“À beira da lagoa Rodrigo de Freitas, dentro da bruma da manhã, só eu, velando o urubu. Só eu, pensando em urubu. Outros urubus, garbosamente, sobrevoavam-nos. E eu, humildemente homem, eu que só tenho braços e passos (estes pesados e dolorosos), era, ali, o único representante da imprensa. Isto é, a primeira pessoa a reconhecer que um urubu, em muitas coisas, é mais perfeito que o homem. Se esta verdade a alguém doer, paciência. O papel do jornalista é dizer a verdade, só a verdade, nada mais que a verdade. Até sobre os urubus”.
Aquele passe do Figueiredo para o velhinho deles foi fenomenal.
Deveria-se ficar de olho nesse cara, acho que cairia muito bem no nosso time.
Deixa eu tentar “resolver” o problema colocado pelo Carlos:
“Danados de feios, parados esperando a carniça.
Maravilhosamente lindos, voando.”
Eh simples – a cara do nosso time:
Quando esse fica parado – é feio pra karai.
Ja se voa – os coraçoes da gente se alegram e ai nasce dele um time lindo.
SRN
Ando com uma preguiça macunaímica de escrever, talvez espelhada no atual modo do nosso time jogar. Mas lendo essa bela crônica vou pro sacrifício. Muitas vezes, daqui de onde escrevo eu fico apreciando os elegantes voos de nossos urubus coroando o morro dos Cabritos, aí eu penso, ali tem carniça, vejam só como fica entranhada no inconsciente essas histórias de que se urubu está voando, tem coisa podre por baixo ( Brasília deve viver sob a sombra dessas asas)), mas os urubus do morro são tão elegantes, desenhando seus círculos quase perfeitos como que apostando quem vai ficar com as asas abertas por mais tempo ao sabor do vento que eu volto voando através do tempo. Sou do tempo que quando o urubu pousava num telhado era morte certa de algum morador da casa. Há pouco tempo um casal da espécie em lua de mel ( acho eu, pois se tratavam com muito carinho) andou aqui na frente no telhado do prédio vizinho, mas acho que desistiram, pois um monstrengo espelhado desses construído pelo homem os espantou, pois viam-se, presumo, multiplicados e se cansaram de tanto beliscar suas múltiplas imagens refletidas. E, para minha tristeza foram cantar em outra freguesia ( urubu canta?) Restam-me as nostálgicas lembranças arquivados em meus pobres neurônios que ainda sobrevivem do som da flauta do Pixinguinha revivendo as peripécias do urubu malandro ou a descrição do Aldir Blanc que diz que o urubu sai voando” na sua canção, cujo nome acho que era ” Fita em série”, só que ali acho que era um condor, mas fiquemos com a lenda.
Parabéns pelo texto. Linda foto (copiei, cobfesso). Vou atrás do livro. Sen querer dar carteirada, sou biólogo de formação e Rubro-negro desde o primeiro pensamento de meus pais. Urubus estão entre minhas aves preferidas. Aprendi com meu pai a brincadeira de perguntar aos majestosos planadores: urubu vai chover? Se batessem as asas, iria.
Hoje, no mundo inteiro os urubus, com nomes mais pomposos de abutres, são ameaçados de extinção. Muitas vezes porque nós, orgulhosos de nossa suposta missão bíblica de por a natureza a nosso serviço, envenenamos carcaças para matar predadores que conviviam há milhões de anos na labuta de caçar presas que extinguimos ou banimos para colocar nossos gados no pastos. Ou envenenados pelo chumbo de nossas munições. Ou de nossos pesticidas. No mundo inteiro também há esforços para evitar a extinção desses valiosos e belíssimos pássaros. Desde abutres no Oriente Médio até condores (os gigantes da turma) na California e nos Andes. Alguns humanos especiais chocam seus ovos, alimentam seus filhotes e os soltam, na esperança de que cresçam e se multipliquem. Não deixam de ser tragicamente irônicas a nossa aversão e a nossa perseguição às espécies que, por milênios, labutam para limpar algumas marcas de nossa barbárie ambiental – e morram por isso mesmo. Os urubus não nos matam. Apenas nos lembram de nossa condição mortal. Talvez aí esteja mas uma fonte de nossa aversão. Longa vida aos urubus de todos os tipos! SRN
Urubu é puro amor!
