Talvez vocês se lembrem de um programa TV antigo chamado Ataque Animal que mostrava cientistas sérios simulando em laboratório duelos mortais entre bestas-feras pertencentes à biomas diferentes. Tubarão Branco enfrentava o Crocodilo Gigante do Nilo, Leão africano se embolava com o Tigre de Bengala, o Godzilla saía na mão com o King Kong. Enfim, o pau comia geral, sempre sob a supervisão de estudiosos dos mais variados campos da ciência que iam explicando o que estava acontecendo no ringue. Era um programa muito violento, mas também divertido. E, acima de tudo, muito educativo. Enquanto assistíamos à porrada comer sem freio íamos aprendendo um monte de coisas sobre as características físicas dos bichinhos e seus respectivos habitats.
Logo mais, no estádio Antonio Vespucio Liberti, vulgarmente conhecido como Monumental de Nuñez, apesar de ficar no bairro de Belgrano, o Flamengo vai bater de frente com o River Plate. Um embate que poderia ter figurado tranquilamente no antigo programa de TV. São dois gigantes que habitam biomas diferentes, mas ao contrário daqueles duelos simulados em laboratórios, na vida real, de vez em quando, Flamengo e River Plate estão disputando mesmo uma presa e são obrigados a cair dentro.
A presa da vez é a Libertadores, que além de ser muito valiosa e arisca o Flamengo já até esqueceu qual é o seu sabor. Uma fome de décadas que, esperamos, justifique uma postura mais feroz e encarniçada do Mais Querido do que dos Millionarios. Nada pessoal, é só mais um capítulo da eterna luta pela sobrevivência no mundo animal.
O Super Urubu Malvadão da Gávea já enfrentou a Galinha Monumental de Nuñez antes, pelos mais variados motivos e em diversos campos do mundo. Ganhou algumas, perdeu outras. Mas no retrospecto da Libertadores a vantagem é nossa, com duas vitórias e aquele recente empate de portões fechados. Inclusive já metemos um épico 3 x 0 lá dentro do Monumental, mas isso foi em 1982, no tempo em que os deuses como Zico, Júnior e Adílio corriam pelos gramados assombrando os mortais, ainda não tinham se recolhido ao Olimpo Rubro-Negro. Mas vivemos em outra época. Tenhamos a humildade de admitir que versar sobre o Flamengo clássico é assunto para historiadores e estudioso da mitologia.
Dizer que existe uma rivalidade entre Flamengo e River é um exagero análogo a dizer que o leão é rival do tigre, quando na verdade eles nem moram na mesma floresta. Contudo, se levarmos em consideração os valores que cada time representa, estamos autorizados a tratar o River com o desprezo que dispensamos aos mais tradicionais rivais do Flamengo. O River, a despeito de suas origens entre os imigrantes no bairro proletário de La Boca, de onde se mudaram em direção Norte assim que a situação melhorou um pouquinho, é o time identificado com a burguesia criolla (descendentes dos primeiros colonizadores espanhóis, precursores das ondas de imigração europeia do período pós-colonial). Bem o contrário do Flamengo, que nasceu playboy na burguesia carioca e com o passar dos anos foi evoluindo socialmente para se tornar o time das massas mulambas de todo o Brasil.
Repararam no yin-yang? Somos em tudo diferentes do River. Fora os respectivos e justificados protagonismos que exercem em seus torrões natais, a única coisa que Flamengo e River compartilham é a origem meio bastarda de seus apelidos. Todo mundo sabe que o Flamengo virou urubu porque nos politicamente incorretos anos 60 torcedores de um time pequeno da Zona Sul carioca tentaram ironizar a marcante presença da melanina em nossa torcida nos associando ao pássaro negro, destemido e onipresente em todo o território nacional. Um tiro que saiu pela culatra e acabou criando mais um símbolo da orgulhosa Nação vermelha e preta.
