O cronômetro marcava 45 minutos do segundo tempo, a bola estava saindo pela lateral e o coração do torcedor rubro-negro pela boca, junto com alguns termos impublicáveis. Foi quando nos assustamos com um violento urro vindo da vizinhança.
Amigo flamengo, se você pensa que sofreu no sábado, durante aquele Flamengo x Coritiba pavoroso, não deve saber o que é ver uma partida do time de Zé Ricardo com delay. Você sabe a que me refiro, aquelas imagens com atraso em relação à televisão do vizinho, que ainda por cima é um tricolor engraçadinho. Certa vez, um sábio falou na TV e eu concordei, apesar de só escutar uns segundos depois: “Ver jogo com sinal de transmissão atrasado é a pior agonia que há no futebol, exceto talvez ser botafoguense.”
Dos berros até o momento de compreendermos o que acontecia (iria acontecer? Ou tinha acontecido?) pude ver o meu sábado inteiro passando como um filme diante dos meus olhos, cena a cena:
Eu me levantando da cama, buscando confusamente vencer a ressaca com um banho quente e um café gelado, sem nenhuma condição espiritual, moral e cívica de ir até a Ilha do Urubu.
A alegria ao receber o convite do boa-praça João Vergueiro, anfitrião sempre disposto a receber os irmãos flamengos para assar uma carne tenra no Leblon.
A hora em que chego, festejado pela turma, e corro até a cozinha para buscar uma gelada, precisamente no momento em que sai o primeiro gol do Flamengo, aos sete minutos.
A hora em que tento voltar desabalado para o varandão dos Vergueiro na inútil tentativa de ver o gol, quase caindo por cima do sofá e do bom e velho Bart, um roliço Labrador com apetite de São Bernardo.
O leve arrependimento de não estar entre os parcos 13 mil torcedores presentes no estádio, e sim sentado com todo o conforto, bebericando uma excelente cerveja.
A decisão de que não, isso não podia ficar assim – não, era preciso prestar o mínimo respeito aos irmãos lá na arquibancada – quando deixo a poltrona e me posto em pé, atrás de umas cabeças que me tampam parte da visão. Agora sim.
Mas falta algo, ou sobra: o copo de vidro. A cervejinha até que pode ser artesanal, São Judas perdoa, mas o copo tem de ser daqueles pretos de plástico, pois luxo é coisa de almofadinha, e me dá essa cerveja quente mesmo.
O aguardado intervalo do jogo, com a picanha mal-passadinha descendo melhor que o Berrío pela direita.
O reinício da partida, e minha constatação perspicaz que arrancou comentários admirados de vários presentes: “Hein? O Flamengo está jogando de amarelo? Carilhos.”
“Rapaz, o Bart está gordão mesmo”, reflito.
“E agora, terá sido gol mesmo? Pelo urro não dá para definir, pode ter sido cartão vermelho, carrinho no juiz, sei lá.”
“Qual era o nome daquele meia-direita do Olaria que foi parar no Napoli mesmo? Negué? Guiné? Cané! Isso, Cané.”
E enfim, sete segundos depois, pênalti no garoto Vinícius Júnior.
Da agonia ao êxtase, fiquei pensando como nenhum torcedor merecia sofrer assim, ao vivo ou com atraso, e que não há nada melhor do que ver futebol no estádio, e que sacanagem é o Maracanã fechado enquanto podia estar recebendo uns 50 mil apaixonados de todas as classes, condições e faixas etárias. E emendei com a lembrança dos tempos em que o Maraca berrava pedindo reforços, e como isso parece parte do passado, e pensei: será que o Flamengo vai passar sua história inteira clamando alternadamente “Queremos jogador” ou “Queremos raça”?
Então, a festa barulhenta fora da varanda não deixa dúvida: Everton Ribeiro ajeita a bola e cobra (cobrou? Cobraria?) com perfeição – aliás, um dos pênaltis mais bem batidos da história recente do Flamengo, pelo menos da história desse Flamengo de amarelo fosforescente.
Enquanto ríamos, felizes pelos três pontos e resignados com a partida assistida qual um “videoteipe de luxo em HD”, me ocorreu como o Flamengo de hoje lembra os aparelhos televisores nessa era de revolução tecnológica, onde as imagens digitais, ótimas, são mais lentas que as analógicas, ultrapassadas. Senta que lá vem analogia, (ou digitalogia):
Tanto o clube rubro-negro como as TVs vivem uma mudança de padrão inimaginável, louvável, onde os sinais de qualidade são evidentes e espantosos, mas podem levar um pouquinho mais de tempo até chegar aos olhos do torcedor. Ou aos gramados.
