Sempre achei injusto e contraditório que nos 1º de Maio, o Dia Internacional dos Trabalhadores, houvesse quem precisasse trabalhar. As mentes binárias e os praticantes do whataboutism terão que concordar que ou é feriado pra todos ou não é feriado pra ninguém. Na Europa comemoram esse feriado desde o século retrasado, mas aqui no Brasil só começamos em 1917. Aparentemente ainda não tivemos tempo suficiente de entender o conceito de feriado em todas as nuances da sua aplicabilidade.
Muitos brasileiros, principalmente os patrões brasileiros, entendem o trabalho não como um fator de produção, ou como definiram os seguidores do Tio Karl, um elemento definidor da própria dimensão ontológica do homem, mas sim como um castigo do Criador, que impõe ao homem expulso do paraíso a obrigação de ganhar o pão com o suor do próprio rosto.
Penalidade que deve ser supervisionada, remunerada e ter os lucros que produz usufruídos por aqueles que, na maior parte da vezes, a meritocracia, o ius divinum ou a brodagem, designaram como os nossos patrões. Enfim, vocês conhecem essa música, é a doutrina básica do sistema criado para comer carne humana aos pouquinhos durante longos períodos. E há muito tempo há quem defenda essa divisão de tarefas.
A certa altura do Henrique IV, Falstaff, um dos adoráveis malandros vivendo na aba da monarquia muito encontradiços nas peças de Shakespeare, comentava com o Príncipe Hal que “Se todo dia fosse feriado, se divertir seria tão entediante quanto trabalhar”. Uma afirmação bastante discutível mesmo em 1597, ano de estreia da peça. E ainda mais discutível no dia de hoje, quando os grandes prejudicados pelas incompreensões do verdadeiro espírito do 1º de Maio são os laboriosos jogadores do Flamengo, que às 4 da tarde enfrentam o Colorado lá na capital do Uruguay del Norte.
Jogos internacionais sempre são complicados pro Flamengo, em especial naqueles em que o deslocamento do time implica em cruzar as águas do Mampituba, que separam a ex Província Cisplatina de Santa Catarina, nosso estado mais meridional. Quem acompanha as peripécias do Flamengo pelos campeonatos nacionais do mundo já sabe que, salvo quando vamos até lá pra ganhar Campeonatos Brasileiros ou classificações em mata-matas na casa do Grêmio, não costumam ser viagens das mais memoráveis. Desde os anos 60 já jogamos em Puerto Alegre contra o Internacional 36 jogos e em apenas 6 míseras vezes trouxemos de lá uma vitória.
Ganhamos em 1969 pelo Robertão com gols de Dionísio e Bianchini. Em 1971 ganhamos um amistoso safado com gol de Caldeira. 11 anos depois conseguimos um épico 3 x 2 com gols de Zico, Reinaldo e Vítor. Custou mais 17 anos para voltarmos a vencer lá, um 2 x 1 sofrido com gols de Leonardo Inácio e Leandro Piu Piu em 1999. Em 2002, um novo espanto no 3 x 1 com gols de Liédson e Felipe Melo. Mas nada tão espantoso quanto o nosso extraordinário triunfo de 2015, com um gol de Guerrero, que hoje sabemos que gol nem é muito a dele, mas que naquele então julgávamos ser um implacável matador. E é só.
Um retrospecto bastante sofrível. Que não deixa de ser mais um duro adversário a ser enfrentado por esse Flamengo de Schrödinger que está dentro da cabeça de Abel. Quando a caixa é aberta tanto podemos ter um time besta como o que docilmente entregou suas rapaduras, paçocas e cocadas para a LDU na quarta-feira em Quito, como podemos ter o bestial arrebentador de séries invictas e doutrinador definitivo do Maracanã que passou com as 4 rodas por cima do financeiramente enrolado Cruzeiro no sábado à noite. Haverá lugar nesse mundo em que vivemos, em que o trabalho se precariza cada vez mais, para que o nosso Flamengo mestiço e celetista traga das coxilhas mais uma raríssima vitória loira e dolicocéfala arrancada aos Sem Drenagem?
Tudo pode acontecer, inclusive nada. Nosso dever de rubro-negro, mesmo sendo feriado, é esperar o melhor, estar preparado para o pior e não se surpreender com nada entre os dois extremos. Para nós que não nos privaremos do desfrute do feriado o jogo de logo mais pode até ser só diversão, mas pros jogadores, mesmo aqueles sem muita consciência de classe, o jogo é trabalho. E como numa sociedade capitalista o trabalhador não dispõe dos meios de produção para produzir o que necessita para sobreviver, a única mercadoria que o trabalhador tem para vender é a sua força de trabalho. A utilização racional dessa força, bem inalienável do ser humano, é o que pode fazer a diferença no Beira-Rio.
