Quando era menino pequeno, lá em Barbacena, janeiro era o melhor mês do ano. Não tinha que ir pra escola, tinha um monte de brinquedo novo ganhado no Natal e dava praia todo dia. Depois comecei a trabalhar (contra a minha expressa vontade) e começou essa moda de férias pros jogadores (que só servem pra arrebentar com os patrões, que somos nós) janeiro passou a ser odiado. Não vejo a hora de fevereiro chegar.
Por muitos motivos: não ganho mais nada de Natal, dá praia todo dia, os boletos continuam chegando e tenho que trabalhar do mesmo jeito. Ainda por cima, não tem jogo do Flamengo. Não me corrija ainda. Carioca não conta. Copinha muito menos.
O Flamengo é uma parte importante demais na minha vida. Não só pelos jogos em si. Mas também pelas importantes funções sociais que os jogos do Flamengo desempenham. Talvez a mais importante delas seja a de marcador do tempo. Os jogos do Flamengo são uma meta de tempo palpável, que podemos enxergar num horizonte curto de sete dias. E organizar a nossa semana em função deles.
Quando o Flamengo está jogando planificamos o roteiro semanal em torno dos seus jogos. Domingo vemos o jogo, segunda debatemos o jogo, na terça especulamos sobre o jogo que veremos na quarta e discutiremos na quinta. Na sexta estamos exaustos e precisamos de lazer, para descansar no sábado e estarmos plenamente preparados para ver o jogo de domingo.
Nem precisamos mencionar que o Flamengo é o álibi perfeito pra não fazer nada que seja chato. Pelo menos na minha família já nem me convidam mais pra nada, tratam meu compromisso inegociável com o Flamengo como se fosse uma espécie de doença incapacitante para o convívio social e me poupam de vários programas mala.
Agora experimente tirar o Flamengo desse esqueminha perfeito e veja o caos instalado. Não conseguimos cumprir nenhum prazo ou mesmo marcar algum compromisso. E lá estamos nós, indefesos, tendo que frequentar reuniões familiares extraordinárias, festinhas infantis e até sessões de teatro. Lógico, perdemos o nosso referencial. Uma prova de que a falta de jogos do Flamengo, ao invés do que o senso comum indica, prejudica a produtividade do rubro-negro.
Saudade daqueles janeiros em que o Flamengo jogava sem frescuras celetistas. Foi nesse espírito proustiano que tirei o domingo pra comer madeleine (relaxem, não é uma mina) e remexer umas Placar antigas em busca de janeiros perdidos. Acabei achando a Placar de 15 de janeiro de 1982, ou seja, 38 anos depois de termos conquistado nossa primeira Libertadores e o primeiro Mundial. Aquele janeiro foi só lazer.
Em 82 não tinha essa de janeiro sem jogos, ainda mais que era ano de Copa do Mundo. O Flamengo, junto com outros 39 inocentes que nem desconfiavam que era ano de BI do Flamengo, já disputava a Taça de Ouro, a 1ª Divisão da época. Os times eram divididos em grupos, que eram chamados, olha que bizarro, de Séries. o Flamengo estava na Série C, junto com São Paulo, Náutico, 13 de Campina Grande e Ferroviário de Fortaleza.
Claro que o Mengão era favorito, mesmo não tendo contratado ninguém além do goleiro Carlos Alberto pra ser reserva do Raul. O time que tinha passado o rodo no Liverpool era mais do que suficiente pra ganhar aquele Brasileiro. A preocupação da massa bem vestida era a renovação do contrato dos craques. Naquele tempo o Flamengo era louvado como o time mais bem administrado do país, mas todo mundo sabia que a casa do Flamengo era um castelo de cartas que podia desabar a qualquer momento se os nossos craques vazassem.
