Se eu ganhasse um real cada vez que o Flamengo se fodeu porque privilegiou Campeonato Carioca em detrimento da Libertadores eu só teria 12 ou 13 reais. Mas se eu recebesse um centavo a cada vez que o Rogério Ceni pisou no ovo desde 14 de novembro de 2020 hoje eu certamente já seria um rentista safado querendo mais é que a taxa de juros continuasse nos píncaros e que o Brasil e seus 209 milhões de pobres se lascasse. Pra sorte do país, e meu azar, não recebo nenhum dinheiro quando o Flamengo faz dessas falsetas como no jogo com a LDU.
Era um jogo mais fácil que pescar de bomba, a LDU é a fina flor da baba equatoriana, sem comprar a proba Comissão de Arbitragem da FERJ não pegaria nem uma semifinal no nosso pobre carioqueta. Era só Rogério colocar as peças quadradas nos buracos quadrados e ir pro jogo tranquilão pra garantir antecipadamente a classificação em primeiro no grupo e, talvez, até no geral.
Mas, infelizmente, não rolou. Baixou no Rogério um espírito obsessor, provavelmente ainda apegado às priscas eras em que a garota de Ipanema era um avião e o Tom Jobim não era um aeroporto. Uma antiguidade até recente, mais ainda antiguidade, onde a porra de um Carioca, hoje um campeonato safado e decadente, valia alguma coisa.
Provavelmente inebriado pelos odores naftalínicos que emanam do respeito excessivo pela avoenga disputa interbairros que fode com a vida do Flamengo desde 1912, Rogério se trancou no laboratório do Ninho com uma lata de leite Moça, três pães franceses e uma garrafa térmica de café e de lá só saiu depois de conceber uma das mais tóxicas escalações da história do heroico e fuderoso Mais Querido da Gávea.
Com o nobre intuito de neutralizar as recorrentes cagadas de nossos controvertidos zagueiros, o estrategista de Pato Branco concebeu um esquema diabólico. Preocupado, com muita razão, com a fragilidade dos zagueiros de ofício no elenco, Ceni pensou fora da caixa e escalou logo os três perebas juntos. Leo Pereira, Gustavo Henrique e Bruno Vianna entraram em campo com a complexa missão de marcar não só os atacantes da LDU, mas também aos outros dois colegas de zaga.
Obviamente que deu errado, os maluco não só batero cabeça, como de hábito, como ainda contaram com a ajuda de outros amigos, como Gerson-Cabeça-em-Marselha, pra não marcar ninguém e deixar chusmas de equatorianos entrarem peladões na área do Flamengo e além de fazerem gols, largarem a toalha molhada na cama. À luz da doutrina cenista o amigo Arão, que antes do jogo chorou na FlaTV e fez juras de amor e lealdade ao Flamengo, ficou encarregado de pastorear essas mulas.
Mas nessa aí Rogério também não se deu bem. Aos 15 do primeiro tempo, do nada, sem provocação prévia, Arão surtou e meteu uma bicuda na cara de um coitado lá. Avermelhado, foi curtir o seu 300º jogo pelo Flamengo na paz e na quietude do chuveiro do vestiário. Nesse contexto específico é obvio que todo mundo preferiria que Arão tivesse continuado na zaga, onde inclusive há maior tolerância para os chutes na cabeça do adversário do que no meio de campo.
Mas somos forçados a reconhecer que mesmo sem o Arão improvisado na zaga ou pastoreando mulas a defesa do Flamengo continua uma merda. Não é à toa que somos a 8ª defesa mais vazada da competição. O que deixa todo mundo bolado é que o Flamengo tá tomando gol de tudo que é time bosta. O que vai acontecer quando bater de frente com um time bom? Quem viu o golaço do Julian Alvarez, do River, já sabe que no mata-mata o bagulho vai ficar neurótico.
