A época é fértil para o cultivo de platitudes diversas e discussões vazias. Jogadores de férias – embora alguns dos nossos pouco tenham trabalhado durante o ano –, dirigentes blefando, imprensa boatando e a multidão ensandecida renovando suas crenças em Papai Noel.
Justiça seja feita: a diretoria do Flamengo tem preferido a discrição à bazófia, só aceitando falar de nomes quando os papéis recebem os indispensáveis jamegões. Antes disso, sapatinho.
Claro que ainda há derrapadas, mas nada que não se possa relevar. Fiquei um tanto decepcionado quando, no início da semana, o Flamengo se mostrou surpreso com o fato de Vitinho custar caro (pelo que li, dez milhões de euros). Independentemente do absurdo a que chegaram os valores que giram hoje junto com a bola e da bem equipada lavanderia em que se transformou o futebol russo, o Atlético Paranaense acabou de vender Hernani para o Zenit por oito milhões de euros, e ainda manteve 20% sobre os direitos do jogador.
A estupefação do Flamengo só não foi maior do que o espanto de Merval Pereira ao descobrir – aos 67 anos de idade, jornalista experiente e destacado integrante da Academia Brasileira de Letras – que financiamento de campanha política virou um negócio. Ah, Merval. Ah, Flamengo. Espero que o desabafo rubro-negro a respeito do valor de Vitinho faça parte de uma esperta estratégia de negociação. Se não for isso, quanta ingenuidade.
Passemos à primeira discussão vazia.
Creio que não há mais espaço para se debater pontos corridos e mata-mata no campeonato brasileiro. Aqueles que preferem o mata-mata – entre os quais me incluo – logo são acusados de retrógrados, defensores do improviso e da bagunça, inimigos do planejamento, acólitos da Globo. Mas vamos tentar.
O que eu penso: o momento sublime do futebol acontece nos grandes clássicos. Nenhum rubro-negro vai dizer que o jogo da sua vida foi Flamengo e Olaria disputado na Rua Bariri. Vai ser sempre um Fla-Flu, um Flamengo e Corinthians, um Flamengo e Grêmio. Ocorre que, como veremos abaixo, nos campeonatos por pontos corridos os grandes costumam se devorar uns aos outros e a encrenca se define nas partidas contra os pequenos. Quando a gente vai ver, o Palmeiras não foi campeão brasileiro por ter derrotado quem brigava com ele pela taça, e sim por não ter perdido pontos para os últimos colocados.
Campeonato que se preza tem que ter final, com os dois times podendo ficar com o caneco. Todo flamenguista com mais de quarenta anos lembra que, na decisão do Brasileiro de 1980, nossos gols foram feitos por Nunes, Zico e Nunes. Entretanto, tire o acesso ao google e pergunte aos flamenguistas quem fez o primeiro gol do time na decisão de 2009, há sete anos. Muitos já esqueceram. A final de 1980 foi uma decisão de verdade, com um timaço do outro lado (Reinaldo, Cerezo, Éder, Luisinho) jogando pelo empate para ser campeão. Já em 2009, nosso desinteressado adversário escalou oito reservas e entrou em campo doido para perder. Pode não ser apenas coincidência o fato de as duas mais importantes e cultuadas competições do futebol – Copa do Mundo e Champions League – se decidirem no mata-mata.
Entretanto, convém deixar de lado as digressões: com o sistema de pontos corridos estabelecido e dogmatizado, resta aprender de uma vez por todas como disputá-lo.
E aí entra em cena a discussão vazia número 2.
O Campeonato Brasileiro de 2016 teve quatro reais candidatos ao título. A parada foi resolvida no ótimo jogo em que Atlético Mineiro e Flamengo empataram em dois a dois e, abraçados, puseram a faixa no peito do Palmeiras. Ali o Atlético jogou a toalha, para se dedicar à Copa do Brasil, e o Flamengo perdeu a última chance de permanecer fungando no cangote palmeirense. (Por paradoxal que pareça, apesar de ter terminado na segunda colocação o Santos jamais chegou a ameaçar de verdade. Coisas dos pontos corridos.)
Pois bem. Se organizarmos um campeonato particular, considerando somente as partidas que os quatro primeiros disputaram entre si, teremos 18 pontos em jogo e um resultado surpreendente. Em primeiro lugar, Flamengo com 9 pontos ganhos, além de ter o ataque mais positivo e o melhor saldo. Em segundo, Santos com 8. Em terceiro, Atlético Mineiro também com 8. E em quarto o Palmeiras com 6. Sim, o campeão na lanterna.
Agora, se fizermos o cruzamento dos quatro primeiros contra a turma da rabeira – os três que chegaram à última rodada com possibilidade de cair (Internacional, Sport e Vitória) mais os três antecipadamente rebaixados (América Mineiro, Santa Cruz e Figueirense), teremos 36 pontos disputados e a seguinte classificação: em primeiro lugar, o Palmeiras sem um vacilo sequer e 36 pontos ganhos. Em segundo, o Flamengo com 27. Em terceiro, Atlético Mineiro com 25. E na lanterna o Santos com 19.
