Pai, tá aí? Eu sei que tenho vacilado um pouco. O tempo está passando rápido demais e não estou dando conta. O Brasil está estranho. Mas eu não tenho forças para te contar sobre isso agora. Escrevo pelo Flamengo. E pela vida. A nossa. Pra começar você já é avô. Arthur Mariano é o nome dele. Nosso príncipe. Ele é um menino lindo, consagrado no gramado, sempre amado, o mais cotado no Fla-Flu é o Ai Jesus. Não, não é meu filho. É do Léo. Mas juro que sou uma tia que sei educar. Manto sagrado nele. Todo gol na TV é gol do Mengo. Falta levar na padaria, colocar no balcão, e fazer cantar o hino todo para sacanear o padeiro vascaíno, como você fazia com a gente. Seu neto ainda não foi ao Maracanã. Eu sei, eu sei, nós fomos desde bebês. Acontece que antes temos que levar no Zico pra ser “batizado” e depois sim, estará liberado para ir aos jogos. Sei que você também entende isso.
Eu estou te enrolando para contar uma coisa mágica, quase sobrenatural: O Flamengo está na final da Taça Libertadores da América, de novo. Eu sei que você já viu isso. E que eu já era bem nascida. Mas, eu não lembro, pai. Eu não lembro de nada, muito menos dessa sensação que eu tô vivendo agora. Eu não sei te explicar. Mas se você tivesse por aqui eu ía te esperar chegar do trabalho, com aquela buzina que tocava o hino do Flamengo, pra te contar o melhor momento das nossas vidas na história do Mais Querido. Pai, acredite, é o melhor momento. Eu sei, eu sei. Você viu Zico e o BAILE dos anos 80. Você viveu o Dezembro de 81. Você botou os ingleses na roda. Também teve 87. Oitenta e sete foi foda. Desculpa, pai. Mas não encontrei outra palavra. 87 foi foda. Os Tris! Tá, foram foda, também. Ok, vou parar de falar foda, Pai.
Mas eu precisava dividir com você esse sentimento que está nos virando do avesso. Cruzando fronteiras. Tornando irmãos e irmãs todas as gentes. As pessoas nas ruas só falam do Flamengo. Só vivem o Flamengo. Só respiram o Flamengo. Dá uma vontade enorme de abraçar desconhecido, tipo gol do Mengo na arquibancada. E o povo pedindo o Mundo de novo. A torcida está em transe. Oba oba? Não, não. É mais que isso. É o nirvana rubro-negro. É uma sensação de SER FLAMENGO. Estar Flamengo. Viver Flamengo. Sabe aquilo que a gente sempre cobrou? É bem isso. Um bruma leve da paixão que vem de dentro. O jogo? Em Lima. Foi invadida, pai. INVADIDA pela Nação. Não, não fui. Aquelas ironias da vida, aquelas rasteiras. Desculpa, Pai. Me desculpa por isso. Eu não queria decepcionar você. Mas nossa gente está lá. E está nas favelas, nos bairros, no Brasil. A taça tá vindo, pai, pra brincar no nosso quintal.
O Maracanã? Ah, ele mudou um pouco. Quer dizer, mudou muito. Mas continuo fiel a ele e te garanto: é nosso. Tudo nosso, nada deles. A vida tá confusa. São tempos difíceis para as sonhadoras. Mas, o Flamengo ele tem esse poder de colocar vida até no que não tem mais vida. Eu não tô falando do Arão, não. Foi Jesus, pai. Não, não estou brincando com essas coisas. Mas foi Jesus mesmo. Eu te explico outra hora. Preciso me concentrar. A voz do anjo sussurrou no meu ouvido. Eu não duvido, já escuto os teus sinais.
