Sei perfeitamente de que material o Flamengo é feito (uma liga de aço titânico e adamantium temperado) e sei ainda mais perfeitamente que as zinimiga não hesitam em lançar mão de golpes baixos, esquemas fraudulentos e adjutórios espúrios quando se trata de tentar impedir o Flamengo de consignar mais uma conquista. Rubro-negros fechados com o certo desconhecem o medo. E jamais colocariam em dúvida a capacidade do Flamengo em resistir ao suposto cerco ao qual seria submetido pelas hordas de arrivistas abrigados sob a bandeira arco-íris, caso ocupasse posição mais privilegiada na tabela.

Mas pra que arrumar desamizades e provocar ainda mais inveja nos pequeninos que nos seguem como se o Flamengo fosse o grande buana? Deixa os apressadinhos se matarem uns aos outros atrás do brilho fátuo das lideranças provisórias. Se quisermos ser tudo que devemos ser nós precisamos enxergar mais longe, deixar a árvore de lado e olhar a floresta em toda a sua complexidade. Sim, senhor. Esse papo é muito bom pra pegar mulher na night, mas não serve como desculpa pro Mengão ter jogado a bolinha que jogou contra o genérico setentrional do papo-amarelo. Pegou malzão.

Principalmente porque o time inteiro não foi capaz de exibir os níveis de testosterona e pau duro mínimos requeridos pelos tolerantes, mas exigentes, torcedores do vermelho e preto da Gávea. Tudo bem que o Sport é o sem-vergonha entre os sem-vergonhas de sempre, mas nossa rapaziada desrespeitou profundamente os campeões do módulo amarelo 87 ao não empreenderem maiores esforços para inferioriza-los. Parecia até que o Flamengo não estava muito preocupado com os 3 pontos. O que, pelo menos no Flamengo, é uma postura inaceitável sob quaisquer circunstancias.

Desde que abriu as pernas esdruxulamente pro Fortaleza e pipocou da Copa do Brasil que o Brasileiro é obrigação na Gávea. Diante dessa realidade fática, cada ponto perdido no Brasileiro, em especial os perdidos pra times pequenos, é uma pequena tragédia. E de tragédia em tragédia, caso continue de vacilação, o Flamengo vai transformando o que tinha tudo para ser um agradável passeio pela sombra rumo ao Hepta em uma heroica travessia pelo estreito caminho dos justos. Em outras palavras, o que se planta na 20ª rodada será colhido na 38ª, seja o oloroso bouquet de taças ou as tempestades de quem semeou vento.

O jogo não agradou, foi feio, mal jogado e por diversos momentos o excesso de motivação dos pequenos triscou perigosamente o terreno da violência física. Tudo bem que Timbalada é semente de um novo dia, Nordeste sofrimento povo lutador, mas o Flamengo não precisa passar por esses constrangimentos. Se o juiz fosse pouquinha coisa mais homem teria tirado aquele cartão vermelho dos entrefolhos e coibido o anti jogo deslavado praticado pelos pernambucanos sem títulos de 1ª divisão. Louvável mesmo apenas a participação da Magnética, onipresente e sempre fodona e alto astral.

Um dia o time do Flamengo será tão temido e admirado quanto a sua torcida. Que arrasta multidões para louvar o Mais Querido e onde chega lança raízes profundas. Raízes que aumentam ainda mais o poderio numérico de nossas tropas. Mas nós sabemos que o que faz a diferença não é quantidade, é a qualidade da nossa galera. E isso não é um fenômeno exclusivo da nossa bem vestida torcida.

Tanto que encontrei no rico folclore futebolístico mineiro a singela história do Águas Virtuosas, representante da simpática Lambari no disputado campeonato Circuito Das Águas, que eletrizava o sul mineiro em passado não muito distante. O onze do Águas Virtuosas, enfatiotado em seu fardamento número 1: camisa vermelha, calção branco e meias brancas (todos em chuteiras pretas), era incentivado nas arquibancadas pela voz rouca de seu pregoeiro: – E o time dazágua, ganha ou não ganha? E a torcida do Águas, respondia em urros uníssonos: Ganha, reganha! Ganha, reganha! Ganha, reganha! Imaginem vocês, que formidável injeção de confiança recebiam os jogadores do Águas. Confiança, item indispensável para o êxito no futebol, é uma relação de mão dupla entre time e torcida.

No Mengão nós confiamos. Tenho plena consciência de que são muitos aqueles que não concordam com a minha visão de mundo, mas ainda que você não compartilhe a minha weltanschauung há de admitir que o Flamengo estava fazendo hora extra naquele G4. Todo mundo sabe que a hora kosher de ficar no G4 é naquele período entre a 36ª e a 38ª rodada, que é quando a chapa esquenta e as coisas realmente acontecem. Nada contra visitas esporádicas ao topo da tabela para sentir a pressão atmosférica e dar tchauzinho pros pobres, desde que sejam breves e não se prolonguem além do que a boa etiqueta recomenda.

Ainda que da derrota de sábado nada de educativo se possa extrair, não pude evitar um leve sorriso ao verificar a nossa posição da tabela do Brasileiro. Estamos fora do G4, precisando mostrar serviço e retomar a ascensão. Ou seja, estamos, finalmente, nas condições ideais de temperatura e pressão para que executemos os procedimentos finalizatórios do Deixou Chegar Fudeu.

Mengão Sempre