Nunca, em tempo algum – seja na terra, seja no mar – o Flamengo conquistou uma mísera taça de mão-beijada.

De mão crispada, em prece, roída, cerrada em punhos, talvez. Beijada? Jamais.

As histórias e glórias do Clube de Regatas do Flamengo foram escritas graças a mãos nervosas, tensas, barulhentas. Mãos a aplaudir, a se espremer em mandinga, a se contrair de esperança e amor.

Jamais, em tempo algum, houve torcida com mãos tão poderosas. Foi, afinal, com aquelas mãos, que mulheres e homens costuraram os primeiros estandartes, cerziram as primeiras bandeiras, empunharam os primeiros mastros de bambus. Foram aquelas mãos que, por 90 minutos, cansaram de espirrar sangue no couro dos instrumentos, tambores e repiniques, e provocar um som que não permite a ninguém ficar parado – ou sequer indiferente.

Hábil no batuque, a mão sempre comandou, emanou energia, chocou palma com palma até empurrar os onze no gramado.

Já aconteceu várias vezes o seguinte, como notou um certo profeta de Copacabana: quando o time não dá nada, quando parece que o Flamengo vai voltar de mãos abanando, surgem elas, as mãos invisíveis. As mãos que desfraldam a camisa, que amplificam o canto, que ventam nos estádios, numa usina de energia e súplica.

São essenciais também as mãos dos nossos flamengos em campo. São essas que apontam o caminho, pedem o lançamento, celebram o vapo-vapo, evitam o gol. Ou alguém esquece aquela mão enfaixada agitada no ar, a pedir a bola naquela direção?

Quando a bola é alçada, são as mãos que abrem espaço contra os zagueiros – vlap, vlap, como bem ensinou o Imperador Adriano. É uma luta de rua, mais do que uma corrida de cem metros rasos. Vence quem tem mais pulso, quem não treme na hora da verdade.

Nem sempre, claro, as mãos que socam o gramado são as mesmas que erguem a taça. Nem sempre as mãos que enxugam as lágrimas são as que erguem o Manto Sagrado ou enlaçam o filho extasiado no colo. Nem sempre essas mãos amorosas e aflitas vencem, e se sentem livres para ganhar os alambrados e os céus, como no Equador.

Isso só acontece, claro, quando as mãos contam com uma pequena ajuda.

A ajuda precisa de seus fiéis e abençoados escudeiros, os pés.

Parabéns pelo Tri da América, Flamengo.