É impossível ser feliz em ano de eleição no Flamengo. 2009, nosso annus mirabilis no século, foi apenas uma diabólica conjunção de imponderabilidades aleatórias e singularidades conjunturais, somadas à uma sorte do caralho, que se uniram com o único propósito de tirar a invencibilidade do goleiro da frase anterior.

A presidência do Flamengo é hoje o terceiro cargo eletivo mais importante do país, impactando uma parcela da população muito superior aos 40 milhões que se declaram torcedores. Em influência só fica atrás da Presidência da República e do Governo de São Paulo. Presidir o Flamengo é concentrar considerável poder econômico, grande, ainda que instável, poder de aglutinação das massas e um incalculável poder de exposição na mídia. Quanto qualquer político pagaria por esse pacote? Não diga ainda, porque se for eleito ainda ganha o direito de ser vigiado por um sistema de fiscalização honesto, embora amador. Resultando que, efetivamente, a única barreira existente entre fazer o que é certo e o que é errado no exercício da presidência é a própria consciência do presidente. E tudo isso se consegue com menos de 2 mil votos.

Esse pacote suculento e, eleitoralmente, baratinho, desde o advento das redes sociais que transformaram a eleição de um clube da Zona Sul carioca em um evento político nacional, justifica a avidez com que os concorrentes ao cargo lançam suas campanhas e seus correligionários, cabos eleitorais, influenciadores, voluntários ou a soldo, e simpatizantes, se dedicam à conquista dos corações e mentes de possíveis eleitores. O que em si não tem nada de errado, é como o sistema funciona e quanto mais gente participar do processo, direta ou indiretamente, melhor pro Flamengo. O problema é que nessa briga por um cargo tão cobiçado, o futebol, razão de ser do bagulho todo, acaba sempre prejudicado.

Contudo, a constatação desses fatos históricos que se repetem como catástrofes anunciadas de 3 em 3 anos não isentam a diretoria atual de ter mais uma vez jogado fora qualquer chance racional de êxito do Flamengo na Libertadores. Não é impossível que o Flamengo consiga vencer a competição continental em 2018, mas todos sabemos que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha ou ver um tucano na gaiola. Porque o Flamengo mais uma vez entrou na competição todo errado. Sem treinador, elenco capenga, zaga ultrapassada, estrelas superestimadas com baixo rendimento, assustadora fragilidade emocional e uma aparente falta de comando. Exatamente os mesmos problemas identificados em 2017.

A oposição até agora tem sido bastante vaga em seu discurso referente ao futebol. Não prometeu trazer o treinador tal ou o jogador fulano, limitando-se à critica à falta de comando e aos maus resultados do futebol. Uma platitude prima-irmã do Queremos raça! das arquibancadas que pouco revela sobre o que a oposição fará se chegar ao poder. Mas ainda é muito cedo pra julgamentos definitivos, esperemos o lançamento oficial das chapas e dos seus planos de governança. Só nos resta torcer pro futebol chegar vivo ao fim dessa disputa. Nas atuais condições a Libertadores é uma enorme improbabilidade e até o G3 no Brasileiro se torna uma alta aspiração.

O tal do Santa Fé era uma baba cósmica. Sem exageros clubísticos, o Flamengo teve amplas condições de sacolar os caras e não foi capaz. Estádio vazio, pressão zero, um time fraco pela frente e nossos jogadores se atrapalharam sozinhos. Depois que levaram o gol, fudeu. O time se desmilinguiu, o treinador novato substituiu que nem a cara dele, o Flamengo afundou. Mostrando toda sua fragilidade anímica. E no pós-jogo não nos pouparam sequer do constrangimento das declarações cor-de-rosa e os louvores à qualidade do grupo e do trabalho que vem sendo realizado. Declarações padrão, corretíssimas no Vademecum do media-training, mas que soam ofensivas e debochadas aos ouvidos do torcedor. A revolta pelo empate em casa foi geral, até por quem está cagando pra eleição do Flamengo.

E por mais incrível que pareça, e a despeito do futebol sem vergonha que apresentou até aqui, o Flamengo termina a primeira perna da fase de grupos da Libertadores na liderança do grupo 4. Com os mesmos 5 pontos do River, que também empatou duas e venceu o Emelec no George Capwell. Aliás, o futebol de diez mangos do River Plate tem constrangido o Flamengo a passar de fase. Ou seja, o Flamengo ainda tem 3 jogos pela frente correndo o enorme risco de se classificar para as oitavas de final. Mas jogando desse jeito quem é que aguenta?

Mengão Sempre