Reclamei muito da desimportância do Fla-Flu que decidia a semifinal da Taça Rio, que valia mesmo quase nada. Pensei em fazer algo de mais útil na noite de quarta-feira. Mas o banho nos cachorros ficou pra outra oportunidade. Após os mais de 100 minutos de futebol, choro e porrada que rolaram no gramado do Maraca sou forçado a reconhecer que foi um dos maiores Fla-Flus da semana.
Com muitos dos ingredientes que fazem o futebol atrair as multidões. Principalmente as cenas lamentáveis durante e depois do jogo. É isso que o torcedor que ver: garra, comprometimento, sangue nos olhos e desrespeito às regras que ordenam o pacto social. Ainda mais num campeonato meia-boca como o Carioca, que precisa atrair novos espectadores, esses itens são de rigor. Quando não tem o pessoal reclama.
O Flamengo titular sem Fosforito não encontrou dificuldade pra se impor sobre os terceirenses. Timinho once, timinho ever, o Flor encaixou o regulamento n’alguma cavidade corporal ignorada e ficou naquela cerinha sem vergonha que é cultivada com zelo nas Laranjeiras desde os tempos do Preguinho. Mesmo chegando pouco na frente o domínio do Flamengo na meiúca era tranquilo e incontestado, com Everton Ribeiro organizando o baba e mostrando suas superiores qualidades de articulador. O ataque dos caras também chegava pouco e nossa defesa tava dando conta do recado sem maiores esforços.
Destaque absoluto pro Renê, em uma das maiores atuações, creio eu, de toda sua carreira. Difícil dizer se Renê estava puro. Atuante, dinâmico, puxando a saída de bola pela esquerda com clarividência e velocidade inauditas, Renêzinho “Meu Amigo” gastou a bola no Maracanã. E foi justamente premiado com um belo gol, pegando na veia uma bola ajeitada pelo Bruno Henrique (tava puro também não) e mandando a nêga pro fundo do barbante com muita categoria. Há muito tempo não via um lateral esquerdo com a camisa do Flamengo jogar tão bem. Arrisca até de ter sido a maior atuação das esquerdas brasileiras no ano.
Mas o Flamengo foi pro intervalo já com um jogador a menos. Bruno Henrique se empolgou, entrou com excesso de masculinidade numa dividida com um tricolor e antes mesmo que ameaçasse ocupar o lugar de fala da vítima foi excluído do folguedo pelo bom tecnicamente, mas fraco na disciplina, Marcelo de Lima Henrique, conhecido integrante da Raça Fla. O bom Marcelo no 2º tempo seria mais uma vez ludibriado pelos notoriamente antiesportivos tricolores que forçaram a barra num lance absolutamente normal na área do Flamengo e acionaram a maquina de maldades de seu famigerado Departamento Jurídico.
O lance deu em nada e Diego Alves já se preparava para bater o correto tiro de meta quando de um momento para o outro, do nada, e sem nenhuma razão aparente, emissoras de TV, rádio e influenciadores digitais, praticamente ao mesmo tempo, colocaram em ação uma virulenta campanha de desmoralização do árbitro. Os tricolores, em surto punitivista, exigiam o VAR. Das arquibancadas quase se podia ouvir os telefonemas iracundos de Chico Buarque, Lulu Santos e Fernanda Montenegro para exercer pressão sobre os íntegros membros da Comissão de Arbitragem da FERJ. A conspiração tapetense relâmpago surtiu efeito e o árbitro, acuado, assinalou aquele pênalti ilegítimo, ilícito, espúrio e extralegal.