Os especialistas pedem calma, que é preciso paciência para aproveitarmos a eficiência, que ainda faltam ajustes, que já já todos estaremos na mesma sintonia. Só que parte da massa quer mesmo é ver a bola entrar de qualquer jeito, seja no tom ou no tempo que for. Em HD ou no radinho, com Obina ou Guerrero, não importa.
O que virá? Será o Flamengo capaz de conseguir enfim mostrar sincronia em campo, ou vai terminar suas partidas nesse esquema bombril na antena, mexendo para lá e para cá até funcionar? Talvez baste um pequeno ajuste. Trocar uma peça, quem sabe. Ou vai ganhar aquela velha corrente que acha que time de futebol é uma TV com defeito – basta ficar chamando sempre um técnico a cada problema? O que fazer?
Bom, o João Vergueiro já decidiu: vai trocar a operadora de TV a cabo ainda esta semana.
Texto bacana. Eu acabei de localizar o seu website e gostaria de falar que de fato os seus textos são maravilhosos. Até mais abraço.
Artigo muito bom. Eu acabei de encontrar o seu site e gostaria de falar que de fato os seus posts são maravilhosos. Até mais abraço.
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Pois é, foi minha estreia no Urubilha, com Flamengo jogando de amarelo, com detalhezinhos em azul… Na arquibancada pré-moldada, parecia um jogo de uma seleção sub qualquer coisa na Olimpíada ou no Pan.
Tenho notado que o torcedor, e aí não me excluo, está cada vez mais crítico e impaciente, em qualquer ordem. Como a arquiba fica muito, mas muito perto do campo, havia um cara xingando um jogador do Fla antes de o jogo começar!!! No intervalo, quando três sócio-torcedores foram convidados a tentar fazer o gol do meio do campo, uma parte da torcida vaiava os pobres perebas sócio-torcedores, que erraram tudo…
Bom, por fim, falando em delay, passamos um pouco por isso no final. Como estávamos pelas tampas com a atuação ridícula do time de amarelo, e como tínhamos deixado o carro em um supermercado antes do estádio, resolvemos partir aos 43′.
Já no lado de fora, ouvimos um ruído, que não parecia ser de gol. Soubemos por uns caras que estavam vendo o jogo numa TV analógica tipo bombril na antena que fora marcado penalti para o Fla. Propus que continuássemos andando. Se fosse gol, a vibração da galera chegaria mesmo antes da imagem. E assim foi. Gol da Fla. Menos, bem menos mal, a gente já de costas para o bom estádio da Ilha.
Saúde e Sorte
Já tive várias essa experiência, a última foi no pênalti batido pelo Neymar nas Olimpíadas, enquanto ele ajeitava a bola, eu já ouvia o clamor da vizinhança vibrando com o gol. Assim, como diria a Nivinha, com um ufa, assiti tranquilo à cobrança. Fenômeno parecido é quando assisto um VT de jogo do Flamengo, claro, quando ele vence. É um tipo de sadismo que me leva a um prazer digno do Marquês
criador daessa história toda, para gáudio de Freud. Incrível eu, confortavelmente na poltrona, ver o pobre torcedor ainda no presente, jpassado pra mim, se contorcendo de ansiedade e de dor. E eu ali no quentinho, calma cara, tá gastando adrenalina à toa, no final vai tudo dar certo. Espero que logo mais, no passado, presente e futuro dê tudo certo, sem precisar de delay e o escambau
Entrevista com Zé Ricardo
Como já dizia Caetano Veloso, trenero do Mengão já está com a cabeça a prêmio na assinatura do contrato. Pode ser o Guardiola, pode ser o Felipão (que deus nos livre e guarde), pode o Andrade ou o Carlinhos voltarem (Carlinhos ainda pode, e sem crise, pois devia estar dando uns toques no Zé la do além), quem quer que entre ali pra sentar a bundinha no banco mais precioso do Mundo, vai sentar com o cuzinho já na reta.
E vinha eu, com Elbinha e Japa pelas ruas de Cuba do Norte, terra do despacito e dos sobreviventes da batalha da baía dos puerquitos, quando me deparo com eles, de mãozinhas dadas pelas ruas e avenidas de South Beach, bemvestidamente de Rubro Nigérrimos, Zé e Márcio, o Araújo.
Japa os reconheceu de prima, Elbinha se identificou com a cabeça chata de Márcio Araújo, sendo ela também nordestina e também amante das mãos dadas, e eu parti pra cima de Zé pra pedir um autógrafo e a fazer perguntas sobre sua trajetória no nosso Flamengo.
Com as devidas autorizações dadas, parti para a republicação da entrevista.
Eu- Zé, como você vê o futuro do Flamengo, sendo que este ano tivemos a possibilidade dos investimentos e ano que vem promete ser ainda melhor?
