A Nação está de luto. E nem é por causa da pilha de vítimas da Covid-19 ter ultrapassado a ultrajante marca de 100 mil brasileiros. A tragédia é que o Flamengo, logo na primeira rodada, foi obrigado a abandonar o sonho de conquistar o Brasileiro invicto, façanha que vem buscando há 50 anos. Fica pro ano que vem, galera. Se tiver Brasileiro no ano que vem, claro. Esse ano o corona vírus já adiou uns jogos e desmarcou uns outros, avacalhando logo de saída um campeonato tão bem planejadinho.

E devemos reconhecer que em 2020 a CBF foi pega de surpresa. Se ela soubesse que o país estava lidando com uma pandemia mortal para a qual ainda não há vacina e a única proteção conhecida é o isolamento social, diante dos alarmantes números de vítimas provavelmente esperaria uma época menos insalubre para iniciar a competição. Mas deixa isso aí pra lá, vamos tocar a vida e se safar desse problema falando só do que rolou no horroroso gramado do Maracanã na tarde de domingo de Dia dos Pais.

O Flamengo entrou em campo inteirinho, todos os campeões da América, menos o vendido Marí, estavam lá pra prestigiar a estreia do professor Domènec. Evidentemente que o país inteiro esperava por uma galinha ao molho pardo, mas não rolou. As mais de três semanas de inatividade competitiva cobraram seu tributo dos fuderosos popstars rubro-negros. A rapaziada estava toda meio mole, com reflexos lentos e de prega presa. Logo na primeira chance de gol o Bruno Henrique, que em condições normais não costuma dar esses moles, fomeou e não cruzou pro Gabigol livre na pequena área uma bola que acabou parando no pau. Daí pra frente foi só desgraça.

O Flamengo nem ligou pro gol perdido, continuou criando chances. Mas o pé da moçada bem vestida tava todo errado. Se o Flamengo não estivesse doente do pé o primeiro tempo tinha acabado uns 5 ou 6 a zero, sem clubismo. Porque os mineiros, francamente, foi só bicuda pra frente pra afastar o perigo. Tanto que até o gol deles o Filipe Luiz é que teve que fazer. Rico é assim mesmo, filantropo, quando fazem aniversário gostam de dar presentes aos pobres. Ainda bem que não era Dia das Mães, né, Filipe?

O pior nem foi o gol contra, pior foi a convivência forçada dos nossos bons rapazes com esse jogo feio do Sampaoli, que acabou os influenciando negativamente. No N.A. o primeiro alô que eles dão é pra parar de andar com os vida loka. E metem logo um Rosseau no meio dos peito do adicto: “O homem é produto do meio”. Em pouco tempo o Flamengo tava macaqueando os monotítulos e Diego Alves rifando bolas em direção ao nada sem qualquer traço de método ou organização. O domínio do Flamengo, que se estendeu pelos dois tempos, foi sempre estéril e não se materializou em gols.

Pra não dizer que fui 100% parcial reconheço um mérito nos mineiros, cuidaram de ter sempre dois maluquinhos dando pau no Gerson, que enquanto esteve em campo apanhou mais do que durante todas as partidas que jogou em 2020. Com Gerson marcadão, Arrascaeta de chico e Everton Ribeiro na muda, não rolou muita inteligência no meio de campo do Flamengo. O Domènec foi tirando os menos efetivos pra ver se arrumava logo o empate, mas Pedro, Vitinho e Michael também não estavam em um domingo muito inspirado. Acabamos o jogo parecendo time do Aterro, cinco atacantes e zero bola no barbante.

Ao fim do jogo rolou um estranhamento na torcida, bastante desacostumada ao protocolo pós-jogos das derrotas. Geral sabia que apesar do seu valor de face ser de três pontos, o jogo de estreia tinha pouco significado e que mandar o quase sempre funcional Fora, Domènec! não faria nenhum sentido. Tirando uns mais surtados que improvisaram um Volta, Didico! em sotto voce ficou todo mundo calado, mas meio bolado com uma inédita incapacidade de ficar puto por causa de derrota.

Essa fleugma nada rubro-negra é mais uma prova de que os ensinamentos de Jesus foram assimilados pela torcida, até modificando algo em seu ethos. Mas não se aflija, isso rolou porque tava todo mundo separado, na hora que os mulambo aglomerar a idade mental coletiva se equipara ali pelos 5, 6 anos de idade e volta tudo ao normal. Mas hoje, separadinhos, rubro-negros desfrutam de uma paz de espírito que não pertence a esse reino e a qual jamais estarão acostumados. Como sempre dizem os teólogos mais gente boa, graças a Deus tá tudo certo. A mensagem de Jesus só foi compreendida verdadeiramente depois que ele vazou.

Do jogo mesmo não há mais nada a se falar. Análises de primeira rodada têm vida breve, geralmente nem chegam à segunda rodada, mas uma parada ficou muito clara e não deve se modificar tão cedo. Flamengo sentiu visivelmente a falta do maçarico motivacional do Míster no rabo da rapaziada. Sem aquele psicopata na lateral pulando e esbravejando o tempo todo, apontando erros e dando esporro até nas vitórias, e sem a voz rouca das arquibancadas mulambas pilhadas, o time vai precisar encontrar motivação em fontes alternativas. Vale tudo pra se empolgar, só não valem os respingos da água pestilenta da Z4 batendo na bunda.

Derrotas do Flamengo não tem lado bom, mesmo as que acontecem com o time jogando melhor na folclórica “hora em que se pode perder”. Mas essa derrota em especial serve ao menos para um propósito: gerar alguma desconfiança por parte da imprensa especializada, alimentar alguma esperança nos adversários e dar um chega pra lá no vírus do oba-oba, bichinho do capeta para o qual não existe vacina e cujo contágio independe de interação social. Não seria nada mal pra gente uma Crise na Gávea ligeira, mesmo que a crise seja só caô.

Sem isso já sabemos que não dá pra ser campeão. Não é nada legal ficar vendo notórios arcoiristas vingativos falando toda hora que o Flamengo é favoritaço. O veneno chega a escorrer. Se for possível é melhor não dar motivos. Brasileiro é obrigação só era uma frase engraçadinha quando a gente não tinha muita chance. Agora que a galhofa se tornou verdade ela perdeu totalmente a graça. Nosso discurso externo tem que ser sóbrio, que com um treinador que ainda precisa mostrar seu valor, e sem o apoio da torcida, o Flamengo vai ter que jogar um Brasileiro de superação. Vai que cola?

Mengão Sempre