O astral da torcida do Flamengo tá lá no alto. Otimismo aqui é mato. Um otimismo fundamentado, solidamente apoiado em fatos que não dão margem a qualquer interpretação. É jogador e treinador chegando, suculentas especulações no mercado europeu, recordes de renda, de público e de venda de pacotes de figurinhas. Até a conquista da Champions pelo velho freguês de Anfield Road foi vista como um bom augúrio e motivo para cotar passagens e hospedagem no Catar em dezembro. Traga a sua bola de cristal e aquele incenso do Nepal que você comprou no camelô. Só tem maluco, fazer o quê?
O traço pitoresco desse espirito positivo que hoje grassa entre os rubro-negros é que há apenas duas semanas uma grande parte desses rubro-negros sorridentes estava enfurecido, pichando muros, exigindo cabeças como jacobinos no Terror e jogando suas toalhas nas redes sociais como se o ano já estivesse irremediavelmente perdido. Não tem nada de esquisito em nossa bipolaridade, o Flamengo é assim mesmo desde 1895. O rubro-negro só conhece dois estados mentais, a Crise e o Oba-Oba. É justamente a alternância entre esses dois estados antagônicos que produz o gás que nos leva pra frente.
A saída do Abel, por mais tardia que possa ter sido, provocou artificialmente uma sensação de começo de temporada com esperanças renovadas e um certo encantamento de lua de mel por tudo que se faz na Gávea e no Ninho do Urubu. Esperança e encantamento foram duas ondas que a marcha dos acontecimentos não nos permitiu curtir em janeiro, mês que atravessamos enlutados. E fevereiro, março, abril e maio foi amor e ódio e o tempo todo. É melhor ser alegre que ser triste e não tem nada a ver ficar cortando a onda de quem tá feliz. Só que a gente sabe que todas as coisas, até as boas, até as ótimas, têm seus prós e seus contras.
Técnico novo é muito bom, mas vai demorar uma etapa até que o trabalho dele apareça e mais um tempo para que comece a dar resultados. A experiência também nos permite prever que Jorge Jesus vai ser barbaramente cornetado. Não só pela torcida, que estará apenas cumprindo seu dever cívico de exigir o melhor. Mas, principalmente, pelo establishment boleiro, formado por técnicos, jornalistas, ex-jogadores e pela-sacos em geral. Uma guilda muito unida e xenófoba, que reage sempre sindicalmente quando alguém de fora está numa bocada cobiçada por seus integrantes.
A pressão vai ser enorme, mas é o jogo jogado e vai depender só dele, Jesus, se salvar do apedrejamento. Como? Ganhando os jogos nos mata-matas da Copa do Brasil e da Libertadores e não deixando a peteca cair no lenga-lenga do Brasileiro. E, seguindo mesma advertência feita ao Rueda em 2017, não dando importância para o que é dito nos jornais, rádios e TVs. Futebol no Brasil é tema religioso e todos exercem enfaticamente seu direito à liberdade de credo. Jesus, não dê ouvidos a ninguém, eles não sabem o que dizem. Os melhores conselheiros são as vozes na sua cabeça.
A janela europeia nos permitiu trazer Rafinha pra fazer a lateral, excelente contratação para uma posição onde somos notoriamente fracos. Mas a janela abre pros dois lados e nas últimas duas vezes que essa miserável abriu Vinicius Junior e Paquetá saíram voando. Nosso elenco tem alguns elementos que podem ser alvo de investidas das malas de dinheiros exóticos, torcer para o Flamengo comprar gente não é suficiente. É preciso torcer para que o Flamengo também não venda os seus nessa janela. Por mais improvável que seja a possibilidade de que isso não venha a acontecer. Torcer pra um Flamengo que tem elenco, e estávamos meio desacostumados com essa condição, é também praticar o desapego.
Para quem já ganhou o Carioca e a Copa Mickey o céu é o limite. Para qualquer rubro-negro normal é impossível olhar pra esse copo pela metade e não afirmar categoricamente que ele está quase cheio. Nós somos assim mesmo, e é meio tarde pra mudar agora, melhor nem tentar. A administração de expectativas é um hobby individual, que não se pratica coletivamente. Nosso discurso externo sempre será bombástico e desenvolvimentista, inclusive é o que esperam de nós. Não devemos ter medo de cumprir o nosso papel na sociedade.
A conquista do Hexa em 2009, nosso mais recente annus mirabilis, nos ensinou que se o Oba-Oba não pode ser erradicado ele pode muito bem ser controlado. Que é possível ser grandiloquente, hiperbólico, abusado e vencedor ficando no sapatinho. Não foi fácil, mas a Magnética soube como fazer e o time também aprendeu. Aquele grau de empolgação consciente e mentalmente robusta que a torcida só conseguiu atingir lá pelo meio do returno do Brasileiro de 2009 hoje já está instalado. É uma arma muito poderosa. Só falta os jogadores calçarem o sapatinho e se aproveitarem dela. Pra encerrar esse blá fora de hora, Zeca e Mestre Wilson Moreira.
Quem de paz se alimenta
Se contenta com migalhas
Não se aflige
E corrige
As próprias falhas
Mengão Sempre
Caceta, acabei de ver o Flaflu, estou morrendo de vergonha, não por mim que em se tratando desse time, se eu tivesse vergonha na cara mesmo escolheria um outra lá onde o Judas perdeu as botas, pra torcer, já que o nosso Jesus está chegando e até assistiu o jogo é por ele mesmo que eu estou coberto de vergonha, levamos mais um baile das trêfegas tricoletes, Jesus, o nosso deve estar es-tu-pe-fa-to, é esse o time que vocês chamam de só ter jogadores de nível de seleção? Se não explicaram direito que a cor do time que ele vai dirigir é aquela rubro-negra inconfundível, ele deveria estar pensando que o Flamengo era o outro, as saltitantes moçoilas tricoletes que como diáfanas bailarinas estavam botando os marmanjões rubro-negros pra dançar.
