Há uns 10 anos mais ou menos o poder mudou de mãos no Flamengo. A chapa que reunia uma nova galera de nomes desconhecidos e sem tradição nos gabinetes da Gávea com alguns poucos nomes dazantiga venceu a eleição. O nome da chapa era Flamengo Campeão do Mundo e naquele momento não ficou bem claro o quanto de ironia o nome da chapa carregava.
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Afinal, o Flamengo vivia o auge da sua porralouquice administrativa, cevando mensalmente uma dívida de 750 paus que 9 entre 10 especialistas em finanças diziam ser impagável. Vencedores no pleito de 2012, os caras da chapa Flamengo Campeão do Mundo propuseram à torcida o que na época pareceu ser um dos piores negócios do mundo.
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O Flamengo se encolheria esportivamente ao mínimo denominador comum, futebol, basquete, remo e umas poucas modalidades parrudas o bastante para escapar do cutelo boladão do downsizing enquanto “os carecas” — ora só, veja você – pagariam dívidas. Nada de time forte, nada de contratações espetaculosas, pelo contrário.
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De cara ficou óbvio que o tal Flamengo Campeão do Mundo era só uma marca fantasia, já que se referia à uma competição a qual o Flamengo só buscaria alcançar depois que a dívida estivesse paga. O que segundo o pensamento de 2013, significava nunca. Mas a torcida do Flamengo, sempre exigente, colérica e insaciável, sabe-se lá por que, foi na conversa dos caras, comprou esse carnê da Aposentec e apoiou os “blues”, até com dinheiro, na sua impopular cruzada de higienização fiscal e recuperação do crédito do Flamengo na praça.
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O Flamengo até ganhou uma Copa do Brasil no embalo, na empolgação, e se colocou, de fato, rumo a Tokio novamente. Mas o período foi de grande sofrimento. Cada boleto que o Flamengo pagava era impresso com o sangue dos ovos da torcida, que logicamente achava que pagar contas, ter bom nome e andar de cabeça erguida pelas cercanias do Forum não valiam o sacrifício de apoiar times tão vagabundos.
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Porque apesar de dizerem estar fazendo economia os caras conseguiam trazer pra Gávea uma plêiade de perebas superestimados e caríssimos que não ganharam nada e não deixaram nenhuma saudade. E depois daquele Copa do Brasil vencida meio na cagada não se ganhou mais nada que prestasse na Gávea. Carioca não conta.
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Mas o tempo passou, a dívida um dia foi mesmo equalizada e o antigo bicho papão passou a ser só uns numerozinhos insignificantes no meio de um orçamento de milhões e milhões que o faturamento cada vez maior cumpria ano após ano. O jogo virou completamente em 2019, quando uma dissidência da chapa Flamengo Campeão do Mundo se elegeu. Dessa vez além de gente nova na Gávea entraram na ficha do samba vários daqueles que no passado contribuíram decisivamente para construir aquela dívida impagável.
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Só que nessa altura do campeonato já não importava, o Flamengo virou máquina, o dinheiro jorrava, na Gávea não se podia abrir uma gaveta de onde não saltasse um maço de dinheiro. Eles acabaram descobrindo que esse dinheiro que só faltava dar cambalhotas e acenar pra arquibancada poderia ser usado pra comprar jogadores bons.
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Após essa epifania dos cartolas os craques realmente vieram e os títulos começaram a se empilhar no Flamengo. Como resultado, depois de 38 anos, o Flamengo voltou a disputar o Mundial de Clubes. Não ganhou, mas fez bonito e provou que estava mesmo em outro patamar.
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Em 2023 o Flamengo, com incontestável merecimento, novamente disputou o Mundial. Só que desta vez o Flamengo conseguiu a façanha de perder o Mundial. Uma situação rara e embaraçosa, que ocorre apenas quando um time não é capaz de passar pela semifinal da competição, geralmente enfrentando um time do 4º ou 5º mundo do futebol.
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Em 2019 a arcoirizada, se roendo de inveja, ironizava o Flamengo dizendo que o time jogara de igual para igual com o Liverpool, mas fora derrotado na prorrogação. Não há inveja ou rancor se dissermos que no Mundial de 2023 o Flamengo jogou de Hillal para Hillal, perdendo canhestramente por 3 x 2 para um time fraco e sem tradição no futebol sério, cujo maior feito até hoje foi ter comprado o Rivelino dando um beiço no Fluminense com um cheque borrachudo.