Resumo da bagaça: levando em conta apenas os jogos do pessoal da cobertura contra a rapaziada do subsolo, a diferença entre Palmeiras e Flamengo é de 9 pontos. Como sabemos, o Palmeiras terminou o campeonato com 80 pontos, o Flamengo com 71.
Xisto Beldroegas, um dos mais lúcidos e divertidos comentaristas aqui do RP&A, gosta de usar o lema “esmagar os pequenos”. Ele está cheio de razão. É possível que esmagar os pequenos não seja o único caminho para se ganhar um campeonato longo e equilibrado, mas certamente é um dos mais viáveis. Tenho a sensação de que todo mundo sabe disso, mas entra ano, sai ano e continuamos perdendo preciosos pontos para os figueirenses da vida.
Não aceito reclamações e ninguém precisa me esculachar: já na frase de abertura preveni que o post envolveria discussões vazias e platitudes diversas. Mas acredito que, se nada disso serve de consolo, poderia ao menos servir de lição.
[…] […]
murtinho e amigos,
o time do flamengo no papel está se tornando uma seleção.
1-muralha
2-pará
3-rever
4-rafael vaz
5-arao
6-jorge
7-romulo
8-diego
9-guerreiro
10-conca
11-marinho
time reserva
1-paulo vitor
2-rodiney
3-Donatti
4-juan
5-cuellar
6-peruano(amigo do guerreiro)
7-márcio Araújo
8-mancuello
9-leandro Damiao
10-gabriel
11-vitinho
tinha esquecido do everton,pode colocar ele no lugar do Gabriel.
SRN !!!
Jorge,
Já temos um mata-mata, é a Copa do Brasil. Acho que, nós os sulamericanos, gostamos mais do mata-mata, já os europeus gostam mais dos pontos corridos. Mas, vamos olhar para os verdadeiros reis do marketing esportivo, os americanos! Pontos corridos, dividindo o pais em grandes regiões, Play-offs com os quatro melhores e uma grande final em um mega evento.
abraços,
Alysson
Exatamente, Alysson.
Essa fórmula aí me parece a mais empolgante, mas já era. Acho muito difícil que, nessa altura do campeonato, o Brasileiro volte a algo semelhante. Mesmo porque, como vimos aqui na caixa de comentários, muita gente prefere – por motivos diversos – os pontos corridos, e há ótimos argumentos para defendê-los.
De todo modo, o que vale mesmo é o que escreveu o Romano: mata-mata, pontos corridos, o fato é que não temos ganhado nada.
2017 começou com boas notícias. Os caras estão trabalhando com discrição e competência, agora vamos ver como as coisas se comportam dentro de campo. Estou confiante.
Abração. SRN. Feliz Ano Novo pra você.
Existe um fator a se considerar: todos os pequenos jogam a vida contra o Flamengo. Fato!
Sim, Léo. Da mesma forma que na Espanha todos os pequenos jogam a vida contra Real Madrid e Barcelona, e na Alemanha todos os pequenos jogam a vida contra o Bayern de Munique. E todos são devidamente esmagados.
Abração. SRN. Feliz 2017.
esqueceu do fator estádio que ajuda e muito na derrota aos pequeneos e grandes, mas principalmente contra os pequenos … esqueceu o planejador vascaido tricolete gaucho que perdeu tudo … desde 2015 rodrigo caetano tricolete gaucho vascaido , no comando fo futebol do Flamengo , vem prejudicando o clube, o elenco e os jogadores … Pior só as participações idiotas do presidente em entrevistas pos jogo , virou munição para imprensa e chacota de todos os torcedores … patetico … mas pode ser pior que tal o desmonte de 2014 … ou que tal o desmonte 2016 , jorge e vizeu vendidos , ederson vendido , milhoes a dupla vexatoria chorinthiana Sheik e Guerrero financiando o chorinthians e prejudicando o clube durante dois anos … a lista de incompetencia eh grande … ao menos um dos especuladores imobiliario construiu um CT o qual duvido esteja a nivel internacional …e de que adianta CT senao valoriza a base que o diga Ze Ricardo e as ultimas geracoes vnecedoras da Copinha , a maioria vendida e pior mal vendida … Kayke (o planejador pegou o dinheiro para dar aos chorinthianos em um momento que o Kayke tinha numeros melhores que o peruano o artilheiro com mais suspensoes e cartoes que gols … que tal o fernandinho (que melhorou durante este ano) ? o planejador vascaido tricolete gaucho já está municiando seu time o Gremio e renato Gaucho na Libertadores 2017 … pior soh a sua entrevista ao tah na area dizendo que o flamengo disputara a copa do Brasil em 2017 … Libertadores 2017 conseguiu imitar o pior da champions , ausencia de meritocracia na fase de grupos e do melhor time da competicao ter o direiro de decidir proximo a sua torcida … mas pra que torcida ???
Fala, Duda.
