Está escrito em algum lugar que quando uma pessoa escolhe ser torcedor do Flamengo ela aceita, mesmo sem saber na hora, que poderá ter tudo o que quiser em termos de alegria, orgulho e pertencimento, menos um dia de paz. A cada rotação do planeta sobre seu próprio eixo a natureza oferecerá a quem fecha com o certo um novo amanhecer como o maior do mundo junto com um novo item pra engordar uma lista de problemas que nunca será zerada. Tá tudo bem, já estamos acostumados. Ser Flamengo sempre foi bom, mas nunca foi fácil.
A preocupação do dia é o assédio descarado do Benfica ao nosso treinador amadorense. Depois de toda aquela novela pra renovar o contrato do Mister, negociação que ocupou páginas e mais páginas dos cadernos esportivos durante a seca de eventos esportivos na Pandemia, o Benfica partiu pra cima oferecendo a Jorge Jesus, além de montanhas de euros, casa, comida, roupa lavada, Arão e Bruno Henrique.
Claro que só conhecemos os detalhes dessa suposta oferta irrecusável graças os relatos realistas e isentos da crônica esportiva portuguesa. Do lado de cá do Atlântico a imprensa auriverde preferiu dar ênfase à opinião em detrimento da apuração na abordagem do caso. Ou seja, até pra gente se desesperar temos que levar em conta as simpatias ou antipatias que já nutríamos pelos opinadores. Tá bem puxado ter uma ideia coerente com o que de fato está rolando nas internas.
No entanto uma coisa ficou bem clara nessa aproximação benfiquista. Ninguém ouviu sair dos lábios de Jesus a palavra mágica de três letras que tem o condão de transformar uma cantada em assédio. Jesus ainda não disse o famoso não. E enquanto isso não acontecer não tem como criticar os tugas por tentar furar nosso olho.
Tecnicamente, e nisso não há um pingo de machismo, Jesus tá dando condição pros caras chegarem nele. Não é não, mas até que seja dito por uma das partes ninguém é de ninguém. Mesmo porque no futebol profissional, assim como na vida, os contratos existem para serem quebrados. O que vale mesmo é o fio do bigode moral de cada um.
Na ultima sexta-feira essa afliceta pela permanência de Jesus alcançou seus picos de tensão. Um colunista disse que Jesus poderia vazar, outro disse que isso jamais aconteceria, um repórter apurou que Jesus não renovou o aluguel do apartamento, um outro descobriu que um integrante da comissão técnica jesuíta não tinha buscado a roupa na lavanderia. Até que no fim do dia uma reportagem nos informou que Jesus e Landim jantaram juntos e tudo certo.
Um outro jornalista cravou que ao fim do ágape o presidente do Flamengo declarara estar tranquilo. Quem acompanha futebol sabe que nesse mundinho as palavras tem seu sentido muito alterado, dependendo do contexto podem significar exatamente o contrário da sua acepção clássica. Taí o “prestigiado” quando usado em relação à permanência dos técnicos em seu cargos a confirmar o risco das interpretações literais.
O Landim pode ter saído do jantar tranquilo por três motivos antagônicos. Jesus pode ter dito que não vai embora agora e o Landim ficou tranquilo. Mas Jesus também pode ter dito que já era, que vai embora mesmo. O que da mesma forma justificaria a tranquilidade do mandatário rubro-negro, já que nada mais poderia ser feito. Assim como os dois comensais, como pessoas bem educadas que são, podem ter até mesmo evitado o assunto delicado pra não estragar a refeição. Nesse caso, se a comida estivesse legal, Landim teria mesmo a obrigação de sair do repasto tranquilo e calmo.
Mas como nós somos rubro-negros cônscios da impossibilidade de um dia de paz, a nossa obrigação é ficar bolado e acreditar que essa conversa em volta da mesa pode ter sido a última ceia de Jesus no Flamengo. E aí, meus amigos mulambos, quando falamos em última ceia a imediata associação de ideias com o evento seminal do Cristianismo é deliciosa demais para não darmos aquela futucada nesse tautocronismo (sinônimo fresco de coincidência).
