Quem esperava aquele Flamengo em transição, meio barro, meio tijolo, que arrancou um empate no jogo em Curitiba praticamente na cagada, foi positivamente surpreendido com o que aconteceu no Maracanã na manhã de domingo.
O Flamengo simplesmente voou em campo, desconheceu a presença do Goiás, fez gols até se tornar o melhor ataque da competição e encheu a torcida de excelentes motivos para alimentar a ilusão baseada em fatos científicos de que esse ano vamos ganhar tudo que disputarmos. As crianças de todas as idades que lotaram o Maraca viram muito mais que um jogo de futebol, viram um espetáculo educativo que poderia se chamar Como Ser Flamengo em 90 Minutos. A petizada adorou a experiência de assistir uma aula de futebol moderno.
Como um amigo dizia, enquanto o placar ainda estava parado no 4×1, que em dezembro, após todas as libações em honra ao BI Mundial, vamos todos estar amaldiçoando o Abel por não ter sido capaz de ganhar a Taça Guanabara, vacilo que será a única nódoa na nossa irrepreensível folha de serviços em 2019. Na hora o comentário soou um pouco exagerado, mas bastaram dois gols no segundo tempo para entender o quão ponderado, e de certa forma modesto, o amigo estava sendo.
Foi esse mesmo amigo de arquibancada que deixou no ar a pergunta que até agora não consegui responder. O Flamengo jogou à europeia? Aquilo que estávamos vendo no gramado, o trabalho em equipe, a solidariedade, a concentração, a intensidade, o ímpeto incontrolável pra fazer gol, a recusa peremptória em se conformar com o resultado, valores que associamos às características genéticas mais básicas do Flamengo, são uma marca registrada europeia?
Se a resposta for sim, então o Flamengo jogou à europeia, sem a menor sombra de dúvida. Se a resposta for não então é porque o Flamengo jogou à imagem e semelhança com o Flamengo canônico com a qual nos catequizaram. E nos últimos anos ver o Flamengo jogar como esse Flamengo canônico tem sido um privilégio tão raro quanto a Santa Sé atestar a autenticidade de um milagre.
Seja qual for a resposta, parece que agora está bem claro que o Flamengo está mesmo comprometido a fazer algo diferente do que tem sido feito nos últimos anos. Que não é nada além de voltar às raízes, de voltar a ser Flamengo.
É simbólico, e irônico, que o Flamengo precisasse trazer um português para descobrir, como Cabral, as beleza, riquezas e maravilhas que já existiam por aqui há muito tempo. Descobrir o Flamengo é antes de tudo descobrir um jeito de fazer o time em campo ser o mesmo time que só a torcida enxerga. Jorge Jesus está descobrindo o Flamengo. Aquele Flamengo que não teme o desafio de cumprir seu destino manifesto. o Flamengo que entende a letra do seu próprio hino. O Flamengo que tudo pode.
Não um Flamengo imbatível, que isso é uma quimera infantil e perder, ainda que não deva se tornar um hábito, é do jogo. O Flamengo sonhado não é um Flamengo invicto, é um Flamengo irredutível. Cônscio do papel que representa e do poderio que pode colocar a serviço dos mais altos e enlouquecidos objetivos. Se o Flamengo é o maior está mais do que na hora de se comportar como tal.
Irredutível porque é um Flamengo que não se apequena, não se satisfaz com vantagens mínimas ou com que é dito em letras pequenas no rodapé dos regulamentos. Um Flamengo que não se sujeita à retrancas, que não troca sua identidade por uma suposta segurança que os covardes afirmam se esconder por trás de empates.
E aí está o maior mérito do descobridor Jorge Jesus, ele tá trabalhando com que já tínhamos em casa e tentando fazer os caras jogarem como nunca jogaram. Agora chegarão os reforços que ele pediu, a tendência é que o time jogue ainda melhor.
O adversário pode ser considerado fraco, com camisa mais leve, jogadores mais baratos, menor orçamento. Mas na frieza da tabela do campeonato o Goiás entrou em campo para enfrentar o Flamengo com o mesmo número de vitórias, dois pontos a menos e uma defesa menos vazada que a nossa. Não estávamos brigando com um bêbado.
