Campeonato Brasileiro, 1ª rodada.
Quando meu filho Lucas tinha entre seis e sete anos, organizei para ele um torneio de futebol de botão que era uma tremenda viagem, o Campeonato Brasileiro de Todos os Tempos. Uma fantasia que reunia os doze principais clubes do país, porém com times formados por jogadores de diversas épocas. Até os mortos podiam participar, e havia uma única restrição: eu precisava ter visto o cara jogar. Não rolava essa de ouvi dizer. Como comecei a frequentar o Maracanã com regularidade em 1966, as escalações traziam os melhores de cada clube dali em diante.
Ano passado, fisgado pela epidemia do Álbum de Figurinhas da Copa do Mundo, meu neto começou a se interessar por futebol e a jogar botão. Daí que, recentemente, Lucas me desafiou: “Pai, por que você não organiza um Campeonato Brasileiro de Todos os Tempos para o Martin?” Quem tem netos ou netas sabe o que um desafio como esse significa.
Comecei a montagem dos times, claro, pelo Flamengo. Dúvidas aqui e ali, critérios subjetivos e discutíveis, forçadas de barra no esquema tático para juntar Geraldo, Zico e Petkovic, etc. Na zaga central, cravei: Juan. Técnica, velocidade, lealdade, elegância, caráter, amor à camisa.
Creio que a despedida extraoficial de Juan aconteceu há pouco mais de um ano, em 21 de abril de 2018, no encerramento da carreira de seu grande amigo, o goleiro Júlio César. Embora no banco e sem ter entrado naquela partida com o América Mineiro, Juan roubou a cena. Sempre sereno e discreto, ele não aguentou o tranco da emoção, e seu choro representou o sentimento de 40 milhões de torcedores espalhados Brasil afora. Homenagem alguma a Júlio César haveria de ser mais bonita.
Depois disso, Juan ainda chegou a jogar algumas vezes, até o comecinho de agosto de 2018. Castigado por sucessivas lesões e com quarentinha nas costas, não deu mais. Nem mesmo a preocupação geral com o desmaio de Rodrigo Caio, após o violento choque com Dedé, quebrou o clima da última volta olímpica da vida profissional do zagueiraço. Titular fácil no meu Flamengo que vai disputar o novo Campeonato Brasileiro de Todos os Tempos.
Antes da partida com o Cruzeiro, o técnico Abel disse ao repórter Eudes Júnior, do SporTV, que em 2019 o Flamengo não fizera duas partidas ruins consecutivas. Embora questionável se contextualizado, o argumento procede. O certo é que, pouco inspirado nos primeiros 45 minutos, o time foi muito bem no segundo tempo, com destaque para a noite endiabrada de Bruno Henrique: das sete jogadas de gol que foram criadas, ele esteve presente em seis delas, e enfiou duas para dentro. Também merecem elogios as atuações de Everton Ribeiro, pela movimentação e participação, Cuéllar (mais uma vez, um monstro), Willian Arão e Rodrigo Caio.
No Campeonato Brasileiro de 2018, o Flamengo esteve atrás no placar uma dúzia de vezes. No Maraca, contra São Paulo, Ceará, Palmeiras e Atlético Paranaense; em Brasília, contra o Vasco; no estádio Nilton Santos, contra o Botafogo; e fora de casa, contra Chapecoense, Palmeiras, Grêmio, Atlético Paranaense, Internacional e São Paulo. Não conseguimos virar em nenhuma delas. Bastava ficar em desvantagem para termos a incômoda certeza de que sairíamos, no máximo, com um pontinho e olhe lá. A virada pra cima do bom time do Cruzeiro nos trouxe mais esse alento.
Tomara que eu não queime a língua, mas as rodadas iniciais do Campeonato Brasileiro costumam proporcionar jogos abertos e bons de ver. Os que brigam pelo título se sentem mais à vontade para correr riscos, apoiados na crença de que, se necessário, há tempo para a recuperação. E os candidatos ao rebaixamento ainda não conseguem enxergar com clareza os perigos que correm. Entretanto, convém que nossos rivais regionais abram o olho desde já. A primeira rodada foi um aviso.
Lances principais.
1º tempo:
Aos 2 minutos, Willian Arão recolheu uma sobra de bola na entrada da área e cruzou rasteiro. Bruno Henrique dominou, antecipando-se a Murilo, mas ficou desequilibrado. Fábio se atirou a seus pés e conseguiu interceptar.
Aos 27, Pedro Rocha escapou pelo meio, livrou-se de Arão, tocou para Fred e recebeu de volta. Atento, César saiu do gol e, antes da chegada de Pedro Rocha, fez a defesa.
Embora em momento algum o jogo fosse ruim, demorou para que chances reais acontecessem. Quando vieram, terminaram em gols.
