flamengo. Os times do Nordeste foram pra cima, teve essa de camisa não. Mataram vários cachorros grandões e parecem muito mais motivados que uns e outros chineleiros que não ganham nada há milênios. Que os Davis se criem derrubando todos os Golias, depois o Mengão enquadra os dimenor remanescentes.

Vai ser muito vacilo se o Flamengo der mole nessa que vem parecendo ser a Copa do Brasil mais mole da história. Ganhar é obrigação. Já chega de ser TRI, tá na hora do Flamengo tomar vergonha na cara e ser TETRA. Basta cumprir as metas estabelecidas previamente com a concordância de todos os stakeholders que continua todo mundo amigo. Não vacilem!

Principalmente, não vacilem com o Muniz. O moleque é absurdamente predestinado, a bola procura e ele não desperdiça. Se o Flamengo não precisar desesperadamente fazer dinheiro vendendo jogador, segundo o balanço não precisa, devia manter o Muniz no elenco. As últimas convocações das infames selecinhas provaram que quem tem dois centroavantes bons não tem nenhum. Nada de olho grande nessa hora.  Imunização racional é isso. Volta, Gabigol. Volta, Pedro. Fica, Muniz.

Mengão Sempre