O Fla-Flu foi um sonoro tapa na cara de muitos rubro-negros. Principalmente na cara dos que se dedicam com imprudente entusiasmo a louvar com soberba uma suposta superioridade física, técnica e moral de qualquer bípede que envergue o Manto Sagrado em jogos oficiais. O resultado, bastante fora do comum, ensinou de forma dolorosa que o Flamengo pode ser grande, enorme, o maior do mundo civilizado, isso é um fato sabido, nem mesmo está em questão. Mas o Flamengo não transfere sua grandiosidade por osmose a qualquer zé mané, não. O cara tem que ter a grandiosidade dentro de si, ser capaz de brilhar mesmo sem o amparo das roupas e das armas do Flamengo. E esta qualidade, lamentavelmente, não se encontra em qualquer parte.
Como provavelmente não se encontra entre muitos dos integrantes dos nossos reservas, que reforçados por 2 titulares e meio (inexplicável o Vinicius Jr não ter sido ainda efetivado), foi cumprir tabela no sábado para que o time titular pudesse descansar para o jogo com o River. O tal mistão mostrou logo de cara que não era essa coca-cola toda que se anunciava. Depois que arrumou seu gol no comecinho o Flor deitou e rolou, explorando com astúcia a insegurança da nossa rapaziada. Ficou nítido que nosso elenco ainda está povoado por uns caras que, ao menos até o momento, jamais mostraram possuir as condições mínimas para jogar pelo Flamengo. Pelo menos não no time adulto. O 4 x 0 saiu barato, fosse o adversário pouquinha coisa melhor e o resultado trágico poderia ter se transformado em uma verdadeira catástrofe.
Claro que geral ficou puto. Há quase dois anos que não perdíamos pra esses caras e o placar elástico não nos deixou espaço nem pra reclamar que o juiz nos roubou. Claro também que teve gente passando pano, achando até normal que um time que deve ter treinado no máximo duas vezes junto levasse um sacode de quem tá desesperado pra não ficar de fora das finais do Carioca e disposto a suar sangue pra sair da lama não dar motivo pra que seus salários não sejam depositados. Acho que esse papo é caô, mas calma, gente.
Vamos devagar com os julgamentos sumários desse detestável tribunal de araque montado para julgar irmãos rubro-negros. Respeitemos o princípio do contraditório e o amplo direito de defesa. Audi alteram partem (Ouvi a outra parte). Nem todos aqueles que não atearam fogo às vestes ou cortaram os pulsos publicamente após a surpreendente jirombada que o Mengão levou do Flor em Cuiabá são desprezíveis sicofantas pendurados ao saco de um grupo de dirigentes, sempre prontos a aplaudir os mais reles atos administrativos daqueles que detém nas mãos o poder transitório da caneta (sempre mais poderosa que a espada). São só alguns.
Tem gente que é apenas radical, e não concede ao Campeonato Carioca o mínimo grau de relevância ou significado, ganhar ou perder é indiferente diante da grande indignidade que é o Flamengo disputa-lo, e consequentemente mantê-lo vivo. Esses flamenguistas-veganos nem assistem aos jogos do rural, que consideram inútil, anacrônico e ilegítimo. Devolve os documentos deles e deixa eles irem pra casa, na quarta-feira vamos precisar de todo mundo descansado para torcer do sofá.
Nem sempre é preciso relativizar o valor de uma derrota vergonhosa para considera-la um bom resultado. Proponho a seguinte leitura do evento em Cuiabá: o Flamengo, mais cedo ou mais tarde, queira ou não queira, mereça ou não, vai acabar pagando um mico. Os vexames que o Flamengo protagoniza com reprovável frequência desde a segunda metade da última década do século passado têm origem nas dimensões místicas regidas pelos deuses. Os mesmos deuses que concedem ao Flamengo as bênçãos, proteções e privilégios que embasam e justificam sua preponderância e hegemonia sobre todos os demais. Ora, nem entre os deuses existe almoço grátis.
Por essa proteção, essa inegável aliança com o divino, o Flamengo, de vez em quando, deve fazer sacrifícios. Na teologia do sacrifício, palavra que vem do latim sacrificium (ofício sagrado), os deuses necessitam do sacrifício para seu sustento e para a manutenção de seu poder. A vítima do sacrifício é oferecida como bode expiatório, um alvo para a ira dos deuses, que de outra maneira recairia sobre todos os homens. O Flamengo se deixou crucificar em Cuiabá para expiar os nossos pecados.