Agora tô aqui lembrando de cada momento, de cada torcedor anônimo, de cada gol, cada título, cada festa na torcida que me fez mais Flamengo. Cada amigo, cada amor, cada abraço no meu irmão na arquibancada. Engolir o choro? A não, pai. É de alegria. É por ser Flamengo. Por amar o Flamengo. Por sentir Flamengo. Eu sou Flamengo, porque nós somos. O presidente? Não, não é o Márcio Braga mais não. Essa é uma longa história que acompanhei de pertinho. Terei o maior prazer em te contar. Já parei de chorar. Você não vai lembrar, mas quando você já estava inconsciente eu ficava contando sobre os jogos do Flamengo, reclamando, cornetando, xingando, era meu jeito de te manter vivo. O Flamengo faz a gente nascer, viver, morrer, renascer. Tudo isso em 90 minutos. Ou numa decisão de um jogo só. Agora vou lá, me preparar. Eu não me sinto mais sozinha. Sou eu, meu sobrinho, um amor, meus 11 leitores, e mais 40 milhões. Depois te escrevo para falar do Hepta. Sim, H E P T A. Porra, pai, não vai morrer de novo. Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais.
Pra vocês,
Paz, Amor e Que Sonho Lindo de Viver.
Texto lindo e emocionante, Vivi. Também voltei ao passado… e chorei. Um beijo querida. Saudades.
Que legal! O Flamengo eh a historia de todos nos. Meu pai partiu em janeiro de 2010. Na noite do titulo de 2009, na UTI, o cobrimos com o manto RN, que iria com ele para sempre. Mengao eh isto. Estamos juntos na fe, amanha e sempre!
Como sempre a Vivi é indiscutivelmente a grandiosa e sensacional Vivi. Sem palavras ! Parabéns mais uma vez pelo lindo texto! Vivi ! Só posso dizer mais vez ! Te amo muito.
Que narrativa linda!
Vai, Flamengoooo
Vivi, vc me mata, me maltrata, me arrebata…
Pessoal, vamos devagar com os excessos de emoção e de anestésicos derivados. Precisamos sobreviver ao sábado pra ver o Hepta também.
Dentro do trem voltando pra casa, e lendo esse texto com os olhos lacrimejando.
Ser Flamengo é algo inexcedível.
Chorei. Lembrei do meu velho. Flamenguista. Que me ensinou a ser rubro negro. Se foi a 10 anos. Levou a bandeira do Mengão com ele. Obrigado pelo texto.
Lindo!
Eita Vivi, fez eu relembrar aqui das raízes rubro negras familiares… não era meu pai (tricolor coitado) mas eram pessoas assim, como o seu coroa.
Que lindo
SRN bjs
Belo texto
Nao,nao está mais sozinha…SRN
Eu não a conhecia até esse momento, um link enviado por um grande irmão me trouxe até esse texto…e que TEXTO!!! Encantado com suas palavras, maravilhado com seus sentimentos traduzidos em fortes emoções. Parabéns!!! Estou fora do país e volto justamente amanhã, acompanharei o jogo em um aeroporto enquanto o avião faz escala. Meu manto sagrado estará comigo e do lado esquerdo do peito a infinita emoção de torcer pelo Mengão.
“Conte comigo Mengão! Acima de tudo Rubro-Negro!”
Eu “vivi” a conversa com vocês dois ali, e ainda por cima tomei bronca quando vc não terminou de contar sobre o Hepta.
Sim, as lágrimas são de alegria, definitivamemte de paz e amor.
Um beijo
Putz, isso não se faz… Vamos ganhar, pro todos os nossos responsáveis por nós colocar do lado rubro-negro da Força. SRN!
Po, Vivi.
tava guardando as lagrimas pra amanha..
de felicidades, claro..
bjs
Um ligeiro suorzinho ocular, mas já passou. Clap, clap, clap!
Te respeito muito minha nega predileta
Caraca Vivi! Vc trouxe ele de volta na minha mente de uma forma tão real que cheguei a ouvi-lo cantar o hino do Flamengo como ele sempre fazia quando tocava aquela buzina que me deixava enlouquecida…rs….sensacional a sua narrativa…bateu saudades…quase me convenceu a ser Flamengo….kkk
Te amo Mana!
Porra, Flamengo.
EU NÃO CONSIGO PARAR DE CHORAR DE EMOÇÃO!