Sempre rola um breve estranhamento quando somos obrigados a mudar a chave do brincante carioqueta vale-nada pro modo hard quebra-coco da Libertadores mais casca grossa da América. E não tem mesmo como não estranhar, é uma mudança tão radical quanto mudar de galáxia. A atmosfera é outra. Diferentemente do que rola na Liberta, no Campeonato Carioca jogar bem a porra do futebol é a última das preocupações.
Em nosso praiano discute-se exaustivamente o acessório e relega-se o essencial quase ao acaso. Mesmo sendo uma competição típica das pré-temporadas, no Carioca ninguém parece muito interessado em aprimoramento ou experimentação. Vagabundo só quer causar, lacrar, aparecer e, quando acham que não tem muita gente olhando, roubar o Flamengo. Nem esquentamos. Como escreveu o bardo no Othelo, “o roubado que sorri rouba alguma coisa do ladrão”. Até porque é bem melhor, ao menos pra imagem do clube, ser um roubado contumaz do que pagar o alto preço de manter relações muito boas com a cleptocracia federativa do estado.
Veja o nosso eterno vice, por exemplo, sempre buscando inovar no campo da auto depreciação e do vexame involuntários. Em vez do freguês estar treinado como nunca treinou na vida pra tentar ao menos oferecer alguma resistência ao Flamengo, pra ver se acaba com a longeva carreira de sucesso da macabra escrita de mais de trinta anos levando pau da gente em decisão, o que os maluco estão fazendo? Tão demitindo jogadores abusados que exigem salário pra jogar futebol profissional e arrumando ingrisia com o governo por causa da concessão do Maracanã. Briguem, desgraçados, briguem.
Tem alguém lá na pocilga preocupado em ser campeão? Claro que não! Para eles final com o Flamengo é causa perdida. A preocupação lá em Viceland é brigar com o Flor pra ver quem senta onde. O que só confirma as suspeitas de que uma parcela considerável da população brasileira compartilha a idade mental de 11 anos. E que na vasca essa parcela agora tem poder de decisão. Mal consigo imaginar como os vascaínos com 12, 13 ou 14 anos devem estar arrependidos do voto que depositaram nas urnas. Deve ser horrível.
Insensível aos conselhos dos adultos, de pura pirraça, batendo pezinho e com o dorso da mão à cintura, o Vice resolveu transferir o 1º jogo da decisão do Carioca pro despovoado Vazião, conhecido anecúmeno da aprazível localidade do Engenho de Dentro. Como se transferir o jogo de um estádio onde a vasca não ganha do Flamengo desde 1988 para um outro em que eles só apanham desde 2010 fosse lhes conceder alguma vantagem competitiva.
Se a mudança de local vai atrasar o lado de milhares de pessoas que não jogam bola, mas para as quais o futebol também é meio de vida, o traumatizado bacalhau não quis saber. Sua prioridade é provar o seu ponto de vista: que o Maracanã é um estádio público que não pode ser concedido ao Flamengo nem pagando. Para manifestar seu protesto ao que considera um grave crime de lesa-português, marcou o seu jogo no Vazião, um estádio público concedido ao Foguinho. Oi?
Obviamente, nossa baranga só tá conseguindo provar que seus pueris argumentos não resistem à menor aproximação da logica, que tão brincado de pique esconde com o bom senso. Como diz o anônimo rapsodo de Belfort Roxo em sua hoje famosa homenagem ao Seu Armando, que em sua admirável atemporalidade poderia ter sido proferida pelos ancestrais de qualquer brasileiro desde 1500, “Português filho da puta, vai tomar no cu! Eu não sou escravo, não, desgraçado!”