![nenes grito](http://republicapazeamor.com.br/site/wp-content/uploads/2020/01/nenes-grito.png)
Reler a revista hoje é dar uma voltinha na máquina do tempo. Tem reportagem do Emerson arrumando dinheiro estatal pra bancar a equipe Fittipaldi de Fórmula 1. Tem O Brasil torcendo pela recuperação do João do Pulo do acidente automobilístico que lhe amputou a perna. Tem entrevista com Doutor Sócrates e uma notinha no meio da revista informando que o Doutor tinha finamente parado de fumar o careta. Uma matéria sobre futebol de botão, outra sobre a transferência do Batista do Inter pro Grêmio, um perfil do Breitner, um raio-x da seleça da Nova Zelândia e algumas fotos épicas. E claro, tinha uma reportagem espetacular sobre o Flamengo.
O título da reportagem, assinada por Marcelo Rezende, que acompanhou o Flamengo na Liberta, no Carioca e no Mundial, era: O Campeão Caminha Para a Eternidade. E o subtítulo dizia: O título mundial fez mais do inscrever, para sempre, o nome do Fla na história do futebol. Ensinou-lhe também a fórmula de perpetuar o sucesso. Hum-hum, pode crer que ensinou.
Rezende conta sobre as incertezas da torcida, após a derrota pro Cobreloa, as duas derrotas pra vasca no Carioca, a porrada que foi a morte do Coutinho, sobre o estado psicológico do time. A superação dos caras, sob a liderança de Zico, Junior e Raul, as farras na Disney antes de chegarem em Tóquio, uns causos engraçados do Peu e do Nunes na gringa. Não vou transcrever a parada toda aqui, tô com preguiça, mas deixo o link no final pra vocês mesmos lerem.
O mais legal de toda a reportagem, que dá uma mostra da mentalidade daquela geração papa-tudo, é a fala de Zico que fecha a reportagem. Uma declaração tão sinistra que eu faço questão de transcrever os dois parágrafos finais da matéria.
“No final, entre taças e voltas olímpicas, todos deixaram o gramado abraçados, unidos, mais adorados no Japão e no Brasil. Como dizia Zico, humilde: — Não chegamos ao fim da linha porque não alcançamos nosso limite. Temos mais a dar e mais a aprender. Em 1981 nos escapou a Taça de Ouro. Logo, não foi um ano perfeito.
Modéstia, foi um ano maravilhoso, que levou alegria ao povo e maravilhou mais de 50 países que assistiram à transmissão da grande final em Tóquio. Um ano que reafirmou o Brasil na vanguarda do futebol e que, fundamentalmente, comprovou que um grande time precisa saber dosar amor, união, talento, profissionalismo. E criar a cada dia um estímulo novo para se tornar um eterno campeão.”
Link pra revista
Mengão Sempre
Compram mal e vendem pior ainda (!)
Não é possível que seja só incompetência !!..
Um caso para se pensar.
Kkkkkk
Não é possível que alguém leve esse comentário a sério
Perdoe a intromissão sem ser chamado, mas o nobre urubu está a falar de quem ou de que?
Estranho recordar que o saudoso Marcelo Rezende foi um brilhante repórter esportivo que terminou a carreira fazendo sensacionalismo com crimes bárbaros.
SRN
sem o flamengo eu não fico.
vou pro maracanã assistir o campeonato carioca.
desde já deixo o meu apoio a diretoria do clube,vamos lutar pelos direitos do mengão.
SRN !
PS-gabigol é o cacete !
queremos jogadores que choram na apresentação,igual o pedro rocha.
Com todo o respeito e fraternidade, como assim esculachar o Gabigol em janeiro de 2020? De que planeta você desceu, amigo? Por gentileza, leias os jornais de 2019.
Depois volte aqui e escreva: Sábado tem (mais um) gol do Gabigol.
Marcelo Rezende era muito fera.
Caro Arthur,
Texto perfeito, como de costume. Fico torcendo pra Janeiro passar e começarmos o Carioquinha. Pelo que prevejo, vou assistir na Rádio Globo, em função do imbróglio das negociações da transmissão do jogo.
Abs.
Orlando Silva.
Um comentário, fora do tema, dedicado aos torcedores mais veteranos, aqui muito bem representados pelo Aureo Rocha.