Para os tricolores o VAR é um quiosque do STJD à beira do gramado. Mas antes ainda do advento do VAR não foi sempre assim? Essa é a tradição nas Laranjeiras (nome de bairro de machão). O que fez então o Flamengo punido injustamente? Fez o que qualquer brasileiro com sangue nas veias faz quando o arbítrio ameaça as liberdades e os direitos individuais. Partiu pra cima delas sem medo, pra defender a Nação, cônscio de que lutava o bom combate. E nessas situações o universo conspira a favor dos justos. Por isso jamais devemos lamentar uma expulsão, pois sempre é um a menos para errar. Jogando com 10 o time se agigantou, cada um botou mais 10% na roda e em pouco tempo a conta estava paga e o Flamengo dominava as ações. Valeu, Bruno Henrique, até errando você está acertando, meu craque.
Espremido por um Flamengo empolgado, talvez pelo descompromisso e pela consciência de que Taça Rio vale nada, o Flor se movimentava apenas em seu campo defensivo. De onde seus jogadores davam bicudas magistrais sem qualquer direção. Em um dos muitos raids do ataque rubro-negro acabaram cometendo um pênalti escandaloso, explícito, quase violento. Everton Ribeiro, com a frieza de um Itto Ogami, o ex-kaishakunin do xogunato Tokugawa, botou a gorduchinha debaixo do braço, a colocou na cal e, com olhar de quem só tinha 1 par de oitos, executou o razoável goleiro tricolor. 2 x 1, fatura liquidada, Flor eliminado. Um grande dia.
A despeito de seu baixo valor de face, podemos dizer que foi um Fla-Flu que manteve as feições clássicas. De um lado um time grande se comportando como corresponde, atacando e buscando o gol. Gerando uma energia contagiante que incendiou os corações. Todos viram, não é mito, está na súmula, a certa altura o Abel trocou um volante por um atacante! Foi um momento sensacional e memorável. Do outro lado um time pequeno com seus 11 come-e-dorme assustados atrás da linha da bola, se defendendo ao melhor estilo timinho, para o deleite de sua minúscula e bissexta torcida que fazia uma festa estranha com gente esquisita enquanto empatavam.
Ora, meus amigos, os Fla-Flus são assim desde o tempo em que o Mário Filho usava calças curtas e enchia seu irmão caçula e pervertido de cascudos. Não é de hoje que o Florminense representa o antijogo das elites que apoiam a estratificação social enquanto o Flamengo é o time dos ideais libertários e democráticos da mulambada lutando para vencer a íngreme cordilheira da linha da pobreza. Não adianta rebatizar de Nova Política, é o velho adversário de sempre.
Agora fica a grande preocupação para a decisão da importante Taça Rio. O Abel (melhoras pra ele) é um cara de grupo, que sempre diz que todos tem que ter sua oportunidade. A grande dúvida é se Abel mandará a campo o time da Contabilidade, o time da Manutenção ou se dessa vez vai dar aquela chance pra rapaziada do RH.
Mengão Sempre
viva o 31 de março !!!!!!!
Espero que tenha ficado claro pro Leomir, aproveitando o inesperado “presente”, que o Arrascaeta no lugar do Diego e o Everton Ribeiro jogando centralizado são as mudanças capazes de criar as hashtags #ficaleomir e #nãotempressaabel.
Prefiro o texto ao jogo. Provocar gargalhadas só os craques conseguem.
Comunista filho da puta “comedor de criancinhas” mas que escreve pra caralho. Tem que tirar o chapéu, é o Olavo de Carvalho das histórias flamengas kkkk. SRN, Arthur
fdp e comedor de criancinhas, tudo bem, mas comparar ao astrólogo encantador de burros, aí é ofensa demais.
Ô Joaquim! Que heresia! Não sei qual o time do Olavo, mas na competição pelo melhor contador de história – cada um em sua área – ele não dá nem pra engraxar a chuteira do Arthur, como se dizia nas velhas arquibancadas. Arthur consegue vencer o maior obstáculo pro humorista: fazer rir abordando sempre o mesmo tema sem nunca se repetir. A impressionante capacidade de criar metáforas inteligentes e engraçadas só é comparável ao Tom Robbins, maior escritor norte-americano contemporâneo. O Mula é foda. E rir é, sim, o melhor remédio. Cura qualquer coisa.
