A situação parece, como diria o pensador Max Nunes, abracadabrante, execrável, ignominiosa? Você está de baixo astral, tão jururu que não tem ânimo para caminhar até a esquina? Nessas horas, um bom antídoto é perguntar a seus cadarços: beleza, está foda – mas o que o Zico faria?

Mais ainda do que alegrias, o camisa 10 Arthur Antunes Coimbra nos deixou lições de ouro. Ensinou, por exemplo, que a vida é um ciclo: Zico, em 1968, não conseguia dormir – no dia seguinte faria seu primeiro jogo com a camisa do Flamengo; em 1986, Zico, de novo, não conseguia dormir – cheio de morfina para suportar a dor de seu joelho alquebrado, resultado da fúria de um cabeça de bagre.

Naquele mês de setembro, Zico estava com 33 anos. Já havia sido campeão mundial, jogado três Copas com a seleção. Podia relaxar. Podia, quem sabe, (gulp) desistir. Ou não? “Se tirarem a bola do Zico, ele adoece”, resumiu então o amigo Sócrates.

Zico viajou aos Estados Unidos para uma nova cirurgia. Seu joelho ficaria atrofiado, paralisado, amorfo. Dois meses depois, em novembro, ele perderia o pai, seu Antunes, o maior rubro-negro que conhecera.

O primeiro trote em volta do campo, na Gávea em 1987, foi quase insuportável, entre lágrimas de dor. No dia seguinte, Zico deu duas voltas. Em junho, voltou a jogar e deixou o seu – mudara apenas a maneira de comemorar gols, sem poder pular. Em dezembro, Zico dava a volta olímpica com a taça do campeonato brasileiro, que só quem não tem coração tenta apagar do currículo do Galinho de Quintino.

Está tudo bem difícil, né amigo? A situação anda periclitante e crocodilácea, e o mundo parece adoecido, eu sei.