Zé-Bom, eu acho que o Flamengo está no caminho certo. Agora acertamos O centro de treinamento estamos com o contrato do Marcio renovado e podemos começar a pensar no que fazer ano que vem, já que como o próprio Márcio falou nós estamos praticamente fora No Campeonato Brasileiro, O que nos deixa com muita possibilidade dia concentrarmos somente nas copas!
Elbinha- Como voceê e Marcio se dão bem!!!
Zé- É verdade, eu e Márcio vamos muito bem mesmo desde quando Eu cheguei aqui. O Marcio ajuda muito na marcação baixa, na marcação alta mesmo, o que nos deixa muito contente com a produtividade do time, já que os números não podem mentir nada!
Eu-Sobre questão da marcação, você não acha que flamengo tem tomado muitos gols mas costas do vagabundo do Rafael Vaz?
Zé- sim, o vagabundo do Vaz marca muito mal, mas com o Marcio ali ajudando muito e com a velocidade que tem, fica mais fácil encaixar a marcação Baixa, já que na marcação alta a gente necessita muito da ajuda dos atacantes.
Japa-É verdade que você estudou muito cientificamente Os conceitos de futebol?
Zé- sim eu tenho estudado O máximo que posso, Apesar do tempo ser curto entre um jogo e outro, O calendário é muito apertado E não dá pra gente ficar fazendo muitas coisas diferentes. Mas o Marcio ajuda muito trazendo várias opções de marcação no meio-campo isso facilita meu trabalho intelectual.
Eu-Nós todos sabemos que o Brasil passa por um momento político muito delicado, qual sua opinião sobre o que está acontecendo em Brasília?
Zé- Eu acho que a situação realmente delicada, inclusive estava pedindo a opinião do Marcio para saber como votar ano que vem, seja para presidente, para o Congresso ou para um plebiscito. Acho muito importante a ajuda do Marcio, que intelectualmente faz a marcação baixa e alta de uma maneira eficiente e sem igual em qualquer outro time ou jogadores que vocês conheçam!
Existe a possibilidade de você colocar em campo o Everton Ribeiro e o Diego mais próximos, com a retirada de um dos volantes-cabeça-de-área, apesar do hífen ter caído na ultima reforma ortográfica?
Zé- A gente trabalha todos os dias pra aprimorar o time, que eu tenho o maior orgulho de ser parte dessa comissão técnica, e os volantes fazem parte do planejamento, que inclui o Márcio como pilar, e os resultados estão começando a aparecer, porque como o Márcio sempre diz, futebol é uma caixinha de surpresas!
Eu- Você é a favor do Fora Temer ou pertence aos 3% que são da família dele?
Zé- Sempre existem outras possibilidades, a gente vai tentando encontrar com os poucos treinamentos que temos por causa da repetição dos jogos, quarta e domingo, as vezes sábado, e no final queremos os melhores resultados, mas com base científica e com a ajuda do Márcio, que tem entrado muito bem e que agora mais adiantado vai poder não expor toda uma dificuldade que ele supera com treinamentos e superação!
Elbinha- Você já fez sexo hoje?
Zé- Fizemos, Márcio?
Para dizer a verdade do que me permitiu a leitura, uma crônica igualmente com delay.
A melhor sacada – ^durante aquele Flamengo x Coritiba pavoroso^.
Põe PAVOROSO nisto. Que Senhora Pelada, pena que não era a minha companheira de berçário e companheira inesquecível das inesquecíveis crônicas do Arthur, a Claudia Cardinale.
Começou de forma enganadora.
Logo aos sete minutos, uma bela jogada, triangulação Geuvanio-Everton Ribeiro-Berrio, com a bola beijando tranquilamente as redes adversárias.
Depois, no primeiro tempo, apenas um maravilhoso passe de três dedos do Geuvanio para o Everton Ribeiro, que concluiu bem, mas o goleiro fez ótima defesa.
Mais nada, até o intervalo.
Começou o segundo tempo, não tinha voltado ainda à poltrona, quando ouvi, sem delay, o berro de gol do locutor. Berro sugere Berrio. Ledo engano. Foi deles, graças, pelo que pude ver depois, a mais uma falha, entre tantas neste campeonato, da nossa zaga de área, que, jogue quem jogar, é horrorosa. A exceção foi a curta passagem do Rhodholpho, que logo se contundiu.
Bem, melhor, de qualquer forma, do que o Conca, que sequer se descontundiu ainda.
Seguiu-se um filme macabro, atenuado pelo zagueiro adversário.
Foi, concordo com o Marcelo, um penalty MUITO BEM cobrado, mas foi, por outro lado, o penalty mais sem propósito que eu vi, não só na Ilha, como também no Maraca, em Figueirinha, em Campos Salles, São Januário, Laranjeiras, etc etc, até chegar à Gávea, que nenhum rubro-negro já senil pode deixar de citar.