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O Flamengo inclusive já tinha, de uma certa forma, lavado a honra do coirmão de Laranjópolis passando a perna nesses caloteiros arábicos em 2021, quando vendeu o Michael pra eles por mais de 8 milhões de dólares. Motivos pra querer se vingar do Flamengo oa arabianos tinham.
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Acabou que se vingaram mesmo, contando com a extrema docilidade e boa vontade do próprio Flamengo. Que fez tudo que estava ao seu alcance para garantir a entrega dessa rapadura. Demitiu treinador a menos de dois meses do início da competição e estendeu aos jogadores um benefício ao qual só desembargadores e juízes das altas cortes têm direito: férias remuneradas de 60 dias.
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Pra completar o pacote de bondades ainda trouxe um técnico obscuro cujo ponto alto na temporada passada foi ter vencido o Flamengo em casa com um gol contra de Rodinei. Pra completar o pacote de benefícios os amigos de calções, chuteiras e camisa linda demais não jogaram absolutamente porra nenhuma. Admitamos, o Flamengo deixou o corpo, esperou o contato, o contato veio. Pode nem reclamar do juiz, um ladravaz romeno auxiliado por um VAR espanhol. Segue o jogo.
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Mesmo com parte da Fla Avestruz, da Fla Gratiluz e da Fla Puxa-Saco contestando a cristalina classificação da derrota na semi do Mundial na pasta vexame, os fatos, os números, os estudiosos e até os frentistas dos postos de gasolina confirmam que perder pro Al Hillal foi muito vexame, um enorme vexame, dos maiores da história rubro-negra.
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Nas melhores comunidades, famílias, quadrilhas e bondes rubro-negros a enumeração e o ranqueamento desses vexames tomaram grande parte da quarta-feira pós derrota. O que foi até legal pra desinchar um pouco a cabeça e despertar a consciência de que em passado recente já estivemos muito mais na merda do que estamos hoje.
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Na teoria, qualquer não vitória do Flamengo tem um pouco de vexame, mas algumas não vitórias são escrotas, idiotas ou injustificadas demais para que não mereçam destaque negativo, vigorosos arranjos para orquestra de cornetas e autoflagelação pública. Aliás, a palavra vexame, cuja ficha no pai dos burros diz: sentimento de vergonha causado por desonra, rebaixamento moral, timidez; decoro, humilhação, opróbio, pudor, tem suas origens etimológicas na palavra latina vexare, que significa atormentar, agitar, inquietar.
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É difícil não se inquietar ao dar uma olhada rápida nessas listas de vexames. Os mega vexames Santo André e America do México são obrigatórios em qualquer lista, mas é impressionante como a percepção de vexame está intimamente ligada ao medo maior do Homo Futebolis, que é ser zoado por rivais locais.
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Derrota para Foguinho reserva, Fla-Flus perdidos com gol de Somália, chocolates de Páscoa distribuídos pela vasca no século passado, derrotas pro Bonsucesso com gol de Manicera nos anos 60 e outras micro histórias da crônica esportiva liliputiana são muito recordadas, enquanto sonoras tamancadas que o Flamengo levou no Paraná, em Minas ou no Uruguai em passado recente mal são lembradas.
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Mas isso é fichinha perto das listas de vexames elaboradas pelos rubro-negros ortodoxos. As listas desses caras já abrem com o que consideram o maior vexame da nossa história: o naufrágio da baleeira Pheruza em 1895, quando os seis jovens remadores voltavam de um rolé em Gragoatá. Para o observador normal, minimamente ponderado, não parece justo que um naufrágio seja considerado vexame, já que o mar nem é um rival do Flamengo.
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É justamente por essa maneira ponderada e racional de pensar que observadores normais jamais serão rubro-negros ortodoxos. Para estes o mar é rival do Flamengo, sim, um adversário terrível e quase do mesmo tamanho, já que o Flamengo é, cientificamente falando, uma força da natureza.
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Para os ortodoxos, que às vezes demonstram alguma coerência, essa teoria também se aplica ao vento que, com a auxílio de Pitico, nos derrotou em Montevideo na final da Libertadores 2021. Pitico já foi neutralizado e hoje entrega suas paçocas lá na Premier League. Vento, pode esperar, a sua hora vai chegar.
