Sábado de carnaval, na terra dos nada carnavelescos John, Paul, George e Ringo, uma torcida não dormiu de touca, não perdeu a boca, não fugiu da briga, não caiu do galho e viu a saída.
Diante da notícia de que o bilhete para o recém-ampliado setor de arquibancada do estádio de Anfield custaria 77 libras, aos 77 minutos do jogo contra o Sunderland um grande grupo de torcedores do Liverpool se levantou e, entoando um irado hino de protesto contra o preço anunciado pelo clube, retirou-se do estádio. Pouco depois, as imagens transmitidas pela televisão passaram a mostrar algo raro nas partidas envolvendo grandes clubes ingleses: milhares de assentos vermelhos vazios. Para aumentar a força do gesto, o Sunderland – penúltimo colocado no campeonato inglês – fez dois gols nos dez minutos finais e empatou o jogo que, até o momento da manifestação, o Liverpool vencia por dois a zero. Não creio nos tais deuses do futebol, mas posso estar enganado. Se estiver, o recado deles foi direto: sem a sua torcida, um clube de futebol é nada. E não é maltratando os seus mais fiéis seguidores que um clube vai chegar aos céus.
Certo, Murtinho. Mas o que tem a ver o ânus com as calças rubro-negras?
Seguinte: o preço dos ingressos deixou de frequentar discussões, artigos e posts sobre o Flamengo, na mesma proporção em que nosso time deixou de visitar as partes mais nobres das tabelas. Entretanto, como acreditamos que isto é passageiro – diga lá, Rodrigo Caetano: vai ser agora ou só em 2017? –, em breve o debate voltará a esquentar.
Uma das frases mais infelizes de que se tem notícia, em toda a história do clube, foi proferida pelo então vice-presidente de Marketing, Luiz Eduardo Baptista. Em 11 de agosto de 2013, na reportagem de Carlos Eduardo Mansur e Eduardo Zobaran, de O Globo, e que pode ser conferida no link http://oglobo.globo.com/esportes/campeonato-brasileiro-2013/no-flamengo-cair-nao-passa-pela-cabeca-9461941, ao ser perguntado se uma cota de cinco mil ingressos a preços populares, nos jogos disputados no Maracanã, seria capaz de destruir o projeto financeiro do clube, Bap respondeu dizendo que assim o Flamengo iria “viver dos pobres, jogar um futebol pobre e ser um time pobre, porque o negócio futebol mudou”.
Pode ser que, na edição final do texto, a frase do Bap tenha saído truncada. Ou que, embora bastante articulado, Bap não tivesse a intenção de dizer exatamente isso. Mas foi o que saiu, e pegou mal bagarai.
De qualquer modo, é bom nos prepararmos, porque a volta do tema é inevitável. Se existe a certeza de que logo o Flamengo estará nas cabeças de todas as competições que disputar – de novo: fala aí, Rodrigo Caetano, se é para agora ou para o ano –, a questão do preço dos ingressos vai pipocar novamente. Porque é nessas horas que o olho cresce.
Todos sabemos que há o indecente percentual sobre a bilheteria retido pela tão simpática e imparcial federação, tem o pagamento do quadro móvel, a meia entrada generalizada, a cota da Coopaferj (cooperativa de juízes e bandeirinhas), a sangria vai longe. Claro: a política de cumprimentar com o chapéu dos outros, causa de tantos favores e gratuidades, é inaceitável. Por outro lado, costumamos estufar o peito e encher a boca para falar dos nossos patrocinadores, do valor da nossa camisa, de quanto nos pagam a tevê aberta e a turma do pay-per-view. E essas receitas todas tornam interessante a tese dos cinco mil ingressos a preços populares – acho até que essa cota poderia ser um pouco maior – proposta por Mansur e Zobaran na pergunta que fez Bap escorregar.
Será que, justamente pela constatação de que o negócio futebol mudou, não haveria a possibilidade de dar um refresco ao bolso de quem ajudou a construir tudo isso? Sou péssimo com cálculos e dinheiros, mas creio que esta seria uma importante atribuição dos dirigentes desse novo Flamengo que vem por aí (então, Rodrigo Caetano, vem ou não vem?): encontrar o exato equilíbrio entre ter um clube financeiramente forte e tratar com carinho aqueles que, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, nunca o deixaram seguir sozinho.
Vivendo num país em que o salário mínimo é de 6,70 libras por hora – o que, para quem trabalha quarenta horas por semana, dá mais ou menos 1.072 libras por mês, equivalentes a pouco mais de 6 mil reais –, os torcedores do Liverpool mostraram o caminho.
Jogo do Flamengo não é para poucos. Como dizia o grande Sérgio Sampaio, eu quero é todo mundo nesse carnaval.
Perfeito.
No campeonato do bairro vimos o que vale o nosso time.
Bastou chegar um melhorzinho que a patotada anterior para assistir-mos ao melodrama de sempre.
Para a unica competiçao que tem valor, o Brao, teremos que mudar varias peças mais para ter-mos uma minima chance.
Jorge, meu caro, já tinha deixado o recado pra vc mas não recebi resposta. Peço de novo: me mande a cópia que te mandei do meu livro. É a única que restou depois de ter sido bloqueado pelo google.
Grato e um abraço
Sem problema, Rasiko. Mas me diga para qual e-mail eu mando, já que (pelo que entendi) seu antigo e-mail foi bloqueado.
Abração.
Mais uma vez repugnante a participaçao desse “diretor” do Flamengo.
Que papelaço faz com as declaraçoes sobre o jogo no estadio Sao Januario !
