[ Por Mario Filho * ]
São Judas Tadeu é o santo dos desesperados. Dos desesperados não, porque o desesperado elimina a fé. Dos castigados pelo destino, mas que continuam esperando.
Muita gente se esqueceu do livro de Job, que devia ser decorado por todos os jogadores de futebol, por todos os torcedores. No princípio, Job tinha tudo. Era o homem mais feliz da Terra. Então veio o Diabo e disse para Deus que queria ver se Job, não mais feliz, desgraçado, não mais rico, pobre, não mais saudável, doente, continuaria a amar a Deus sobre todas as coisas, a acreditar no Senhor. E Deus entregou Job ao Diabo, e o Diabo tirou a riqueza, a saúde, a felicidade de Job. E Job continuou, assim mesmo, a agradecer a Deus, a temê-lo e a amá-lo sobre todas as coisas.
Resultado: Job voltou a ter riqueza ainda maior, saúde ainda maior, felicidade ainda maior. Nos campeonatos, os clubes vivem e revivem a historia de Job. Apenas poucos suportam a hora ruim e aí se queixam e aí se revoltam, estragando tudo. Não é fácil, realmente, ser Job na hora ruim. E, para ser Job, é preciso conservar a fé na hora ruim. Perdendo-se a fé, perde-se tudo.
O que está acontecendo agora é que quem tem fé é o Flamengo. O Flamengo tem um santo. E os outros? É verdade que o Vasco já mandou fazer um projeto para uma capela monumental de Nossa Senhora das Vitórias. O Vasco muito deve a Nossa Senhora das Vitórias e sabe disso. Quando foi campeão invicto, antes de cada jogo os jogadores do Vasco iam ajoelhar-se diante do altar de Nossa Senhora das Vitórias, que ficava numa capelinha em São Januário.
E todas as manhãs o altar de Nossa Senhora das Vitórias aparecia coberto de flores. Bastou que o Vasco tirasse a capela, embora com a alta intenção de dar-lhe uma capela maior, mais digna de Nossa Senhora, para que as coisas no campeonato não corressem tão bem. Não que Nossa Senhora das Vitórias se zangasse. Era que os jogadores não se ajoelhavam, não rezavam, não se enchiam de fé.
* Trecho da crônica escrita pelo célebre jornalista em 1956. Presente na antologia “O sapo de Arubinha” (Cia das Letras, 1994), encontrada nos bons sebos virtuais.
Não entendi bem o asterisco.
A crônica é a do Mário Filho de 1956, ou apenas inspirada nela.
Pelo teor, parece ser a própria, pelo menos em parte.
Não na nossa parte rubro-negra, mas na cruzmaltina.
De fato, a partir de 1945 até 1951, o Vasco foi o grande ganhador dos Cariocas.
Recordo-me bem que obteve três títulos invictos, nos anos ímpares de 45, 47 e 49, sendo que o Fluminense foi o super-campeão de 46 (lideramos iinvictos o campeonato por mais de um turno, até sermos surpreendemente derrotados, por 1 x 0, pelo Bonsucesso, em Teixeira de Castro) e o Botafogo, depois de anos, em 48, no célebre campeonato das ^rezas fortes^ do Carlito Rocha e do mascote Biriba, um cachorro clássicamente viralata.
Confesso que, da capelinha não tinha o menor conhecimento.
Foi o período das vacas magras, pois passamos SETE ANOS sem conseguir ganhar uma só partida do nosso atual freguês.
Para mim, que tinha de 7 a 13 anos, foi um período extremamente amargo.
Tinha que ser muito apaixonado pelo Flamengo, para resistir a tantos fracassos.
Apaixonadas SRN
FLAMENGO SEMPRE
É um trecho apenas, de uma crônica bem longa – e muito boa. O livro é imperdível! SRN
vc quis disser jó…job nunca existiu na biblia !
SRN !
Na Bíblia do Mario era Job.
https://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%B3
Amigo Chacal,
você tá certo. Na Bíblia, todas que conheço, é mesmo Jó. A do Mario Filho, não tive oportunidade de ler.
Você, certamente não é do tempo em que, nos Jardins de Infância, faziam cantar –
Êscravos de Jó, tiram o caxangá,
Tira, bota, torna a tirar … e por aí ia.
O Mário tem defesa, que só também os antigos têm conhecimento.
No fim dos anos 40, o nosso Flamengo teve um zagueiro de área chamado JOB, com B no fim.
Não era lá grande coisa, um nordestino da porra, que espanava legal.
Como a crônica é posterior (1956), deve ter sido o motivo verdadeiro de inspiração.
Uma homenagem ao nosso zagueiro.
Cuidemo-nos.
Confinadas SRN
FLAMENGO SEMPRE
Fico a pensar aqui, nestes tempos de 40ena, se havia alguma parte na Bíblia onde o Diabo chegava e assoprava Job. Nos textos em inglês ia ficar bem esquisito. SRN!
Hahahahahahhahahahahahaha!
Certamente ia ter muito trabalho.