Aos 39, Marquinhos Gabriel clareou o lance na direita e virou no outro lado para Pedro Rocha, que tocou rápido a Fred. Mesmo cercado por Léo Duarte e Willian Arão, o centroavante matou, girou e, na dividida com Arão, a bola ficou limpa para Pedro Rocha, que invadiu a área em velocidade e concluiu de canhota no canto esquerdo de César. Um a zero.
Aos 40, logo após a saída, Renê empurrou para Everton Ribeiro, que cruzou. Fábio saiu mal, Bruno Henrique ganhou no alto de Dodô e tocou de cabeça, encobrindo o goleiro. Arrascaeta, Gabriel e Bruno Henrique, pelo Flamengo, além de Edílson, pelo Cruzeiro, partiram para a bola, e Bruno Henrique solou para o fundo do gol. Um a um.
2º tempo:
Aos 9 minutos, arrancada de Gabriel pela direita, Pedro Rocha cedeu escanteio. Arrascaeta cobrou, Rodrigo Caio desviou de cabeça, Fred errou ao tentar afastar e a bola ficou quicando para o giro de Gabriel. O chute forte, de canhota, resvalou em Fred e saiu junto à trave esquerda de Fábio.
Aos 13, Marquinhos Gabriel disparou desde o seu campo, deu uma meia-lua curta em Rodrigo Caio, entrou na área e, apertado por Léo Duarte e Rodrigo Caio, se enrolou na hora de tocar para Fred, que vinha completamente livre pelo meio. Léo Duarte salvou.
Aos 14, Renê recebeu de Arrascaeta junto à área cruzeirense, cruzou e Bruno Henrique ganhou no alto de Murilo, só que a cabeçada saiu no meio do gol. Fábio defendeu firme.
Aos 18, Renê recebeu na meia-esquerda e voltou a procurar Bruno Henrique dentro da área. O atacante se antecipou mais uma vez a Murilo e concluiu de cabeça, à direita do gol de Fábio.
Aos 21, Cuéllar fez boa virada de jogo até Pará, que rolou a Willian Arão. Arão tocou para Gabriel, recebeu na tabela, levou a bola à linha de fundo, levantou a cabeça e encontrou Bruno Henrique livre, quase na marca do pênalti e de frente para o gol. Complemento de primeira, bola desviada em Dedé, barbante. Dois a um.
Aos 44, Everton Ribeiro iniciou o contra-ataque lançando Gabriel na direita. Ele dominou e inverteu para a corrida de Bruno Henrique, que ganhou de Dedé, invadiu a área e bateu. Fábio fez grande defesa, mas o rebote ficou com Gabriel, que acompanhava o lance. Sozinho e com o goleiro batido, ele matou no peito e mandou de pé esquerdo para o gol vazio. Três a um.
Aos 45, Juan entrou pela última vez em campo para uma partida de futebol profissional, substituindo Everton Ribeiro e dele recebendo a faixa de capitão. Valeu demais. A registrar, ainda, o respeito do atacante cruzeirense Fred, que claramente se recusou a combater Juan nas três ou quatro vezes em que ele tocou na bola. Bacana.
Ficha do jogo.
Flamengo 3 x 1 Cruzeiro.
Maracanã, 27 de abril.
Flamengo: César; Pará, Léo Duarte, Rodrigo Caio e Renê; Cuéllar, Willian Arão e Everton Ribeiro (Juan); Gabriel, Bruno Henrique e Arrascaeta (Diego). Técnico: Abel Braga.
Cruzeiro: Fábio; Edílson, Dedé, Murilo e Dodô; Henrique e Lucas Romero (Lucas Silva); Marquinhos Gabriel, Rodriguinho (Thiago Neves) e Pedro Rocha (Rafinha); Fred. Técnico: Mano Menezes.
Gols: Pedro Rocha aos 39’ e Bruno Henrique aos 40’ do 1º tempo; Bruno Henrique aos 21’ e Gabriel aos 44’ do 2º.
Cartões amarelos: Pará, Léo Duarte, Diego e Gabriel; Edílson, Murilo, Lucas Romero, Thiago Neves e Fred. Cartão vermelho: Murilo aos 39’ do 2º tempo.
Juiz: Anderson Daronco. Bandeirinhas: Rafael da Silva Alves e Miguel Ribeiro da Costa.
Renda: R$ 1.311.592,00. Público: 35.016.
Caraca Murtinho, Juan é gigante, mas…na zaga de todos os tempos? Tendo Domingos da Guia, Aldair e até o Brito? Difícil decisão
Fala, Marcos.
Vamos lá.
Domingos da Guia eu não vi jogar. E deixei claro no texto que esse foi um dos meus critérios para a escolha.