Ele nao é nem nunca foi diretor do Flamengo. Esse dai é diretor do SEU Framengo!
Va fazer vergonha em outro lugar !
Dois EXCELENTES comentários, tanto o do Rasiko como o do Romano.
Não sei se teria a devida permissão, mas, se fosse dada, assinaria embaixo.
Entusiasmadas, pelo briho alheio, SRN
FLAMENGO SEMPRE
Excelente texto como sempre, Jorge.
Concordo com tudo de ponta a ponta e acrescento, como já coloquei em outros comentários nos últimos dias, que o Flamengo tá tendo a oportunidade histórica de liderar um movimento de libertação definitiva dos clubes das garras de todas essas mãos cheias de dedos gordos ou esquálidos ávidos do que não é deles.
Essa gente toda, de cabo a rabo, que tem que ser posta pra correr pra bem longe do futebol. Essa gente não tem nada, porra nenhuma a ver com futebol. O que elas estão fazendo lá? Um príncipe da Jordânia é candidato a presidência da fifa. Ok! Agora alguém me diga, pelamordedeus, como é que pode um negócio desses!? É óbvio, é natural, espontâneo, indiscutível, harmônico e motivo de grande júbilo entre torcedores, jornalistas e amantes do futebol em geral que esse presidente seja o Zico, por exemplo, ou qualquer ex-jogador, técnico, auxiliar, preparador físico, preparador de goleiro, massagista, gandula, qualquer um que tivesse envolvimento direto com o futebol, que colaborasse diretamente pro espetáculo. Mas cito o Zico porque além dele ter se candidatado abrindo essa possibilidade pra outros, o nome seria um símbolo do nível que se pretende pra tal cargo.
Não só não haveria contestação quanto ao nome e a capacidade, talento, probidade e, provavelmente, todas as nobres qualidades que um caráter pode ter e que esse nome carrega, como agregaria em força o poder daqueles que são diretamente envolvidos no espetáculo: jogadores-torcida-clubes.
Fora desses 3 personagens, nenhum outro deveria ser permitido, a não ser na condição de terceirizado e olhe lá. Se eu, na condição de empresário de entretenimento quero organizar e produzir um show, vou contratar profissionais de áreas específicas que me ajudem a fazer acontecer. Mas o poder está na minha mão, é o meu negócio, eu é que estou investindo, sou eu que tenho a visão do que eu quero ver; ´é evidente que o terceirizado não pode ter nenhum poder de escolha do que deve ser feito e como deve ser feito, ele apenas faz, cumpre metas e aperta parafusos. Não é apenas pelo dinheiro, pelo lucro, não, tem muito mais a mais, mas o terceirizado só estáa interessado no lucro. Essa é a enorme distância e esse é o poder propriamente dito porque é o poder de criar. E aí, quando a coisa tá criada, os caras vêm é querem a meter a mão? como se tivessem algum direito? Como assim?
Essa gente tem que ser escorraçada. São muito asquerosos demais, baixo níveis demais, corruptos demais, rastejantes nojentos, tudo o que um ser humano pode ter de pior. O que essa gente tá fazendo num meio ambiente movido à paixão, pureza e até inocência? Não dá pra perder esse momento em que eles estão fracos e amedrontados pra dar o golpe final e cortar logo e de uma vez por todas a cabeça de um por um. Não tomar essa atitude é, pra mim e pro meu estômago, uma omissão e uma covardia insuportáveis de engolir. E isso, claro, cabe aos clubes e cabendo aos clubes, cabe ao Flamengo liderar.
O momento é ideal se souberem aproveitar a esteira do sucesso da recuperação econômica-financeira, a imagem de honestidade e transparência adquirida nos últimos anos a ponto de ser citada e até temida como exemplo de gestão, a imagem do próprio Muricy, de seriedade,de trabalho, de compromisso, de entrega… , a imagem do Zico.
Tá tudo na mão do Flamengo. O Conselho Gestor tem que ser ousado. Será Bandeira?
Grande abraço
srnp&a
Como sempre perfeito, Rasiko.
Por isso há um tempo insisto no meu bordão, que sei que é cafona mas é o que tem pra hoje:
START A REVOLUTION, MENGO!
SRN
O ingresso custa 1000 reais e o estádio está LOTADO?
Então o preço está cumprindo o seu papel.
O ingresso custa 60 e o estádio está ÀS MOSCAS?
Então não faz o menor sentido.
Não defendo nem elitismo nem populismo. Defendo estádio lotado e maximização do lucro.
Como já disse, se a diretoria prefere 20 mil pagando R$ 40 do que 60 mil pagando R$ 15 está sendo BURRA. O ingresso não está precificado corretamente e não está maximizando o lucro e nem enchendo o estádio.
É simples. Nem se trata de uma questão sociológica.
Mas acho SIM que qualquer clube tem que dar acesso a seus torcedores de TODAS as classes sociais. Acho que o estádio tem que ter seu setor popular. Quem vai ter direito a ele? Simples: os pobres. Como se comprova que é pobre? Simples de novo: inscrição no CadÛnico. Quem não sabe o que é, busca no google.
Também tem que ter setores a preços acessíveis para a classe média, para a classe alta e para a classe AAA.
Mas o mais importante é que o estádio esteja sempre lotado.
Se não estiver, está ERRADO. Seja o preço que for.
SRN
Como o assunto do post é o valor dos ingressos…uma dica…as lojas da Bilheteria Digital aqui em Brasilia estão cobrando 5,00 a mais do preço tabelado…ante qualquer reclamação eles dizem que esse é o preço da loja…
SRN