Aguardemos esta semana, importantíssima.
Santos, pela Copa do Brasil, e Corinthians, para tentar salvar o Campeonato.
No título, não acredito, mas uma vitória, quebrando uma invencibilidade de TRINTA jogos dos gambás, já seria a GLÓRIA.
Esperançosas SRN
FLAMENGO SEMPRE
Não sei o que pode ser pior do que ver Flamengo e Curica aqui em SP com delay em relação aos vizinhos. É foda.. Já passei por isso. Tem coisas que não desejo a ninguém, como o Caramujo e depois o Delay (isso, só Caramujo pode superar). He, he.
Eu tenho problemas de delay do quarto do meu filho para o meu. Na cobrança de Diego no pênalti contra o Palmeiras entrei no banheiro e fiquei esperando o grito dele. Como não veio, já fiquei sabendo da desgraça.
Muito bom. Parabéns!
Vi o fim do jogo pelo aplicativo do PPV pelo celular DURANTE UM CASAMENTO, na pista de dança. Devido ao nosso amigo DERLEY (de uns 7s também) e às notificações do Whatsapp que aparecem no topo da tela, tive que assistir à cobrança do ER7 tapando com os dedos o espaço onde elas aparecem para evitar saber “o futuro” – ou seriam xingamentos ou exclamações de alívio.
Rende crônica isso! Mas espero não ter de ver ou viver isso jamais. Será que alguém já viu alguma vitória do Flamengo do altar? Aposto que sim.
Padeço exatamente dessa agonia do delay. Moro no conjunto ao lado da Ilha do Urubu. Como não pago PPV não vejo os jogos pela TV, mas no caso do Fla x Santos da Copa do Brasil que passou na Globo, eu ouvia os gritos da torcida antes dos lances. O que é uma grande agonia, já que você acaba torcendo para ouvir gritos antes dos lances. Se o jogador se prepara pra chutar e há o silêncio, já sei que não foi gol. É terrível. Mesmo nos jogos da Globo, o sinal da Oi é uns 3,4 segundos atrasados. Sempre escuto gritos antes, é como ouvir jogos narrados pelo Penido.
Excelente analogia. A torcida do Flamengo é uma força da natureza, intempestiva e apaixonada, completamente passional. Muitos torcedores dedicam tempo, dinheiro e a vida ao Mengão, isso explica talvez a impaciência com a aparente falta de resultados concretos da hegemonia Flamenga, que tende a ser cada vez mais notória e evidente. O tempo nos dirá.
Na América Latina essa potência já se faz presente. Temos a maior torcida, mais inscritos no YouTube, maior engajamento no Twitter, camisas que vendem mais rápido que água no deserto. Isso é resultado do esforço da diretoria, claro. Mas o Flamengo é uma Nação por causa dos seus torcedores, uma massa heterogênea de médicos e pacientes, professores e estudantes, garis e prefeitos, taxistas e motoristas de Uber, nordestinos, índios, gaúchos, cariocas, paulistas, capixabas, soteropolitanos e de estrangeiros além de nossas fronteiras nacionais.
Visões de mundo diferentes, impaciência com a urgência do resultado imediato. Aprendemos assim porque sofremos muito nos anos 90 e 2000, agonizando e sangrando com diretorias corruptas e passagens de jogadores que não davam o melhor de si para o clube. Flertávamos com a Zona de Rebaixamento por várias vezes. E demonstramos nossa força e fidelidade nesses momentos.
O cara que paga quase 300 numa camisa e junta moedas pra completar a grana do ingresso tem o direito de ficar puto. Mas não dá pra dizer que um dos campeonatos mais difíceis do planeta é obrigação. Quem viu o Esquadrão de 81 realmente tem um padrão muito alto do que é o Flamengo.
O que nos resta é ter paciência e torcer. Já tivemos dias muito mais difíceis e superamos. Saímos muito mais fortes das crises, de jogadores que aprontavam, de dirigente fazer carta pedindo bom comportamento aos jogadores, de farras, comportamentos que mancharam a imagem do clube. A péssima fama do Flamengo é coisa do passado. Novos tempos estão chegando. Quando nossos rivais perceberem o que está acontecendo será tarde demais.
Flamengo até morrer.
É isso aí, Ricardo. O Flamengo já brilhou no Canal 100, já brilhou a cores, já brilhou na imagem tosca da TVE com Januário de Oliveira, há de brilhar em HD. Abração.
Esse delay dá mais raiva que o Márcio Araújo! Mentira, nem tanto…
No delay tem vezes que a bola entra…