Muita gente tava avisando, citando a lei do eterno retorno, o cálculo de probabilidades, o fluxo das marés e até aquelas paradas de antimatéria, que um dia, eventualmente, o Flamengo não ganharia um jogo. Avisaram também que, mais raramente, o Flamengo poderia até mesmo perder um jogo. Os mais antigos devem se lembrar que no passado isso aconteceu algumas vezes.

Ninguém nunca está preparado para um retrocesso, ninguém quer involuir, desmelhorar. Só que às vezes dá uma pane, o cérebro para de pensar e pã!, estamos de volta ao pior do passado. Perdendo jogos de bobeira, sendo derrotados em casa com gols bizarros assinados por intrusos que escaparam à vigilância das nossas patrulhas onomásticas. Quando Aderlan e Chrigor foram batizados o 01 dos monoteístas apontou e disse: Vão fazer gol no Flamengo!

Que lamentável acontecimento, os cara fizeram gol em nós mesmo. O 01 não é de bobeira, não. E assim o Flamengo jogou pela janela a chance de ser Campeão Brasileiro invicto. Agora é só no Brasileiro do ano que vem. Esse ano vamos ter que nos conformar com a mixaria de ser eneacampeão simples mesmo. Não se pode ter tudo na vida.

A derrota foi esquisita porque o Flamengo nem jogou mal, encarou pela primeira vez em muito tempo um time arrumadinho e tava se desincumbindo bem da missão. Até a hora em que já não tava mais, que foi quando tomou o segundo gol naquela boca aberta tradicional dos nossos intimoratos defensores a qual jamais nos acostumaremos.

Depois de cinco jogos sem tomar gol teve quem se iludisse com a solidez da defesa cenista. Caô. Era muito improvável que o Flamengo continuasse com a melhor defesa do campeonato mantendo os seus velhos vícios. Principalmente o vício de errar, que nesse esporte bretão injusto e ilógico costuma ser fatal.

Mas antes fosse só a vacilação da zagueirada, isso foi apenas um dos inúmeros fatores que contribuíram para a derrota que quebrou a bonita série invicta em casa. Seguindo uma escala hierárquica, vamos começar detonando o Rogério Ceni.

Primeiro por insistir em escalar o Michael no time adulto do Flamengo, não tem a menor condição. O dimenor errou 100% dos passes que tentou e ainda errou escrotamente um chute na cara do gol. Tão escrotamente que acabou virando uma assistência pro gol do Muniz. Vitinho a mesma coisa, erra demais, destoa dos números do resto do elenco. E o Ceni, vendo mesmo jogo que nós, deixou os dois caras errando tudo durante o jogo todo. Imperdoável, no tempo do Mauricio isso não acontecia.

Outra parada determinante pro insucesso: jogar pro lado errado. Todo mundo sabe que um jogo do Flamengo tem um lado certo e um lado errado. No segundo tempo o Flamengo joga pra esquerda. Pra esquerda! Sempre pra esquerda, é a nossa meta, o nosso gol, o nosso lado. Quando o Flamengo contraria a tradição, despreza as massas e vai pra direita é só tragédia. Essa culpa vai pro Diego, ou por ter perdido o cara-ou-coroa, ou por ter ganhado o cara-ou-coroa e escolhido o lado errado. Em qualquer das situações deu mole, jogador vivido não pode garotear assim.

Outro que deu mole foi o Gerson. Logo ele que vinha gastando a bola nos últimos jogos não tava num dia bom. Como também estava meia boca o Filipe Luiz, muito abaixo da sua média, o ponta deles deu canseira nele. Jogar de terno garante a elegância, mas sacrifica a agilidade. Mas não dá nem pra reclamar desses dois.

Mas nem tudo foi decepção na noite do Maracanã. Salvaram-se Diego Wallves, Matheuzinho, Arão, Rodrigo Caio e Bruno Henrique, que deu mole no último lance, mas parece ter achado o mojo perdido (talvez o Vitinho tenha sido forçado a devolvê-lo).

Quem brilhou com intensidade foi o Plano Nacional de Imunização Racional. O ferômeno Muniz consertou um chute bisonho do Michael mandando a gorducha pro filó e ainda guardou outro de bicicreta. Se Muniz não fosse ainda um jovem afoito e estabanado não teria perdido um provável terceiro gol na cara do goleiro e estaria hoje pedindo um axézinho do pai no Fantástico. Que feio. Se tiver alguém velando pela carreira desse menino provavelmente já confiscou o brinquedo do McLanche Feliz dele.

Mesmo sabendo que ainda é cedo pra neurose não deixa de ser preocupante que o Flamengo, logo no primeiro arrumadinho que bateu de frente, não tenha vencido o jogo com facilidade. Que superioridade inconteste é essa que sucumbe diante de um time que chegou da capital da linguiça? Tem alguma coisa errada aí.

Claro que tem. Tem metade do time do Flamengo convocado pelas seleções pra jogar a Cova América e ajudar a difusão do vírus infernal pela América católica. Diante desse fato revoltante não estamos autorizados a entrar em desespero, apesar da anômala 9ª posição ocupada pelo Flamengo na tabela. O Brasileiro ainda está em sua fase experimental.

É estranho pra caramba quando o Flamengo perde, mas a vida continua. Preserve-a. Não seja um idiota. Se proteja e proteja os outros. Não deixe de se imunizar. E usa a porra da máscara.

Mengão Sempre