Pra quem não é religioso, que entendem a Última Ceia como uma das vigas mestras da doutrina cristã, a reunião de Jesus com os seus apóstolos antes de ser grampeado pelos romanos é muito mais uma referência visual, artística, do que uma matéria teológica. Geral sabe que a Última Ceia de Leonardo da Vinci é a pintura mais famosa do mundo. Reproduzida vezes sem fim, reproduções que afastaram sua forma atual cada vez mais do mural originalmente pintado afresco entre 1495 e 1498 numa parede do mosteiro de Santa Maria delle Grazie, em Milão.
Leonardo é Leonardo, me disse o doutor, mas notem que o tema já vinha sendo explorado pelos artistas cristãos desde o Cristianismo primitivo praticado nas catacumbas de Roma. Da Vinci realmente esculachou na sua Última Ceia pela perfeita aplicação dos conceitos de harmonia e perspectiva e pelo absoluto domínio das técnicas mais avançadas da arte pictórica de então. Mas tem outras Últimas Ceias rolando desde o Renascimento tão ou mais sinistras que a dele. Como a de Gianpetrino de 1520, a de Giorgio Vasari de 1550 ou a de Tintoretto de 1594, todas muito merecedoras do seu confere.
Mas antes de ir olhar pintura velha vamo voltar aqui pro no nosso drama. Renascimento é o caralho, rapá! Prestenção! Aqui é a torcida do Flamengo, porra. No simbolismo da Última Ceia, falo agora do rango em Jerusalém e não da pintura, Jesus se reúne com seu fechamento e faz três coisas muito importantes que, em teoria, deveriam servir de exemplo pra todo mundo.
Jesus mostra humildade lavando o pé dos apóstolos; divide o pão e o vinho com a galera (que é a base da Eucaristia, a comunhão, a renovação do sacrifício de Jesus) e o mais importante de tudo, Jesus profetiza que será caguetado, traído por alguém que está naquela mesa. Judas sente a indireta e sai fora, Jesus manda o Discurso de Adeus, mais um papinho pra se despedir dos parça e daí pra frente é só tragédia. Todos conhecem bem a história. Tirem suas conclusões.
Minha intenção com essa conversa simpática e o fecho carluxeano é apenas te deixar grilado e ocupar sua cabeça no pré Fla-Flu com uma preocupação a mais. É só opinião, não sei de nada, não apurei nada. Também estou preocupadão, mas como leigo, ateu e membro do partido cachaceiro comunista penso que a presença física de Jesus no Flamengo é muito importante, mas não é tudo.
O que importa mesmo são as suas palavras, os seus ensinamentos. Se não der mais pé pra ter Jesus velando pelo time na beira do campo, que ao menos o Flamengo tenha a competência de se preparar para ter Jesus sempre no coração. Que o Flamengo proteja o legado de Jesus com a completa transferência da tecnologia e das boas práticas do Míster. Sem esquecer, é claro, de manter a sua impiedosa, implacável e absolutamente flamenga obsessão fominha pelas vitórias. Por todas elas.
Vencer, vencer, vencer é que é a verdadeira religião rubro-negra.
Mengão Sempre
Caralho, mlk, tu bem que avisou. Jesus rato.
Pintou e bordou! SRN
Texto 10!
Vamos torcer pra ele ficar.
Se sair, boa sorte “prele”, obrigado e foda-se.
teremos 2 milhões de razões pra contratar outro decente.
Mengão!
Não sei se deu tempo do Jesus deixar um legado, nem se o Flamengo se preocupou com essa gestão do conhecimento.
Por isso, penso que o ideal, a médio prazo, é termos alguém desse próprio time no comando. Dizem que o Filipe Luis tem esse desejo. Até lá seria muito bom ter o Jesus,
caso contrário esse negócio de legado vai ficar complicado. Principalmente se o sucessor escolhido for um dos famosos brazucas que sequer fazem ideia das técnicas de Jesus. Dá até arrepio quando escuto flamenguista ainda falar em Renight, por exemplo….
Particularmente, acho que Jesus fica. Não seria inteligente sair agora. Ele está à frente de um time que hoje é melhor que o do Benfica, onde já passou muito tempo e sabe que o máximo que consegue é chegar numa quartas de Champions para ser surrado por algum gigante.
No Flamengo, ele pode ser campeão do mundo, no Benfica jamais. Além disso, tenho pra mim que ele é a bola da vez após a saída do Tite da seleção. Disputar a Copa de 2022 como técnico da seleção brasileira, com boas chances de título, é algo maior e mais acessível que ser treinador do Barça ou do Real. Indo pro Benfica, creio que ele se afaste de ambas as possibilidades.
