Depois dessa derrota no Horto tem gente achando que o ano do Flamengo já foi pras picas. A se considerar o desempenho no Brasileiro, 7 pontos conquistados em 15 possíveis com aproveitamento de 46.7 %, não dá pra chamar essa gente de doida. A crença atualmente em voga é que o Flamengo, face ao investimento que fez no elenco, está muito acima de 18 times que disputam o campeonato e um pouquinho acima do Palmeiras, atual detentor do título.

É uma crença tão cor-de-rosa como as primeiras páginas do finado Jornal dos Sports, mas que não se sustenta diante dos fatos. Basta olhar pra tabela para comprovar que os outros 19 times do campeonato ou não foram adequadamente catequizados ou simplesmente não comungam dessa mesma crença nos alegados poderes de germanização do Flamengo.

Que hoje as possibilidades do Flamengo ser tudo aquilo que os seus crentes anseiam estejam circunscritas às imprevisibilidades dos mata-matas da Copa do Brasil e da Libertadores quase ninguém duvida. As duvidas se concentram na capacidade do milionário elenco rubro-negro chegar a algum lugar sob o comando de Abel. Que mesmo do alto do seu currículo e de suas conquistas pregressas simplesmente não consegue fazer o Flamengo render o que dele se espera.

O jogo contra os mineiros foi uma demonstração eloquente de que nem tudo na vida se resolve com dinheiro e fama. De um lado, tínhamos um treinador interino e quase anônimo e sem estabilidade funcional, extraindo até o ultimo caldinho do seu elenco capenga. E do outro, um treinador medalhão tão blindado como se fosse um funcionário concursado, se atrapalhando para fazer o seu elenco gritantemente superior fazer o mínimo necessário pra vencer um time com um jogador a menos.

Se atrapalhando e não conseguindo. Antes do jogo começar era o Flamengo em 7º lugar na tabela jogando na casa de um dos líderes do campeonato. Um empate fora não seria um mau resultado. Depois que o Flamengo ficou com um jogador a mais em campo, até mesmo pelo futebol razoável apresentado no período regulamentar, a vitória era quase uma obrigação. Mas aí Abel se enrolou todo, mexeu jumentamente no time, que não foi capaz de apresentar nenhuma solução criativa para vencer a encouraçada retranca em que o Atlético se fechou.

Quem assistiu ao 1º tempo sem ódio no coração percebeu que não era um jogo difícil pro Flamengo. Era uma tarefa até fácil para quem contava com tamanha superioridade no quesito recursos humanos à disposição. Mas não são as tarefas dificílimas que queimam profissionais superestimados. São exatamente as molezinhas que eles não conseguem dar conta que os desmascaram e acabam levando a boca à falência.

O futebol é um esporte coletivo, da mesma maneira que ninguém ganha jogos sozinho, a culpa por um mau resultado é sempre compartilhada. As digitais de Renê, Rodrigo Caio, Leo Duarte e Diego Alves foram encontradas nos locais dos crimes e eles merecem ajoelhar no milho por permitir ao Flamengo levar dois gols todos trabalhados no vacilo individual. Mas o que salta aos olhos do júri é que depois de cinco longos meses o trabalho do Abel, que consiste em agrupar e extrair o melhor das individualidades do elenco, finalmente apareceu. E que o trabalho é uma merda. Encher o time de atacantes com a instrução de “tem que fazer gol nisso aí” não é estratégia, só mostra desespero e incapacidade.

Justificar a manutenção desse trabalho arrotando conquistas do porte da Flórida Cup ou do Campeonato Carioca como se fossem dignos de reverencia é a face mais triste do esforço que Abel faz para se manter à tona. Um profissional com a sua longa carreira não deveria ter que passar, e compulsoriamente nos fazer passar junto, por tamanho constrangimento. E nisso não se pode culpar o Abel, a luta pela sobrevivência é uma reação atávica e cada um faz o que pode para dibrar o cutelo na hora que a lâmina se aproxima do pescoço. A responsabilidade total por esse desmantelo é da diretoria que o contratou e que o banca a despeito do pouco que ele entregou.

A diretoria, e não vejo como fulanizar e concentrar as críticas sobre apenas uma pessoa, apostou numa forma de enxergar o futebol que se mostra a cada dia mais ultrapassada e tem Abel como seu símbolo. O resultado até agora é um time visivelmente mal treinado que não se mostra capaz de aproveitar toda a potencialidade do elenco. Defeito identificado desde o Carioca, mas encoberto pelas névoas etílicas geradas pela conquista do regional e absolutamente desprezado por quem deveria ser capaz de enxergar além do Sinai ao guiar uma nação do tamanho do Flamengo em seu percurso rumo à terra prometida que emana leite e mel.

Abel vem sendo fritado em fogo baixíssimo desde o primeiro dia no Flamengo. Temo que assim vá continuar até que seja tarde demais. Preparo-me para dias e dias de agonias insuportáveis. Não vejo a menor possibilidade de degolarem o Abel a tempo de aproveitar a providencial parada pra Copa América. A tendência é que arrastem essas correntes até o Flamengo estar fora da CB e da Liberta, lutando, quem sabe, pelo G6 do Brasileiro. Mas eu sou um otimista, o cenário futuro pode ser bem pior.

Claro que o Flamengo precisa de apoio. Principalmente agora na temporada do perrengue, é nesses momentos que a torcida faz diferença. Temos que torcer pra dar certo. Mas se já sabemos que só vai dar certo se o Abel sair é preciso cobrar ações de quem tem o poder de modificar o atual estado das coisas. Vamos ver quanto tempo a diretoria vai levar pra tirar a trave dos olhos, parar de adorar o bezerro de ouro e enxergar o que até os cegos já viram. Se demorarem demais o ano do Flamengo vai pra picas mesmo.

Mengão Sempre