Mas foda-se a vasca, se não fosse esse faniquito extemporâneo e constrangedor não teríamos nem falado neles antes de domingo. Muito menos em uma véspera de jogo da Libertadores, diante do qual o caráter liliputiano das palhaçadinhas do carioqueta fica ainda mais evidente. O Flamengo não tem mais idade, e nem tamanho, pra essas brincadeiras de playground. No ano que vem o Flamengo deveria pensar seriamente em mandar nosso time feminino resolver essas miudezas municipais enquanto o time masculino foca unicamente na preparação para a Libertadores. Ainda mais agora que a Liberta virou a Festa do Tomate em Paty do Alferes e participar virou obrigação. Deixaria o Carioca com as nossas garotas. Não é o campeonato mais charmoso do país? As garotas sabem, melhor que os homens, qual a diferença entre o charm e o funk. E o digo com tranquilidade, elas jogam muito bem, tem ótima atitude e agora no futebol feminino os times trocam camisas no final do jogo. É tudo de bom.
Para ser sincero, e sem nenhum clubismo, as geniais meninas do Flamengo também se desincumbiriam sem maiores dramas da tarefa de vencer o San José de Oruro no Maracanã. Ao contrário do nosso último adversário pela competição, que tinha camisa pesada e uma história a defender, o San José é uma carne assada tan blandita que se desmancha sozinha quando desce a pirambeira orureña. E todo mundo sabe que ao nível do mar os evo só vão correr pra pegar mulher se for numa boite em Copacabana. Infelizmente, o antiquado regulamento sexista e patriarcal da Libertadores não permite que nossas meninas ocupem o lugar de fala dos marmanjos e deem uma lição nesses bolívia não descontruídos. Mas há de chegar o dia delas.
Enquanto o matriarcado não retoma o poder as mina podem ir assistindo outra vez ao clip de Man Down, da Rihanna, enquanto os nossos formidáveis rapazes vão ao campo fazer o trabalho. Que consiste não apenas em ganhar os 3 pontos do San José, mas também aproveitar a defesa mais vazada do grupo toda arreganhada no Maracanã pra fazer um bom saldo de gols. Um dos quesitos de desempate num grupo que vai dando toda pinta de que será decidido apenas na última rodada. Cumprir essa missão simples não deveria ser motivo de preocupação, mas como a gente conhece bem o Flamengo, geral tá preocupadão.
Se formos analisar friamente, o Flamengo tem camisa, estrutura (orçamentária inclusive), elenco e até futebol pra jogar a Champions League na boa. E ser esculachado na fase de grupos na super boa. Contudo, o Flamengo até agora não mostrou o futebol que a torcida espera. A torcida tem consciência que o Flamengo tem uma dívida histórica com a Libertadores. Os jogadores e o treinador é que nem sempre mostram que tem a mesma consciência. Parece até que nunca tiveram um dia de atraso no salário. Por isso que a cada jogo o torcedor rubro-negro, de ambos os sexos, tem que parir, no mínimo, dois filhos. E assim vamos povoando o mundo. Mas é um desespero completo, fruto do que aprendemos assistindo às 13 participações mal sucedidas, algumas delas traumatizantes, em nossos 39 anos de sofrimento continental.
Pior que nós sabemos que não adianta o Flamengo humilhar o San José. Pode ser 10 x 0 que no fim vai ter uns malas reclamando. Eu, certamente, seria um deles. É bem possível enganar algumas pessoas durante muito tempo. Também dá pra enganar muitas pessoas durante pouco tempo. Mas é impossível enganar todo mundo o tempo todo. Pra me enganar só tem dois jeitos: eu tenho que estar muito chapado ou o Flamengo tem que começar a jogar muita bola. De preferência na quinta-feira pra já ir acostumando e chegar no domingo matando bacalhau a grito. E tem que continuar jogando até o fim. Principalmente o fim dos jogos, porque se os caras tomarem outro gol nos descontos é pra demitir todo mundo e entregar a missão pra nossas minas mesmo.
A Nação tem plena consciência de que o nosso desespero não vai acabar nunca. Mas talvez diminua um pouco no dia em que ganharmos outra Libertadores. Bem que esse dia podia ser esse ano. Ajuda aí, Flamengo.