Esqueci de mencionar a gigantesca distância entre a elegância de estilo de um e a maçaroca acadêmica regurgitada pelo outro no melhor estilo “copia e cola”. Olavo de Carvalho pode até ser uma valiosa contribuição intelectual pro país, mas depende de que nível estamos falando e qual queremos atingir. No momento ele não passa de uma criança exibida com o próprio sucesso repentino – e nem tanto – incapaz de negar ter sido mordido pela mosca azul da vaidade, falando em nova política enquanto mantém a estátua de uma santa atrás de si e prega o fortalecimento do cristianismo, ou seja, uma volta a um passado de crimes contra a humanidade, corrupções, execuções, pedofilias, conspirações e assassinatos.
Se nêgo ao menos se desse ao trabalho de abrir os olhos!
Pra não dizer que não falei de Flamengo, se há governo, sou contra. Esse parece ser o meu destino inexorável.
Mal consigo acreditar na cara-de-pau do ex-presidente, Eduardo Banana de Merda, e do atual, Ruimdolfo Landim. O 1º então sumiu de cena totalmente, não foi capaz de assumir nada, como se não fosse com ele. O Landim tirou 15 dias de férias depois de menos de 2 meses de trabalho no meio do imbróglio.
Esses dois são uns paspalhões.
Será que só eu entendo que eles são os maiores responsáveis pela tragédia do Ninho e, portanto, devem ser, individualmente,. investigados, processados e punidos e não a instituição Clube de Regatas do Flamengo? Incluindo na punição o bloqueio dos bens materiais.
Quando a mística rubronegra entra em campo é foda!
E o jogo nem valia grande coisa…
Vou fazer justiça.
O verdadeiro herói da noite de ontem chama-se Abel Braga.
Não poupo pesadas críticas ao nosso treinero, mas, ontem, ele se superou.
Não vejo ninguém falar, aí incluído o nosso grande Arthur.
Abel montou uma tática sensacional e até bastante simples para quebrar a do bom técnico Fernando Diniz.
Marcação sob pressão, por sinal muito bem executada pelos nossos jogadores.
Os números não mentem.
25 desarmes no primeiro tempo, quando, em noventa por cento dos jogos nos seus noventa minutos, não chega sequer a 20.
O toque de bola tradicional do atual Fluminense foi pro espaço.
Além dos desarmes, os tricolores passaram a errar um grande número de passes, de modo até infantil.
As duas grandes chances nossas, ambas desperdiçadas pelo Uribe, resultaram, a bem da verdade, de falhas imperdoáveis dos defensores adversários.
Aí entrou em ação o Bruno Henrique.
Tudo mudou na etapa final, pela ridícula e merecidíssima expulsão do jogador, que é bom mas que se mostrou destrambelhado.
O pau comeu no jogo todo, mas o segundo tempo foi mais do que exagerado.
O futebol – e qualquer tática – foi para o espaço.
Pelo menos, nossos jogadores mostraram muita garra, e, uns poucos, elevada técnica, sendo destaque, neste quesito, o Everton Ribeiro, que, não sei o motivo, alterna fabulosas partidas com desempenhos apáticos.
No fim, a vitória empolgante.
Emocionadas SRN
FLAMENGO SEMPRE
PS – os exageros do Grão Mestre fazem parte – e importante – do seu estilo. Se não apoio, muito me alegram.
Pelamor Arthur faz algo rentável desses seus textos.
Desde os tempos do globo esporte.com escreve verdadeiras antologias sobre o Flamengo.
Compila em um livro sei-la. Ou faz um jornal online pago.
Me sinto mal de ler textos tao bons de graça. Na União soviética era assim?
Isso é musica pros meus ouvidos. Posso te passar o numero da minha conta?
