Se o oitentão mais falado da semana é o rei do futebol mundial, por que Pelé não é nosso deus negro, o santo rei de todos os brasileiros? Talvez seja a irreverência natural do nosso povo. Talvez o fato de ninguém acreditar em um deus que faz embaixadinhas.
Ou ainda, o fato de Pelé e o Brasil viverem um caso de amor atribulado – com juras, desconfianças, declarações de irritar e o principal: os presentes, alguns em formato de taças folheadas a ouro, na hora das pazes. Edson Arantes do Nascimento, o maridão do Brasil.
Longe de mim querer falar pelo Brasil, mas admito que também curto uma relação ziguezagueante com Pelé. Com lições apaixonantes e um lamento que não passa.
A primeira aula que tive com o Zico negro foi por intermédio de Luis Fernando Verissimo, que considerava o Rei do Futebol um mestre para qualquer bom escritor. Em crônica de “O Globo”, edição de outubro de 2002 (“Professor Pelé”), Verissimo rolou a bola:
“O sentido de tudo que o Pelé escrevia com a bola no campo era o gol. O drible espetacular era apenas circunstancialmente, com perdão do longo advérbio, espetacular, porque ele existia em função do objetivo final. A lição para escritores é: defina o seu gol e tente chegar lá como o Pelé chegaria, com poucos mas definitivos toques, sem nunca deixar que os meios o desviem do fim. E se, no caminho para o gol, você fizer alguma coisa espetacular, esforce-se para dar a impressão de que foi apenas por obrigação.”
Ouro puro, né? Mas o craque ensinou mais. Em “Pelé, a autobiografia” (Editora Sextante, 2007), o artilheiro dos mil gols contou saborosa história, do dia em que quase largou tudo. É minha narrativa predileta do Rei.
Num jogo entre o Santos e o Jabaquara, no sub-16, o jovem artilheiro chutou um pênalti por cima do travessão, e o time deixou escapar o caneco. Pelé conta que ficou transtornado, e passou a noite a chorar. De manhã, perto de 6h30, acordou e quis deixar o alojamento do Santos onde morava. Malas prontas e ar decidido, foi barrado pelo funcionário Sabuzinho. “Quando ele entendeu o que eu faria, Sabuzinho me deu uma importante lição de moral”, narra o camisa 10. “Todo mundo comete erros de vez em quando, ele disse; o segredo é aprender com eles, não desistir por eles.”
E, como não poderia deixar de ser, chegou o dia em que nos encontramos frente a frente, na Marina da Glória. Tremenda festa, pré-estreia de um festival de cinema ao ar livre, e ainda por cima véspera de Copa do Mundo, amigo. Seria uma singela quarta-feira de maio de 2014, mas Pelé estava na área.
Anunciado pela organização, o ídolo saiu do camarim e foi saudar a plateia, já toda empoleirada nas poltronas, diante da telona de 15 metrões de altura. Um Zé do Marketing ordenou que nos preparássemos, pois Pelé lançaria umas sete ou oito bolas autografadas para alguns sortudos. A poltrona estava confortável, o papinho olhos nos olhos estava delícia, e o Pelé, convenhamos, estava muito lá embaixo. O velho campeão saudou-nos pelo microfone, lascou uma de suas tiradas e um canhão começou a disparar bolas para todos os lados.
Quando o Zé do Marketing apontou o canhão para mim, só deu tempo de ficar lívido. Fosse eu um Atleta do Século, ou pelo menos do mês, bem poderia acionar abdome, pernas e tronco, e talvez jogar longe o cara da frente. Nem seria preciso, pois ali vinha a bichinha, certinha para onde a coruja aqui dormia, a letra P do autógrafo cada vez mais redondinha e visível no couro branco. Na falta de meus braços ali, parou macia nas mãos de um patife por perto, que a envolveu com carinho.
Nem consegui prestar atenção no filme, a têmpora queimando pela oportunidade perdida. Ficou a maior das lições, óbvia e secular: se um Rei aparecer, o plebeu bocó que demonstre respeito, e fique de pé.
Mestre, anote em seu caderninho: Rogêrio Ceni vai fazer as malas mais cedo do que se pensa…e… pasme, seu substituto ser… tchan…tchan…tchan…: Felipe Luiz…( deixe anotado).
O final é supimpa. O Veríssimo ainda não tinha explicado para ele que o gol é o objetivo. E o gol ali, irmão, era pegar a bola autografada. Todo o resto poderia se repetir noutras 1001 noites.
Esmagamos aqueles coloridos metidos a uruguaios.
me lembrou uma história que tive com o rei …
em 1987 fui numa festa que seria o encerramento das filmagens do filme, solidão uma linda história de amor.
lá estavão vários artistas que tiveram participação no filme,tarcisio meira,maite proença…etc
mas mesmo com todos esses talentos o filme foi um verdadeiro fiasco.
o que foi parecido com o seu texto,foi que na hora que o pelé sentou numa mesa,eu logo sentei ao seu lado e não sai mais dali e ai pude tirar uma foto com ele e nãp perdi a oportunidade como foi o seu caso com a bola sorteada.
boa sorte na próxima e pararabéns pelo texto.
SRN !
PELÉ TBM PARTICIPOU DO FILME
estavam *
Filipe Luís é um excelente apoiador e um marcador mediano que não tem mais oxigênio para correr todo o campo atrás de ponteiro velocista durante 90 minutos.
Ramom tem fôlego para isso.. Então, a lógica é Ramom na lateral e Filipe Luis como meia armador, alternando com Arrascaeta.
Domenec gosta de testar múltiplas combinações, está faltando esta.
Excelente