Brito jogou muito pouco pelo Flamengo, por causa da briga com o então treinador Yustrich. E meus critérios – subjetivos e discutíveis, repito – valorizam quem fez história no clube. Luís Pereira, por exemplo, foi um dos maiores zagueiros que vi, mas sua passagem pelo Flamengo não representou nada. Outro exemplo semelhante, embora de outra posição, que deixa bem claro o raciocínio: Sócrates. Ok?
Quanto a Aldair, sim, aí temos um bom debate.
Abração. SRN. Paz & Amor.
Dizem os humoristas (os “de raiz “, como diz o novo modismo) que o verdadeiro humorista é aquele que faz piada de si mesmo. Eu me lembro de uma rápida entrevista do Juan (em se tratando desse personagem tão econômico em palavras só poderia rápida) em que ele abordado por um sôfrego repórter que matraqueava: “e aí, juan, é lombalgia, distensão, cansaço muscular? E Juan, com aquele sorriso maroto, “velhice mesmo.”
Pois é, Xisto. Ele parece mesmo ser um cara simples e bacana.
Não sei se você viu: depois da partida, o Eudes Júnior perguntou se ele se sentia preparado para parar de jogar. Rindo, ele respondeu que já estava aposentado há quase um ano – mais ou menos, como botei no texto, a data da aposentadoria do Júlio César.
Abração. SRN. Paz & Amor.
Murtinho, respeito a sua opinião sobre o homenageado zagueiro, mas guardo um certo rancor pela preferência pelo Internacional ao rubro-negro quando de seu retorno ao Brasil. Da mesma forma, em relação a Bebeto. Existem fatores a serem analisados, mas nenhum irá mudar minha opinião.
Independente deste motivo, não o colocaria na Galeria dos melhores do que vi jogar. Rondinelli, Mozer, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim, Leandro ( Como zagueiro), são bem melhores que ele.
Quanto ao jogo de sábado, acredito o erro cometido pelo excelente goleiro adversário contribuiu para a Vitória. Afetou o psicológico da equipe que não mais se encontrou. Além da atuação de Bruno Henrique. Lógico!.
Acredito que a ausência dos dois Diegos contribuiu pela melhora na montagem da equipe. A equipe não levou gols bobos e conseguiu igualar o placar com suficiência positiva para o ataque ( Com a enceradeira em campo, dificilmente conseguiria se impor verticalmente).
Acredito que com um bom lateral direito (?), a manutenção de Cezar e com um melhor posicionamento dos atacantes, o time começará a ter uma regularidade de desempenho.
SRN
Fala, João.
O respeito é recíproco. E entendo que, quanto aos “fatores a serem analisados” a que você se refere, um deles certamente é o de que Juan foi para o Internacional em julho de 2012, quando a presidenta do Flamengo era Patrícia Amorim e a reorganização financeira do clube sequer tinha começado. (Lembra da tumultuada rescisão do Ronaldinho Gaúcho?) Repito que entendo suas convicções, mas optar pelo Flamengo naquela ocasião ainda era algo complicado. Para qualquer um.
Quanto à questão técnica, também discordo. Dos que você citou, e analisando o conjunto da obra (aquilo que escrevi lá: técnica, velocidade, lealdade, elegância, caráter, amor à camisa), o único que considero melhor que ele é o Leandro. Só que, no meu time de botão, o Leandro obviamente joga de lateral-direito.
Também acho que o time precisa de Everton Ribeiro na armação, para ganhar verticalidade e objetividade. Mas, mesmo no banco, Diego pode ser útil, entrando no momento certo de alguns jogos.
Continuemos, sempre, com os civilizados debates sobre as coisas rubro-negras. Isso é bacana.
Abração. SRN. Paz & Amor.
Boa tarde. Lembro que o Juan já disse uma vez que em 2012 não recebeu nenhuma proposta oficial do Flamengo e que por isso foi para o Inter. Em se tratando da nossa ex-presidenta, acredito mais no Juan.
SRN
Fala, Leandro.
Então. A diretoria era outra, mas o Ronaldo Fenômeno sempre falou mais ou menos a mesma coisa.
Abração. SRN. Paz & Amor.
O Juan emociona e impõe respeito por sua autêntica humildade. O jogador dispensa comentários. É o titular do meu time de todos os tempos. A dificuldade é escolher seu companheiro de zaga. Mozer? Aldair? Jadir?
Meu caro Rasiko.
Então, rapaz, lá no texto eu deixei claro que algumas das minhas escolhas seguiram critérios subjetivos e discutíveis. Um deles acabou fazendo com que eu escalasse, ao lado de Juan, sabe quem? O paraguaio Reyes.