Sou saudosista, coisa de velho.
Tenho as minhas razões, que vou apresentar.
Se levantarem – o que é facílimo nestes tempos de Internet – os DEZ maiores públicos PAGANTES do nosso Flamengo, vão constatar que apenas o OITAVO e o DÉCIMO aconteceram no Campeonato Brasileiro (final de 1983, contra o Santos – 155.523 – e final de 1980, contra o Atlético – 154.365).
Ficam longe, muuuiiitto looongge, dos espectadores aos jogos contra o Fluminense (63 – 177.020), Vasco da Gama (76 – 174.770).
o trágico Fla x Flu de 69 (171.599) e mais três contra o Vasco, sendo o sétimo um contra o Botafogo, em 79 (158.477).
Todos estes jogos pelos respectivos Campeonatos Cariocas, o ^mais charmoso^do Mundo, àquela época.
É curioso que não há um jogo internacional com público de CEM MIL espectadores, eis que os maiores foram o do jogo contra o Cobreloa (2 x 1, 89, 93.985 ) e o do mencionado jogo que perdemos, no ano seguinte, para o Peñarol, com a presença de 90.939 torcedores.
Cabe destacar que o também citado jogo contra o Honved, um AMISTOSO incrível, que terminou com a nossa vitória por 6 x 4, teve um público fantástico, superior a 88 mil espectadores.
A Nação, à época, ADORAVA o Carioca, hoje espécie em extinção.
Para preencher o vazio do mês de janeiro, como bem colocou o Grão Mestre, a pesquisa valeu à pena.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
Carlos Moraes,
essa homenagem ao “Joselino Barbacena” é mais do que justa.
Quando criança aqui em São Gonçalo, eu já ouvia na Radio Mayrink Veiga o Antônio Carlos interpretar esse personagem, mais tarde famoso na Escolinha do Chico Anysio.
E no Fla x Flu de 1963, eu estava lá sentado de lado na arquibancada, entre os pés do de cima e a bunda do de baixo. Jovem, nem torcicolo eu tive.
Tempo em que o Carioca era o melhor campeonato do Brasil, com toda a certeza. O Rio de Janeiro era a capital federal, a capital intelectual do Brasil. Daí a grande massa de torcedores do Flamengo por esse Brasil a fora.
O programa Balança Mas Não Cai, na Rádio Nacional, parava o Brasil nas noites de sexta-feira, nos anos 50 do século passado. O comediante Germano, que interpretava um fanático torcedor do Flamengo, imortalizou o nome Mengo, com o seguinte bordão: “Mengo, tu és o maior.”
E ficam os babacas arco-íris dizendo que somos uma criação da TV Globo, fundada somente em 1965.
Mengo Tu és o Maior.
SRN!
Nada a comentar.
Só a aplaudir.
Perfeito.
Jamais me recuperei da derrota de 82.. não, não me refiro ao time da CBF e sim o 0x1 pro Peñarol no Maraca que nos custou um muito provável bi da Liberta e Mundial. Aquela geração merecia no mínimo ter igualado o time do Pelé.
Joseph, vancê (já que é pra ser chegado ao nordestino) tá certo.
Apenas acho que foram DUAS tremendas PORRADAS.
A da Copa, até pela mais do que marcante presença da nossa trinca de ouro, e a do Peñarol, em pleno Maracanã, com gol de brasileiro.
Tive um problema no trabalho e me lembro até hoje, Ouvia o jogo dentro do carro, indo pra casa, e não acreditei quando saiu o gol deles.
Quase chorei, num misto de tristeza e raiva. Tinha certeza do BI, embora nem pensasse na comparação com o Santos de Pelé (sem dúvida, o melhor TIME de futebol que VI na minha vida, sendo certo que não vi – nem poderia, à época – o Real Madrid, penta campeão da Europa, e o Honved de Puskás, que pude admirar (um arremedo, apenas) no Maracanã.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
PS – a nível de SELEÇÃO, nada igual à de 1970. Insuperável, o que não se pode dizer das fantásticas seleções de 1950, 1954, 1974/1978.