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O Flamengo, que mesmo depois do vexame da semi não deixaram se esconder em uma caverna e terá que disputar o vexaminoso terceiro lugar do Mundial na frente de todo mundo numa espécie de preliminar bastarda para o jogo que vale o título, precisará ser gigante.
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Gigante de corpo, alma, coração e mente. Porque mesmo que ao fim da pelada dos proscritos o Flamengo conquiste o duvidoso direito de se jactar como terceiro melhor time do mundo, a mera participação em tal jogo já é um puta vexame que jamais poderá se repetir.
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Mengão Sempre
Que baita confusão eu fiz. Nem tanto por culpa minha, muito mais por conta da execrável tecnologia dos tempos atuais.
Dito isso, vamos ao que interessa.
A recente Copa do Mundo de Clubes.
Um grande campeão.
Duas exibições lindas do Real Madrid.
Jogando da forma que gosto.
Pra frente, onde os meninos resolvem.
A defesa, nem é tão importante assim. Aliás, todos os grandes clubes ou seleções do passado levavam muito mais em consideração o poder ofensivo. Grande balela dizer-se que a defesa é o melhor ataque.
A famosa seleção húngara do Armando Nogueira, comandada pelo genial Puskas, ganhava de 6 x 3, de 4 x 2, como fez diante do Brasil e do Uruguai nas quartas e semifinal de 54.
O destino, com suas armadilhas, não permitiu o título, um absurdo pois aquela seleção da Alemanha era bem fraca.
A Holanda, com o incrível comando do Rinus Mitchel, fora das quatro linhas (aqui sem, cabe quatro linhas, mas da Constituição é do caralho), e do também genial Cruyiff, de dentro, também sapecava goleadas a torto e direita, deixando a defesa num notório segundo plano.
Nesses dois jogos, contra adversários inexpressivos, o Real deu-se ao luxode jogar sem lateral esquerdo, pois o Camavinga é tudo menos um bom lateral defensivo. O gol do Marega foi um exemplo perfeito.
Que exuberância de jogadas lindas. O nosso Vinicius Jr soberbo, comoo também o uruguaio Valverde, além da magia técnica dos velhos monstros do meio campo Kroos e Modric.
Valeu a pena ver.
De há muito não sentia tanto prazer em assistir as partidas deste esporte fantástico que é o futebol.
Valeu, Real Madriid !
Do Flamengo, muita preocupação.
Fraco nos dois jogos.
Vamos ver o que fará contra um timeco equatoriano na Recopa.
Obrigação de ganhar, em função do inexpressivo adversário.
É isso aí.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
Bom dia
Para ser honesto com todos os ilustres frequentadores desse espaço, hoje em dia, lugares com bons conteúdos relacionados ao Flamengo, na minha humilde opinião são dois: O República Paz e Amor e o Buteco do Flamengo. Blogs onde o Flamengo é tratado como merece… Uma pena que aqui passamos bastante tempo sem crônicas… Sou um admirador tanto das pessoas que escrevem aqui, bem como dos Rubro-Negros que deixam suas ricas contribuições através dos comentários…
Acho que ninguém mais lê o RP&A além de nós, velhos (em todos os sentidos) comentaristas, que passam por aqui pra se deleitar com as tuas crônicas, Arthur. É lamentável constatar que quanto mais inteligente, criativa e calcada na verdade dos fatos é qualquer publicação ou vídeo, menos seguidores tem, seja em que plataforma for. É o retrato de um momento histórico obscurantista em que, mais uma vez, a inversão de valores se sobrepõe à proposta original. É o caso, agora, da internet, como já foi, e continua sendo, a televisão. Ambas usam os humanos tendo como único objetivo o lucro, em vez de serem por eles usados, a fim de aprimorar e acelerar a evolução pessoal e coletiva.
