É surpreendente a capacidade que o Flamengo possui para transmitir conhecimento e, sem forçar a barra, alargar os horizontes mentais e a capacidade analítica dos rubro-negros. Nem deveria ser motivo pra surpresa, já que o Flamengo, desde seu nascedouro, esteve sempre comprometido com os avanços científicos e sociais que aceleraram o desenvolvimento nacional na virada do século XIX para o XX que elevaram o país da categoria roça para a categoria brejo.
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Inserida organicamente nessa grande virada cultural e desde 1895 filosofando no sapatinho, a torcida do Flamengo não vacila. Não cai e nem escorrega, não dorme e nem cochila. Continua inquieta, fazendo as perguntas certas e, mesmo quando adota uma metodologia porralouquista, encontrando as respostas pelo método empírico, baseando-se em suas experiencias e na observação arguta que é uma das marcas do rubro-negro.
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Nos últimos anos a inteligência coletiva da Nação Rubro-Negra tem se expandido através de um sadio debate que se tornou recorrente entre os rubro-negros racionais. E até entre os irracionais. Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Libertadores, qual destas competições tem mais valor?
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Para esse debate ir pra frente a primeira coisa a se fazer é atribuir valor à coisa. E existe todo um campo da filosofia dedicado a esse mister, a axiologia. A axiologia é o estudo filosófico dos valores, que busca definir a natureza e a classificação dos valores e até mesmo que tipos de coisas têm valor.
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Para a axiologia a distinção entre valor intrínseco e extrínseco é central. O valor intrínseco está ligado às características da coisa valiosa. Já o valor extrínseco é atribuído a coisas que são valiosas apenas como um meio para outra coisa. Tomemos como exemplo inicial o Campeonato Carioca.
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O valor do Carioca é intrínseco, não vale porra nenhuma e não leva a lugar algum. Mesmo quando o Flamengo o vence, e isso acontece quase todo ano, o Flamengo não cresce um milímetro em sua estatura, não aumenta em sequer um grama o seu peso.
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Com o Brasileiro a conversa é outra. O acromegálico campeonato vale mesmo enquanto coisa, isto é, tem valor intrínseco, mas também é um meio para se alcançar uma outra coisa, seja essa coisa a Copa Libertadores, a Sulamericana ou a permanência na Primeira Divisão. Além do mais, a ínclita CBF ainda libera uma merrequinha pros vencedores a título de premiação, fora a grana forte da TV e o prestígio e a tiração de onda que acompanham o título de campeão.
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A traiçoeira, libertina, volúvel e biscateira Libertadores da América é um show de valor intrínseco e extrínseco. Confere prestígio, dá dinheiro e ainda leva o seu vencedor a Tóquio para cruzar os bigodes com os campeões europeus em um jogo festivo. Como se fosse pouco, a Libertadores ainda possui o condão de fazer o piru crescer. Libertadores, intrínseca ou extrinsecamente, vale muito, vale muito.
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No tempo em que a Copa do Brasil era conhecida como copinha do brasilzinho, a competição era uma espécie de prêmio de consolação oferecido aos times que fossem incompetentes ao ponto de não conseguir terminar o Brasileiro em colocação superior ao quarto lugar, o seu valor era exclusivamente extrínseco. A vaguinha na fase de grupos da Libertadores era uma justa recompensa pra quem aguentava passar por tamanha humilhação.
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E seria assim até hoje se a força da grana que ergue e destrói coisas belas não tivesse entrado nesse inquérito. Como o Campeonato Brasileiro virou a festa do caqui em termos de classificação para a Libertadores, levando até oito equipes à disputa do continental, a CBF abriu suas burras e deu uma bombada na premiação da Copa do Brasil.
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Os participantes da Copa do Brasil não se humilham em campo apenas pela bela taça e por uma mísera vaga na Libertadores. Agora, além da vaga e da taça, são milhões de dinheiros para os vencedores, uma bufunfa indecente que tem potencial pra acertar o caixa de 98% dos clubes brasileiros.
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Malgrado a extrema boa vontade dos participantes desse debate, todos esses fatos quando colocados em perspectiva mais atrapalham do que ajudam a definir o valor das competições. E o debate dos rubro-negros deriva naturalmente para uma análise do contexto em que se disputam as competições.
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Brasileiro nem se discute, é obrigação. Com o aditivo de que ganhar o Brasileiro quando grande parte dos mano da enlouquecida e resultadista crônica esportiva paulistana já outorgou aos palmeirenses o título de 2022, 15 rodadas antes do seu fim, será uma das experiências mais prazerosas do universo.
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Por sua vez, a Libertadores não é obrigação. Mesmo assim tem que ganhar, de preferência machucando o porco na final, pra ornamentar com justiça poética e vingança neurótica o nosso tricampeonato adiado por um ano inteiro.
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Mas a Copa do Brasil, francamente, galera. Não é possível que o Flamengo não cumpra seu destino manifesto diante desses maluco do CAP pela quarta vez seguida. Se o preço da vingança sobre esses caras fosse a perder a Liberta e o Brasileiro, grande parte dos rubro-negros não hesitaria em pagar
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Mesmo que esse alto preço implicasse em abandonar temporariamente o projeto Abraçar o Mundo com as Pernas, o único projeto possível para quem tem o tamanho do Flamengo, temos mais a ganhar desclassificando os paranaenses e encerrando a carreira de Felipe Scolari de maneira fúnebre. Enfim acalmando os instintos reptilianos da torcida. Torcer, Lutar, ao Inimigo Massacrar. Raça Rubro-Negra!