Ou seja, se desconsiderarmos os valores intangíveis que nos engrandecem e distanciam de todos os outros 19 competidores, Flamengo x Goiás era um jogo parelho. É por isso que nessa noite quente de domingo as duas metades da população brasileira não conseguem dormir. A Magnética está em êxtase e a arcoirizada, sempre mal vestida e rancorosa, em pânico.
Pesado tudo isso ainda é possível afirmar, sem medo de errar, que tão deixando a gente sonhar. Vai ter empolgação, vai ter oba-oba, certamente haverá decepções em incalculáveis graus de intensidade. Nem todo dia os caras vão jogar bem como jogaram contra o Goiás, mais uma razão para apoiar a política agressiva de contratações. Pode parecer esbanjamento de dinheiro, mas quanto maior e melhor for o elenco, maiores as nossas chances de chegar bem ao fim da temporada. Porque a janela certamente há de tragar um ou dois malandros, não convém se apegar a ninguém.
O Flamengo de domingo foi muito diferente do Flamengo de quarta-feira e tudo indica que no próximo jogo da Copa do Brasil será ainda mais diferente. Libertadores, não quero nem pensar. Pro torcedor, sempre às voltas com a espinhosa tarefa de administrar expectativas, é bom ter consciência de que estamos em pleno processo evolutivo e os resultados ainda são incertos. O que significa dizer que estamos melhorando, mas ainda não estamos prontos.
Mal posso imaginar quando estivermos.
Mengão Sempre
Arrhur! Se a pegada continuar assim acho melhor sair do Maraca e ir direto redigir esses textos top e postar no RPA!!! Passei o domingo agoniado e boa parte da segunda aguardando!!! Saudaçoes de um tricolo iludido!! Kkkk
Foi realmente de impressionar, um gol dando fome para correr atrás do outro, coisa que há muito não se via por aqui. Agora é a continuidade, não invencibilidades enganosas, é só lembrar que, salvo erro grave, já que já não tenho saco pra estatísticas, o Flamengo já há algum tempo perde pouco, ou seja, ganha muito, mas ganha errado, não ganha as chamadas decisivas. Vide ano passado. Vitórias interessam sempre, mas em seu devido lugar são as que dão títulos.
Estou mesmo ficando velho demais.
Estava certo que já tinha comentado.
Abri, de novo, para ver se já saíra a publicação e ler os outros comentários, dando-me conta de que não me manifestara.
Show de bola !
Arrascaeta em manhã genial !
Tirando a super mancada do Rodrigo Caio, uma exibição perfeita.
Em tudo estou de acordo com o Grão Mestre.
1) SURPRESA – não esperava, mesmo. Meu placar seria apenas de uns dois a zero.
2),MINHA OPINIÃO – jogamos, sim, à européia. Disto, não tenho a menor dúvida. Há muito venho chamando a atenção para a diferença de intensidade no futebol que se pratica por lá. Fpoo exatamente o que, em tão pouco tempo, o JJ conseguiu impor aos nossos jogadores. ^Os caras jogare(a)m como nunca jogaram^.
3) IMBATÍVEL – não existe time que seja imbatível, da mesma forma que não existe cantor lírico que não dê uma desafinada. E assim por diante. Faz parte da vida. A beleza do espetáculo de ontem não é garantia de títulos, sequer de classificação agora na quarta-feira. Não importa. É preciso, sempre e sempre, louvar a beleza. Seja da nossa Claudinha, dos velhos tempos, seja do centro-gol do Arrascaeta.
4) GOIÁS – de fato um adversário chegado ao fraquinho, embora fazendo, até ontem, uma campanha surpreendemente boa.
Não é o que importa. Fosse um Barcelona da vida (no momento, deveria citar um dos times ingleses), mesmo que perdêssemos e jogássemos tão bem, daria no mesmo. O importante é o espetáculo.
5) DIFERENTE – o Flamengo de ontem foi totalmente diferente, para melhor, mas certamente ^aomda não estamos prontos^.
Entusiasmadas (afinal) SRN
FLAMENGO SEMPRE
Como dizia o fabuloso EDVAN, o giz escorregou algumas vezes;
Fpoo exatamente, significa Foi exatamente
^aomda não estamos prontos^ , esta é mais fácil de se deduzir, ^ainda …. ^
Meu querido amigo, “velho demais” é redundância – ser velho já é demais 🙂
E, como me disse um saddhu de tanga enquanto fumávamos um bongo entupido de haxixe no sopé do Himalaia, “nunca estaremos prontos, a evolução não tem limite; mas sempre estamos prontos, a caminhada não pode parar.” 🙂
srn p&a
Como é bom.ler esses dois grandes rubro-negros , Moraes e Rasiko, histórias e mais histórias .