Mengão Sempre
Conforme afirmou o mestre, Carlos Moraes, RP&A também é cultura.
“Por Una Cabeza” é um dos mais famosos tangos de Carlos Gardel, com letra de Alfredo La Pera.
Eu e Carlos Gardel tínhamos algo em comum: turfe.
Entretanto, para mim, “basta de carreras, se acabó la timba”.
Somente espero que, como em anos anteriores, o Flamengo não seja eliminado na primeira fase da Libertadores, “por una cabeza”.
SRN!
Obs.: Carlos Moraes, o vídeo abaixo segue em sua homenagem. Aposto que ganha da Paola.
https://www.youtube.com/watch?v=Gcxv7i02lXc
Jessica Biel versus Paola de Oliveira.
Cabeça a cabeça cruzam a faixa final sem que possamos dizer quem foi a vencedora.
Obrigadíssimo, Aureo.
Emocionadas SRN
FLAMENGO SEMPRE
Torço mais do que nunca pelo caneco da Liberta pra que você lance mais um livro com suas crônicas, as melhores crônicas rubro-negras desde Mário Filho. Parabéns, meu irmão!
Um cara que consegue citar em um mesmo texto mensagem de WhatsApp, Othelo e fazer disso uma puta piada só pode ser genial kkkk
Arthur, seus textos são os meus preferidos, são a única coisa que eu leio quando o Flamengo perde e estou naquela ressaca moral, ajuda muito a não pegar nojo do time. Vamos pra cima desses bolivianos desgraçados. Saudações do Sul do Brasil. Treviso/SC.
SRN
Quando temos essas decisões com o vasco sempre lembro como fiquei puto naquele gol do cocada e depois sempre tenho a impressão que isso foi em outra vida. Não raro pra rubro negro criado em São Paulo, tinha que caçar jogos no rádio e novidades no rosê jornal dos sports. Mas essa final passou na tv, provavelmente na band, e os amiguinhos curintianus adotaram o cocada pra zoar o carioca, mal sabiam que apoiavam a maldição dos 30 anos, que venham mais 30. Sdds do Zé Carlos.
RP&A também é cultura.
De Gardel ao anecúmeno.
PQP,confesso – nunca jamais em tempo algum havia me deparado com tamanho palavrão.
Tive que recorrer ao substituto do Pai dos Burros, que morreu para desespero de seus vendedores e alegria de todos os demais, que atende pelo nome de Internet.
Vamos ao que interessa.
De fato, o nosso Flamengo está devendo. E muito.
Dois empates contra o Vice, em quatro jogos contra as Flores apenas duas vitórias, bem apertadas por sinal, no jogo mais difícil, contra um time de ponta da decadente América do Sul, cano, mesmo jogando em casa.
Estamos com dinheiro, para esbanjar e para não pagar aos familiares dos pobres meninos, mas, no futebol, apesar de contratações corretas, até agora MUIIITTTTO pouco.
Contra o San Jose, se for menos de SETE, é derrota.
Servirá como treino – que, pelo visto, não se faz normalmente – para o jogo de domingo.
Há que se reconhecer. O Avaí, lá na Ressacada, é adversário bem mais problemático.
Aguardemos
há alguns anos arthur já tinha usado tal termo referindo-se à arquibancada do botafogo no maraca. Um anecúmeno chorafoguense.
aqui está,
http://globoesporte.globo.com/rj/torcedor-flamengo/platb/2009/04/27/o-anecumeno-chorafoguense/
Se for para melhorar, que copiem os exemplos positivos. No caso, o rubro-negro Paranaense. Este simplesmente relegou o Estadual para segundo plano, disputando o certame com as categorias de base e alguns reservas ( Foi campeão ano passado e vai disputar as finais do presente ano). O time principal somente disputou quatro partidas durante o ano. Exatamente os jogos da Libertadores.
