Essa aventura me foi contada por um irmão flamengo, sob a condição de anonimato e total discrição do cronista. (Porra William, pode ficar tranquilo, confia no pai!)

Torcedor fanático do clube, nosso amigo anônimo estava cheio de fome e em busca de um bom canto para assistir ao Fla-Flu do Estadual. Foi quando outras três feras o convocaram: tinham achado um rodízio de pizzas estupendo, com chope em caneca, preço justo (uns 60 mangos a pizza liberê) e outros mimos. De quebra, quatro telões com a pelada ao vivo. Como dizer não?

Quando foram chegando, começaram a estranhar. Mas não tinha lero-lero nem vem cá que eu também quero, era aquilo mesmo: o tradicional restaurante, o belo lugar escolhido, ficava exatamente ali – dentro das dependências de Laranjeiras, a sede tricolor.

Nosso herói achou estranho e melhor não comentar, mas a fome era madrasta e o jogo já ia começar. Riram meio nervosos, e combinaram: “Galera, sapatinho. Sem reação nos gols, que somos os forasteiros”, acertaram os bem educados, que afinal não foram criados por avó.

E tome pizza, rodelão de calabresa, tomates vermelhos fritos, alho e os caceta, uma mais supimpa que a outra. Mas aí veio Cebola. Não a pizza, mas o jogador, que bagunçou os alquebrados zagueiros rivais e deixou a defesa tricolor de traseiro no gramado.

“Mengo, porraaaaaa! Gooool, fela da puta!”

O brado heroico, retumbante e irrefreável não veio da mesa dos nossos amigos, mas de duas mesas adiante, com dois insanos. Nossa galera, claro, começou a chorar de rir.

Em instantes, contudo, os dois felizes flamengos foram abordados por um imenso segurança, que gentilmente explicou que aquilo não ficava bem ali, que já havia dado treta, que era melhor eles verem o segundo tempo alhures (o profissional da paz pode não ter usado “alhures”). A gerência, cortês e penalizada, perdoou a conta dos dois comensais, que saíram felizes – com o gol, a vitória provisória e a carteira intacta.

Nossos quatro amigos ficaram até o fim da partida, quando notaram que o time do Flamengo também parecia ter traçado um rodízio no intervalo. Mas voltaram para casa com uma possibilidade maligna na cabeça.

No próximo Volta Redonda x Fluminense, um deles já esquematizou: pretende levar a família toda, até aquele cunhado de Juiz de Fora, e vão começar a se empanturrar cedo. Se sair um gol do Voltaço, o primo mais sem noção vai vibrar, pular na mesa, fazer a dança-do-siri e ajoelhar contrito em frente ao bufê. Já começaram até a estudar a escalação do Volta Redonda, vai que o “pindura” pós-moderno dá certo.

Meu anônimo amigo ainda concluiu, sorriso largo e barriga cheia: “Só não sei se voltarei lá em noite de Fla-Flu. Pelo menos não enquanto o time do Vítor Pereira continuar essa tremenda carne-assada.”

Burp!