Encerremos com um surrado conselho do amigo Nietzsche, que esperemos ter alguma utilidade para o time e para todos os irmãos rubro-negros que passarão o 1º de Maio ralando: “Não vos aconselho o trabalho, mas a luta. Não vos aconselho a paz, mas a vitória. Seja vossa paz uma vitória!”
Mengão Sempre
O problema não foi perder foi a maneira que perdemos.
“the song remains the same”
Em uma opção passional, como tal criticável, preferi ver a nossa fraquíssima exibição, abandonando o jogo pela Champions League, que seria a escolha óbvia de quem ama APENAS o futebol.
Não vou comentar o que não vi.
Vou escrever a respeito do muito que tive a oportunidade de apreciar.
Não tenho a MENOR dúvida.
Sempre afirmei que Pelé, cuja carreira pude acompanhar na íntegra, em razão da minha idade, foi incomparável.
Nos dias de hoje, também tenho condições de afirmar.
Depois dele, DESTACADAMENTE, há um nome.
M E S S I
O craque argentino, que poderia dizer catalão, é, nos nossos dias, igualmente INCOMPARÁVEL.
Não há parâmetros.
Uma superioridade gritante e absurda.
Vi PELÉ, inúmeras vezes, mais ao vivo, pois o Maracanã era a casa do Santos, que na TV.
MESSI, apenas pela TV.
Mesmo assim, agradeço o privilégio.
Dois jogadores que justificam ser o futebol a grande paixão que é em todo o mundo.
O Aureo deu a dica dos nossos tempos.
Há que se distinguir entre saber e sabedoria.
O saber está devidamente enlatado nas internets da vida, mas sempre resta a sabedoria.
Combatê-la é uma necessidade dos aprendizes de feiticeiro, nada sendo mais eficiente que extinguir as Universidades, em especial acabar com os chatos e renitentes filósofos e sociólogos.
Vou propor uma solução, que salvará, ao mesmo tempo, o Flamengo e o Brasil.
Como o primeiro não deu certo, como o segundo é pior ainda, ABEL BRAGA para Ministro da Educação !
Enfurecidas SRN
FLAMENGO SEMPRE
Para evitar esse vexame antecipado, assisti ao jogo do time do Messi contra o Liverpool. O treinador do time inglês, tal qual o cansado Abel, quis dar uma de Professor Pardal. Resultado: Levou um sapeca de 3 com possibilidade de 5, fora o baile.
Essa mania de querer inventar…
De momento, me livrei da tortura. Domingo tem mais. Será que o treinador se mantém até lá? Aguardemos.
SRN
Traí o futebol e fui fiel à paixão.
Consequência óbvia – phuddi-me.
A Instituição Flamengo que me perdoe, mas não trocaria um espetáculo de primeira grandeza por uma sessão de tortura. Entendo a sua opção, Carlos. Faria a mesma coisa em tempos passados.
Um abraço!
SRN
Lamentei muito a minha opção, que, à evidência, foi equivocada.
Pior, ainda, que nada vi, além dos gols, da vitória do Messi (pelo que li, foi quase exclusivamente dele).
O site da UEFA, nos seus ^highlights^, limita-se aos gols, a menos que o placar não seja movimentado.
Por sinal, a cobrança da falta foi genial.
Nos comentários e nos números estatísticos, ao contrário da sua opinião (que, para mim, vale muito), dizem que houve equilíbrio, sendo exagerado o placar final.
Enquanto isso, a pelada lá no Sul, não só pela derrota, foi algo MUITO TRISTE.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
Quem ao menos tem alguma noção teórica dos postulados do “condicionamento clássico”, elaborados por Ivan Pavlov, ou da “psicologia da aprendizagem”, de John B. Watson, ou de Burrhus Frederic Skinner, também conhecido como sistema de punição e recompensa, sabe muito bem o que acontece quando o Flamengo joga no Sul do Brasil.
Por que salivamos diante de uma comida apetitosa?
Porque a visão do prato e seu cheiro estimulam o cérebro, que aciona as glândulas produtoras de saliva.
E isso acontece porque o organismo já está se preparando antecipadamente para a digestão.
A visão do prato e seu cheiro estimulam o cérebro, que, por sua vez, aciona as glândulas produtoras de saliva, secreção que tem a função de ajudar o aparelho digestivo a decompor a comida ingerida.
Essa reação é um exemplo de reflexo condicionado, descoberto pelo fisiologista russo Ivan Pavlov (1849-1936) em um experimento clássico.
Toda vez que alimentava um cão com um pedaço de carne, Pavlov fazia soar antes uma campainha. Resultado: sempre que ouvia esse som, o cachorro começava a salivar, mesmo sem ver a carne nem sentir seu cheiro, prova de que havia sido criada, em seu cérebro, uma associação entre a campainha e a hora em que o alimento era servido.
Aqueles que conseguiram chegar até este parágrafo, já mataram a charada.