Na minha opinião, alguns garotos da base jogam mais que muitos marmanjos do suspeito time titular. Seria dada a oportunidade de se tornarem conhecidos e de demonstrarem aptidão para conquistas, já um tanto esquecida pela turma de cima, que já esgotaram a paciência dos rabugentos torcedores( me incluo) que não suportam a simples menção de seus cansados nomes. Sangue novo. Vida nova. Pelo menos nesse certame.
Nos velhos tempos, chegava mais cedo para assistir as preliminares e aguardar o surgimento de novos craques para incorporar ao elenco principal.
Ainda continuo aguardando. Essa mesmice dos últimos anos é extremamente irritante. Conseguem iludir alguns incautos. Alguns milhares.
SRN
Tá dominado…
A vitória do Peñarol ontem sobre a LDU deixou o grupo bem tranquilo em termos de classificação. Tanto Flamengo quanto Peñarol devem terminar a rodada com 9 pontos e abrir 5 pontos da LDU faltando apenas 2 rodadas. Ou seja, além de ganhar os dois últimos jogos, a LDU vai depender de resultados extras para conseguir tirar uma das vagas dos líderes do grupo.
Só que isso não pode ser levado para dentro do ambiente do Flamengo.
O jogo contra o Peñarol foi terrível. Nosso time é muito superior aos uruguaios e equatorianos. Mas, não podemos dar o mole que demos no Maracanã semana passada. O time precisa saber vencer esse tipo de jogo. Jogo em que o adversário conta com a colaboração do árbitro para fazer cera durante os 90 minutos e permitir que a bola role apenas 51% do tempo sem levar cartão.
Pois foi isso que aconteceu contra o Peñarol. O goleiro deles enrolou o jogo desde o 1º minuto. E deve ter gastado uns 10 minutos do jogo apenas para cobrar tiros de meta e faltas na defesa. O glorioso assoprador, mesmo diante de tal ofensa ao jogo, não foi capaz de mostrar LA TARJETA para ele e deixou nossos jogadores com os nervos à flor da pele. Fazer o quê? Com VAR ou sem VAR, a Libertadores ainda permite essas coisas.
Outra coisa, a classificação em primeiro lugar é questão de saber jogar razoavelmente bem fora de casa. Isso porque, o Peñarol irá enfrentar a sua maior dificuldade na próxima rodada. Ou seja, o adversário será a ALTITUDE DE ORURO. E jogos na altitude são jogos em que os uruguaios simplesmente nunca ganharam de ninguém. O histórico deles é simplesmente inacreditável.
Portanto, podemos chegar ao último jogo da fase de grupos não só classificados, mas com a 1ª colocação praticamente assegurada.
Mas, é claro que não podemos mais dar o mole que demos contra o Peñarol. É um time de camisa, tradição, etc, etc, etc… mas é um time relativamente fraco. Tão fraco que veio ao Brasil para não deixar ter jogo e contou com a colaboração tanto da arbitragem quanto do Flamengo.
A LDU, então, é um time ainda mais fraco. Só que o Flamengo tem a mania de generosidade com os mais pobres e acaba, quase que invariavelmente, presenteando os outros e deixando de alimentar os seus.
Amanhã, com ou sem Gabibol e Uribe, é jogo para ganhar com tranquilidade e com elasticidade no placar. Deixar as coisas encaminhadas para poder jogar tranquilo contra a LDU no final do mês e, antes disso, poder jogar também tranquilo contra os viceínos nas finais do Carioqueta.
SRN a todos!!
Arthur, para variar, exclente crônica. Agora, vem cá, o cacófato foi proposital?
Claro que não. Onde tem isso, Xisto?
Desculpe, Arthur, minhas minúcias persecutórias de todo esquizoide. Anti-penúltima linha do penúltimo parágrafo: para “já ir” acostumando,etc.
Fui traído.Obrigado pelo alô.
Mais um ótimo texto Arthur. Espero que jogue bem, em cima desde o começo e fazendo logo gol(s), não só pela importância do saldo na Libertadores, mas também para não ter conversinha de desgaste para o 1º jogo no domingo.