Me faltou essa expressão exata: gestão do conhecimento. Tnx
Espetáculo! SRN!
Pra cima deles, Flamengo!
Vc e muito SINISTRO
Angústia não é novidade pra mim, ultimamente esse time do Flamengo vinha me dando certo alívio sem precisar da “…e assim pingamos um ponto final no programa César de Alencar com seus prêmios suas brincadeiras seus patrocinadores e a colaboração sempre simpática e indispensável do auditório, sem a qual não poderíamos realizar nem metade de nossos trabalhos” (créditos a um dos pioneiros animadores de auditório, o cearense César de Alencar) Caceta!, de onde eu fui tirar isso, só para dizer que com os últimos flamengos eu estava dispensando a colaboração “sempre simpática e indispensável” do Rivotril. Mas como para um rubro-negro, já ia dizer de raiz, mas felizmente me recuperei a tempo, nada é fácil, como bem frisa o nosso Arthur, as crises de deprê voltaram, simplesmente porque o time não anda bem, e tenho certeza que a culpa disso são todas essas confusões, essa história com a Globo, o JJ fica não fica, essa diretoria do mal que parece querer tacar fogo em tudo que conseguimos nos últimos tempos, até parece um certo Nero que com direito a sua lira e coroa de louros, não satisfeito em incendiar a Amazônia quer incendiar o já em cinzas bananão/laranjal. Pois é, e eu que me julgava dono e senhor, tive uma recaída e internei-me de novo na minha tumba com minha meiga aranha Ana e o meu rato o Miki, lembram-se deles?Claro, reabilitei a velha garrafa do meu amigo e professor, o tícher, já envelhecido em mais doze segundos na sua fajutice de supermercado, garrafa antiga já se vê, que meu isolamento sepulcral não permite essas aventuras de andar por aí mesmo com máscara e imunizado com hidroxicloroquina como preconiza certo cientista louco que nos governa. Dr. Silvana que se cuide.
Ah!, o Dr Silvana !
Ídolo da minha infância !.
Enquanto o Capitão Marvel, como aquela cara de retardado mental sempre perdia até o finalzinho, o pavoroso Silvana elocubrava brilhantemente.
Não perdia o Gibi, muito pelo vilão-herói, o responsável pela Serviço de Inteligência da casa.
Mais de 70 anos já se foram, mas é um personagem inesquecível.
Amedrontadas SRN, pois o jogo de hoje foi tétrico.
FLaMENGO SEMPRE, mesmo que dominados por um time chinfrim como o do Tricolor.
Deixando de lado Da Vinci e a Bíblia, vou focar apenas no fica ou não do JJ.
Para mim, não ficará.
Sempre ouvi dizer, nada afirmo, que o Mister teria sido, na infância, torcedor do Sporting e não dos encarnados. Não há a menor importância no detalhe. Há anos que anda mal o esportingue e não há santo que dê remédio. Para ficar em Lisboa, praticamente a cidade natal do português e onde moram os seus familiares, a única opção seria mesmo o Benfica.
De qualquer forma, trabalhar em sua cidade, junto com seus familiares, ainda por cima ganhando uma nota pretíssima, em um clube super organizado e candidato eterno ao título local e com ligeiras possibilidades nos confrontos europeus, convenhamos não é para ser desperdiçado.
Ainda por cima, ficando livre do Bap e de suas lições futebolísticas, que são dose para qualquer técnico sério e competente.
Acho correto, embora não me agrade a realidade dos fatos.
Jorge Jesus deu ao Flamengo uma dimensão totalmente diferente.
É o grande herói de tantos títulos.
Pena que vá se despedir com um de menor importância.
Ficará com um local, um nacional e outro continental.
Pena ter faltado o mundial, que talvez seja a mínima possibilidade que permita não retornar para Portugal, meu avozinho.
Pesarosas SRN
FLAMENGO SEMPRE
Amém, Arthur! Mais um texto perfeito!!!
Se ficar mais uma temporada será sensacional. SRN.
Evangelho de São Arthur.
quando vc resolve escrever sobre futebol e especialmente do flamengo …
fica no mesmo patamar do leonardo da vinci.
SRN !!!