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Dane-se o valor das coisas! Foco total na Copa do Brasil. Como diziam meus camaradas do N.A.: – Só por hoje.
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Mengão Sempre
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Águas passadas movem novos moinhos. Depois de ontem vem o hoje. E hoje podemos dar o primeiro passo no sapatinho para a final da Libertadores. Lá chegando, oh glória, ou sapecaremos o Felipão de novo ou vingaremos o 2021 suíno (sem risco de ter o Vitorzinho em campo). Todas as alternativas acima apontam para uma final de imenso valor intrínseco e extrínseco. Pena que não iremos fechar a melhor de três com o Liverpool, que, ao contrário de nós, não estará lá. Não se pode ter tudo, nem mesmo sendo o Flamengo.
Futebol é sempre uma incerteza para os clubes que estão digamos, “em boa fase”, tendo em vista que não é garantia de se ganhar a “porra toda”. Já dizia os mais experientes: “futebo,l é uma caixinha de surpresa”, entretanto aqueles que estão no topo devem e tem a obrigação de aproveitar o momento e ganhar todas as competições, mesmo com certos sacrifícios, pois, em pouco tempo sempre uma equipe volta à normalidade. Então, vejo nosso Flamengo com grandes chances de conquistar a tão sonhada e desejada tríplice coroa; nunca na história flamenga houve uma equipe como essa em que o time “B” joga tão bem quanto.
Em resumo: Temos uma big chance de realizar nosso sonho; jogar pra ganhar tudo, não imposta se será bem jogado.
Saudações Rubro Negras.
Show de coluna, pra variar!
SRN
Há que se reconhecer que o Athletico Paraguaiense tem um estádio legalzinho (ênfase cínica no “inho”). Apesar do gramado que não é grama, tem sempre algum deslumbrado pra dizer que é uma arena “conversível”, com teto retrátil e tal (faz lembrar a maldosa anedota que dizia que carro conversível é carro pra corno, por oferecer mais espaço para os chifres). Com uma risível capacidade máxima de 42.000 torcedores, o que, para eles, é gente pra caramba, mas para a Magnética seria, com muito boa vontade, um lugar pra fazer coletivo em véspera de jogo importante com a entrada da torcida liberada.
No entanto, parece que a modernidade acaba aí. Não terá sido por acaso que o clube outrora conhecido como Atlético do Paraguai (ops, do Paraná) resolveu retomar a grafia do século XIX e utilizar essa esquisitice de se chamar Athletico. Mas enfim, a Constituição garante o direito de uso de um nome social, então tá valendo. Podia ser Shirley, Pamela ou Charlene, mas escolheram Athletico, fazer o quê? Na verdade, tem tudo a ver.
Tudo a ver com uma administração do século passado, com um dirigente como esse Mauro Celso Metralha (ops, é Petraglia, mas Metralha combina mais), que não tem currículo, tem ficha corrida. Quem se dispuser a gastar um pouco da ponta dos dedos e da sua cota de internet pra digitar “Mauro Celso Petragllia + escândalos” no Google, vai compreender rapidinho o que eu digo. O cara tinha sido até banido do futebol, mas deve ter bons ad(e)vogados.
Tudo a ver com um técnico do século passado, responsável direto pela maior humilhação imposta ao futebol brasileiro em todos os tempos (em campo pelo menos, porque fora dele nossos dirigentes fazem questão de que a vergonha nunca acabe) e que deveria, por justiça, estar aposentado, curtindo os milhões que ganhou e mandando um dos netos dar porrada no outro porque pegou seu videogame. Um sujeito que cobrava, quando treinador daquele time verde, que alguém de seu time desse no calcanhar de Edilson Capetinha quando ele se “metesse a besta”, que é como ele chama quando o cara resolve jogar bola. Um antitécnico que prega o antijogo e o antifutebol.
O que não tinha nada a ver era o Flamengo, qual ceguinho sem guia, estar sempre pisando na mesma merda, no mesmo lugar da calçada, ano após ano, e escorregando feio. Mas o que geralmente acontece quando o antigo tromba com o novo é isso que vimos este ano. Até por uma questão de educação futebolística e administrativa, os 5X0 no Brasileirão foram vacina para Shirley, ou Athletico, ou seja que nome eles queiram adotar. Vacina daquelas que é aplicada na bunda, invariavelmente. E o 1X0 de ontem, embora mais modesto, foi igualmente educativo quando o professor Pedro resolveu dar uma demonstração prática do que é futebol de verdade, bonito, bem jogado, cheio de malícia e de inventividade. Coisas que o técnico de Charlene, ou Athletico, detesta.
No final das contas, o furacão levou no furicão. Didaticamente. E segue a aula. O tema agora é veterinária. Após ter ensinado valiosas lições de humildade e resignação a uma certa galinha das alterosas, está chegando a hora de transmitir essas mesmas lições a um suíno berrante, que teima em confundir dinheiro de patrocinador com patrimônio do clube e em achar que vendedor de crediário é administrador de empresas. A conferir, nos próximos episódios.
Caralho, puta que o pariu, além dos textos alienígenas do Mula, uma obra prima do Rasiko no post anterior, e o fecho de ouro do Ogrão, SRN direto do Goiás.
Oba. Rasiko, tomei a liberdade de divulgar seu texto por aqui, inclusive para um vascaído.
Charlene está ótimo
Só discordo do “jogo festivo”: mundial vale muito (está aí a porcalhada que não me deixa mentir).
No mais, todo castigo é pouco para Big Phil e para a republiqueta do Paraná. Rumo ao Tetra!