Caraca, meu camarada: se não é fácil responder comentários sobre um tema só, mais difícil ainda responder os que são tão abrangentes quanto esse seu.
Tudo é digno de debate – acho, por exemplo, que Kayke costuma ser superestimado, mas cabe discussão, claro -, entretanto prefiro me concentrar no momento que seu texto trata de modo específico sobre a perda de pontos para os que terminaram na rabeira da tabela.
E aí, discordo: os nove pontos que perdemos, na comparação que fiz com a campanha do Palmeiras, aconteceram em partidas fora de casa (Figueirense, Sport e Inter). Portanto, pelo menos nesses casos, o fato de não ter um estádio para jogar não pode ser apontado como uma das causas das derrotas. Certo?
Quanto às outras questões, todas são excelentes, e vamos ver se conseguimos discuti-las em breve.
Abração. SRN. Feliz 2017.
ai ai…
neymar falou que seria uma grande honra jogar no flamengo.
fico imaginando se isso realmente acontecer,vai ser igual a vinda do romario pro flamengo em 95.
por enquanto vou sonhando…
SRN !!!
Já imaginou, Chacal, o Neymar na reserva do Gabriel?
Abração.
grande murtinho,
estou adorando o nível do debate aqui no seu post.
na minha singela opinião o campeonato com mata-mata eh muito mais interessante,sem duvidas.
mas como vc mesmo disse não vai rolar mais no brasileirao.
outra coisa boa foi ver que vc voltou a comentar nossos comenteários,legal esse feedback que vc dá.
grande abraco
SRN !!!
ps-quando vai ser o próximo encontro da confraria?
Grande Chacal!
Tô tentando inventar tempo para conseguir participar um pouco mais na caixa de comentários. Me amarro, mas tá foda.
Quanto ao próximo encontro da Confraria, aí é responsa do Presidente.
Abração. SRN. Feliz 2017 para o Flamengo e para todos nós.
Caro Murtinho,
Tenho comentado seus posts com menos frequência do que gostaria, mas queria fazer um último registro antes de encerrar 2016:
Não me conformo em ver um jogador com a habilidade, inteligência, tranquilidade e ótima capacidade de finalização do Jorge jogando tão longe da área adversária. É um enorme desperdício de um jogador de raro talento.
Se esse lateral da seleção Peruana é realmente bom de bola, seria pedir demais ao Zé Ricardo testar um meio-campo com Cuellar (ou Ronaldo) centralizado, Arão mais pela direita, Jorge mais pela esquerda, e Diego no meio?
Vc não acha que valeria a pena tentar essa formação?
Grande abraço e feliz 2017 a todos.
SRN
Fala, Marco.
Sim: você tá sumido, e fazendo falta.
Concordo: essa é uma experiência que pode dar certo e, quem sabe, virar uma alternativa importante para a nossa escalação. Aliás, infelizmente eu não lembro exatamente quem era, mas, logo que Jorge chegou ao time de cima, um dos comentaristas aqui do blog sugeria insistentemente que ele jogasse na meia – até porque não tínhamos o Diego.
Esse ano Zé Ricardo terá tempo para treinar, e não vai mais valer o argumento de ter subido no bonde andando (o que realmente aconteceu). Parece que o elenco para 2017 está sendo montado de modo a permitir algumas variações, e a sua sugestão é bem boa.
Grande abraço. SRN. Feliz 2017 para todos nós.
Boa noite Murtinho, obrigado pela resposta.
Você está certíssimo, não há desculpas para o Zé Ricardo não tirar mais desse time em 2017.
O grupo da Libertadores é uma pedreira, e eu vejo isso como uma grande oportunidade do Flamengo se redimir de tantas participações abaixo da crítica em edições anteriores do torneio.
Tá na hora de recuperar a respeitabilidade que há muito tempo perdemos em competições sul-americanas. Vamos ser honestos, os times da Libertadores devem torcer muito para cair na chave do Flamengo considerando o papelão que temos feito nos últimos tempos, tanto dentro quanto fora de casa.
2017 tem que ser o nosso ano, já passou na hora. O torcedor e essa diretoria honesta e competente merecem.
Grande abraço e SRN.
Feliz Natal á todos, que Papai Noel nos traga um Conca que não esteja bichado e que se recupere rápido, um Rômulo ou o Ronaldo mesmo para barrar o Caramujo, o Gil para fazer dupla com o Rever e deixar o Vaz no banco e a volta do Kayke no ataque para fazer dupla com o Viseu ou ficar no banco para o nosso promessa da base, mas, o principal mesmo é a BARCAÇA!!!
Por ser Natal, nem vou citar os componentes da BARCAÇA, mas, com certeza ela deve ser encabeçada pelo treineiro, pelo Ridículo Caetano, pelo “The Glasses” e pela turminha da panela, alguns até foram titulares em 2016, depois não sabem porque o Flamengo não ganhou nada nesse ano…
BARCAÇA JÁ!!!
SAUDAÇÕES RUBRO-NEGRAS!!!