Jadir eu não vi jogar. A Mozer eu achava que faltava seriedade. (Se tiver tempo, por favor, releia um dos primeiros posts que publiquei aqui no RP&A, em 13 de fevereiro de 2015, com o título “A lição do Mozer”.) Cheguei a cogitar Aldair, mas acabei optando pelo paraguaio.
Abração. SRN. Paz & Amor.
Jorge, uma zaga com Juan e Aldair não jogaria de terno, mas de fraque e pelerine. Só dispensaria a cartola por motivos óbvios.
PS-Acabo de ver a homenagem ao Juan prestada pelo Flamengo. Por pouco, muito pouco, as lágrimas não rolaram, mas a emoção foi intensa e confortou o velho coração.
Grande abraço.
Taí. Uma frustração de minha parte. Até agora, meus netos não gostam de jogar botão.
A porra-louquice que são os desenhos computadorizados prevalece.
Fui um campeão no nobre esporte.
Influenciei meus filhos e, com eles, também organizei torneios, apesar do Atari e Cia Ltda.
Torço para que o novo campeonato do Murtinho dê certo.
Flamengo 3 x 1 Cruzeiro.
Bela vitória, além do mais justíssima.
Parece-me que o time é muito irregular, inclusive durante cada jogo.
Alterna boas e más jogadas sem a menor cerimônia.
Aguardemos Inter e São Paulo, mais do que tudo a volta contra o Peñarol.
A semana teve fatos, no mundo do futebol, interessantíssimos.
Os famosos hermanos a prevalecer.
Falar de Messi, tranquilito-tranquilito o melhor do Mundo (há mais de uma década) seria covardia.
Fico com os técnicos.
Dois loucos que brilharam – Sampaoli e o autêntico, ^Loco^ Bielsa.
Não consigo entender bem um e outro.
Fazem maluquices além da conta.
Mais uma vez Sampaoli mexeu em tudo, trocou diversos jogadores, inclusive o Jorge, que fizera o gol salvador, e deu certo.
O nosso fabuloso Bill Duba em orgasmos múltiplos, certamente.
O ^Loco^ entregou uma vitória para o ^fairplay^.
Fez muito bem.
Andaram exagerando. Mesmo se ganhasse, o Leeds, em razão dos resultados do Norwich e do Shefield United não tinha mais condições de subir direto.
Vai para o mini torneio que decide o terceiro a ser promovido para a Premier League (dinheiro em profusão).
Curiosidade. Há enorme possibilidade do advesário final, em um dos jogos mais badalados do futebol inglês (já fiz comentário a respeito), ser o próprio Aston Villa.
Se acontecer, quero ver como fica o tal ^fairplay^.
Parabéns ao Murtinho.
O resumão é um sucesso.
SRN, na maior expectativa.
FLAMENGO SEMPRE
Meu amigo Carlos Moraes.
Sem querer fazer demagogia barata – barata, não, de graça, já que ninguém ganha um puto aqui nessa pilantragem -, o sucesso ou não do “resumão” depende da adesão de vocês. Além, claro, do desempenho do time.
Eu vi Grêmio x Santos e foi muito bom. Agora, sabe o que fiquei pensando? Você já imaginou se o Bruno Henrique não tivesse vindo para o Flamengo, que time da porra o Sampaoli não estaria armando? Por isso ele fez tanta pressão junto à diretoria santista para não liberar o jogador. Ia ser difícil segurar.
Abração. SRN. Paz & Amor.
PS: Não me fale de Bill Duba. Cadê aquele ingrato, que não aparece, não escreve, não manda flores? Ele e Edvan fazem muita falta aqui.
Nem mais oferece as pizzas de Gonzales & Gonzalez.
Também acho que a dupla faz muita falta.
Lá no grupo zappeano comandado pelo Bruxolobo, o Bill é figurinha carimbada, mas sem as famosas cartas dos tempos do Urublog e aqui também no RP&A.
O Edvan, este sim, está bastante sumido, o que é de se lamentar muito. Acho que anda preocupado com os maus tratos do Bill em relação à sua irmã, a Elbinha.
Além do mais, como bom baiano, chora até hoje a saída do outro Gabriel.
Só espero que não peça asilo político na Alemanha, tal como o segundo alagoinhense (sei lá o correto) mais famoso do País.
Quanto ao Bruno Henrique no Santos, não sou capaz de fazer qualquer previsão.
Afinal, o Sampaoli é, para mim, chegado ao doido, a ponto de não ter conseguido armar a Argentina com Messi e tudo.
Logo o Messi, que não cria problemas, bem ao contrário de um tal Neymar, e atura técnicos bem fraquinhos como este Valverde.
Faço fé no Liverpool, no feriado, pois o Klopp está cem furos acima do treinero espanhol.
Pena que seja no mesmo horário do nosso.