O que pode ser entendido também como: é melhor pagar um miquinho agora perdendo pro Flor um jogo que nada vale do que ser cobrado implacavelmente pelos coléricos deuses que não gostam de caloteiros em plena fase de grupo da Libertadores. Como há fortes suspeitas de que tenha acontecido no ano passado ao enfrentarmos o time do Sumo Pontífice. Pensar dessa forma não é poupar o Flamengo de críticas ou repreensões, é poupar a si mesmo de ilegítima aporrinhação por um motivo torpe.
Não é só quando perdemos um dos seus jogos (evento de raríssima ocorrência) que afirmamos que o Campeonato Carioca não vale nada. Tal afirmação é a base filosófica de quem só tem olhos e atenção para a competição continental. Carioca e Libertadores são como água e azeite, imiscíveis. E é bom mesmo que não se misturem, nem mesmo nas comparações esdruxulas que, às vezes sem querer, acabamos por fazer entre duas galáxias tão distantes. O carioqueta pode ser tranquilamente vencido por meninos. Mas a Libertadores demanda a presença de homens em campo.
É muita incoerência querer que o Flamengo priorize a Libertadores e exigir time titular pra jogar Fla-Flus caça-niqueis. Pra quem não é neurótico de guerra vai ser fácil esquecer a tarde aziaga em Cuiabá. Doeu, mas já passou, e os danos foram mínimos. As aspirações do Flamengo têm que ser muito mais altas.
Mengão Sempre
EUREKA ! ! !
Depois de tantos anos, descobri a razão do meu fracasso como jogador de futebol.
Nos primeiros dias do ano de 1949 ou 1950, jogando uma pelada na praia do Leblon, ali em frente da rua Aristides Espínola, onde morava, dividi uma bola contra o ponteiro esquerdo do time de camisa – o meu, é óbvio, era o sem camisa – e fraturei o quinto metatarso do pé direito.
Não me joguei ao chão, aos prantos, mas mal consegui chegar ao mar (estava bem pertinho), pois me disseram que a água salgada faria milagres.
De noite, ainda fui ao Roxi, lembro-me bem, assistir um bom western, mal aguentando andar.
Pela manhã seguinte, Miguel Couto e pé engessado.
NÃO ME OPERARAM.
Acabei para o futebol, sem saber que ali estava sendo traçado o meu destino de insignificante ser humano.
Por isso mesmo, jamais consegui ser um futebolista sequer medíocre.
Hoje, sou capaz de entender, superando anos de análise infrutíferos.
Papai, mamãe, por que não operaram o meu pé ! ! !
SRN
FLAMENGO SEMPRE
Para quem possa duvidar desta triste história.
No domingo seguinte, com o pé engessado, fui, com o meu pai, ao estádio de General Severiano, ver um jogo do nosso Flamengo contra o América-MG.
Acho que foi a única vez na vida que vi jogar o time mineiro, que usava uniforme branco, com gola verde.
Uma senhora pelada, que terminou, salvo enganoo em 0 x 0, ou até com vitória deles.
Vou em mesmo conferir no Flaestatísticas, pois, afinal de contas, a história é minha.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
ERRATA (depois de consultar a Fla-Estatísticas)
Quebrei o quinto metatarso do pé direito durante as férias, lamentavelmente logo no seu início, ainda em dezembro de 1948.
O nosso jogo contra os mineiros, de acordo com a consulta, foi ainda no dia 02.01.1949, e terminou empatado, mas em 2 x 2.
Nosso time, cujo técnico era o grande (no basquete) Kanela, jogou assim –
Luiz Borracha (Dolly, um brancão chegado ao frangueiro, com esse nome de boneca) – Norival e Miguel (não me lembro) – a grande linha intermediária Biguá, Bria e Jayme, o primeiro substituído por um certo Vaguinho e este por um Beto, nomes conhecidos mas, na minha lembrança, de outras posições – Jorge de Castro (luisinho, sei lá quem foram), Arlindo (Durval), Gringo (um bom centroavante que veio do RS), Moacir (substituído, nada mais nada menos pelo Jair da Rosa Pinto) e Hélio.
Gols de Durval, um ótimo goleador e Hélio (horroroso, com as devidas escusas).
SRN
FLAMENGO SEMPRE
Pois, Carlos, eu que sou chegado a frisson em se tratando de mulher ( coisa de velho) tomei um susto quando vocêi inicia a frase: “uma senhora pelada”, apesar do extemporâneo, preparei-me para o melhor, mas, decepção! você se referia ao próprio jogo, quedei-me(epa!) murcho, murcho, só me contentando com o bundaço rebolativo (imagino) cercado de bocas babando por todos os lados que o Arthur nos proporcionou. Acho que da Cardinale, ou como você diz cheio de intimidade, da Claudinha…
Em tempo, a bunda que me refiro só aparecerá “no ponto futuro” do Cláudio Coutinho (saudades), melhor dizendo, no próximo blog, veja só como mulher me bota ansioso.