A história de porque o River Plate virou gallina é parecida. Após uma embaraçosa derrota para o Peñarol na final da Libertadores de 66 o River foi enfrentar o minúsculo Banfield pelo campeonato argentino. Uns torcedores gaiatos do Banfield lançaram no gramado do seu campo em Peña y Arenales uma galinha branca com uma faixa vermelha presa à plumagem. Lógico que virou piada em todos os jornais esportivos dos hermanos. Os torcedores do River, após uma momentânea irritação com a zoeira fizeram como a torcida do Flamengo, pararam de passar recibo e também incorporaram o apelido. Claro que sem a nossa malandragem e bom humor. Porque a torcida do Flamengo não ficou de boca aberta esperando ser sacaneada por ninguém, ela mesma foi lá e tacou um urubu no gramado. E assim terminam as nossas semelhanças com eles.
É bom mesmo que seja assim, porque todas as diferenças que temos com o River são para nós motivo de orgulho. Sabemos que eles também têm sua história, suas tragédias e seus grandes momentos, mas, com todo o respeito, se não fosse aquele drone do Fantasma de La B muitos dos nossos jovens torcedores nem se lembrariam de sua existência. E cá pra nós, só aquela faixa que cruza em diagonal a camisa deles é mais do que suficiente para que cultivemos uma justificada antipatia com os caras. E pra que ser simpático? Se o Flamengo quer mesmo sair do Monumental como líder do seu grupo não tem que ser amigo de ninguém. Libertadores não é lugar pra isso.
Soou o gongo. Que se inicie o combate. Pau nas galinhas!
Mengão Sempre
O time não jogou bem (de novo), mas com relação ao posicionamento no grupo, ou ao adversário das oitavas, realmente não consigo ver uma grande vantagem em ser primeiro ou segundo. Basta olhar os segundos colocados dos grupos para ver que, talvez, um ou outro viesse a ser menos difícil. Quanto aos primeiros colocados a maioria é dos brasileiros, além do River, Libertad (teoricamente menos complicado) e provavelmente Atlético Nacional. Quanto à jogar a segunda partida fora também é relativo. Já foi demonstrado inúmeras vezes que não é algo determinante. O que precisa é jogar bola. Tempo para treinar, estudar o adversário e todas as pantomimas inerentes à disputa terá. Aguardemos.
Sai um técnico, embora momentaneamente, o Barbieri que não entende de tangos nem de futebol e colocam um outro que ficou rolando ali pela margem do gramado, coçando o nariz e se pergntando “o que é que eu estou fazendo aqui, meu Deus”. Ambos covardões. O Flamengo jogando pelo empate, o tempo passando, nenhuma movimentação no sentido de botar o time para jogar no óbvio que agora os cronista esportivos(epa!) descobriram que “está no DNA do Flamengo” novo lugar-comum na praça. Só que o time e os técnicos não querem saber de porra de DNA nenhum, vamos garantir o empate pra não pagar vexame. Aí vem a dúvida: o Paquetá esqueceu de uma hora pra outra todo o seu futebol, ou ele já era assim mesmo ( um jotador mediano) e teve um lampejo e agora voltou ao normal? O Diego faz falta, ou não ao time? O Dourado sempre jogou assim, ou seja, pessimamente, ou é o tal esquema que o mantém isolado contra tudo e contra todos?Enfim, porra, esse time treina, treina, e continua um bando de baratas tontas, será excesso de treinamento? Então não seria melhor parar de treinar esse bando e jogar as camisas no velho estilo barata avoa de nossos times de esquinas?Interessante, que antigamente o José Maria Scassa sugeria que o nosso time daquela ocasião se concentrasse em uma boate, de onde diziam saía diretamente o time do Botafoga para garantir mais um bicho a nossa custa segundo o goleiro Manga. Portanto, não é novidade a sugestão. Conclusão: a diretoria não vê nada disso? Se levarmos uma boa surra contra os galinhas, o velho papo panglossiano vai continuar, estamos indo no melhor dos mundos ?
