A sorte aziaga de muitos clubes proporciona aos seus torcedores o privilégio de dizer após cada fracasso, com a maior das sinceridades, “Tem coisas que só acontecem com . . .” (você completa a frase pondo o nome de um time pequeno qualquer causador de sofrimento e vergonha).
É uma frase muito legal, de um fatalismo conformado, que permite ao torcedor se sentir heroico mesmo que o seu time não tenha ganho absolutamente porra nenhuma. É uma nobreza de caráter que se adquire só por ter suportado assistir aos jogos e não ter desistido de uma vez do martírio.
Esse é um privilégio que os torcedores rubro-negros não podem desfrutar. Porque com a gente rola exatamente o contrário. Tem coisas que nunca acontecem com o Flamengo. Uma dessas coisas que nunca nos acontece é passar despercebido, se mesclar à paisagem, amargar a suprema irrelevância de não ser notado. Com o Flamengo isso nunca aconteceu.
Outra coisa que nunca aconteceu no Flamengo é chegar a um momento decisivo, à antessala de um triunfo ou consagração, sem ter passado por uma série interminável de peripécias, incidentes, contratempos e perrengues dos mais variados que quebrariam o espírito de qualquer outra irmandade bárbara dedicada ao entretenimento das massas fanatizadas.
Como sói acontecer com o Flamengo, mesmo quando seu elenco era uma farândola de perebas superestimados, e contrariando nove entre dez gatos-mestres com contratos vigentes em algum veículo de comunicação, o que deveria ser um monótono campeonato disputado à meia-bomba por equipes destroçadas por uma pandemia em macabros estádios desertos no frio sistema de pontos corridos, chega à sua penúltima rodada com a bola preta na mesa. E o mérito disso é todo nosso.
O Flamengo, com sua mania besta de perder pontos pra times pequenos e um extraordinário desempenho no quesito chances claras perdidas (mais de 100 no campeonato!) transformou um jogo que, pela lógica, deveria ser apenas pra cumprir tabela em uma autêntica decisão de mata-mata. Se as coisas aqui nessa Terra de Vera Cruz guardassem algum respeito pela normalidade o Flamengo já teria comemorado o Octacampeonato na rodada 30 ou no máximo na 31. E agora tamo aí nesse sanhaço disputando o título com uns caras famintos que ostentam sete vice-campeonatos brasileiros, sendo dois deles pra nós.
Esse poder de subversão das regras estabelecidas sempre foi uma característica flamenga, taí mesmo o Brasileiro 2009, decidido na última rodada com gol histórico de Angelim, que não nos deixa mentir. E como em toda decisão em que o Flamengo se mete, além do peso do favoritismo que nos é natural, temos que lidar com os pequenos perrengues de última hora que são elementos quase obrigatórios nas crônicas das nossas vitórias.
O perrenguinho da vez foi o hálux, também conhecido como dedão, do Arão. O primeiro pododáctilo do pé direito do nosso primeiro volante, em uma incursão não muito bem explicada ao próprio banheiro, fez como muitas instituições financeiras de muito renome e tradição quando deixadas sem a devida fiscalização, foi à garra, quebrou.
O que se destaca na contusão do Arão é a sua domesticidade, a absoluta ausência de drama das pequenas tragédias da vida privada. A miudeza da contusão não aporta nada à crônica de uma partida que já se enxerga imensa. Falta ao dedo fraturado no banheiro da suíte máster a inconsequência do Adriano se queimando num rolé de moto no Complexo ou pisando numa lâmpada durante uma orgia com funkeiras, anões e jumentos no Vip’s.
É um evento caseiro, infinitamente menor que o jogo, é só um azar do caralho típico do Flamengo. Mas é um azar que obriga o popular Rogério Ceni a mexer na única coisa certa que ele fez até agora no Flamengo, isto é, meter o Arão na zaga. Ceni agora vai ter que conversar com o Diego, ou algum subchefe da resenha, pra escalar o time.
É como se os deuses do futebol tivessem decidido que a parada de domingo tem que ser resolvida só pelos jogadores e mais ninguém. Confirmado o famoso salmo, De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades. Amém, em nome do Senhor Jesus.
É exatamente aí que os folgados deuses do futebol dão aulas de justiça. São os dirigentes e os jogadores que estavam na campanha épica de 2019 e que deixaram a maionese desandar os portadores originais da obrigação do Brasileiro. Aquela faixa, que anda sumida das arquibancadas, exprime visualmente a modéstia e a humildade rubro-negra. Foi feita pra dar um alô pros jogadores e pra aqueles que venderam e compraram, contrataram e demitiram, mal pra cacete em 2020. É sobre eles que recairão todas as loas ou todas as cobranças.
Teremos um grande jogo, daqueles que se não vencermos, já era o brinquedo. E ainda tem a ironia dos divinos sacanas de tirar da partida logo o jogador preferido do Abel e por na pista um maluco que alegremente se desfez de 1 milhão de reais (fora os impostos que incidem sobre doações) para que o Inter possa pagar a multa por escalar o Vogts de Tatuí que o Flamengo emprestou. Agora só falta o Abel escalar o Paolo Berrero, mas nem quero sonhar com a possibilidade, se melhorar estraga.