Os jogadores do Flamengo quando vão enfrentar equipes sulinas já entram em campo salivando a derrota, numa demonstração flagrante do chamado reflexo condicionado.
Logo que ouvem o apito inicial da partida, os times do Flamengo começam a salivar a derrota, mesmo sem avaliar a sua capacidade técnica individual e coletiva, uma vez que já foi criada a tese de que o Flamengo não vence no Sul. Fazem, assim, uma associação entre o ambiente atual que envolve o jogo com os acontecimentos do passado, ou seja, já se preparam antecipadamente para a derrota.
Há outros exemplos clássicos, no futebol. No passado: o Brasil contra o Uruguai, e o Flamengo contra o Botafogo, e, na atualidade, o Vasco contra o Flamengo em decisões.
Cansava de me estressar, quando Manga dizia: contra o Flamengo, o bicho é certo.
Um dia, Zico mandou a teoria do Ivan Pavlov para a kenga que o pariu, e danou a sapecar vitórias e goleadas em cima do “Glorioso.”
E é esse o exemplo que tem que ser passado ao atual time do Flamengo: deixar de entrar em campo derrotado antes do tempo. Aliás, a Libertadores é outro exemplo para o Flamengo. Parece que os insucessos anteriores do Flamengo nessa competição acionam o cérebro dos jogadores, antecipando a derrota.
SRN!
Obs.: eu também não sei nada sobre esse tal do “condicionamento clássico”. Copiei tudo da internet.
condicionamento clássico kkkkkkkkk
mais legal foi a sinceridade em revelar que copiou a porra toda….nota 1000
SRN !
Arthur provando que, além de tudo, está se tornando um profeta.
Se o Abel não sair, JÁ, não há a menor possibilidade de sucesso em qualquer das 3 frentes. Além de pessimamente treinado, os jogadores parece que só rendem no Maracanã com o bafo da torcida no cangote. O espaçamento entre as linhas é inacreditável. Os 2 gols saíram em falhas dos zagueiros, mais especificamente do Renê. No 2º gol o Sarrafiori foi chegando, chegando, chegou. Houve um momento em que contei 6 jogadores do Inter no meio de campo e NENHUM do Flamengo. O Everton Ribeiro procurou alguém pra passar a bola e não encontrou.
Ouvi ou li que já há descontentamento entre os jogadores.
É evidente que o Trauco é muito melhor jogador que o Renê. Ele não marca bem? Não, não marca, mas o Marcelo também não e tem sido um dos melhores laterais do mundo.
Se não tem ninguém melhor que o Pará no elenco, pergunto: o que o Klebinho está fazendo lá? Será que não é possível testar algum outro volante, por exemplo, no lugar dessa inutilidade que é o Pará?
Ainda bem que estou vacinado. Fico contente com a vitória e a derrota pouco altera o meu batimento cardíaco.
Mas que o Flamengo cansa, cansa.
E a prova de que só há paz na vitória nessa saga flamenga no quotidiano de todos nós, é que caso a tão considerável derrota aconteça, a guerra dos mundos aconteça a partir das 18:00h desse feriado dos trabalhadores, talvez nada rubro -negro. Fatídico ou festivo epacífico: vamos ao jogo.
Mas parece que pelo menos eles já tem drenagem lá no estádio deles…
hahahaha esse Arthur vem com cada uma…”raríssima vitória loira e dolicocéfala” Perfeito!
Muito bom como sempre. Análise lúcida e didática. “Nosso dever de rubro-negro, mesmo sendo feriado, é esperar o melhor, estar preparado para o pior e não se surpreender com nada entre os dois extremos.” Perfeito!
Flamengo ganha por 2 x 1.
SRN
Flamengo de Schrödinger que está dentro da cabeça de Abel….
KKKKKKKK Muito Bom!
SRN
Esse “Flamengo de Schrödinger” foi sensacional!
Teve um efeito ansiolítico.
As 16h, vou analisar o estado do “gato” e depois vejo minhas esperanças pro jogo!
Torcer muito, lógico!
Mas ciente da nossa dualidade quântica!
Vlw Arthur!!!
muito blablabla e NADA
Parabéns mais uma vez…. seus textos são brilhantes, é um prazer ler e reler sua coluna, hilária, analogias perfeitas, a gente se diverte com esse “passeio” pela história, literatura , física, sociologia, filosofia e por aí vai….. …. Está provado que Flamengo também é cultura…. Nesses tempos soturnos para o mundo filosófico e acadêmico brasileiro, temos a prova viva que Ciências Humanas são sim, parte da nossa vida cotidiana….Muito legal mesmo!!!!!!
Não posso deixar de endossar e aplaudir este comentário do Xará Gama.
O excelente texto do Arthur mereceu um comentário, mesmo que de seis linhas, tão apropriado como este.
Como escevo na segunda-feira, aporrinhadas SRN
FLAMENGO SEMPRE