Como é bom. ser flamenguista e saber que tem uma nação que ama e segue religiosamente o Flamengo, seja na terra seja no mar, assim como o Carlos Moraes , Rasiko e eu.
É chover no molhado falar do Arthur , escreve como se a alma rubro-negra estivesse na ponta da caneta, muito obrigado por sempre colocar esse amor ao apreço de todos.
Como é bom ser flamenguista e saber que temos uma nação que ama o Flamengo, seja na terra seja no mar, seja em qualquer lugar, assim como o Arthur e eu.
É aí, Alessandro! Bom ver vc de volta, irmão. Grande abraço.
srn p&a
fala galera !
arthur,só faltou falar que o arrascaeda estava em dia de galinho de quintino !
SRN !
Tomo a liberdade de me intrometer para dizer que o Arrasca estava 90% em dia de galinho! Para os 100% só faltou aquela cobrança de falta ter entrado na gaveta! SRN!
ta liberado fernando !
SRN !
O bagulho é tão doido que vc escreveu, no sábado, um dia antes do jogo contra o Goiás, o seguinte :
” ……. não espero mais por nenhum show de bola. Claro que ganhar dos goiano em casa é obrigação. Mas pode ser de pouquinho com gol feio que vou entender. “.
Vc, eu e os 65 mil no Maracanã não esperávamos tanto, mas agora é continuar acreditando, dando força porque ISTO AQUI É FLAMENGO !!!!!!
Quando deixei o Maraca ontem, pensei que não veria algo igual, pelo menos até o próximo jogo! Mas, eis que o genial Muhlenberg brinda a Nação com texto tão Flamengo quanto o Flamengo que voltou a ser Flamengo! De arrepiar: Flamengo, Flamengo e Muhlenberg, que nunca deixa de ser Muhlenberg! Aliás, para ser justo: RP&A, que nunca deixa de ser RP&A! SRN!
Cinco linhas.
Suficientes para um comentário perfeito.
Gostei da parte que diz que não se trata simplesmente de ganhar ou perder, e que não seremos imbatíveis.
É exatamente isso.
O Barcelona não ganha tudo, muito pelo contrário. A final da Champions esse ano foi Ajax x Tottenham. Porém, eu duvido que, podendo escolher, qualquer pessoa em sã consciência preferirá ver o Tottenham jogar ao Barcelona.
É aí que reside a verdadeira grandeza. É com encantamento que os times viram lendas, não apenas com vitórias. Vide nossa seleção de 82. Nunca a de 94 será maior, mais importante, ou terá mais lugar na memória afetiva de quem viu ou no imaginário de quem não viu a de 82.
Nós acostumamos à mediocridade de Joéis, pofexôres, Muricys, Abéis, Zés Ricardo, e esquecemos que, pra ganhar, antes de qualquer coisa é necessário querer ganhar. Vários dos supracitados aí jogavam para empatar e consideravam normal perder.
Que tenhamos maturidade para entender, por exemplo, que Rodrigo Caio e Léo Duarte nunca – repito NUNCA – jogaram com sua linha de defesa tão alta e vão errar, como errou ontem o RC. Repare que ele achava que estava perto da área, quando viu que estava quase no meio-campo e não dava pra recuar a bola, hesitou e errou. Por sua vez, Diego Alves tava plantadão lá embaixo da trave. Não pode, vai ter que ser líbero, jogar adiantado.
E perderemos jogos jogando assim, com zagueiro falhando, tomando bolas nas costas. E daí? Não perdíamos antes também, jogando covardemente retrancado igual time pequeno?
A coragem de partir pro jogo aberto, de trocação, contra nosso algoz paranaense na estreia e a escalação de ontem, sem Cuellar e sem os laterais que teoricamente são melhores defensores, e já indicava a sede ofensiva que um time superior tem sempre que ter em jogos contra times menores dentro de sua casa, são sinais claros de que muitas goleadas a nosso favor ainda virão. E com elas, muitos riscos defensivos.
Que bom. Isso significa que teremos muitos grandes jogos do Mengão.