O universo conspira a nosso favor. Só não vê quem não quer. Os limites de até onde podemos ir não param de se expandir. Perseverança, ganhou do sórdido fingimento. E disso tudo nasceu o amor. É o Mengão Cósmico rumo a Marte.
Mengão Sempre
SEGUE O LIDER !
SRN !
Desculpem se eu estou aqui de novo enchendo o saco de vocês, mas é que eu ando puto dentro da roupa com o que estou vendo no futebol mundial, os grandes times, aqueles que jogam realmente para ganhar, procurando o gol o tempo todo, não estão ganhando mais porra nenhuma, os timecos ficam lá aguardando a tal chamada bola do jogo. O Liverpool não ganha mais de ninguém. Acabei de assistir o Barcelona massacrar o tal de Cádiz, cujo nome me é até simpático pela canção popularíssima que trago gravada na minha mente desde a infância, Les filles de Cadiz, de Leo Delibes que toda soprano que se preza já tirou seu sarrinho nela, composição de ocasional, mas belíssima, como só Delibe sabia fazer. Mas apesar dessa simpatia não havia como não torcer pelo Barça tamanha a superioridade. E lá foram os caras e no final empataram de pênalti, que acabou sendo a bola do jogo para os incompetentes. Não precisa dizer que estou sofrendo por antecipação, nas minhas crises antecipatórias, tipo medo de ter medo, os muquiranas dos sem drenagem ( Arthur dessa vez não falou, mas eu falo) vão entrar nessa, ficar lá atrás naquela retranca abelina. Espero que mesmo sofrendo a gente ganhe, caso contrário ainda teremos que ouvir sandices tais como ” o Abel deu um nó no Ceni”.
Como eu sou um eterno admirador do óbvio, só falo o óbvio, mais uma obviedade para a coleção. Falam por aí que o Flamengo já deveria ter ganho essa porra. Certo. Mas o que ele fez obedece simples troca: perdeu as partidas que não deveria perder e ganhou (está ganhando, espero)as que “poderia até perder”. Provas em contrário, cartas para a redação.
Jorge da capadócia está fechado com o certo, para que nossos inimigos tenham pernas e não nos alcancem !
Hoje é o começo do fim do campeonato
Saudações rubro-negras
Rumo ao octa
Conforme bem disse o Arthur, o universo conspira a nosso favor.
Nunca fui adepto de improvisações em time de futebol.
Arão não é zagueiro e Rodrigo Caio jogou a vida inteira pela zaga direita. Portanto, estávamos jogando torto e improvisados na zaga.
Amanhã tudo volta ao normal. Cada um na sua. Rodrigo Caio pela esquerda e Gustavo Henrique pela direita.
SRN!
O Arthur é que nem o Flamengo, cresce a qualidade das já geniais crônicas perto de jogos decisivos.
SRN
“Falta ao dedo fraturado no banheiro da suíte máster a inconsequência do Adriano se queimando num rolé de moto no Complexo ou pisando numa lâmpada durante uma orgia com funkeiras, anões e jumentos no Vip’s.”…kkkkkkkkkk….mais um trecho antológico do Arthur.
Pra cima deles MENGÃO!!!
o jogo ainda não começou?
PQP !
SRN !
Rapaz, guardadas as devidas proporções, lembrei logo do Impera queimando o pé no rolê de moto na favela (ou na bem menos interessante lâmpada do jardim do condomínio) na reta final de 2009. Fomos de Dênis Marques e Bruno Mezenga. É tudo nosso!
“De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades.” Esse “salmo” é conhecido. E mais não direi…
Não concordo que a única coisa que o ceni fez de bom foi o Arão na zaga. Rodrigo Caio estava machucado. Ceni não fez nada de bom. Nos tirou de duas competições e só não nos tirou da terceira porque o time dele bambis paulistas ficou mestruado em 2021.
Na prática, o valor foi doado ao Internacional ou ao Flamengo? Quem será beneficiado pela escalação ou não do Rodinei, o Internacional ou o Flamengo? Acho que independente do resultado o Flamengo irá ganhar alguma coisa. SRN
Vai que o Rodinei faz um gol contra, atrasa uma bola errada pro Lomba…vamos aguardar rsrsrs
Rodinei mostrou que é fechado com o certo.
Artigo, a nota ? A mesma de sempre – 10 !
O jogo – tremenda expectativa, nervosismo total, espero que somente por parte dos torcedores.
Ansiosas SRN
FLAMENGO SEMPRE
PS – perdi uma aposta com meu filho. Garanti que o Arthur ia meter no texto, quando saisse, um “semdrenagem” da vida
Hahahahaha!
Sem drenagem e Uruguai do Norte são clássicos!
Caramba, obrigado, Arthur!
Amanhã o Bruno Henrique irá castigar cinco gerações de colorados.
Vai pra cima deles, Mengo!