A Copa do Mundo sempre foi muito ingrata com as grandes equipes. Essas quatro, pelo menos, foram extremamente superiores às que se tornaram campeãs, além de permitir que timecos de merda, como o nosso de 1994, se tornassem vitoriosos.
Esqueci de colocar a nossa de 1982, que era notável.
Você falou tá falado! Um dos meus maiores orgulhos no futebol foi ter tirado uma foto ao teu lado em Avellaneda 2017.
SRN
Não sei se por influência do Ministro da Educação, o tal de nomezinho esquisito, ou se por sacanagem mesmo, o primeiro parágrafo do artigo do Arthur é de deixar o kafta, o autor de “O Processo”, dando risos no túmulo. Desde quando tem praia em Barbacena?
E se o Arthur aguarda o mês de fevereiro para matar a saudade do Flamengo, eu vou ter de esperar mais um pouco, ou seja, março, quando começa a Libertadores.
Como amplamente noticiado, até hoje o Flamengo não fechou acordo com a Globo para transmissão dos jogos do Mengão no Carioquinha. E sem televisão, não sei como poderei acompanhar as partidas. Nessa hora, sinto falta do João da Flaponte. (Deus o tenha) Jamais faltava o meu ingresso. Se bem que a venda era casada com a passagem do ônibus. Mas não reclamava. Muitas garotas bonitas da torcida, aqui de São Gonçalo, lotavam os ônibus.
Por outro lado, esse Carioca já começa meio bagunçado. Ninguém sabe ainda onde será realizado o primeiro jogo contra o Macaé. O Moacyrzão foi interditado após a queda da cobertura de parte da arquibancada. Assim, ou eu tomo coragem e volto a acompanhar o Flamengo nos estádios, ou, então, só me restará esperar o mês de março.
E já sabedor de que poderá não haver a transmissão dos jogos do Flamengo no Carioca, eu cancelei o “Premiere.” Só irei reativar no início do Brasileiro. Nessa crise, melhor economizar.
Mas quem vai se ferrar mesmo serão a Federação e os clubes pequenos, que deixarão de ganhar 18 milhões de reais cada um. É isso mesmo. Se o Flamengo Trem Pagador não aceitar a proposta da Globo todos irão se dar mal.
Sem o time principal e sem a transmissão pela televisão dos jogos do Flamengo, esse campeonato carioca já nasce morto. Quem irá pagar para assistir a um Faísca x Flores x Vasca? Eu não pago. Irei acompanhar os campeonatos europeus, que é bem melhor e ficarei assistindo às partidas do Flamengo, aqui no RP&A, pelas brilhantes narrativas do Jorge Murtinho.
SRN!
Uai?! Praia de rio, sô! Pareciqbeb.
Nessa, embora o espanto, eu não entrei, conheço bem a bisca no bom sentido (epa!) do Arthur.
Áureo, nem parece que você conhece o bispo esse tempo todo, vai entrar nessa de praia em Barbacena?
Não manjaram (Inter.)
O Arthur fez uma homenagem ao grande Chica Anysio, apesar de ter sido torcedor do América, de início, e, mais tarde, vascaíno.
Aquele personagem (não sei, lamentavelmente, o nome do intérprete, que, como qause todos, já deve estar do lado de lá), que reclamava de ter sido descoberto, mesmo lá no fundão da sala de aula.
Carlos Moraes,
O nome do ator é Antônio Carlos, que eu já conhecia desde os tempos da Mayrink Veiga. Por sinal, pai da Glória Pires.
Infelizmente, sua senha (a dele, é claro) foi cantada no céu, onde faz a companhia de grandes comediantes.
SRN!
Mais um excelente texto. Não bastasse a falta do Flamengo, o calor está de matar… Eta Janeiro que não passa…
Sensacional..desceeveu perfeitamente meus janeiros…concordo com tudo…sou igualzinho!!!