O radialista Washington Rodrigues certa vez definiu, com lugar de fala: “Ser técnico do Flamengo é um emprego mais complicado do que o de anjo da guarda da família Kennedy.”
Gosto da síntese do velho Apolo: enquanto a maioria dos clubes contrata treinadores, estamos sempre atrás de um santo protetor – um misto de guarda-costas e divindade, de preferência com um bom par de asas para sair voado no primeiro fiasco.
De fato, Domenec Torrent não convence muito no papel de anjo da guarda, haja visto o arriscadíssimo desfile de carro aberto que o Flamengo fez em Quito, exposto aos franco-atiradores do Independiente del Valle. Nos 5 a 0 que tomamos, nossa pior goleada na história da Libertadores, conseguimos levar gols dos dois laterais equatorianos. Ou seja, balaço de todos os lados, em 11 chutes a gol dos caras contra dois nossos.
De anjo a excomungado, praticamente carimbado de professor Pardal, o catalão apressou-se em pedir perdão. “É uma derrota muito dolorida, mas são três pontos. Temos que pedir desculpas aos torcedores. Eles marcaram dois, três golaços”, alegou, na coletiva.
“Jogamos mais ordenados no primeiro tempo, por isso só marcaram um gol. Tivemos algumas chances nos contra-ataques. Na segunda parte tentamos marcar mais em cima, mas eles jogam muito bem quando têm espaços. No primeiro tempo não tivemos problemas para defender, e tivemos chances de contra-atacar. Estava equilibrado. No segundo foi tudo diferente”, procurou justificar.
E o que mudou de fato do primeiro para o segundo? Em especial, além da transmutação dos atletas em múmias paralíticas, houve as substituições. Saíram os pensantes Diego, Everton Ribeiro e Arrascaeta, e em seus lugares os avantes Bruno Henrique, Michael e Pedro. O resultado? Em vez do consagrado “toco y me voy”, o Flamengo inaugurou o novíssimo esquema “cortou y fudeu”. E assim as bolas foram entrando – aos 3, 12, 35 e 46 do segundo tempo.
Dome foi corajoso? Louco? Descuidado? Uma besta quadrada, e ainda alada? Foi quanto então percebi: Domenec foi flamengo na essência. Ainda que viva há tão poucos dias no Ninho do Urubu.
O risco parecia controlado, até que o 3 a 0 se materializou no placar, fulminante. O que faria qualquer velha raposa dos gramados? Trocava um centroavante, mexia ali nas laterais. Dome foi para cima. Contra todas as probabilidades, tentou ser herói.
Num estádio conhecido pelo majestoso nome de Casablanca, nosso técnico também buscou ser cinematográfico, histórico. Mas não ao estilo de um Humphrey Bogart, e sim de outro mocinho americano: John McLane.
Sim, McLane, aquele estropiado policial vivido por Bruce Willis que, sozinho, partia para dentro de 37 terroristas, fora o fogo amigo de comissários ineptos e jornalistas arrogantes à caça de audiência. No meio do fuzuê, ao espectador restava uma única e divertida pergunta: “Rapaz, como ele vai sair dessa agora?” E ele dava um jeito, para alegria da multidão.
Estou falando de McLane (ou você já se perdeu? Volta e relê, sequelado), mas eu poderia estar falando do Flamengo. É precisamente aquele poder de sair de uma boa encrenca que faz do policial de Bruce Willis um dos personagens mais durões e queridos do cinema – ele só perdeu, em enquete recente, para o vice Dirty Harry de Clint Eastwood e a grande campeã, a subtenente Ellen Ripley de “Alien”.
Um poder que, desde 1895, é a maior e mais palpável qualidade do Flamengo, desde a primeira regata, desde o primeiro rombo no casco. “Como ele vai sair dessa agora?”, provavelmente disse em voz alta, mascando um charuto, aquele esnobe cartola tricolor – horas antes de saber que Alberto Borgerth e seus amigos vestiriam rubro-negro. Como McLane, os ídolos flamengos sempre pensaram rápido, e de modo certeiro.
Dome, ao se ver derrotado nas alturas de Quito, podia ter se encolhido, podia se enfurnar no porão do aeroporto de Dulles ou ficar quietinho no 21º andar do Nakatomi Plaza às escuras, esperando o FBI ou o milagre, mas optou por arriscar o pescoço. Havia alguma probabilidade de os laterais acharem Pedro e diminuirmos o vexame? Agora percebemos que não, mas Domenec McLane pensou diferente. Pensou no empate, ou na alegria da Nação.