Se a memória não falha e o olho não pisca, o urubu ter se tornado símbolo do Flamengo foi obra do Henfil.
Assim como o Juca Kfouri, pelas mesmas razões, também tive minhas implicâncias com o urubu, hoje mais relevadas diante de tantas evidências de sua importância apresentadas pelos seus defensores, como a de ser uma ave fundamental no equilíbrio ecológico, argumento, alías, que o autor da crônica, nem o Maria – e muito menos o Juca – conheciam.
Ok, tudo bem, vá lá, que seja, engulo o sapo (já que não tem solução, solucionado está), mas, por ser a beleza uma qualidade essencial na minha escala de valores, continuo preferindo a águia.
Como gosto de ler os artigos do Dunlop !
Inteligentes, espirituosos, fluindo docemente em nossos olhos e na nossa percepção, tudo isso somado a um amor, mesmo que contido, não extravagante, pelo nosso Flamengo.
Sinto-me, para falar a verdade, impotente para comentá-los. Faltam-me graça e arte !
Neste de hoje, temos o tema do urubu e o do Juca Kfouri.
Juca é um admirável BRASILEIRO.
Corajoso, autêntico, extremamente politizado, pois as pessoas, em meu entender, não podem se dar ao luxo de esquecer que a Política existe, centro de gravitação de todos nós.
Pelo artigo, perdeu UM ponto.
Não gostar de John Wayne, é pecado capital.
Meio canastrão, mas, na verdade, um grande ator.
O preferido de um mestre insuperável das telas, o extraordinário John Ford.
Fazendo dupla com Maureen O’Hara – a mais bela ruiva de todos os tempos – imortalizou-se.
No tocante ao urubu, não posso, a bem da verdade, concordar com ele.
Um bicho contraditório.
Extremamente feio e extremamente belo.
Na minha infância, passava as férias no sítio do meu avô, que a “nova” Rio-Juiz de Fora engoliu, entre Itaipava e Pedro do Rio.
Na União e Indústria, bem na “esquina” em direção a este último distrito de Petrópolis, para tristeza minha, um matadouro.
Logo, urubus em penca.
Danados de feios, parados esperando a carniça.
Maravilhosamente lindos, voando.
Inexplicável.
Já escrevi aqui que estava no Maracanã no dia do vôo de urubu, Flamengo 2 x 1 para cima do Botafogo.
Como todos os presentes, pegaram-me de surpresa.
Aí surgiu a sensibilidade e a genialidade do Henfil e o urubu entrou para sempre na história do Flamengo.
Outro grande – Henfil, o irmão mais famoso, até então, do símbolo da resistência, o Betinho.
Bem, fico por aqui.
Repito, Dunlop é um artista, ou melhor, tem a sensibilidade que só os artistas têm.
Eu, não.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
Olhem aí, que o Juca leu a crônica e nos respondeu. Segura o rojão:
“O que Maria viu era um anu, jamais urubu. Mas não serei eu a desmoralizá-lo depois de crônica tão singela. Abraço forte, Juca Kfouri”
Disconcordo, meu amigo. Política não é “o centro de gravitação de todos nós” (o meu, garanto que não), mas apenas um rótulo pretensamente civilizado que encobre a corrupção generalizada no seu meio, a ponto de essa corrupção se tornar, cada vez mais, um modus operandi oficial – seus participantes têm a certeza e, portanto, a tranquilidade da não punição. Basta ver, escandalizado, os personagens que compõem os 3 podres poderes, pra ficar só por aqui, mas sabemos que essa é a regra globalizada em maior ou menor escala. Qualquer que seja o próximo presidente, estamos fudidos. Ou melhor (ou pior), continuaremos.
Que beleza! Parabéns, meu irmão.