Enfim.
The Trooper.
do ponto de vista político, muito discordamos.
Quanto ao futebol, até pelo contrário.
Por isso mesmo, não entendi.
Ajax x Tottenham na final da Champions (Int.)
Leia-se Liverpool. Não muda muito a ideia, embora os times do Klopp também sejam sempre fantásticos.
O que importa é: queremos ver bom futebol, não essa vergonha que se faz nos campos do Brasil, incluindo o Flamengo.
É exatamente isto.
Queremos bom futebol, que tanto amamos.
Quem sabe o bom portuga possa revolucionar a total mediocridade vigente no Brasileirão.
Texto maravilhoso. Arthur seria considerado um homem perfeito, não fosse a opção política. Mas é como dizem, “ninguém é perfeito”.
Abraços.
Voltei aos tempos de menino, morri de rir com o JJ na beira do campo raramente se dando conta de ter ultrapassado a linha da área técnica, me empolguei como nunca e a palavra “milagre” ficou espoucando em flashs luminosos na minha tela mental. Até me dei ao luxo de ir além da cota habitual de uma cerveja e abri a segunda. Voltei bêbado pra casa pensando no Gabriel e na convicção que sempre tive de que mais dia menos dia ele iria confirmar a confiança inabalável no espetacular jogador que ele é.
Quem tem JJ não precisa de Guardiola.
srn p&a
A mensagem do novo treinador é clara: Não há titularidade. A começar pelo setor de meio-campo, a disputa será frenética. Novos contratados e os garotos da base irão disputar em igualdade de condições a possibilidade de iniciar os jogos. A manutenção, pelos novos tempos, vai depender de desempenho e o estudo de jogo do adversário. É o fim da acomodação, dos grupinhos de caciques e das conversinhas de vestiário. Nova mentalidade e obediência.
Apesar dos erros defensivos a serem corrigidos. E não são poucos, a atuação foi impecável. O que a torcida sempre exigiu era a intensividade de jogo. Ontem ela se satisfez. A superioridade física e técnica foi gritante. Parecia que estava vendo o Liverpool ou o Manchester City, tamanha a disposição.
Independente dos fatores, há tempos não se via um desempenho de respeito. Conforme venho observado, o treinador vai mudar parte desse elenco. Incorporar o seu estilo de jogo requer ótimo condicionamento físico e consciência tática. Acho excelente. Barrações hão de vim. Faz parte da evolução de desempenho.
O Clube acima de tudo.
SRN
Maravilha!
Você é espetacular escrevendo !!!
45 do segundo tempo e o Flamengo criou, até os 48, umas 4 ou 5 chances claras de gol.
Não sou nenhum baluarte rubro Negro, mas em toda minha vida eu nunca vi o time jogar assim.
Estou oficialmente iludido!
Como é bom ver o Flamengo ser simplesmente Flamengo, com toda a sua grandeza! Novos tempos virão e nos levarão a atualizar substancialmente a nossa já escassa de espaço Sala de Troféus com taças de porte bem mais interessantes que as atuais réplicas anuais das do carioqueta, atualizações estas que já nos deixam desinteressados por um “campeonato” que já poderia mudar seu nome para “Taça Flamengo”, uma vez que a chance de termos rivais é cada vez mais escassa.
Como jogou bola o Arrascaeta… Será que as Marias ainda acham que nos ludibriaram e levaram uma grana altíssima por um jogador sem graça? Meu Cartola que o diga… Uma pena que as atuações reais do Flamengo sejam, normalmente, inversamente proporcionais à quantidade de bem-vestidos que escalo. Minha confiança estava abalada, mas já percebi que JJ veio para salvar inclusive meu desempenho no fantasy game. Tudo bem que há o imponderável, como o goleiro que tomou 6 no balaio ter pontuado melhor que o nosso DA, a quem lamentavelmente deleguei a minha meta virtual. Mas bola para a frente no Mengão real e na minha não muito promissora tentativa de ser técnico no sofá de casa.
SRNs!
Sensacional
O Liverpool tá fodido !!!
Brilhante! SRN!
Estive in loco, tirando o minervem e umas goleadas em cariocas lá nos anos 90, eu nunca tinha visto aquilo. O flamengo parecia tubarão depois da primeira dentada sobre a caça, mais e mais, e mais…
Genial, como sempre!!