O que resta agora ao nosso treinador? A derrota veio em hora permitida – apesar do placar inaceitável. O mocinho está de camisetinha rasgada, o rosto todo cortado, mancando, e ainda por cima próximo do divórcio. Os falsos milicos corruptos já estão no boeing, rindo à toa. Dome conta apenas com três balas em sua Beretta, um velho isqueiro e seu cérebro. A chamada, naquela voz sensacional de locutor de trailer, resume: “A última coisa que ele quer é ser um herói, mas ele não tem escolha”.
(Minha sequência predileta, só para quem chegou até aqui: 43 minutos do “Duro de matar 2”: após acabar com três facínoras e resgatar um figura que é a cara do velho tricolor Assis, o tira tenta inutilmente salvar um 747 lotado, que explode na pista. Todos ficam chocados, em silêncio. O único homem a se debulhar em lágrimas pelos mortos é o sensível e emotivo McLane – antes de catar uma bonequinha destroçada no chão.)
Eu sei, a Libertadores não é filme, Dome não entendeu. Há bombas para todos os lados – inclusive as não metafóricas. O relógio tiquetaqueia apressado. Os inimigos se assanham e se descuidam. Mas, se porventura vez o Flamengo sair dessa mais uma vez, rapaz…
Por via das dúvidas, estoquem a pipoca.
Tô contigo Dunlop, pipoca pronta!
Bora com Dome mesmo, pq “vestiu rubro-negro, não tem pra ninguém”
Alarmante. Diz a notícia: ” o Flamengo terá onze desfalques”. Eu diria doze.
Dome joga espaçado demais e suas mexidas desfiguram o time na maioria das vezes.
Parece não ter o comando do time.
Ao menor tropeço essa derrota o assombrará.
Não terá paz.
Mas a pergunta que fazemos é: trazer quem? Porque o suposto novo treinador também precisará de um periodo de adaptação.
E a torcida não terá a menor paciência.
Gallardo deveria ter sido a 1a opcao. Depois esse cara do Del Valle. Aposto que ambos estariam disponíveis na época, pandemia rolando, campeonatos parados… mas nem sequer consideraram os 2, viajaram pra Europa sem antes mesmo sondar por aqui. Agora vendo o tamanho do nabo restam poucos que topariam, mas Sampaoli com ctz é um deles, desde q a multa não seja proibitiva (alguem falou US$ 2.5 Mi, que seria razoavel). Estavamos em outro patamar ano passado, mas estao deixando ir td por agua abaixo e so trazer tecnico Europeu caro nao vai resolver, entao se demorar mto a trocar vai chegar a hora q vamos ter q engolir quietinhos caras como Dorival, Tiago Nunes, Dunga, Carille, Felipão pra pelo menos nao jogar o ano fora, isto é: ficar fora da Libertadores 2021.
Eu sei que vão cair de pau em cima de mim, mas o Flamengo atual me lembra muito o Flamengo final de Abel Braga, com vantagem para o Abel, pois ele deixou o time classificado para as oitavas da Libertadores ( ele andou até cobrando um naco pelo feito, nem sei no que é que deu), o indefectível Carioca e…a taça Mickey ( pasmem, os senhores ouvinte, e em cima do Ajax, se eu não me engano), além do que o time certamente não havia sofrido tantos gols. Eu pude captar dentro do castiço javanês que o nosso catalão tão bem se exercita que só perdemos três pontos, pura verdade, seja ele perdido por hum( coloco o aga, como nas promissórias antigas, pois hoje é domingo e nublado ainda por cima, haja nostalgia) ou mil a zero. Verdade cristalina. Absoluta. E vou mais,no frigir dos números o Flamengo está de bom a ótimo, vejamos: a quatro pontos do líder, a galinha mineira venceu ontem, vice na nossa chave e com sobras para se classificar, o que estraga é essa porra de futebol que vem jogando ( ou não jogando). Portanto, essa comparação que se faz é com o próprio Flamengo, quer dizer, o do ano passado, com os outros estamos bem na fita. E ainda tem mais, a nossa derrota por 5 a 0 foi para um seilaquem que já vencêramos por três a zero, com um a menos, se é que expulsão de Arão conta e valeu taça, se eu não me engano ganhamos mais um caneco ali. É o caso de se perguntar a trêfega rapaziada equatoriana que está comemorando ( ou até para apagar o vexame) até hoje a goleada, o que é que vale mais ganhar de 5 e só ganhar três pontos ou perder de 3 com vantagem numérica e ainda perder taça?