No debate sobre a vexaminosa atuação do Flamengo no mundial de clubes o foco do fracasso vai (quase) exclusivamente pro Vitor Pereira, com a nobre, mas não surpreendente, exceção do Mauro Cezar. Pelo tempo e condições de trabalho, embora ele tivesse plena consciência de quais seriam, o VP é o menos responsável. A baderna começa na penthouse do omisso Landim com seu mordomo Braz blindando o patrão de qualquer inconveniência inesperada e se espalha pirâmide abaixo com Spindel, Dunshee, Bap, Gustavo Oliveira, os incompetentes de sempre, incluindo os inúteis Fabinho e Juan. isso não é novidade, ao contrário, bastante previsível – dirigentes do futebol brasileiro pouco se diferenciam uns dos outros na imensa capacidade de fazer merda além de traços específicos de personalidade. O estarrecedor é que os jogadores sejam poupados de críticas em todos os níveis e não apenas pelo desempenho no campo. Embora os quase 2 meses de férias sejam injustificáveis prum elenco com data marcada pra supercopa e mundial, a atitude deles em campo, em ambos os confrontos, foi simplesmente disgusting. Ou plagiando o Zico, “O Flamengo não foi Flamengo” (embora, ele próprio, Zico, nunca tenha levantado sua divina voz pra se indignar contra a inominável postura dos dirigentes do Flamengo em relação à morte dos garotos do Ninho).
Só o quarteto Arrascaeta, Everton Ribeiro, Pedro e Gabigol fatura quase 6 MILHÕES POR MÊS. Esses caras são funcionários do Flamengo mas quem os paga e sustenta SOMOS NÓS, TORCEDORES. Eles têm de entregar, a cada partida, por obrigação contratual e moral, 1000%, estando em perfeitas condições físicas e técnicas, com inquestionável comprometimento, e não com pneuzinho na barriga como o apresentado por Arrascaeta com a justificativa patética de estar voltando de férias.
Por essas e por muitas outras similares, o futebol, “por não ser só futebol”, mas o reflexo de uma sociedade em franca decadência, me entusiasma cada vez menos.
Palmas de pé, gritando BRAVOS e pedindo bis, como nos velhos tempos doo Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Minhas escusas.
Palmas para o Rasiko
Arthur, minhs escusas.
Errei ao colocar.
As palmas, bravos e bis eram para o Rasiko
Palmas de pé, gritando BRAVOS e pedindo bis, como nos velhos tempos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro !!!!!!
Arthur, meu querido cronista,
esse vexame eu já cantara em verso e prosa em anteriores comentários.
Preferir um Gérson a um João Gomes é como preferir um paraguaio sem-vergonha a um puro malte escocês legítimo. Mas, sem maiores explicações, a comi$$ão “técnica” fez um péssimo negócio para o Flamengo.
“Em time que está ganhando não se mexe.” Então, por que não seguraram Rodinei, João Gomes e Dorival Júnior?
Eu também não sou de reclamar. Porém esse juiz ladrão por certo traz engasgado no meio do c* o fato de a Romênia jamais ter vencido o Brasil. Foram quatro jogos. Um empate e três vitórias, sendo três amistosos e um 3×2 na Copa de 1970.
A inveja é uma merda.
SRN!
Em tempo: concordo integralmente com o comentário do Rasoko.
Você esqueceu do maior de todos os vexames, aquele que nunca deveria ser esquecido e sim cobrado em todas as instâncias jurídicas, morais e humanas: A MORTE DOS MENINOS DO NINHO, que acabou de completar 6 anos e os responsáveis por tamanha tragédia continuam não só impunes como mendigando merrecas pra indenizar as famílias que NUNCA vão se recuperar de um trauma tão violento e do sofrimento da perda, especialmente da maneira que foi.
E esses responsáveis têm nome e sobrenome: Rodolfo Landim, Rodrigo Dunshee, Bap, Marcos Braz, Bruno Spindel, Gustavo Oliveira e outros menos expressivos dessa gang que, por si só, envergonha a história do Clube de Regatas do Flamengo.
Os mesmos que fazem questão de pagar 1 milhão de salário pro inútil, escroto e mau caráter Vidal, 18 milhões de euros pro inacreditável pereba do Cebolinha, 7 milhões pelo porra-louca do Marinho e milhões em indenizações pra Domenecs, Paulo Sousas e Rogério Cenis.
A morte dos meninos do Ninho, isso sim é vexame. Assim como a cobrança, esse vexame jamais deveria sair da memória do torcedor rubro-negro. Esse não faz parte do jogo.
Palmas de pé, gritando BRAVOS e pedindo bis, como nos velhos tempos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro !!!!!