Rapaz, já tem pelo menos uns dois ou três lançados…vê no catálogo da Maquinária
O Flamengo da velha e esquecida mística esteve ontem (quase) por inteiro em campo. É isso que a torcida quer, perseguir o resultado até o apito final, é tão simples isso, é fuçar as entranhas do adversário, até o jogo encerrar e isso todo rubro-negro gosta e logo transforma o outrora crucificado Renê no maior jogador do mundo, quiça(epa!) da galáxia, quando chegará a vez do Pará?
Pqp, esse Muhlenberg merece um Nobel da Literatura Flamenga, espetacular!
PS: estou até hj esperando os profundos conhecedores de futebol que habitam este humilde espaço ajoelharem no milho e pedirem desculpas por tantas blasfêmias contra esse monstro de jogador que é o Renê. Não é de hj que vem sendo o jogador mais regular, e representante mor da reconhecida (embora meio esquecida nos últimos anos) garra rubro-negra, seguido muito de perto pelo golden boy Rodrigo Caio.
Quando vc olha pro lado e vê esses caras dando a vida em campo, nem o Arão consegue ficar parado.
SRN.
Grande Arthur, preciso como o chute do Renê. Tirando o chapéu pro Abel que botou a garotada pra mostrar serviço e encurralou o timinho encrenqueiro da dupla sertaneja Luciano & Gabriel. Aquela raça la é FLAMENGO. Bangu até morrer!
“Arrisca até ter sido a melhor atuação da esquerda brasileira “.
Verdade, por que a outra, há muito não mostra a que veio!
Bananice..
Metamorfose ambulante…
Eu quero dizer o oposto do que eu disse antes: o campeonato pode não valer nada, mas o jogo de ontem valeu.
E valeu porque vimos o espírito rubro-negro ser resgatado das entranhas do conformismo e da babanice.
Vimos que o tal “espírito diferente” citado algumas vezes pelo Abelão não é lenda. E que os jogadores, independentemente do valor da competição, entra pra ganhar. E, mais importante, ganha.
Mesmo com uma arbitragem caótica e tendenciosa, que marcava faltas e dava cartão para um lado e ignorava a regra pro outro, o Flamengo conseguiu se impor. E, melhor que isso, se impor com 10 em campo contra os “12” (ou mais, já que a equipe do VAR também jogou contra) do outro lado.
Eles tentaram ganhar na porrada, já que o juizinho não marcava nada contra eles… não conseguiram.
Tentaram ganhar na “mão grande” … não conseguiram.
E, no final, ficaram descontroladas.
Ou seja, enquanto houve futebol, o Flamengo foi superior.
Depois que deixou de ser só futebol, o Flamengo foi superior de novo.
SRN a todos!!!
Bananice…
Arthur, é sabido que tu escreve bem demais, mas esse texto foi acima de sua própria média, que é muito alta, obrigado por nos brindar com essa maravilha!
Nada com uma vitória daquelas sobre os tricoletes para inspirar ainda mais o grão-mestre rubro-negro
Como diz um certo redator, em Vitória é melhor deixar quieto. Faz até esquecer a inoperância de um atacante contratado por vídeo de melhores momentos. Mais um pereba estrangeiro. Como diz Muricy Ramalho, “a bola pune”. Quase o jogo ia ser entregue por erros próprios. Quase. O comportamento mudou. Não se sabe se pela ausência do manequim oficial ou pela contagiante atuação do mais regular dos jogadores do plantel. Renê.
Violência à parte, ontem foi um resgate da Raça há muito esquecida. Até o comedido e preguiçoso Everton Ribeiro mostrou vontade. Talento sempre teve. Com o Top Model fora, jogou em sua posição original. Deu mais ritmo de jogo.
Foi uma Vitória na Raça. A garotada deu vibração e determinação. Entraram na fogueira. Saíram premiados.
Que essa partida seja o inicio de uma nova postura do time.
SRN
RH – Arrascaeta ? Rs