(Não reparem meu ataque de Dr. Pangloss, pois hoje é domingo)
Meu caro Xisto, personagem que saiu de um mundo imaginário para outro.
Agradeço sempre a alegria que me traz, permitindo que, abraçando o otimismo, retorne à juventude.
Aproveitando a reclusão forçada da pandemia, pude assistir um verdadeiro ^vale a pena ver de novo^, que, via Mazzaroppi (por incrível que possa parecer), trouxe-nos o famoso Professor, agora PANcrácio.
De otimismo, nós todos, os flamenguistas, estamos necessitados no momento, pior ainda, quando vivíamos o melhor dos mundos.
Agradecidas SRN
FLAMENGO SEMPRE
Ih cara também me amarro no Mclane, tenho todos nos meus arquivos de vídeo e de tempos em tempos revejo nunca me canso mó barato. Agora, o dome (minúscula revisor) não tem a menor cara de herói, tá mais pra filme dos trapalhões. Vá si fudê seu catalão de mierda
Bacana o texto, quem sabe sua profecia se concretiza, afinal nessa vida quase tudo é possível. Mas nenhuma hora é permitida pro Flamengo tomar de 5. Se esse Domenec queria bancar o herói, botasse a cueca por cima da calça e voasse pra casa da caralho.
Ótima analogia, Dunlop!
O que me acalmou mais nessas duas últimas derrotas foi a constatação disso: perdemos enquanto podemos perder, tanto no Brasileiro quanto na Libertadores. Agora, como cantava O Rappa lá em 1999, “tem chegar no sapatinho e não ficar de bobeira”, pois ou voltamos a “Vencer, vencer, vencer…”, ou 2020 será ainda mais trágico do que já tem sido.
Dunlop, acredito que o Flamengo atingiu o fundo de poço, embora torça para estar errado, acho que dificilmente sairá enquanto esse Dome for nosso técnico. Falta-lhe tudo, principalmente essa palavra mágica, “carisma” que, segundo o Aurélio, é ” força ou dom conferido por graça divina” , por extensão, qualquer qualidade, indefinida que seja, que leva um indivíduo ao sucesso e à liderança. Muitos medíocres são assim dotados e por isso causa espanto atingirem seus píncaros. JJ tinha de sobra. Já que você fez uma comparação metafórica com esses heróis modernos da violência me permito a fazer uma literária. O Dome com toda essa dificuldade de transmitir suas ideias ao elenco( tudo indica que até agora não só os jogadores, mas ninguém entendeu porra nenhuma dessas suas mirabolantes ideias). Será mesmo que são as do Guardiola?Dome é um daqueles técnicos que falam javanês. A obra-prima do conto do genial (e injustiçado) escritor Lima Barreto: ” O homem que falava javanês” retrata muito bem esse nosso personagem. Qualquer semelhança com o conto, não será mera conicidência.
O DUnlop me pegou.
Fui um fã extraordinário de cinema, Não perdia um Festival, comuns e criativos na minha mocidade (1957 do cinema americano, depois do fancês).
Pertenci a todos os cineclubes possíveis.
Eis que, depois de uma transformação completa da arte, PAREI.
Não tolero, simplesmente NÃO TOLERO os filmes atuais, propagandistas do absurdo e da violência.
Portanto, não sei quem é o Mac Lane.
Pior. Nem quero saber. Passo longe.
Do jogo em si, já escrevi lá no ARthur e não me arrependo.
Uma extraordinária exebição do Independiente del Valle, extremamente moderno e estupendamente comandado pelo espanhos Miguel Angelo Ramirez.
Ficamos todos chocados com a goleada.
Tal como Renato e seus Blue Caps devem ter ficado no ano passado.
Disto eu gosto. Que vença o melhor.
Ficando tranquilas SRN
FLAMENGO SEMPRE
PS – e o Bayenr, hein. 8 x 0 logo na primeira rodada e a vítima foi um time de porte médio, o Schalke 04. Gostaram do número OITO, pelo visto.
Enquanto isto o Mister voltou no Português. ^Vingou-nos^. Meteu 5 x 1 no pequeno Famalicão.
KKKKkkkk, muito bom !
Mas acho que o Dome é aquele alemao (o chefe) que esta caindo de costas do prédio e a gente ve sua cara de tacho.
SRN