É um pedido sincero: Não chame de “Copa Mickey”, é a Florida Cup. Foi esta mesma Copa, a mesmíssima, que já destruiu todo o ano do São Paulo por perdê-la. Talvez para eles tenha sido a “Copa Maga Patalógica”. Ao chegarem em casa, caíram para Talleres, “sem garfo e faca, e usando só colher”, e se perderam no mundo; Libertadores, Adeus! Para eles, a Copa “Mickey”, que para nós foi “Flórida” de boa, poderia, também ser entendida como a Copa do Apocalipse. Talvez ela, realmente, não salve, mas destrói. Quanto ao resto da crônica, e a visão invertida dos fatos por quem NÃO é Flamengo, é irretocável.
Brigitte Fechada com o Certo
Como o basquete rubro-negro, Orgulho da Nação, foi decisivo para trazer para a torcida rubro-negra uma das mais icônicas sacerdotisas de Onan nos anos 50 e 60, Brigitte Bardot.
https://www.mundorubronegro.com/flamengo/brigitte-fechada-com-o-certo
maravilhosa histórica história.
Esta foto que ilustra a crônica é da Brigitte? Me pareceu ser Jane Fonda, em “Barbarella”. O que define esta sugestão, e “entrega o fato”, (já que o rosto parece estar trazendo confusão) é a pulseira no braço esquerdo da deliciosa atriz. Este adereço está em centenas de takes de Jane, transformados em fotos, no filme Barbarella.
Com certeza a foto é de Jane Fonda, no filme Barbarella.
E VIVA O ORGULHO DA NAÇÃO. VITÓRIA DE PONTA A PONTA. CALOU O PEDROCÃO. TIMAÇO, AÇO, AÇO!
srn p &a
Arthur é sempre a mesma coisa: transforma qualquer assunto flamengo em prosa que leio devagar pra demorar a chegar no ponto final.
Em homenagem ao Tom Robbins, o Arthur Muhlenberg americano, vá escrever bem lá em Iquitos ou no deserto da Síria.
srn p&a
Liverpool campeão da Champions, ano terminado em 9 ( como destacou o Ricardo anteriormente, deixando de fora ainda o tri em 1979 e o fim do jejum de 12 anos em 1939)…bons augúrios, Arthur!
Valeu, Arthurzão!
Sabadão de descanso do trabalhador aqui e eu iniciando os trabalhos com uma “Cacildis” bem gelada e uma leitura geral no noticiário (só tem tragédia, parceiro!) até topar com sua crônica. Que bálsamo! Leveza, bom humor e otimismo em doses homeopáticas. Não vou comentar mais porque o copo tá vazio e vou pegar mais uma gelada…
Abs e SRN
Este sim, um excelente artigo.
O otimismo jamais será proibido, mas sempre é bom não se esquecer do sapatinho, que nos deu o título quase impossível do ^annus
hexam^ (se não for assim, não faz mal, todos entenderam).
Não acredito em apedrejamento, embora, se bobear, Jesus desta vez não ressuscitará.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
Sem o menor traço de superstição, 1999 Copa Mercosul, 2009 Brasileiro, 2019…
Sempre com o Parmera favorito.
Sei não…isso é lá com São Judas
Eu até que queria ter esse entusiasmo juvenil de acreditar que tudo está divino e maravilhoso, mas como sou apenas um rapaz latino americano, a ilusão se desfaz ao apito do árbitro no início de cada partida.
Acredito que somente há três titulares no elenco. Rodrigo Caio, Cuellar e William Arão. Este último por não haver jogador reserva que possua talento para o substituir. São meros jogadores defensivos, sem nenhum capricho de criação, verticalidade ou faro de gol. O criticado jogador, de momento, segue na titularidade.
Isto demonstra que os demais jogadores dp elenco são medianos. Alternam bons e maus jogos. Não há regularidade, sendo, portanto, substituíveis.
De minha parte, não vejo nada de excepcional no desempenho do time. Ao contrário, está muito aquém das expectativas.
Espero que o novo comandante consiga realmente colocar em prática todo o montante financeiro disponibilizado para esse intento. Que consiga projetar uma superioridade de desempenho e de conquistas em campo. De momento, impressiona apenas os valores investidos.
SRN
Na verdade tem uma diferença importante entre as situações de Rueda e Jorge Jesus:
Zé Ricardo, por razões que a ciência ainda estuda, tinha uma seita raivosa de viúvas. Aquelas viúvas vaiavam até o Cuellar ao primeiro passe errado, mesmo que estivesse tendo uma atuação impecável, e pediam a volta do Márcio Araújo, “o cara” de Zé Ricardo.
Rueda tomou porrada de lado de parte da torcida enquanto alçava Vinicius Jr., Paquetá, Cuellar e Juan ao status de titulares no time, nos lugares de Everton, Gabriel, Márcio Araújo e Vaz e levava um time que assumiu totalmente bagunçado às finais da Copa do Brasil e da Sul-americana. Vai entender…
Dessa vez, parece que não há tantas viúvas do ex-treinador. Abel conseguiu angariar a antipatia até de quem gostava dele e defendeu sua vinda. E, pelo que se lê, Jesus é tido como um salvador, sem duplo sentido. Acho que disporá de mais paciência da torcida do que o Rueda.
Palmas de pé.
Observações perfeitas, tanto no tocante ao Zé Ricardo, como ao Rueda e ao Abel, desaguando, consequentemente, nas perspectivas relativas ao Jesus.
Parabéns
SRN
FLAMENGO SEMPRE