Roteiro repetido…
Ano passado, jogando contra os mesmos Flores e pelo mesmo insignificante campeonato Carioca (vulgo Carioqueta) tivemos um resultado adverso às véspera da estreia na Libertadores.
Ano passado perdemos a final da Taça Guanabara nos pênaltis para os Flores no Domingo e tivemos a estreia, no Rio de Janeiro, contra um time argentino que vinha mal das pernas, mas que era reconhecido por sua tradição e por ter sido campeão da Libertadores recentemente.
Este ano, estamos vindo de um resultado negativo contra os Flores no final de semana anterior à estreia, em casa, na Libertadores contra um time argentino que vem mal das pernas, mas que é reconhecido por sua tradição e por ter sido campeão da Libertadores recentemente.
Se esse roteiro é repetido e chato, espero que o resultado também seja repetido e chato: 4×0 pra nós!! Só isso.
O resto será apenas o resto se o Flamengo vencer o jogo de amanhã.
Todas as conjecturas, tratativas, manifestos, textões e twitadas ficaram pra trás com os 3 pontos conquistados contra o River Plate.
E há motivos bastante claros para confiar que o jogo na Libertadores será bem diferente do último jogo pelo Carioqueta:
a) O time estará com os titulares em campo (à exceção do Cuellar);
b) A motivação para o jogo da Libertadores é 1.000% que a de jogar jogos-treinos contra equipes semi-profissionais do Carioqueta;
c) A nossa escalação deste ano, bem diferente da do ano passado, contará com Diego Alves, Juan, Jonas (em boa fase, mas era pra ser o Cuellar) e Éverton Ribeiro nas posições ocupadas no 1º jogo contra o San Lorenzo por MURALHA, RAFAEL VAZ, MÁRCIO ARAÚJO e MANCUELLO (todos fora não só do time titular como do elenco para este ano);
d) O River Plate tem problemas crônicos na defesa, especialmente nas laterais. E vem levando muitos gols por não conseguir se organizar defensivamente. (Terreno fértil para Éverton Ribeiro, Marlos Moreno, Éverton, Vinícius Jr ou qualquer outro que se apresentar por ali);
e) A retomada física do Diego e a excelência técnica e tática do Paquetá neste início de ano;
f) Para fechar, temos enfim um centroavante que não é preguiçoso e que gosta de fazer gols. Henrique Dourado não tem o mesmo domínio de bola do Guerrero; não bate falta como o Guerrero, mas faz todo o resto melhor que o Guerrero, inclusive (E PRINCIPALMENTE!!!) empurrar a bola pras redes mesmo com poucas oportunidades durante o jogo.
Ainda temos problemas?? Claro que sim. Mas, as soluções parecem estar muito mais disponíveis este ano.
SRN a todos!!
No caminho inverso da ideia de muitos torcedores, eu entendo que a derrota contra o Fluminense não abalou o nosso elenco principal. Muito longe disso.
Tivesse o time reserva aplicado uma goleada de 4 x 0 contra eles, aí sim, a possibilidade de estremecimento do time principal seria real.
Explico:
Com exceção de Diego Alves, Réver, Lucas Paquetá e Diego (talvez também Éverton Ribeiro) todos os demais jogadores sofrem severas críticas da torcida.
Assim, imaginemos, como exemplos, que o Felipe Vizeu tivesse comido a bola e marcado três gols na goleada. Com certeza muitos iriam contestar a escalação do Henrique Dourado, principalmente os eternos defensores dos prata da casa a todo custo.
Imaginemos que Truaco tivesse jogado muito bem. O Renê ficaria na berlinda.
E se o jovem Kléber destruísse na lateral? Os contestados Pará e Rodinei jogariam sob forte pressão.
E se Vinícius Jr tivesse jogado, como jogava nas divisões de base? Por certo, a escalação do Everton seria ainda muito mais contestada.
Muitos iriam pedir Léo Duarte no lugar do Rhodolfo e Ronaldo no de Jonas.
Quando há jogadores disputando vagas em um time, é normal que a má atuação de um fortalece a segurança do outro.
Assim, Pará ou Rodinei, Rodolfo, Renê, Jonas, Henrique Dourado e Everton poderão jogar despreocupados sabendo que os seus reservas não jogaram porra nenhuma contra o Fluminense. Sem sol, sem sombra.
Por outro lado, com a péssima atuação do time reserva, a torcida ficou calada e deixou Carpegiani sossegado para escalar o time principal, para o jogo de amanhã.
E bem que a mídia tentou inventar uma crise no Flamengo em decorrência da goleada. Porém, ficou somente no desejo.
Sempre Flamengo!