O Mundial Interclubes acabou e o Flamengo ficou longe de atender às altas expectativas da torcida mais bem vestida do mundo. Expectativas criadas pela exuberância do seu futebol maneiríssimo, quando funciona, e pela sua alta capacidade de gerar energia fanfarrônica, mesmo quando a bola jogada não corresponde à intensidade da fanfarra.

.

Mas o duelo pelo qual o mundo inteiro ansiava, o tira-teima entre as potências Flamengo x Real Madrid, infelizmente não aconteceu. Um pouco pelo indisfarçável poder do patrocínio saudita à competição organizada pela FIFA. Jogar a semi logo contra um time árabe não foi exatamente uma vantagem pro Flamengo. Mas aqui o chororô é proibido, o Flamengo perdeu e teve que disputar o oprobioso terceiro lugar.

.

Diante dessa zebra que quebrou bookmakers nos cinco continentes e também em Niterói, a responsabilidade da realização do jogo que o mundo inteiro esperava então passou a ser inteiramente do Real Madrid. Infelizmente os castelhanos visivelmente fugiram do confronto. Tiveram mais de uma oportunidade de perder pro time egípcio, mas o medo de bater de frente com o Mengão acendeu o fogo sagrado nos rabos madridistas e acabaram vencendo o jogo e escapando do Flamengo. Não podemos culpá-los.

.

AS contas corretas mantém amizades, no âmbito da relação comercial Flamengo x Real nada mudou. O Real Madrid continua a ser freguês do Flamengo, em cinco jogos desde 1978 o Flamengo empilha três vitórias e o Real apenas duas. Notem que todos os cinco jogos foram jogados na Espanha. Por que o Real Madrid teme enfrentar o Flamengo no Brasil ou mesmo em campo neutro? Oxalá no próximo Mundial essa questão possa ser respondida.

.

O Flamengo, após consolidar sua posição de terceiro melhor time do mundo, atravessou o Atlântico e na segunda-feira chegou no Rio. E foi o fim da aventura marroquina do Mais Querido. Foi então que a torcida do Flamengo, naturalmente lorde, deu mais um show de etiqueta. Enquanto os jogadores desembarcavam com aquele uniforme vermelho lindão os espólios da expedição africana foram menos comemorados pela torcida presente no aeroporto do que a caneta (incompleta) do Arrascaeta no Calzabé.

.

O importante é que no íntimo de cada rubro-negro haja a plena consciência de que tudo isso escrito acima é caô pra irritar a arcoirizada mal vestida e rancorosa. Que já tem justos motivos para considerar 2023 um annus mirabilis na história recente de seus clubes. Minha Nossa Senhora do Microscópio, como são pequenos.

.

O fato é que o Flamengo voltou do Marrocos de mãos abanando, admitamos que essa pilha de terceiro melhor time do mundo não funciona muito quando nossos interlocutores têm idade mental superior a cinco anos. O Flamengo voltou exatamente do mesmo tamanho que saiu do Brasil. Com o nariz e os calções um pouco sujos, mas ainda gigante, ainda assustador, ainda o papaizão severo e grande trem pagador da parada.

.

Dez entre dez coaches postulam que as grandes derrotas geram mais aprendizado que as vitórias. Prefiro não aprender mais nada na vida e ser uma récua de burros a ver lado positivo no Flamengo tomando tamancada. Mas mesmo não sendo coach, sou um cara decente, sou trabalhador, se a micareta do Flamengo no Mundial servir mesmo como material didático a nossa rapaziada terá muito o que estudar.

.

O time que encantou as massas e deliciou os nossos sentidos em umas poucas e memoráveis semanas do ano passado ligou o foda-se no dia 29 de outubro de 2022, com uma Copa do Brasil e uma Libertadores da América no embornal. E ligou bem, já que pouco havia a se fazer antes de fevereiro do ano seguinte. Quem poderia imaginar que o planejamento do Flamengo ia obrigar os caras a ficarem dois meses em casa vendo Copa do Mundo e acumulando banha e languidez?

.

Se os jogadores do Flamengo conseguiram equiparação aos desembargadores e dois meses de férias, palmas pro sindicato deles. Uma vitória de um trabalhador é uma vitória de toda a classe trabalhadora. Só que a torcida ainda não conseguiu a garantia de sequer uma semana de folga, porque o Flamengo não deixa. Desde a Copa do Mundo que a Magnética não sabe o que é um dia de paz.

.

Aquela temporada de baixa pressão, entre a final da Liberta e o Brasileiro e o sorteio dos grupos da Libertadores, que se presta tão bem pro papo-furado e para a especulação especulativa esse ano foi arrancada da torcida, que precisou se desesperar em tempo integral por demissão de treinador, contratação de treinador, preço das passagens pro Marrocos, venda de João Gomes e recadinhos marotos de Jorge Jesus. E no caminho ainda perdeu uma Supercopa de bobeira. Tá puxado.

.

O Flamengo agora precisa do Carioca, vejam a ironia, precisa do Carioca para voltar a ser Flamengo, para se exibir pros seus seguidores e inflamar novamente as massas bem-vestidas para um ano que na quarta-feira passada quase todos julgavam definitivamente perdido. Torcedores, calma! Ainda temos alguns meses para o salvamento do ameaçado 2023. Desde que VItor Pereira escape do cutelo que pende sobre sua cabeça como o Real escapou do Flamengo, ganhando a porra toda.

.

Agora é foco no Carioca, — sem fanatismos, claro — e na Recopa Sul-americana. Tudo bem que Carioca não vale nada e Recopa também não é premiação de primeira linha, não aplaca as justas e coerentes ambições dos rubro-negros racionais e irracionais. Não interessa que é no Equador, que é numa terça-feira, que o uniforme deles é feião, tem que ganhar. Vai fazer bem pro moral da tropa e, principalmente, pro pescoço do Vitor Pereira, o Flamengo voltar a levantar uma taça (Guanabara não conta). Eles que não ousem perder outra.

.

Mengão Sempre