Antes fosse só na zaga que o Ceni tivesse inventado. Mostrando que a cada dia ele absorve mais um pouquinho da cultura do clube, Ceni já incorporou uma das características mais jecas dessa cultura. E demonstrou, não por palavras em coletivas, mas por ações, estar visivelmente preocupado com o Fla-Flu de sábado. Um Fla-Flu que, agora não é hipérbole, não vale absolutamente porra nenhuma. Mas foi por ele que Ceni resolveu poupar vários titulares.
Isla, Filipe Luiz, Bruno Henrique e Arrascaeta ficaram no banco, consternados, assistindo aos seus substitutos arrancarem tufos de grama e errarem tudo que tentaram. Até que saiu o gol do Pedro, meio na cagada, a bola entrou fraquinha na meta, com vergonha. Deu nem pra curtir a emoção. A LDU, pouco incomodada, foi lá na frente fazer uma graça e marcou seu gol. No futebol não tem mais bobo, os caras já aprenderam o caminho, é só cruzar na área que a natureza se encarrega de botar a nêga lá dentro do gol do Flamengo.
Como a progressão no placar não ajudava a confirmar as suas teorias, e sem o seu personal Beckenbauer em campo, Rogério foi obrigado a mexer no time. Coerente, trouxe de volta alguns que ele tinha barrado e jenialmente tirou o Gabigol. Dando um desconto no rigor analítico e atenuando ao máximo as palavras pode-se dizer na super boa que Rogério errou tudo que tentou.
No intervalo o torcedor que não cospe pro alto porque conhece as Leis de Newton já tava bem feliz, porque até então o Flamengo estava fazendo tudo que estava ao seu alcance pra perder o jogo. O empate era, de verdade, um grande resultado. Mas o segundo tempo começou, os equatorianos farejaram o cheiro da carniça e vieram pra cima com a certeza de que peidaríamos outra vez. Os malditos estavam corretos, flatulamos novamente numa bolinha safada que jogaram na área.
Foi se criando um clima terrível. Um ex-deputado recém-chegado de longa temporada em Cannes, em flagrante desespero, chegou a pedir o telefone do Renight nas redes sociais. Acredito na ressocialização, mas soltar o cara pra falar um negócio desses era melhor ter ficado mais um tempo na tranca. Com a maionese já desandada rolou um mini surto de sanidade em Rogério e Arrascaeta voltou a ocupar seu lugar de direito.
Numa falta tipo corner de calça curta o Alcatro pôs a bola na cabeça do Gustavo Henrique e ainda assim foi gol. Gol do Flamengo, é importante sublinhar. Um empate no sufoco, providencial e imerecido, típico dos times que ganham Libertadores. Mas muito longe do brilho e do fulgor que diferenciavam o time canônico de Jesus de tudo isto que está aí. É com tristeza e melancolia que constatamos que o Flamengo, a despeito de suas estrelas, se tornou um time bem comum.
Ainda que nem Rogério e nem ninguém assuma, todas as cagadas desse Flamengo x LDU se deram em função da extraordinária, desmedida e meio idiota, importância que se dá no clube ao possível HEXA TRICAMPEONATO estadual. Como se alguém fosse comer ou beber Carioca. Como se o Carioca pagasse uma fração dos salários de alguém no clube. Francamente, Flamengo, já vais completar 126 anos de vida. Para com essa porra, amadureça. Começa a pensar grande. Faça a revolução, antes que o povo a faça.
E volto a repetir: evite qualquer relação com pessoas de temperamento sórdido.
Mengão Sempre
Nunca mais assisto jogo de basquete pelo rádio. Me lembrei do Gilberto Cardoso e a fatídica final contra o Sírio. Faltando 2 minutos a diferença era de 11 pontos pro Flamengo. Os caras empataram faltando 9 segundos, o Yago manda uma 3 do meio da quadra. Cabô. Tá loko sô. Na próxima só quero saber o resultado. O basquete não tem a cobertura que merece. Esse time, ou melhor, plantel do Flamengo é um autêntico Dream Team. Não sentir falta do Balbi é pra poucos.