RIVER PLATE 0 x 0 FLAMENGO
1o. comentário (brevíssimo)
Sábado, depois do empate com o Vasco, em um jogo HORROROSO, pensei comigo mesmo – ^cai demorar muito para ver o Flamengo jogar tão mal assim novamente^.
Tempo da demora -menos de CEM HORAS.
Tristeza ou Vergonha, pergunto aos muitos amigos e poucos inimigos.
Irritadíssimas SRN
FLAMENGO SEMPRE
Desculpem-me, mas não resisto.
Enchendo a paciência dos coleguinhas, mas não posso deixar de parabenizar o Arthur, pois tem tudo a haver com o artigo, a foto do ^O Boca de Ouro^, do grande Nelson Pereira dos Santos, com Jéce Valadão, Odete Lara e Daniel Filho.
A fina flor (uma vez mais) da malandragem, desta vez.
Início dos anos 60, antes do que agora quer voltar.
Você está certo. Há de ser lembrado que foi fundado para a criação de um Clube de Remo. Posteriormente, houve a massificação com o Futebol.
Gostei dos ” esquisitões”.
Um abraço!
Passei aqui rapidinho pra cornetar escalação – só 1 porém : Jean Lucas logo de cara? Naaaaaoooooo!
Isso me cheira a Matheus Sávio ….
De resto tá ok!
To com Arthur , esse negócio de querer romantizar patrulha de crasse e coisa de vascaíno .
Sei que alguns ficam melindrados quando divirjo do nobre redator, mas dizer que o Flamengo nasceu Playboy, vai de encontro com as raízes do clube. A identificação com as massas se iniciou exatamente pela falta de estrutura.
Modernamente poderia se dizer que era um Sem Teto. Afinal, sequer tinha campo para treinar.
Treinava na praia. Onde iniciou-se a relação apaixonada com a grande massa trabalhadora.
“Playboy” em razão da localização, tudo bem. Mas, no nascedouro, os times se identificam. Pobres.
SRN
João,divirja à vontade. Mas entendo que os clubes são como os homens,todos nascem pelados e sem dentes. O que determina sua “classe social” é a origem dos seus fundadores. Ao contrário do Fluminense, que já nasceu com patrimônio garantido pelo mecenato dos Guinle, e mais ao contrário ainda do que o River, fundado por gente pobre que trabalhava nas docas do Prata, o Flamengo foi fundado por jovens estudantes afluentes da melhor sociedade carioca, mas sem ter onde cair morto. O que não o faz seu berço menos playboy que o dos coirmãos esquisitões ds Laranjeiras.
Ninguém me pediu a opinião, mas, atrevidamente, vou me manifestar.
Para mim, a razão – e não é puxa-saquismo – está com o Grão Mestre.
O nosso João Neto, ao que se me parece (é preciso um certo requinte, neste momento), está a esquecer a turminha inicial, todos riquinhos ou ricos sem fundos.
Para ser sincero, da parte do River Plate, pouco sei, acreditando piamente nas palavras do Arthur.
Como foi dito, não tinham onde cair morto, mas eram da fina flor, basta verificar os sobrenomes, todos de estirpe.
Só gostaria de acrescentar que, muito antes do urubu, aquele lá do Maracanã, onde me encontrava sentado e sofrendo, pois foi um duríssimo 2 x 1 contra um Foguinho favorito, foi a Gãvea, mais precisamente a vizinhança com a famosa Praia do Pinto, que o Lacerda criminosamente mandou queimar, quem tornou o nosso FLAMENGO o time do povo, sem dúvida o mais popular do mundo, o Pyka das Galáxias.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
PS – ótimo artigo, cabe registrar.
A denain, com o comentário do jogo.
Não sei exatamente porque eu odeio esse kkkkk das redes sociais, mas com o Arthur não tem jeito, é kkkkkkkk o tempo todo.
Saber escrever bem pra caralho e com humor hilariante só conheço dois: Arthur Muhlenberg em brasileiro e Tom Robbins em inglês, o melhor escritor americano contemporâneo.
Não é pouca merda.